terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Trinca de Ouro: 10) Marcela Viciano, Marcio Policastro e Zeca Baleiro (com Dois Africanos)

1) DIA DE SÃO NUNCA

E eis que chegou da fábrica há alguns dias o primeiro (e maravilhoso) CD de meu mano Marcio Policastro, em minha humilde opinião um dos melhores compositores em atividade. Como Poli demorou anos entre a concepção e o acabamento desse seu primeiro rebento, o resultado final ficou parecendo uma espécie de the best of Policastro, ou seja, só petardo! Já escrevi a respeito desse CD em minha coluna Grafite na Agulha (num texto que foi uma dobradinha, no qual tratei também do novo de outro mano, Gabriel de Almeida Prado, que também acaba de lançar seu não menos belo primeiro disco – leia sobre ambos aqui), e enfatizo: o CD é altamente recomendável! Inclusive, a pedido dele, às vésperas de um show de pré-lançamento que ocorreu há alguns dias, escrevi o seguinte:

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Crônicas Desclassificadas: 169) O aniversário do filho pródigo

Era a primeira vez em 15 anos que ele ia passar o aniversário na casa dos pais. Aproveitou a viagem da esposa e lá foi, ele também numa viagem, só que de volta ao passado. Quando desceu do metrô, podia pegar um ônibus, mas, como o tempo estava agradável (fazia mesmo um friozinho bom, raro naquela estação), resolveu caminhar. A cada metro quadrado tropeçava, não em astros, mas em lembranças. Era como se visse um filme antigo, mas do fim pro começo, ou rebobinasse uma velha fita. O bairro evoluíra, era verdade – aliás, como a maioria dos bairros da cidade –, contudo ainda conseguia ver por trás do progresso as tintas desbotadas de um tempo em que, se não era tão bom quanto o de hoje, ao menos tinha a vantagem de, por meio da nostalgia, lhe fazer parecer que fora melhor.

sábado, 28 de novembro de 2015

Crônicas Desclassificadas: 168) A (in)utilidade da arte e outras belezas

Paweł Kuczyński
Meu amigo Erico Baymma está preparando uma matéria sobre a utilidade da arte e me convidou a escrever umas palavrinhas a respeito do tema, tendo como base uma frase de Oscar Wilde que aparece no prefácio de seu romance O retrato de Dorian Gray.  A bendita frase diz que "all art is quite useless". Erico me diz ainda que viu, em duas editoras diferentes, duas traduções distintas: 1) "Toda arte é essencialmente inútil" e 2) "Toda arte é basicamente inútil", fato que lhe chamou a atenção por revelar diferenças, se não essenciais, ao menos básicas. Pra complicar mais ainda a coisa, indo ao tradutor do Google me deparo com terceira tradução, "toda arte é completamente inútil". Confesso que deveras fiquei completamente pasmado com a gama de possibilidades dessa inutilidade.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Crônicas Classificadas: 43) A desinformação midiática deforma o brasileiro

Há alguns meses, escrevi um texto chamado O PT errou, que mereceu longa resposta de meu amigo Roney Giah, que acabei, democraticamente, publicando também por aqui (o link pra lê-lo é este). Tal diálogo gerou muitos comentários, e calhou de outro amigo se sentir motivado a escrever, por sua vez, uma resposta à resposta de Roney. Seu nome: Edu Franco. Pra ser bem sincero, essa resposta de Edu tá guardadinha aqui em meus arquivos já faz uns meses, mas, sempre quando eu pensava em publicá-la, algum assunto urgente (ou mesmo a falta de tempo) me impedia de fazê-lo. Esta semana, contudo, após os acontecimentos políticos cobertos com a tendenciosidade de sempre, acho que o texto de Edu chega em boa hora. Como em relação ao texto de Roney, antecipo que a responsabilidade pelas palavras abaixo é totalmente de Edu, que, no mais, não costuma fugir de um bom debate. Ao texto, pois:

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Crônicas Desclassificadas: 167) Paris x Mariana

A morte me é um tema muito sensível. Já escrevi sobre ela diversas vezes aqui. Não à toa, um dos romances que mais mexeram comigo nos últimos anos foi justamente As intermitências da morte, de José Saramago, no qual durante um período ela (a morte) para de atuar, pra logo voltar, mas de acordo com novas regras. Confesso que o interesse pelo assunto é novidade pra mim. Como todo jovem, achei que tinha uma eternidade pela frente. Contudo, com o passar dos anos, e após ter tido contato real com a morte por mais de uma vez, de repente, do dia pra noite, dei-me conta de que sou mortal, meu tempo pra realizações pessoais é limitado. E, a partir de então, passei a vislumbrar a possibilidade de um mundo sem mim(!).

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Entrevistando: 9) Léo Nogueira (por Adolar Marin)

foto: Fernando Freitas
O mano Adolar Marin é um parceiro (e amigo) meu da velha. Conhecemo-nos há aproximadamente 15 anos e, de lá pra cá, devemos ter composto juntos cerca de 40 canções. Não compusemos mais porque ele, além de ser um tanto caymmiano, é supercriterioso em relação a letras, motivo pelo qual não titubeou em me devolver muitas das minhas que não passaram por seu controle de qualidade. Ou seja, desenvolvemos uma relação na qual o que nunca faltou foi sinceridade. E foi exatamente por isso que, quando me convidou pra ser entrevistado em seu programa Na Minha Casa, apesar de eu ter ficado envaidecido, minha primeira intenção foi declinar do convite. Afinal, eu tinha acabado de publicar aqui mesmo a primeira edição do programa, com Gabriel de Almeida Prado, e temi que minha ida pudesse ser vista como jogação de confete.

domingo, 15 de novembro de 2015

Filho da preta! – na boca dos leitores (5) – por Kléber Albuquerque

Sabe o tamanho da alegria que um autor sente quando um cara que ele admira pra caramba escreve, generosamente, umas linhas sobre seu trabalho? Se você não souber, não serei eu quem vai lhe explicar, porque, embora tal fato tenha ocorrido comigo, faltam-me palavras pra qualificar essa alegria; tudo o que ousar dizer poderá parecer pouco. Assim, deixo que as palavras falem por si. Não as minhas, obviamente; as de Kléber Albuquerque, que gostou tanto de meu livro a ponto de permitir que sua mãe o lesse (confesso: ainda não tive a coragem de induzir minha própria mãe à leitura dessas páginas, por medo de ver, "verdadeiramente", a coisa ficar preta!). No fim das contas, o amor materno sobreviveu ao ponto final (que não há) e eu ganhei este presente que ora emolduro aqui:

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Filho da preta! – na boca dos leitores (4)

sonho realizado de ter
um livro meu na estante,
entre meus livros
Na próxima terça-feira, também conhecida como 17 de novembro de 2015 (se você lê estas linhas após a referida data, continue, pois os comentários abaixo ainda estarão valendo), chega a vez de levar meu Filho da preta! pra expor seu beabá ali no ABC, mais especificamente em Santo André (SP). Pra quem estiver por perto e quiser aparecer pra bater um papo comigo, ouvir um som da Kana (que fará uma pequena apresentação enquanto autografo) e, de repente, adquirir meu quixotesco romance, anote aí: o babado rolará na Casa da Palavra, que está localizada na Praça do Carmo, 171, no Centro, a partir das 19h. A entrada, obviamente, é gratuita; você só paga se achar que o verbo que vou soltar por lá vale o preço do livro. Como não poderia deixar de ser, os CDs da cantora também estarão à venda. 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Crônicas Desclassificadas: 166) Os incendiários da arte

Escrever é, entre outras coisas, também um exercício de estilo. Não é apenas o que se quer contar, mas a forma utilizada pra fazê-lo. Claro, estou me referindo à literatura, mas podemos aplicar o mesmo raciocínio a outras artes, como, por exemplo, o cinema, a música etc. Ao vermos um filme, percebemos quando tem a "digital" de seu diretor por alguns detalhes, como a forma de manejar a câmera, a opção por sequências longas ou cortes rápidos, a utilização de cores berrantes (tão ao gosto de Almodóvar) ou desbotadas, ou ainda o preto e branco. Já quando ouvimos uma canção de João Bosco, por exemplo, logo nos primeiros acordes reconhecemos seu violão único; ou, se é de Chico, suas rimas sufocantes chamam a atenção, assim como suas aliterações e metáforas.

sábado, 24 de outubro de 2015

Grafite na Agulha: 36) Os santos e as flores de Vanusa

Acho muito difícil que haja algum brasileiro que viveu a década de 1970 e não tenha se encantado/emocionado com a voz de Vanusa e as canções interpretadas por ela. Sem falar que era uma gata (e ainda é, hoje, do alto – não de altura, claro – de seus 68 anos)! Sim, o país vivia tempos funestos, mas a música brasileira ia bem, obrigado. Pode-se dizer também que ia bem obrigada. Pensando nisso, tenho até a impressão de que, quanto mais amordaçam um compositor, mais ele descobre artifícios pra que sua arte não se cale (Cálice, por exemplo). Atualmente, apesar dessa liberdade toda, deparamo-nos com tantos compositores sem nada pra dizer... Até a outrora tão criativa MPB agora agoniza vítima de sua própria empáfia.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Trinca de Copas: 30) Augusto Teixeira, Clodoaldo Santos e Marcio Policastro

1) EVEREST

Queria ter escrito sobre Clodoaldo Santos há tempos, não só porque é um querido amigo, mas sobretudo por se tratar de um baita compositor. Conheci-o no já lendário (e saudoso) Café do Bexiga, no coração do Bixiga, bairro boêmio paulistano que ainda sobrevive, apesar das marés baixas. Clodoaldo é filho de outro baita compositor, o sergipano (é, eles existem!) Batista, que então dirigia o bar. Confesso que sinto imensas saudades da época. O Café do Bexiga era reduto da boa música, mas era, além disso, um ponto de encontro das mais variadas vertentes de compositores nordestinos que residiam em Sampa. E como Kana, minha nordestina japa, tocou lá durante homéricos fins de semana (muitos deles sob a batuta do grande Vidal França), varei noites de felicidade – num tempo em que eu podia fazer isso sem ser acometido por amnésia alcoólica.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Trinca de Ouro: 9) Dany López (com Zeca Baleiro), Gabriel de Almeida Prado e Tavito

1) CAJA NEGRA

Preciso tomar cuidado ao começar a falar sobre este querido cantautor e multi-instrumentista uruguaio chamado Dany López, senão não paro mais. Já escrevi sobre ele por aqui em diversas oportunidades (quem quiser saber mais sobre o muchacho e sobre como nos conhecemos, clique em seu nome), portanto dessa vez vou me ater a nossa parceria. Dany foi um cara que me abriu uma puerta importante, pois foi o primeiro nativo de língua espanhola que se aventurou a musicar uma letra minha no idioma dele. Na verdade, após me conhecer, Dany gostou de minhas letras em português (sim, ele se vira bem na língua de Camões) e me pediu que lhe enviasse alguma pra que ele tentasse musicar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Crônicas Classificadas: 42) Comentários de Roney Giah sobre meu texto "O PT errou"

Minha intenção com este blogue não é "ficar bem na fita" com este ou aquele. Costumo dizer que me orgulho de manter este espaço da maneira mais democrática possível. Pois bem, ora surgiu uma oportunidade pra mostrar que realmente o que digo não é cascata. Há pouco tempo, escrevi um texto que denominei PT errou (clique no link pra lê-lo). Um querido amigo e baita compositor, Roney Giah, após leitura deste, resolveu perder um pouco de seu precioso tempo pra tecer alguns comentários acerca do assunto. Adoro as discussões inteligentes que me levam a pensar a respeito de opiniões daqueles que, em uma ou outra instância, divergem de mim. Assim, embora discorde de muito do que foi escrito por Roney (ou por isso mesmo), resolvi, em vez de lhe dar uma resposta que ficaria perdida ali entre os comentários, trazer a discussão pra uma nova publicação, assim damos mais visibilidade ao assunto e possibilitamos que outras cabeças pensantes se manifestem a respeito dele. Convido-os ao debate, pois:

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Crônicas Desclassificadas: 164) O problema não é o sotaque de Wagner Moura

Em primeiro lugar, é necessário deixar claro que considero Wagner Moura um dos mais fantásticos atores que surgiram na cena brasileira nas últimas décadas. Seu poder de transformação de personagem pra personagem é assombroso, e, mesmo sem dizer uma só palavra, simplesmente num close, mirando a câmera, ele é capaz de arrebatar, emocionar, enfim, penetrar em nossos corações. Em segundo lugar, sua caracterização de Pablo Escobar na série Narcos é digna dos grandes monstros da interpretação, não apenas por sua transfiguração física, mas sobretudo pela psicológica. Sem falar em sua dedicação, a pesquisa sobre a personagem, o estudo não só da língua espanhola, mas também do acento local etc.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Crônicas Classificadas: 41) Pessoas más não são bons jornalistas

Dois acontecimentos internacionais recentes chamaram a atenção do mundo. Pensei em escrever a respeito deles, mas, após ler o texto abaixo (originalmente publicado no Diário de Pernambucoaqui), que tão bem os resume, achei mais interessante trazê-lo pra cá. Só acrescento que, sim, vivemos um momento de crise, e não só no Brasil. Temeram tanto o comunismo, que deram ao outro lado toda a liberdade necessária pra transformar este planetinha metido a besta num lugar porcamente habitável – mas cheio de brinquedinhos à mão, pra que nos distraiamos e façamos de conta que nada é conosco. Pois é, nunca é, né? Até o dedo do caos apontar em nossa direção. Ao texto, pois. E, lá embaixo, após o término dele, linda e triste canção composta pelo mano Marcio Policastro fica como a cereja do bolo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Entrevistando: 8) Gabriel de Almeida Prado (por Adolar Marin)

Sinto-me um cara abençoado por ter trombado com a música no meio de meu caminho. Ela, sem a menor sombra de dúvida, mudou completamente os rumos de minha vida (um belo exemplo é eu ter me casado com uma compositora que andava à procura de um letrista e acabou levando no pacote um marido) e também me trouxe uma série de amigos e parceiros que me mudaram pra melhor, são responsáveis diretos por eu ter me tornado quem sou e, de quebra, têm residência fixa em meu coração. Eu, na condição de animal agregador, vivo atento ao que eles fazem, acompanho de perto (na medida do possível) suas carreiras, torço por eles, incentivo, divulgo e fico muito feliz quando vejo seus sonhos virarem projetos e, daí, realidade.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A Palavra É: 10) Férias

"... e pegar o sol com a mão"
Um homem precisa viajar. Nem que seja pra, na volta, ver com novo olhar o que sempre chamou de lar. Um homem precisa de férias pra renovar o sangue das artérias e buscar nova matéria-prima pras rimas de sua vida. Quem duvida, viaje. Quando um homem age, o universo conspira a favor, e outras melodias nascem na lira de seus dias de sonhador. Viajar é carimbar o passaporte da existência. É adquirir experiência... e sorte! De norte a sul, de leste a oeste. Quem viaja veste de azul celeste a nudez cinza e ranzinza dos inúteis dias úteis. Afinal, o que é dia útil, cara-pálida? Uma vida ávida por carga horária fútil e, dentro dela, um camarada afoito pra entrar numa cela das 8 às 18?

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Versão Brasileira: 3) "One More Cup of Coffee" por Sander Mecca

Tenho uma relação de longa data com a música de Bob Dylan. Lembro que meu primeiro contato com ela foi de estranheza. Tirante Blowin in the Wind, que foi amor à primeira ouvida, tudo o mais me parecia um tanto torto (então, eu só dava atenção às linhas retas...). E sua voz não ajudava; áspera, falha, esganiçada, não parecia em nada com a de Roberto Carlos, meu maior ídolo na época (tempos depois, a estranheza se repetiria com a voz de Chico Buarque, mas aí eu já estava vacinado contra os preconceitos da linha reta). Confesso que demorei pra gostar do primeiro disco que comprei dele (um the best of). Contudo, como a galera a meu redor gostava tanto do cara, fiquei ouvindo e reouvindo, tentando entender o que todos viam... aliás, ouviam de tão fascinante que eu não conseguia detectar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Crônicas Desclassificadas: 163) O PT errou


Eu sei, eu sei que, quando um blogueiro semianônimo se digna a escrever sobre manifestações, consegue, quando muito, pregar pra convertidos. Sim, pois os que concordam com ele vão aplaudi-lo (ou buscar um texto similar de alguém mais conhecido pra compartilhar no feicibuque) e os que discordam dele vão ignorá-lo. Pensando nisso, resolvi mudar de tática e abordar o assunto sob um viés diferente. É arriscado? É, obviamente, mas, se viver sem risco já é um troço chato pra caramba, escrever sem risco é mais chato ainda. Sem falar que o camarada acaba se tornando burocrático. Por essas e outras, resolvi focar neste texto não as barbaridades do grande circo de domingo passado (que de místico não teve nada), mas, sim, os erros do PT.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Crônicas Classificadas: 40) "Como suportar jabs...", de Vlado Lima, por Xico Sá

Imagino Vlado com seus 12 anos, trancado no banheiro, sentado no trono em cena mezzo Shakespearemezzo Nelson Rodrigues, com uma Playboy na mão direita, um livro (não sei se de Fante ou Bukowski — se bem que, nessa idade, o mais provável é que fosse um gibi fuleiro) na esquerda, uma bola de capotão banguela embaixo do Kichute de bico aberto, e pensando no tal do "ser ou não ser". Eis a questão! Queria ser um mano (ainda que Brown), um intelectual, um centro-avante? Duas horas mais tarde, após inúmeras pancadas na porta desferidas por su madre, sairia ele, ainda mais indeciso do que entrara, deixando na privada o resultado de duas punhetas e trazendo dentro da cueca, em contrapartida, um projeto de poema escrito (a lápis) num papel higiênico... usado.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Grafite na Agulha: 35) Na trilha de Bob Dylan

Sam Peckinpah foi um diretor estadunidense que nos presenteou com um punhado de clássicos do cinema (Sob o Domínio do Medo, Os Implacáveis, Meu Ódio Será Sua Herança, Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia etc.). Por isso, quando, há alguns anos, fui ver Pat Garrett & Billy the Kid, minhas expectativas não eram das menores. Após o "the end", até que não achei o filme ruim, só que percebi que ele estava bem abaixo tanto da média dos faroestes (incluam-se os italianos spaghetti western) quanto da média do próprio Peckinpah. Fiquei encafifado e pensei: "Será que o problema foi minha grande expectativa?" Só que depois pesquisei a respeito e descobri que não estava só em minha decepção. Li que as exigências dos produtores acabaram prejudicando o resultado final, o que refletiu num público abaixo do esperado.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A Palavra É: 9) Plural

Não sou capaz de jurar, mas acho que essa grande bobagem começou na época em que José Sarney herdou a presidência do Brasil e começou com aquele papo de "brasileiros e brasileiras": De lá pra cá, a coisa só piorou... Já houve entre nós um tempo em que se desejava "paz na terra aos homens de boa vontade"; um compositor popular cantava "esses moços, pobres moços"; cheguei a assistir a um clássico do faroeste que se chamava Da Terra Nascem os Homens; na literatura, fez muito sucesso por estas plagas o romance Capitães de areia; uma peça muito famosa foi intitulada Os pequenos burgueses; havia mesmo um provérbio (se não me engano, árabe) que dizia que "os cães ladram e a caravana passa"; um poeta escreveu "eles passarão, eu passarinho"; etc. etc.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O X do Poema – 5 anos!

E não é que O X do Poema chega ao quinto ano de existência? Parece que foi ontem que comecei, atabalhoadamente, a cometer os primeiros disparates por escrito. De lá pra cá, apesar de longe ainda da excelência, sou obrigado a reconhecer que aprendi bastante acerca do ofício da escrita. A teimosia, a persistência, a força de vontade pra superar por vezes textos que ficaram à míngua e, naturalmente – e principalmente –, o tesão de escrever por escrever, todas essas coisas juntadas à liberdade de expressão que meu país logrou me possibilitar propiciaram a meu espacinho chegar a seu quinto aniversário.

sábado, 4 de julho de 2015

A Palavra É: 8) Dezesseis

O sumido Belchior costumava cantar "Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte/ Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte/ E tenho comigo pensado: Deus é brasileiro e anda do meu lado/ E assim já não posso sofrer no ano passado". Eu, apesar de não ser mais tão moço assim, poderia ter escrito esses versos, pois me considero um sujeito de sorte. Mais, considero-me mesmo um vencedor. Vindo de onde vim, passando pelos becos e presepadas por que já passei, tô no lucro. Sem falar que, salvo alguma marmelada extracampo, ainda vejo longe o fim do tempo regulamentar das batidas del mio cuore. E, assim como disse Belchior, "já não posso sofrer no ano passado".

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Crônicas Classificadas: 39) A little help, my friends

Já falei mais de uma vez isso por aqui, mas não custa repetir: considero meu camarada Edu Franco uma das inteligências mais apuradas dentre meu rol de amizades. Além de músico e compositor, versa com naturalidade e desenvoltura sobre os mais diversos assuntos. Aliás, na escrita, sua pena é toda estilosa, tanto que, até quando verborrágica (o que costuma suceder amiúde), prende-nos a atenção, e a leitura resulta prazerosa. Só lamento que Edu tenha mais talento pra teorizar que pra executar. Contudo, seus pensamentos filosóficos sempre desaguam em boas prosas. E importantes, sobretudo no meio musical – que é aquele pelo qual transitamos –, visto que estamos um tanto carentes de ideias/cabeças lúcidas que saibam, senão enxergar uma luz no fim desse interminável túnel, ao menos iluminar a escuridão.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Trinca de Copas: 29) Álvaro Cueva (+ Marcio Policastro), Augusto Teixeira e Marito Corrêa

1) CONSPIRAÇÃO

Pra ser bem sincero, tenho certo medo de redes sociais. Além do fato de passivamente nos deixarmos ser observados de modo invasivo (manjam o Grande Irmão?), noto também que ali muitas pessoas, protegidas pela distância (e muitas vezes pelo anonimato – perfis falsos, vírus etc.), acabam deixando transparecer o pior de si. Contudo, admito que, nesse quesito, as redes sociais não estão sozinhas, nem são as únicas culpadas. O ser humano, quando quer pôr pra fora seu Mr. Hyde, sempre acha motivo, local e ocasião. Aberrações à parte, acredito que é bacana nos aproveitarmos do lado bom que esses mecanismos (e a tecnologia em geral) nos oferecem.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Notícias de Sampa: 16) Sopa de Letrinhas, 13 anos

Caramba! Treze anos! Pense num filho que você pariu, amamentou, de quem trocou quilos de fraldas, a quem pôs pra dormir nas horas mais ingratas (e, por causa disso, passou noites em claro); daí o moleque foi crescendo, e então você teve que pensar em sua educação, sua saúde, seu vestuário, sua alimentação... Até que ele chega aos 13 anos! Pra uma criança, não é nada; mas pros pais... é uma vida de dedicação! Só que, ter filho, todo mundo tem. Desde os pais mais zelosos até aqueles picaretas que só queriam dar uma rapidinha, ou mesmo adolescentes que esqueceram a camisinha numa madrugada dessas, aos 44 do segundo tempo da balada... Mas parir poesia é outro papo!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Grafite na Agulha: 34) Um sonho em forma de show e CD

Fazia tempo que eu não publicava nada de novo nesta coluna, não por falta de material, mas por causa da escassez de tempo. Peço desculpas aos leitores e – sobretudo – aos colaboradores que estão há tempos esperando pra ver seus textos publicados. Pensando neles (e em vocês), arrumei um tempinho pra trazer pra cá esta bela homenagem feita pela carioca Danny Reis, que é cantora, compositora (parceira minha, inclusive), tradutora, revisora de texto, blogueira (visite seu blogue aqui) etc. Faltou dizer que sua homenagem em prosa mira Marianna Leporace, mas atinge também Sheila Zagury e... Edu Lobo e Chico Buarque. Mas (por falar em Edu) paremos com esse lero-lero e deixemos a menina sambar, digo, contar em paz. Ao texto:

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Os Manos e as Minas: 20) Curiosidades sobre Louise Cerpa

Lembram aquele papo do "Menos a Luíza, que está no Canadá"? Esqueçam. A partir de sábado, quando formos a shows, baladas, festas etc. nos quais encontrarmos a galera, mais tarde vamos comentar que "estava todo mundo, menos a Louise, que está na Irlanda". É, tem muita gente bacana dando linha no pipa... Uns foram pra França, outros pros Isteites, outros pro Japão... Eu mesmo tô seriamente pensando em comprar uma chacarazinha no interior do Uruguai e viver de vinho e milongas – não, a maconha não tem nada a ver com esse desejo (risos ao fundo). Mas voltemos a Louise, que resolveu ir ver com os próprios olhos a terra do cara que escreveu aquele romance que ninguém leu e todos elogiaram – o romance, Ulisses, claro; o autor, James Joyce.

domingo, 7 de junho de 2015

A Palavra É: 7) Sentido

Os homens que carecem de sentido têm sobrevivido por muitos mais anos do que os planos da Terra (e de Deus) o tinham permitido. No princípio, era o verbo, depois veio o berro, de lá pra cá tudo foi erro, inclusive o certo e o errado, o pasto e o arado, o aberto e o fechado, a floresta e o gado, a segunda e o feriado, os secos e os molhados, os vivos e os enterrados. Sem falar nos cremados... e na crème de la crème. Tudo o mais não passa de FM mal-sintonizada, o tudo e o nada, quem se afoga e quem nada, águas que passarão e águas passadas, eles passarão e eu passarinho, o caminhão e (a pedra no meio d)o caminho, os louros e os pelourinhos, os que vão e os que vinhos, os advãos e os adivinhos, os sãos e os sozinhos, os sacristãos e os sacristinhos, a lã e o linho, o Alain Fresnot e o fernet, você e eu, eu e você... juntinhos!

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Palavra É: 6) Bicicleta

Eu acho que a bicicleta só existe pra humilhar quem não sabe andar nela. O cidadão vê aquelas pessoas pra lá e pra cá bicicletando tão facilmente como se estivessem respirando... Quer dizer, elas estão respirando. Até porque, se não estivessem, não poderiam estar andando de bicicleta; o que quis foi fazer uma relação entre a naturalidade de respirar e a de andar de bicicleta, traçar um paralelo, manja? Pois bem, voltemos. Um terráqueo que não sabe andar de bicicleta cresce com sérios problemas psicológicos (se sente um ET), porque ele não aprende a fazer um troço do qual outros não se esquecem. Aí, quando ele ouve que isso ou aquilo é igual a andar de bicicleta, "a gente nunca esquece", ele sente deverasmente uma profunda vontade de cair no choro.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Palavra É: 5) Fetiche

*
Ai, ai, ai! Eu sabia que chegaria o dia em que esta coluna ia virar uma "roubada"! Vinha pedindo a amigos que dissessem a primeira palavra que lhes viesse à cabeça, mas sem lhes dizer o motivo. E não é que meu camarada Carlos D'Orazio tascou, de prima, de bate-pronto, à queima-roupa... fetiche? No que será que ele estaria pensando ao vomitar (mais rápido que uma ejaculação precoce) uma palavra tão... tão... tão... fetichista? Pois bem, vamos por partes. Em primeiro lugar, admito que fui pesquisar a origem da palavra. Já sabia que era francesa, só não sabia que, num surpreendente bate e volta, fetiche, aliás, fétiche, é um empréstimo do português feitiço, cuja origem é o latim facticius (artificial, fictício). Falou ou quer mais?

domingo, 17 de maio de 2015

A Palavra É: 4) Verme

O grande problema do mundo é que dá poder aos vermes e tira poder dos homens. Se o que importasse realmente fossem a capacidade, a aptidão de cada indivíduo, tudo estaria nos eixos, cada um desempenhando o papel pro qual veio ao mundo... mas não, sempre há pessoas erradas nas funções erradas, e de olho em seus atos, esperando um vacilo seu pra dizer que o verme é, na realidade, você. Desde sempre foi assim. O poder vinha do berço (e ainda vem, embora mais camuflado), daí o pirralho remelento crescia cheio de afetação e arrogância, achando que o mundo (quadrado) girava ao redor de seu umbigo. Os vermes são assim: arrogantes, traiçoeiros, covardes. Vez em quando, até se fazem de bonzinhos pra ganhar a confiança de quem está abaixo deles, mas basta um deslize e verá como rosna um verme como se fosse uma fera.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crônicas Desclassificadas: 162) A feliz (e triste) história do Clube dos Feios

No dia em que Batista faliu, sua esposa avisou que estava indo embora com as crianças. Ele, duplamente arrasado, só teve forças pra sussurrar um pálido "Por quê?", ao que ela respondeu, com uma agudeza metálica e cortante na voz: "Não suporto mais sua feiura!" Batista, que estivera casado com a mesma mulher durante mais de dez anos – e tivera um sem-número de amantes durante o período –, ouviu aquilo horrorizado. Sempre se achara bonito. Quer dizer, bonito, bonito, nunca fora, mas era elegante, charmoso, engraçado, espirituoso, alto, atlético e, sobretudo, sempre tivera dinheiro suficiente pra que seus defeitos (os físicos, aclaremos) se mantivessem, se não de todo escondidos, ao menos camuflados. Não teve sequer presença de espírito pra implorar que a mulher ficasse. Nem tinha mais capital pra encabeçar tal negociata.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Filho da preta! – na boca dos leitores (3)


Dando prosseguimento às divulgações de meu romance Filho da preta! (enquanto a imprensa não toma conhecimento de sua existência), destaco mais uma leva de comentários de leitores do livro, a quem sou muitíssimo grato não somente pelo fato – já digno de nota – de o terem lido, mas sobretudo por terem gasto parte de seu precioso tempo se dedicando a relatar suas impressões sobre a leitura. Obrigado, de coração! 

Ah, quase esquecia: antes de passar a eles, aviso aos caros e raros leitores que dois comentários estão em espanhol, mas preferi não os traduzir, em primeiro lugar porque estão bastante claros, em segundo pra incentivar a leitura na hermosa língua de Cervantes. A eles, pois:

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Crônicas Desclassificadas: 161) Alguns pensamentos barulhentos sobre o panelaço-aço-aço-aço

Terça-feira passada, durante os dez minutos do programa do PT em rede nacional, novamente os paneleiros fizeram seu carnaval. Segundo a Folha de S.Paulo, o tal panelaço ocorreu em dez Estados mais o DF. Vejamos: fora o Distrito Federal, o Brasil possui 26 Estados. Se dez deles "panelaram", significa, se não erro a conta, que 16 deles ficaram em silêncio. Portanto, a manchete da Folha poderia bem ter sido "Durante programa do PT, 16 Estados não fizeram panelaço". Percebem como as coisas sempre podem ser vistas por ângulos diferentes? E mais: nesses dez Estados + DF, não foram em todas as cidades nem em todos os bairros que a barulheira ocorreu. Ou seja, se fizermos a conta de forma isenta, chegaremos a um resultado pífio.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A Palavra É: 3) Mentira

A humanidade nunca soube conviver com a verdade. Muitos dos caras que a utilizavam em seu discurso morreram na cruz, na fogueira, na guilhotina, vítimas de balas ou mesmo de solidão. E por quê? Porque a sociedade nos ensina a temê-la. Retrocedamos no tempo e nos lembremos de quando éramos crianças. Vejamos: na maioria dos casos, quando uma criança quebra algo "sem querer querendo", os pais lhe perguntam: "Foi você quem quebrou?" A criança, com medo de levar uma surra, responde rapidamente que não, sem saber que seus pais já sabem a verdade e só a estão testando. Na adolescência, a coisa piora: "Júnior, aonde cê vai?" Ao que o jovem Jr. responde que vai estudar na casa de fulano, quando na verdade vai ver uma garota ou assistir a um jogo no estádio, tomar umas com os amigos etc.

terça-feira, 28 de abril de 2015

A Palavra É: 2) Paz

Eu não sei nada sobre a paz. Desde que me entendo por gente, estou em guerra. Estive em guerra contra minhas raízes, contra meus prazeres, contra minha fé (posteriormente, contra a falta dela), contra minha preguiça... E isso vem de antes de eu nascer. Já na barriga de minha mãe imagino que eu estivesse em guerra pra não sair lá de dentro. Depois estive em guerra contra a escola, contra a leitura obrigatória de Machado de Assis (mais tarde eu iria entrar em guerra pra deixar de lê-lo), contra minha extrema timidez que me causava rubor e um rombo no coração. Enfim, sou um guerreiro. E, enquanto isso, bombas explodiam em várias partes do planeta. E eu, que, apesar de guerreiro de minhas causas, sempre estive em guerra contra as guerras, rezava pra que elas não chegassem até aqui pra atrapalhar as minhas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Ninguém me Conhece: 81) Sander Mecca, animal!

Taqueopariu! Velho, manja quando você vai num (a um) show? O quê que cê quer? Cê quer ser arrebatado! Cê quer que seu ânus vire do avesso (não, não tô me referindo à hemorroida), cê quer ficar arrepiado, cê quer gozar, cê quer que o cara (ou a mina) no palco propicie a redenção de todas as suas frustrações... Cê vai ali comprar uma hora e meia de vida, cê quer abastecer seu coração de adrenalina, de pletora, mora? Cê quer que, no mínimo, o show seja o máximo, tá ligado? Então, dia 22 último eu vi um show assim. E assado! Mas peraí, vamo' fazer um flechibeque: a ideia inicial era que seria só mais um show pra burguês ver no Tom Jazz, onde a breja é longuineque e o público é alforriado.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A Palavra É: 1) Cabeça

cabeça é o fim ou o princípio do corpo? Tudo depende do ponto de vista. Saca só: se um camarada passa a vida olhando pro chão, a impressão que temos é de que a parte mais distante de seu corpo são os pés. Seu objetivo a ser alcançado é um subsolo, um porão ou algo do gênero. Ou até, quem sabe, possa ser que aja como um avestruz e viva procurando um buraco onde enfiar a cabeça. Portanto, podemos dizer que o corpo dele principia por esta. Já há outros que vivem com a cabeça nas nuvens; estes, certamente, foram começados pelos pés e cresceram como árvores, pra cima, até chegarem à cabeça. Mas não pararam por aí, continuaram crescendo pra fora do corpo, como um invisível arranha-céu, em cujo topo, no heliponto mais especificamente, fincaram sua cabeça, meio como se fosse uma bandeira. Ou uma biruta...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Crônicas Desclassificadas: 160) Perdido na manifestação (como cego em tiroteio)

Nesse domingo, eu disse "Hoje me vingo". Assim meio sem jeito, cobri o peito com uma estampa de Che Guevara e fui encarar Sampa, dar à tapa a cara. Já na escada, ouvi da mulher um "É piada? Tá procurando treta? Pode trocar essa camiseta!". Obediente, acedi. Acendi a luzinha da razão, meti uma regata sobre o coração – que me dizia "bata!" – e ganhei a rua, que é sua, mas também é minha, calminha! Rolava no escutador uma canção de amor (à arte) de Kléber Albuquerque que dizia que essa tal de poesia é coisa que vicia – "sou poeta que sabe que a morte é certa e ainda canta. Sou criança que sabe que a vida é dança enquanto dança. Sou artista operário operando o maquinário desse trem de ilusões. São só canções, são só canções, não valem nada, eu sei". Mas aí parei...

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Os manos e as minas: 19) Traçando um paralelo entre "A marca humana", de Philip Roth, e meu "Filho da preta!"

Eu sempre fui um cara tímido. Aliás, mais que tímido, covarde. De repente, descobri que as palavras poderiam me levar a enveredar por arriscados caminhos pelos quais eu jamais pensara que pudesse ir... E com (quase) total segurança. Foi então que elas me transformaram num fanfarrão. E assim me tornei compositor. Ou melhor, letrista de música popular (como bom covarde, minhas melodias são bissextas). Mas aí, sob o jugo da coragem de que as palavras me revestiam, inventei de escrevinhar. Primeiro, contos; depois, crônicas; e, por fim, um romance. Mas não foi algo que eu tivesse elaborado, pensado, ansiado... Foi apenas algo que acabou por ser tão natural quanto respirar, comer, defecar, trepar...

segunda-feira, 30 de março de 2015

Eu Não Vi, Mas Me Contaram...: 5) Os galhos imaginários de dona Serafina

... Pois é, meu, a mulher num se enxerga! Olha bem pra mim e me diz se eu tenho cara de quem fica de pegação com coroa! Tenho? Claro que não, né? Mano, o velho tem o cabelo todo branco! TO-DO! Tipo assim, ele tem cara de quem já foi gato, mas isso uns, sei lá, 15, 20 anos atrás. Agora, pra ela tava de bom tamanho, mas pra mim? Tô fora. E, ó, quer saber? Quarentão eu tô dispensando, imagina um... sei lá se ele tem 50 ou 60, o que eu sei é que passa longe de ser o peixe que vai cair na minha rede, tá ligado? E digo mais: de pretendente eu tô por aqui, tô dispensando MESMO, na boa. Quer dizer, tipo, se eu tô na balada e pinta um gato dando entrada, eu num sou besta de deixar passar batido, né? Mas aí, nesse caso, é só pra dar uns beijo', tá ligado? Só pra ficar, que esse papo de namoro e casamento é só pra depois que eu tiver me formado, viajado o mundo e tal.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Ninguém me Conhece: 80) Despindo a máscara de Augusto Teixeira

Começo este novo NMC colando o que escrevi em outro texto (aqui): "andei indo pouco ao Caiubi nos últimos anos, daí que ali foi chegando uma nova leva de caiubistas que me era desconhecida. Assim, numa segunda-feira dessas, animei-me e lá fui matar as saudades. Havia pouca gente, mas o ambiente, como de costume, estava dos melhores. Em determinado momento, subiu ao palco um moço que me chamou a atenção. Cantou duas belas canções, uma delas em parceria com o mano Álvaro Cueva, que não perdeu tempo em fisgar o rapaz. Ah, seu nome: Augusto Teixeira. Sugestivo, não? No final da noite, troquei algumas palavras com o moço, e ele ficou de me mandar uma melodia. Mandou-ma. Ouvindo-a, seu 'iaraiá' me sugeriu falar de Iara. Mas, como todo mundo já falou dela, resolvi inverter os papéis e fazer a nova versão da famosa sereia provar do próprio veneno."

sexta-feira, 20 de março de 2015

Crônicas Desclassificadas: 159) A eletrizante história de Lúcio, o eletrófilo


Era uma vez um casal, cujos nomes não vem ao caso revelar, até pra mantermos seu direito à privacidade. O que importa nesta história é que há muito tempo, numa noite em que o céu parecia estar cheio de eletricidade, despachando fortes relâmpagos, raios, trovões e outros aparentados, nossos pombinhos se encontravam num motel chamado Alta Voltagem, onde liberavam seus fluidos, davam vazão à química que rolava entre eles, aquela atração que faz dois corpos ocuparem o mesmo lugar num mesmo instante. Claro, este é um modo poético de dizer, afinal o local não era sempre o mesmo, dado o ato sexual ser algo que costuma ocorrer em movimento. Pra resumir, foi nessa noite que conceberam um menino que nove meses depois rebentaria e seria chamado de Lúcio.

terça-feira, 17 de março de 2015

Crônicas Desclassificadas: 158) Resumo da ópera-bufa

Tenho amigos que foram pras ruas na sexta, outros que foram no domingo, um chegou a ir em ambas ocasiões; eu, particularmente, preferi acompanhar tudo de longe (nem tão de longe assim, visto que moro e trabalho perto da Paulista), até porque nem quero o impeachment de Dilma nem quero passar a mão em sua cabeça. Ouvi dizer que muita gente recebeu pra ir pras ruas na manifestação de sexta; em compensação, na de domingo, como eu previra, lá estavam os bolsonaros, os gentilis, os lobões, as viúvas da ditadura, a elite branca e um ou outro desinformado se fazendo de senzala pra casa-grande vigente. Ah, havia também muita gente que simplesmente estava cansada de tanta corrupção. Também eu estou, mas, dada a predominância das más companhias, preferi o conforto do lar. Afinal, "dize-me com quem andas"...

quinta-feira, 12 de março de 2015

Crônicas Desclassificadas: 157) O grande "esquenta" pré-impeachment

Então, chegou o grande momento da preparação pra marcha pró-impeachment da "presidenta" Dilma. Todos têm que estar preparados, afinal, torcedor do E.C. Petralha na arquibancada reservada ao do Coxinha F.C. tá pedindo pra apanhar, né? Façamos, pois uma autoanálise desses últimos anos: o que mudou? Pobre se meteu a besta e enfiou na cachola que tinha que comprar carro zero... Moral da história? O trânsito está intransitável! Lugar de pobre sempre foi em trem lotado, pendurado em busão, se espremendo pra entrar num vagão da santa Sé... E tem mais: pobre sempre viajou pra Paraíba de busão (ou pro Ceará, pra Pernambuco et coetera) e vice-versa... Agora é um tal de pobre pegar avião, que... ninguém merece!

domingo, 8 de março de 2015

Filho da preta! – na boca dos leitores (2) – por Helena Tassara

Meu FDP! anda recebendo vários comentários positivos, não só de pessoas que admiro e que são de minhas relações, como também de desconhecidos, o que tem me deixado muito feliz. Assim, independente de atingir ou não o coração da imprensa "oficial", continuarei dando voz a esses leitores em meu espacinho. Nesta segunda edição, contudo, me vi obrigado a escolher apenas um deles, por motivos que vocês entenderão. É que recebi na verdade uma baita crítica da querida Helena Tassara, que já esteve por estas bandas quando escreveu texto sobre Belchior pra coluna Grafite na Agulha (leia aqui).

quinta-feira, 5 de março de 2015

Trinca de Ouro: 8) Gabriel de Almeida Prado, Kana (+ Vasco Debritto) e Nelson Machado

O genial Kleber Albuquerque (por quem nutro uma admiração ímpar e cuja amizade aprendi a regar qual fosse a mais rara flor – e é), após safenar seu coração (que, de tão grande, mal sabia caber dentro da caixa do peito), retorna aos palcos de coração recauchutado nesta quinta-feira, também conhecida como 5 de março de 2015 (antevéspera de seu aniversário), pra show único no Espaço Parlapatões, que dorme e acorda na charmosa (e também recauchutada) Praça Franklin Roosevelt, 158, no coração (sic) de Sampa. O evento está marcado pra começar às 21h, e é bom chegar cedo, pois a casa não comporta tantos amigos quanto cabem em seu coração. O nome do show não poderia ser mais acertado, Psicoaudiocardiograma (maiores informações aqui). E a quem vem tudo isso? Resolvi, como forma de divulgação/homenagem ao albuquerqueano mano  – e motivo pra tirar da manga canções que fiz, digamos, de coração –, publicar aqui três delas que foram gravadas e tratam, direta ou indiretamente, desse vital órgão. Às ditas cujas, pois:

domingo, 1 de março de 2015

Os Manos e as Minas: 18) Che – mais que uma estampa numa camiseta

selfie
Ernesto Guevara de la Serna, argentino de Rosario, mais conhecido como "Che" Guevara, médico, escritor, guerrilheiro, político, jornalista (não exatamente nessa ordem), entre otras cositas, é pra mim uma espécie de Jesus Cristo às avessas. Ou um Jesus que, em determinado momento de sua trajetória, tivesse optado pelas armas. Jesus não queria poder, dizia que seu reino não era deste mundo. Assim, sentia-se mais como ferramenta de uma “revolução” divina do que propriamente como um general em busca de vitórias e glórias terrenas. Assim também, de certa forma, era Che. Se ele era ambicioso? Podemos dizer que sim, só que sua ambição não era pessoal, mas coletiva. E talvez tenha sido esta a característica que mais me fez admirá-lo.