quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Epílogo

2006
JULHO
EPÍLOGO
Domingo, 2.

Chegar ao aeroporto de Guarulhos é sempre uma felicidade (já sente-se um cheiro de pão de queijo no ar). E passar por ele é uma facilidade. Coisas de país democrático de terceiro mundo…

Do táxi, vi que os termômetros marcavam 11ºC. 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Quarto Dia

2006
JULHO
DÉCIMO QUARTO DIA
Sábado, 1º.

Como já expliquei, há escassez de transportes em Cuba. Dessa forma, há um serviço pau-de-arara que leva as pessoas como sardinhas em lata. São, em sua maior parte, caminhões (abertos ou fechados) que entalam viventes até não caber mais mosquito, passam uma corda de lado a lado e partem, soltando uma fumaça de deixar doente quem respira. Há também um exótico mas não menos incômodo ônibus com frente de caminhão, que seria engraçado se não fosse de chorar. Quando os vejo, me dá uma saudade danada de nossos trens lotados. E fico feliz por dentro por não ter nascido cubano…

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crônicas Classificadas: 9) O Homem da Cabeça de Papelão

Queria homenagear nesta postagem duas pessoas queridas: o amigo jornalista e blogueiro Paulinho das Frases, ou melhor, Paulo Mayr (visite seu Boca no Trombone) e a amiga (?) e ex-professora Mayra Pinto. Explico os motivos: no caso de Paulinho,  este foi um dos que me incentivaram a criar meu próprio blog e, nas raras oportunidades em que visita este meu precário espaço, blogueiro premiado que é, me dá valiosos toques (que eu nunca sigo), como, por exemplo, o de escrever textos mais curtos. Já Mayra, uma das melhores professoras (e mais apaixonadas/apaixonantes) que tive na vida, foi quem me apresentou/presenteou, em sala de aula, o conto abaixo, que me caiu como um raio. Mayra também é da boêmia e, boa de papo, assume suas verdades. Certa vez, entreguei-lhe meu romance pra que ela, professora de literatura, me desse uma opinião profissional. Ela parou na quarta ou quinta página e me disse que aquilo não era literatura e, sim, linguagem falada. Ao que retruquei que, partindo desse princípio, Guimarães Rosa também não era. Ela argumentou (muito bem, como sempre) em defesa de Guimarães, e eu a pus em xeque perguntando: "Professora, será que sua dificuldade em considerar como literatura meu romance não seria por ser eu seu aluno?". Ela pensou, pensou, repensou e me respondeu: "Pode ser". Xeque-mate! Contra tão sincera resposta, não há argumentos. Mayra também nunca leu meu blog, porque, ao que me consta, tem andado ocupada terminando seu doutorado e está em vias de publicar seu trabalho sobre Noel Rosa.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ninguém me Conhece: 30) Pequeno estudo sobre Marcio Policastro

Por ser eu um letrista, tenho, naturalmente, uma queda por canções que contêm belos textos. Quando compro um CD, gosto de ler suas letras antes de ouvir-lhe as canções, só pra sentir, antes do musical, o impacto poético do trabalho. Claro que há melodias tão fascinantes que qualquer letra fica boa dentro delas. Quando recebo melodias assim pra letrar, sei, de antemão, que o trabalho vai ser muito facilitado (e prazeroso). Mas, hoje em dia, belas letras são um luxo cada vez mais raro e pra cada vez menos ouvintes. Os próprios letristas, no intuito de atingir o público, têm procurado construir letras mais acessíveis. O que é, de certa forma, fazer concessões. E a arte verdadeira não deve fazer concessões. Há uma canção do belíssimo cantautor argentino Charly García na qual ele diz "No voy a parar/ Yo no tengo dudas/ No voy a bajar/ Déjalo que suba". É mais ou menos isso o que penso. A arte, pra ser grande, tem que nascer da alma, não de pesquisa de mercado. E quem a consome que procure apurar sua sensibilidade. Quando pensamos, por exemplo, em grandes nomes da literatura como Dostoiévski, Proust, Joyce, Saramago, nosso Guimarães etc., não encontramos neles facilidades, nós é que temos que, com a fluência da leitura, adaptar o mecanismo de nosso cérebro pra alcançá-los.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Os Manos e as Minas: 1) O sagitariano Noel Rosa

Quando pensava em Noel Rosa, quem me vinha à mente era um magrelo sem queixo com um cigarro na boca. Essa era toda a informação que eu possuía a respeito de um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. E isso mesmo depois de eu já me acreditar um deles, por rabiscar e rasurar as primeiras tentativas de letras. O tempo foi passando e alguns conhecidos meus começaram a dizer que o que eu escrevia lembrava algumas letras de Noel. Aí eu, do alto de minha ignorância, ficava meio sem graça, sem saber se aquilo era um elogio ou uma ofensa. No fundo, chegava mesmo a me sentir irritado, pois eu queria era ser comparado a Chico Buarque. Mal sabia eu que Noel fora uma das maiores influências de Chico.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os Manos e as Minas – Prefácio

Resolvi inventar mais uma coluna neste blog, desta feita pra homenagear as pessoas que, ao passar por minha vida, tiveram o poder de mudá-la ou, pelo menos, influenciá-la de forma indelével. Não se trata apenas de pessoas conhecidas, como amigos ou parentes, mas também daquelas com quem jamais tive contato pessoal, mas que, pela grandeza de suas obras, tornaram-me melhor, ou mais instruído, ou mais sensível, ou mais sei lá o quê.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ninguém me Conhece: 29) Nelson Machado, un brasiliano

Foi depois de um show em alguma cidade da Itália, não me recordo qual. Já era madrugada. Voltava ele pra casa (mais especificamente, Bolonha), cansado, com sono, pensando num bom banho quente, uma taça de vinho, quiçá. Naquelas ermas horas ele não podia imaginar que passaria cerca de um ano sem voltar pra casa. Tudo foi muito rápido, diria mesmo cinematográfico (as tragédias sempre têm um quê de cinema). Foi como na canção de Toquinho e Vinicius que dizia que "Ao cruzar a rua você está arriscando/ Pode estar na lua, pode estar amando/ Passa um caminhão, cruza uma perua/ O cara tá na dele, você tá na sua [...]". É, o cara tava na dele, ele tava na sua, de repente, numa fração de segundos, lá estavam ambos desafiando as leis da física, dois corpos ocupando o mesmo espaço. Agora não vem ao caso saber quem estava errado, este não é um roteiro de filme policial. Tampouco importa investigar o que sucedeu com o outro, visto que ele não passou de um (trágico) figurante nessa história. Importa saber o que aconteceu com o protagonista, Nelson Machado: a partir daí, sua vida se resumiu a sofrimento, dor, desilusão, sucessivas cirurgias de reconstituição, placas disso e daquilo pelo corpo... E o pior, segundo o diagnóstico do médico, ele jamais poderia voltar a tocar!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Terceiro Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO TERCEIRO DIA
Viernes, 30.
    
Pontualmente às 6h da manhã chegamos a Havana. Tomamos um táxi até o Hotel Riviera, o melhor de todos até agora, felizmente o último. Dormimos até meio-dia. Acordamos, fomos até o Jazz Café almoçar, boa comida e barata. Voltamos pro hotel e caímos na piscina. Não sem antes ver a cobrança de pênaltis que eliminou a Argentina frente à Alemanha. Fiquei feliz, mas também, inexplicavelmente, um pouquinho triste.

Um Cearense em Cuba: Décimo Segundo Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO SEGUNDO DIA
Jueves, 29
    
Arrumamos as malas, fomos à casa de Jorge ter trinta minutos de aula de dança com suas irmãs, tivemos, despedimo-nos, Jorge ficou de arrumar o carro de um amigo pra nos levar à rodoviária, aceitamos, voltamos pro hotel, antes passamos por um restaurante e almoçamos, e eu fui comprar alguns livros, enquanto Kana terminava de arrumar a bagagem. Daí aconteceu uma situação inusitada. De manhã tinha encontrado (e comprado) dois livros de autores cubanos famosos, indicados pela recepcionista em questão (La Última Mujer y El Próximo Combate*, de Manuel Cofiño López, e El Recurso del Método, de Alejo Carpentier, este último nome, não de todo estranho), mas o escritor de que ela gostava mais, Daniel Chavarría, estava com um livro nas lojas a 20 pesos, ou seja, fora do meu poder de fogo. Agora à tarde voltei a procurar em outra loja e achei-o novamente a 20. Perguntei pro balconista, um senhor idoso e sem uma mão, se não havia um outro livro desse camarada mais em conta. Ele procurou e encontrou outro, chamado Joy, que estava saindo a oito pesos. Imediatamente comprei, porém, na hora de pagar, ao lhe dar dez pesos, ele me perguntou se eu não tinha trocado. Procurei e achei apenas um peso. Ele mo pediu. Quando lhe entreguei, ele me devolveu os dez pesos e disse que estava certo. Olhei-o interrogativamente, ao que ele me respondeu “Todo bien, este basta”. Estupefacto, agradeci-lhe e saí avoado. Daí pensei que, pra ele me vender um livro de oito por um, quanto estaria faturando se eu lhe houvesse pago os oito?

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ninguém me Conhece: 28) Enveredando pelas canções de Rafael Leite

Por onde andará Rafael Leite? Por onde andará Rafa? "Ninguém sabe do seu paradeiro. Ninguém sabe pra onde ele foi, pra onde ele vai". Soube de fonte fidedigna que agora tem uma banca de jornal lá pros lados da Lapa (a paulistana). Já outros juram que viram o elemento num ônibus, violão às costas, voltando pro Vale do Paraíba. Ainda há aqueles que têm certeza absoluta de que o foragido era o sujeito de chapéu que fazia cantoria no centro da cidade. Qual dessas informações estará correta? O certo é que, com o desmantelamento da primeira sede do Caiubi, ele, que era figurinha fácil no local, começou a rarear suas aparições até descobrir a fórmula da invisibilidade. Em certa ocasião, na casa de Tato Fischer, por um momento cri tê-lo visto, mas depois percebi que me equivocara, pois o tipo de penteado moderno e pinta de galã não correspondia à descrição do bigodudo de rabo de cavalo que eu conhecera outrora.

Crônicas Classificadas: 8) O circo das iIlusões do rock: uma tragédia contemporânea

Uma amiga me emprestou recentemente um livro de Nelson Motta chamado Música, Humana Música, lançado em 1980 (!) pela editora Salamandra. Na verdade, é uma compilação de crônicas musicais publicadas anteriormente em jornais. Além da leitura deliciosa que o livro me propiciou, o que mais me chamou a atenção foi sua contemporaneidade. Em 1980 eu não passava de um impúbere garoto, e ter o prazer de ler hoje – 30 anos depois, às vésperas de completar quatro décadas de vida, e em pleno século 21 – textos tão contundentemente atuais proporcionou-me a experiência de ser tomado por um sentimento misto de prazer e frustração, por identificar em longevas crônicas uma premonição do que viria a se tornar a música, humana música, de nossos tristes tempos. Escolhi, entre tantas amargas delícias, um texto que considero cruelmente atual, que, visto não o ter encontrado disponível no universo virtual, tive a pachorra de redigir:  

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 7) O Palhaço-Fantasma

A caiubista de Roraima, Lucinda Prado, convidou-me a participar do seguinte projeto do qual ela está à frente:

Escrever um livro de coletâneas de contos de escritores/compositores que fazem parte do Clube Caiubi, agregando-os em torno de um projeto comum que venha buscar as características das relações que se travam entre o louco de rua e a comunidade, e detectar a maneira como o convívio com o louco toca o imaginário popular e produz efeitos culturais. Não se trata aqui de um projeto de estudo facilmente encontrado na esfera das ciências, mas sim um resgate aos valores que vêm se perdendo ao longo dos tempos e que tiveram importância ímpar na compreensão de vida das comunidades ou dos grupos sociais de então, com uma riqueza imensa de valores e forma de lidar com as emoções suscitadas pelas histórias, ao mesmo tempo cheias de humor, de piedade e até de certa maldade [...]

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ninguém me Conhece: 27) Lis Rodrigues, a musa do Caiubi

Todos os grandes movimentos musicais contaram com suas musas. Com o Clube Caiubi não poderia ser diferente. Ela atende pelo nome de Lis Rodrigues. Claro que por lá passaram (e passam) muitas outras, como Lucia Helena CorrêaBárbara RodrixVanu Rodrigues, a própria Kana, entre outras, mas Lis sintetiza bem o que é o Caiubi, pois suas características são as do próprio clube. Lis é eclética, perseverante, guerreira, positiva, tem espírito de coletividade e, sim, acredita sempre. Vai na frente, apontando tendências, dando voz a seus compositores prediletos, um pé na tradição, o outro na vanguarda, como o próprio Caiubi. E tudo isso do alto de seu pouco mais que metro e meio. O talento, contudo, é inversamente proporcional.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 6) Gomen-ne

Mais uma vez escrevi um conto inspirado em fatos reais. Só que este tem maior liberdade no desenvolvimento da história. Foi assim: hoje, no trabalho, uma senhora que frequenta lá puxou conversa comigo e contou que estava ainda em estado de choque pelo que havia acontecido com seus vizinhos da frente. A partir do que ela me contou, desenvolvi, sem muita preocupação com os fatos reais, o seguinte conto:

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crônicas Classificadas: 7) Tiririca e os inteligentes

Sou tomado por uma alegria danada quando vejo se consolidar no caótico mercado musical brasileiro algum ser pensante, que não tem medo de dar suas opiniões (e não se furta a fazê-lo). E a alegria é redobrada quando percebo nesses tais seres, além do talento poético-musical, uma saborosa e afiada prosa. Estou me referindo a Zeca Baleiro, claro. Já tive até ímpetos de enfiá-lo num texto do Ninguém me Conhece, mas achei que seria muita cara de pau, não bastassem Ceumar e Celso Viáfora, pra ficar entre os mais ou menos conhecidos destacados lá.

domingo, 21 de novembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Primeiro Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO PRIMEIRO DIA
Miércoles, 28.

Fomos à praia. Uma das melhores de Santiago. 40 minutos de táxi. Calma lá, não foi essa fortuna toda que vocês estão pensando, apesar de não ter sido barato. Contratamo-lo via Cubatur, e ele marcou hora pra nos levar e trazer de volta. Uma das melhores praias de Santiago equivale a uma das piores de Varadero. Uma praia cheia de rochas e pedras pequenas; pra entrarmos no mar tínhamos que fazer um baita malabarismo e nos contorcer todos até nos afastarmos do perigo de cortar os pés ou escorregar. Até esqueci o nome da danada da praia, mas não faz diferença, pois não vou indicá-la. O bom foi que ficava dentro de uma espécie de clube, segurança total (se bem que por aqui a segurança é total em praticamente todo lugar). Havia também goiabeiras espalhadas por toda a margem, que nos davam uma bela sombra. Nessa praia, um dia alguém teve uma ideia maravilhosa: fez uma espécie de cerco redondo, todo feito de rochas, dentro do mar, com apenas duas entradas pra água do mar penetrar e uma escadaria que acabava dentro das águas, e foi justamente ali que desfrutamos, pois, fora do cerco, além das pedras, havia ondas violentas. Na volta o taxista nos descontou cinco pesos, pois trouxe também dois amigos alemães, que falavam muito bem espanhol. Um deles era fanático por salsa e já havia vindo a Cuba umas quatorze ou quinze vezes.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO DIA
Martes, 27.
    
Está cerrado”. Ouvimos hoje esta frase não poucas vezes. Um senhor de 65 anos, cujo nome me escapou, morreu pela manhã. E o que tem isso com as portas fechadas? Este senhor foi um dos criadores do Festival Caribenho, que acontecerá semana que vem, e durará a semana toda. Por conta disso, todos os ensaios e apresentações que estavam marcados pra hoje não ocorreram, e muitas casas fecharam, por luto. Kana ficou deveras desapontada, pois marcamos pra ir a uma praia próxima amanhã, mas se soubéssemos que o dia ia ser improdutivo, teríamos marcado pra hoje. De bom, apenas a vitória do Brasil por 3 a O sobre Gana e a plena recuperação de Ronaldo. A onda de improdutividade recaiu sobre o outro, o Gaúcho. Engraçado que Adriano, sem praticamente fazer nada durante o jogo todo, acabou fazendo um gol de joelho que, se minha vó não fizesse, minha mãe certamente o faria. E o outro jogo, Espanha e França, terminou em 3 a 1 pra esta última. Esperamos todos que Ronaldo não “amarele” de novo…

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ninguém me Conhece: 26) Declarando os bens de Álvaro Cueva

Um sujeito se dá conta de que está ficando velho quando fatos que até havia pouco lhe eram recentes da noite pro dia parecem pertencentes a encarnações antigas. Foi o que aconteceu comigo ao puxar pela memória minha primeira lembrança de Álvaro Cueva. Deu-se assim: Em 2002 fui convidado pelos amigos Rodrigo Campos e Nany di Lima a participar do projeto Samba da Bênção. A ideia era originalíssima: uma vez por semana, no Teatro Arthur Azevedo, no bairro paulistano da Mooca, uma roda de samba comandada por Rodrigo homenageava um sambista. Até aí, nada de mais, a peculiaridade consistia no roteiro do show, que trazia nos intervalos das canções uma espécie de palestrante que contava, não a biografia do homenageado, mas fatos curiosos, pitorescos, que o envolvessem. Em seguida, aproveitando a deixa, atores comandados por Nany invadiam o palco e interpretavam a cena. O palestrante era eu! Foi, inclusive minha primeira experiência de palco, e agradeço imensamente aos dois pela oportunidade que me deram.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 5) Sem Novidade

Dia desses ouvi de um cara que conheci um relato que achei que dava um bom conto. Hoje aproveitei o silêncio das noturnas horas pra pô-lo no papel, ou melhor, na tela. Ei-lo:



Sem Novidade

Então, nessa época eu trabalhava de segurança. Armado e o escambau. Era no esquema de 12 por 36, tá ligado? Quer dizer, eu trabalhava 12 horas e descansava 36. Ou seja, dia sim, dia não. Eu era do turno do dia. Era tranquilão, sem crise, nunca deu beó comigo. De vez em quando vinha uns noia, mas eu colava neles e mostrava a ferramenta, tá ligado?, e era sem novidade. Mas moleza mesmo era o turno da noite. A casa fechava dez horas, tá ligado?, 22 horas. Daí era só sossego. Dava pra tirar altos cochilos, só precisava fazer umas ronda de vez em quando pra cumprir com o riscado. Mas era suave. Eu sei disso porque o fulano que me rendia me contava, porque de dia não tinha essas parada de cochilo, não. Nem na hora do almoço!

Ninguém me Conhece: O 1º show

A partir das 21h da noite do dia 20 de novembro próximo (quis o deus das coincidências que caísse no Dia da Consciência Negra), no novíssimo Bagaça Botequim (que também é a nova sede das Segundas Autorais do Clube Caiubi), que fica na rua Clélia, 2023 (esquina com a Jericoacoara), no bairro da Lapa (Pompeia?), pertinho do Sesc Pompeia, minha coluna Ninguém me Conhece ultrapassará as fronteiras do mundo virtual em direção ao mundo real. Nessa noite subirão ao palco (ou serão representados por outros artistas) Celso ViáforaCeumarDaisy CordeiroÉlio CamalleKanaKléber AlbuquerqueLéo NogueiraLúcia SantosSonekka e Vlado Lima. A maioria deles já confirmou presença! Os telefones pra reserva são: (11) 2386-4915 e 9584-2388. E o valor da entrada pra assistir a seleta lista é apenas R$ 10! O show será filmado e futuramente será divulgado no youtube e aqui. Feita a propaganda, passemos à prosa.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ninguém me Conhece: 25) Os fragmentos intactos de Alexandre Lemos

A primeira vez que ouvi falar de Alexandre Lemos, se não me falha a memória (e ela costuma falhar!), foi numa segunda autoral no antigo Caiubi, ainda em Perdizes, pela boca de Sonekka, enquanto este apresentava as duas canções que lhe cabiam. Em dado momento, entre a primeira e a segunda canção, disse ele: “Alexandre Lemos, pra mim, é o maior compositor vivo!”. Tomei um choque. Como é que eu nem sequer conhecia um compositor que pra um parceiro chegado era simplesmente o maior vivo? Fiquei encafifado, mas o tempo passou e acabei esquecendo o dito cujo

sábado, 6 de novembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Nono Dia

2006
JUNHO
NONO DIA
Lunes, 26.

Não retomei. Dormi. Livros, se não os levamos nas viagens, fazem-nos falta, se levamos, não temos tempo pra lê-los…

Hoje, após o café da manhã, fomos à Casa del Estudiante, que fica exatamente ao lado do Hotel Casagranda, do outro lado da rua. Lá acontecia um ensaio de um grupo de dança chamado Matumba (se não me engano), dedicado à música folclórica. O espetáculo, a cujo ensaio assistimos, mescla três influências da música cubana. Do lado oriental do país há a influência francesa, do lado ocidental há a africana, e há também uma outra (cuja origem esqueci completamente), todas juntas formando uma trilogia a que o espetáculo se dedica. Este grupo é muito famoso, e já viajou por vários países da Europa, além do Canadá. O diretor é rigorosíssimo, um negro pequeno, com tranças e uniforme de basquete, que certamente deve ter trocado com alguém (o uniforme, não as tranças). Ao final, coversamos com o coreógrafo, e Kana o filmou. Foi ele quem nos deu todas essas informações. A dança é muito vigorosa, pois remete às origens africanas dos cubanos.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Crônicas Classificadas: 6) O elogio do amor, segundo Almodóvar

Há alguns anos, a convite de Ricardo Soares, comecei a escrever alguns textos pro site do Caiubi explicando meu processo de criação. O site foi pelos ares, mas consegui salvar alguns textos, entre eles, o que segue abaixo. Estivesse só, eu o colocaria nas Crônicas Desclassificadas, mas, como serve de prefácio pra um texto de Walter Salles, vai aqui mesmo, nas Crônicas Classificadas:

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 4) Quarups e calados

O Brasil se baianizou. No sentido preconceituoso da frase. Ou eu não nasci de bem com a felicidade. Explico: nesta quinta-feira última, ganhei da sogra (que sogra!) uma viagem para Rio Quente-GO, um resort (ou, como dizem por lá, risórti), já que fica mais bonito assim, em inglês. Lugar maravilhoso, com muito sol e diversas piscinas de água quente natural, além de um parque aquático “mudernamente” batizado de Hot Park. O primeiro dia foi ótimo, relaxante, revigorante. Eles têm lá um método interessantíssimo que é uma espécie de cartão personalizado que cada um leva ao peito e utiliza aonde quer que vá, sem precisar se preocupar com usar dinheiro. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crônicas Classificadas: 5) El buscador

Quando finalmente pisei numa sala de aula na tão ansiada condição de universitário, tive o prazer indescritível de conhecer a espanhola Teodora Freire, uma simpática senhora que iria ser minha professora de espanhol. Lembro-me de que estávamos no laboratório onde iriam ser ministradas as aulas. Teodora preparara-nos um áudio-livro com um conto de um escritor argentino chamado Jorge Bucay. Pus os fones, fechei os olhos e entrei numa viagem inesquecível. O conto era maravilhoso; a voz, do próprio Bucay, era grave, serena; e o mais incrível foi que consegui entender praticamente tudo!

domingo, 31 de outubro de 2010

Crônicas Classificadas: 4) Política e educação: conceitos complementares

Caramba! Como esse cara escreve! Perto dele, sinto-me como um haicaísta. E, no entanto, que delícia de ler! Neste dia de eleições, deixo de lado um pouco minhas aventuras cubanas e meus desconhecidos artistas do coração e adentro um terreno mais espinhoso, porém, ironicamente, cultivado justamente por um crítico musical.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 24) A infinita fantasia de Marito Correa

O fato de ser letrista (e não cantor) possibilitou-me conhecer muitos bons compositores e com eles "parceirar". Pra isso, valeu-me também o exercício diário de vencer os preconceitos musicais e abrir olhos e ouvidos pro novo... e pro que é considerado velho. Por conta disso pude trazer a meu convívio compositores de gerações distintas da minha e com estes construir um vínculo (não só musical). E, dentre esses parceiros da, digamos, velha guarda, tenho um carinho todo especial por Marito Correa, um compositor com C maiúsculo! E também um cara muito bom de papo, de tiradas geniais, engraçado até a medula, e partícipe de encontros etílicos, sobretudo os regados a boa música.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 23) Las canciones más hermosas del mundo de Joaquín Sabina

Depois de Noel Rosa, ninguém revolucionou tanto a música popular brasileira quanto Chico Buarque de Hollanda. E revolucionou sem revoluções. Amante da tradição, chegou timidamente, sem experimentalismos, mas sua aparição teve o efeito de um furacão. Claro que houve outros, inclusive os movimentos, como o da bossa nova e o da tropicália, mas o rapaz de olhos claros, sozinho, causou mais estrago na arte de se fazer canção popular. Tom Jobim foi um gênio incontestável, mas era letrista bissexto. Caetano é excelente letrista, mas se dá o luxo de errar não poucas vezes. Outros vieram, mas ainda têm que comer muito arroz com feijão pra superá-lo. De estilo inconfundível, rimas sufocantes e temas dos mais variados, Chico trouxe à canção popular uma elaboração tal que até hoje não foi superada. Apesar de o Rei ser outro, ouso dizer que o filho de seu Sérgio é o Pelé de nossa música.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 22) O charme melancólico de Luhli

Na época em que participava do grupo RSMB (Rede Solidária da Música Brasileira), encabeçado pelo compositor Madan, e começava a frequentar o Caiubi, ouvi falar pela primeira vez de uma tal M-Música, grupo de discussão sobre música que era uma espécie de fusão da RSMB com o Caiubi, pois possuía o elemento virtual daquele e as apresentações ao vivo deste. Só que, diferentemente destes, seu QG era no Rio. Apesar disso (ou por isso mesmo), nesse grupo havia brasileiros de várias partes do mundo, inclusive trocavam e-mails e faziam parcerias famosos e anônimos que dele participavam. Mexi uns pauzinhos e me fiz convidar, assim que, em pouco tempo, lá estava eu, trocando e-mails com amantes (e fazedores) da música dos mais variados estilos e sotaques. E foi lá que tive o privilégio de conhecer Luli, ou melhor, Luhli.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Crônicas Classificadas: 3) Poema em linha reta

Quando eu era jovem, tinha uma ideia errônea de poesia. Assim como quase todos os garotos com quem convivia, fosse jogando bola, fosse em sala de aula, enfim, fosse onde fosse, eu achava que poesia era leitura de menina, daquelas que escreviam em diários e punham o nome do rapaz de quem gostavam dentro de um coração carregado na tinta. Sim, eu carecia de ideia própria. Desgostava sem conhecer de fato. Queria ser popular. E toda popularidade tem um preço. No meu caso, o preço era a ignorância (nos dois sentidos). Passou o tempo, e o mais engraçado de tudo (se é que isso é engraçado) é que fui me aproximar da poesia DE VERDADE só depois que abandonei a escola. Depois que me vi só, quando os amigos, um a um, foram tomando rumos distintos do meu, e eu sobrei ali, solitário como quando era criança.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Oitavo Dia

2006
JUNHO
OITAVO DIA
Domingo, 25.

Hoje vivemos momentos dramáticos, dignos de roteiro de filme sul-americano. Vamos a eles:
    
Começamos o dia, como diriam os supersticiosos, com o pé esquerdo. Pensamos que o café da manhã era até as 10h, como sempre acontece, dessa forma, chegamos às 9h35, porém, era até as 9h30, então já estavam retirando tudo. Deixaram-nos, contudo, entrar, mas não havia pratos, xícaras, ninguém nos atendia, finalmente Kana reclamou a um garçom, e uma funcionária da recepção, que nos havia recebido gentilmente no dia anterior, levantou-se e nos disse, em espanhol e a toda velocidade, que isso e que aquilo. Não acreditamos que uma funcionária pudesse se dirigir dessa forma a um cliente. Desistimos de comer, arrumamos nossas malas e fomos a outro hotel, o Hotel Casagranda, bem no centro da cidade. Um hotel, diga-se de passagem, bem melhor que o outro, de ruim apenas a falta de piscina.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 21) A música marginal de Max Gonzaga

Como já relatei antes em texto a respeito do Caiubi, quando estive pela primeira vez na casinha da rua de mesmo nome, nº 420, havia só meia dúzia de gatos pingados. Fiquei um tempo sem ir, por motivos que escapavam a minha vontade, e, quando finalmente consegui voltar lá, depois de alguns meses, pra minha alegria encontrei a casa cheia e, a exemplo de Zé Rodrix, também me encantei com a qualidade do que ouvi. E entre os que mais me chamaram a atenção naquela noite estava Max Gonzaga. Confesso que ver sua apresentação naquele improvisado palco causou-me sensações conflitantes, pois, ao mesmo tempo que sua música e sua presença de palco me arrebatavam, não me passou despercebido que sua autoconfiança podia ser interpretada também como arrogância.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 20) O caiubista Zé Rodrix

Quando Zé Rodrix aprontou a última das suas e, à francesa, retirou-se do cenário, eu, estupefato, após derramar fartas lágrimas, passei a acompanhar, autômato, os noticiários na TV a seu respeito. E o que vi? Uma cobertura preguiçosa e repetitiva que carecia de profissionalismo e, assim, desrespeitava o falecido. Pensei com meus botões que a imprensa escrita, mais investigativa, trataria do assunto com mais riqueza de detalhes. Enganei-me rotundamente. A impressão que dava era que o  havia morrido na década de 80 e só agora descobriam seus restos mortais. Não havia um só profissional que encontrasse uma informação satisfatória a respeito do que ele havia feito nesses mais de 20 anos! Minha tristeza foi se transformando em ira e nojo. Então esses almofadinhas, formados pelas melhores faculdades do país, não tinham absolutamente nada a acrescentar ao público além do fato de haver ele morrido disso à tal hora do dia tal no hospital xis, que o velório aconteceria na loja maçônica ípsilon e o enterro, no cemitério zê? Daí pronto, acabou-se, passemos ao futebol...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Sétimo Dia

2006
JUNHO
SÉTIMO DIA
Sábado, 24.

Passamos esta noite em claro. Chegamos tarde do Dos Gardenias, tivemos que preparar as bagagens, deitamos às 2h30 e fomos acordados pelo recepcionista às 3h30. Como fui acometido por novo acesso de tosse, sono foi coisa que não vi (nem me viu). Às 3h50 chegou o taxista que nos levou ao aeroporto local, onde, depois de três ou quatro filas, sentamo-nos em cadeiras desconfortáveis e esperamos até às 7h da matina, quando um avião, que mais parecia um trem paulistano de subúrbio, nos levou a Santiago de Cuba. Quando digo “trem paulistano de subúrbio”, quero dizer que havia todo tipo de cubano neste avião, inclusive mulheres carregando rosas, crianças, e havia até uma senhora carregando um maço de cebolinha, como se estivesse num ônibus, de volta da feira. Havia um jovem homossexual fazendo amizade fácil com uma passageira ao lado e lhe mostrando fotografias de suas andanças por Cuba, dançando… Enfim, dormi e acordei uma hora e meia depois. Quando fechei os olhos durante o voo estava praparado pra morrer, pois o avião não era dos mais confiáveis, então, quando chegamos sãos e salvos, senti uma súbita felicidade.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 3) Hey, Juddy

Recentemente, numa dessas esquinas da vida, topei com um velho amigo de bebedeiras e, para variar, fomos a um boteco comemorar o reencontro, ou qualquer outra efeméride. Qual não foi minha surpresa ao notar que ele, enfaticamente, pediu ao garçom uma Skol. Explico. Ambos sempre preferimos, durante quase duas décadas, a Brahma. Não estou fazendo comercial de cerveja, ao contrário, queria justamente escrever sobre o poder do comercial na vida das pessoas. Capaz até de mudar o gosto de alguém, só porque está na moda.

sábado, 9 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 19) A marca registrada de Clarisse Grova

Foi na Sala Funarte, aqui em Sampa. Fui, a convite de Daisy Cordeiro, ver um show de Rafael Alterio e Cristina Saraiva. O convidado de Rafael era o excelente pianista André Mehmari, já Cristina, letrista não-cantora, convidara pra interpretar suas canções uma moça vinda, como ela, do Rio. Uma tal de Clarisse Grova. Tudo ia bem até que essa mulher resolveu abrir a boca. Rapaz, fui acometido por uma série de sensações, todas hiperbólicas. Foi amor à primeira vista. Da plateia, remexia-me no assento, ofegava, enfim, não conseguia crer no que presenciava, arrepiado do couro cabeludo à unha encravada, sonhando em ter um dia aquela voz a serviço de minhas palavras. E pensei: como vivi até hoje sem saber que existe uma cantora assim no Brasil? 

Crônicas Classificadas: 2) Um Veleiro in Alpha

A propósito do texto que escrevi a respeito de Fernando Cavallieri, lembrei-me de que ele, indiretamente, foi responsável por eu ter conhecido um camarada dos mais cultos com quem já tive o privilégio de prosear e que acabou se tornando um querido amigo, com quem já travei, via e-mail, papos que dariam um verdadeiro livro. Eu, em minha sagitariana bagunça, devo ter perdido a maioria deles, porém, Sérgio-Veleiro (o Veleiro Perdido) seguramente os têm guardados, com minha autorização pra os revelar após minha morte. Veleiro adora poesia, café, solidão, é arredio, agressivo por vezes em sua vocação pra falar a verdade, é um sujeito com quem briguei muito, a quem magoei e por quem fui magoado, isso tudo à distância, sendo ele um cearense de Fortaleza e eu, um cearense do Paraguai, digo, de Sampa. Mas, sobretudo, ele é um ser iluminado, poeta de versos sensíveis (muitos deles, musicados) e prosa açucarada (no sentido de se lamber os beiços, não de pueril), embora também afiada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 18) A febre de Fernando Cavallieri

Quando tinha por volta de 13 anos, num jogo de futebol de salão, dei um drible que fez fulano perder o rumo de casa (é, já dei minhas cacetadas), e este, pra se sentir vingado em sua honra, confundindo futebol com boxe, numa pancada certeira, fez-me beijar a lona (que não havia). A brincadeira custou-me uma fratura no braço esquerdo, duas semanas de gesso (durante os quais a régua foi minha espada vingadora contra a implacável coceira) mais sessões de fisioterapia. Desta experiência, trouxe uma peculiaridade que, contra a minha vontade, fez-me aprender a reparar nas diferenças: acostumei-me a usar o relógio no pulso direito, gostei, e mantenho o hábito até hoje. Porém, no âmbito da sociedade, a diferença, por vezes, chega a parecer aberração, pois o cidadão é educado pra ser igual e, instituído do direito à igualdade, acha que o certo é que todos pensem/ajam como ele. Eu mesmo, durante o período escolar, fazia de tudo pra esconder minha origem cearense (cheguei a, inconscientemente, forçar a perda, ou melhor, troca do sotaque) e meu fanatismo por Roberto Carlos (primeiro ídolo), tudo no intuito de ser popular, ser igual, ser mais um, fazer parte da “tchurma”. Crescido, longe das salas de aulas, aprendi a defender minhas características, peculiaridades, esquisitices, enfim, tudo o que até hoje forma o que sou, ainda que em construção. Este preâmbulo um tanto improvisado foi apenas o meio que achei pra apresentar Fernando Cavallieri.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Sexto Dia

2006
JUNHO
SEXTO DIA
Viernes, 23.

Thank you very much” disse-nos o músico, após termos falado com ele uns cinco minutos em espanhol e comprado o CD de seu grupo, que continha grandes sucessos da música cubana. Este fato reflete bem um sentimento de subserviência que acomete não só os cubanos, mas todos os latino-americanos. Por que cargas d’água, se eu sou brasileiro, o músico em questão é cubano, falamos em espanhol (ou quase) e ainda por cima compramos um CD suyo, POR QUE tinha ele que agradecer em inglês? Pra mim soou mais como ofensa, despeito. E, diga-se de passagem, a maioria dos músicos aqui vive uma situação entediante, repetindo diariamente as mesmas guantanameras da vida. Claro que no Brasil há os músicos de bar, mas estes podem galgar postos mais elevados, ao passo que aqueles ficarão eternamente ali, dizendo “thank you very much”.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 17) The visions of Vasco Debritto

O destino tem um senso de humor dos mais marotos. Quis ele que eu fosse apresentado por Sonekka a Vasco Debritto. Este, um defensor ferrenho da bossa nova; aquele, mais voltado ao pop e suas decorrências. E isso tudo se deu graças a esta ferramentinha mágica que é a Internet, que aproxima pessoas dos mais diversos lugares e estilos. No caso, a música também ajudou nessa aproximação, pois era o elemento em comum entre um brasuca dono de gravadora e compositor residente no Japão e um engenheiro e consultor em tecnologia e compositor residente em Santos trabalhando em Sampa. E que não se conheciam pessoalmente. Estava eu de viagem marcada pro Japão (a primeira de três) quando Sonekka me escreveu dizendo que havia um camarada lá a quem seria interessante conhecer. Resumindo a história, já em Chiba, cidade onde vivem os pais da Kana, entrei em contato com Vasco por telefone e fui por este convidado a visitá-lo na cidade praiana de Oiso, onde morava na época. O Japão tem uma rede ferroviária de dar inveja em terceiro-mundista, assim que, nem bem me acomodei no trem, já cheguei lá, depois de poucas horas de deslumbre visual.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ninguém me Conhece: 16) Affonso Moraes, cumprindo a missão

Num distante 29 de setembro, mais precisamente há 76 anos, chegava pra pedir espaço nos palcos da vida um garoto saudável que seria batizado com o charmoso nome de Affonso, assim mesmo, com dois efes, pois o moleque não estava pra prosa. Estava pra poesia! Poesia? Qual o quê! A vida se lhe mostrava dura, logo de cara. Filho de migrantes baianos, mais uma barriga pra ser alimentada e mais um número pra contar no percentual de moradores daquele cortiço. Poderia ser personagem de Aluísio Azevedo. Mas não era.