sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A Palavra É: 11) Moisés

Um belo dia, minha mãe, preocupada com a violência das ruas, trancou o portão que até então vivia aberto e disse, "De hoje em diante, é daqui pra dentro!". Não podendo mais ganhar a rua, precisei usar a criatividade. Primeiro, foram os amigos imaginários; depois, a coleção de tampinhas de garrafa com rostos de personagens de Walt Disney – mais ou menos na mesma época em que surgiram em minha vida os gibis –; em seguida, apaixonei-me por livros infantis, seguidos dos infantojuvenis (pasmem!, agora é assim que se escreve); e, a partir de então, ainda que atabalhoadamente e sem critério, a leitura entrou em minha vida como se fosse uma bola de neve dentro da qual eu seria engolido e sairia ladeira abaixo, destruindo tudo o que fosse ignorância a meu redor. Acabei, na falta da chave que me abriria o portão, inventando portões outros.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Trinca de Copas: 33) Gabriel de Almeida Prado, Marcio Policastro (dose dupla) e Thiago K


1) BULEVAR SOLIDÃO

por Vanessa Curci

Como já contei aqui antes, prefiro compor minhas letrinhas sobre melodias que os parceiros me mandam. Contudo, como a maioria deles me pede a letra antes pra depois musicá-la, desenvolvi uma técnica que é a seguinte: enquanto faço uma letra, vou cantarolando junto qualquer melodia, pra sentir a pulsação e a métrica dela e facilitar, assim, o trabalho de quem a vier a musicar. E, às vezes – muito raramente, admito –, calha de essa melodia-tampão soar bem a meus ouvidos. Quando isso acontece, costumo dar uma chance à pobre, e peço a ajuda de algum parceiro pra harmonizá-la e, de repente, melhorá-la. Foi o caso desta: mostrei-a (juntamente com a letra) a Policastro, e ele não só a melhorou, como ainda lhe fez uma parte B "matadora", que levou a brincadeirinha inicial a um nível profissa. Reparem se estou mentindo:

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Crônicas Classificadas: 44) Oração na garrafa

Existem críticos e críticos. Nós, compositores, precisamos muito deles, mas também estamos à mercê de seu veredicto ou, pior, de seu silêncio. A maioria deles, por medo, preguiça ou conveniência, empunha sua pena a serviço do desserviço à sociedade, tratando apenas de artistas fabricados e a troco muitas vezes de brinquedinhos eletrônicos. Claro, na maioria dos casos o que fala mais alto é o medo de perder o emprego, fatalidade a que todos estamos sujeitos. Atualmente, os críticos preferidos da grande mídia são bonequinhos de ventríloquo, sem personalidade e sem matizes. Por essas e outras, a recente perda do crítico Mauro Dias nos dói tanto; sem contar a perda do amigo, bom de prosa e de copo. Existem críticos e críticos, e Mauro, entre eles, era todo um poeta. Sua prosa sempre tecida com a palavra certa ("pra doutor não reclamar"), escolhida a dedo, retirada da grande árvore da comunicação, tinha a capacidade de valorizar ainda mais a arte de quem era alvo de seus comentários. Fica a lacuna. Mas Mauro também era um grande cronista; pra quem não o conheceu, resgato uma de suas pérolas. Oremos:

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Trinca de Copas: 32) Dose tripla de Augusto Teixeira (mais Gabriel de Almeida Prado e Guiaugusto Pacheco)

por Marina Tavares
Ainda sentindo os efeitos colaterais da ressaca/preguiça pós-carnavalesca, fiquei aqui pensando em qual assunto traria pra cá, pra alimentar este meu faminto (e famigerado) bloguinho; daí, levando em conta que hoje não é um dia dos mais propícios a leituras (visto que deve haver muita gente por aí ainda pior que eu), lembrei-me de que o mano Augusto Teixeira continua com sua campanha de financiamento coletivo pra gravação de seu primeiro CD (campanha que, aliás, entra em sua fase final); então, resolvi mais uma vez escrever sobre ele (já havia escrito sobre o projeto antes, aqui), só que, desta feita, focando em mais algumas de nossas belas parcerias. Se gostar, não perca a oportunidade de contribuir e ganhar um CD que tem tudo pra ser uma belezura. Saiba mais sobre o projeto aqui: http://www.kickante.com.br/AugustoTeixeira

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Trinca de Copas: 31) Arnaldo Afonso, Edu Franco e Sonekka

1) JÉSSICA E VAL

Admiro Edu Franco desde quando o vi pela primeira vez, há 11 anos, defendendo sua hilária Seresteiro a Perigo num festival realizado pela TV Cultura. De lá pra cá, conhecemo-nos pessoalmente, tornamo-nos amigos, mas, apesar de muitas risadas, muitos porres e noitadas, a bendita da parceria nunca rolava. Batemos na trave algumas vezes; eu lhe enviei umas letras, mas não se deram com seu santo; ele me mandou uma melodia, mas eu, após uns entraves, nunca a concluí (ainda hei de); e a vida prosseguiu. Edu, grande melodista discípulo da melhor escola emepebística e não menor letrista (além de um dos mais talentosos cronistas de minha turma), sempre foi de poucos parceiros, o que acabava me deixando menos frustrado por não emplacar uma com ele.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Os Manos e as Minas: 22) Dias de Mauro

Outra vez, minha lerdeza me impede de dar flores em vida a um camarada que, mais que ninguém, as merecia. Acabo de saber, pelas redes sociais, que o crítico musical Mauro Dias se cansou de tanto lixo travestido de música e decidiu se mudar de vez prum condomínio onde moram Tom, Vinicius, Elis, Cartola, Noel e mais um punhado de gente que, se viva estivesse, também se sentiria um tanto deslocada nesse cenário musical pós-apocalíptico que é o que se tornou a música brasileira que se ouve por aí. Aliás, Mauro foi dos primeiros que foram vitimados por ela. Crítico do Estadão de longa data, acabou sendo "saído" de lá porque as pessoas sobre as quais escrevia já não interessavam mais a uma imprensa que se preparava então pra dar no que deu hoje.