sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Palavra É: 6) Bicicleta

Eu acho que a bicicleta só existe pra humilhar quem não sabe andar nela. O cidadão vê aquelas pessoas pra lá e pra cá bicicletando tão facilmente como se estivessem respirando... Quer dizer, elas estão respirando. Até porque, se não estivessem, não poderiam estar andando de bicicleta; o que quis foi fazer uma relação entre a naturalidade de respirar e a de andar de bicicleta, traçar um paralelo, manja? Pois bem, voltemos. Um terráqueo que não sabe andar de bicicleta cresce com sérios problemas psicológicos (se sente um ET), porque ele não aprende a fazer um troço do qual outros não se esquecem. Aí, quando ele ouve que isso ou aquilo é igual a andar de bicicleta, "a gente nunca esquece", ele sente deverasmente uma profunda vontade de cair no choro.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Palavra É: 5) Fetiche

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Ai, ai, ai! Eu sabia que chegaria o dia em que esta coluna ia virar uma "roubada"! Vinha pedindo a amigos que dissessem a primeira palavra que lhes viesse à cabeça, mas sem lhes dizer o motivo. E não é que meu camarada Carlos D'Orazio tascou, de prima, de bate-pronto, à queima-roupa... fetiche? No que será que ele estaria pensando ao vomitar (mais rápido que uma ejaculação precoce) uma palavra tão... tão... tão... fetichista? Pois bem, vamos por partes. Em primeiro lugar, admito que fui pesquisar a origem da palavra. Já sabia que era francesa, só não sabia que, num surpreendente bate e volta, fetiche, aliás, fétiche, é um empréstimo do português feitiço, cuja origem é o latim facticius (artificial, fictício). Falou ou quer mais?

domingo, 17 de maio de 2015

A Palavra É: 4) Verme

O grande problema do mundo é que dá poder aos vermes e tira poder dos homens. Se o que importasse realmente fossem a capacidade, a aptidão de cada indivíduo, tudo estaria nos eixos, cada um desempenhando o papel pro qual veio ao mundo... mas não, sempre há pessoas erradas nas funções erradas, e de olho em seus atos, esperando um vacilo seu pra dizer que o verme é, na realidade, você. Desde sempre foi assim. O poder vinha do berço (e ainda vem, embora mais camuflado), daí o pirralho remelento crescia cheio de afetação e arrogância, achando que o mundo (quadrado) girava ao redor de seu umbigo. Os vermes são assim: arrogantes, traiçoeiros, covardes. Vez em quando, até se fazem de bonzinhos pra ganhar a confiança de quem está abaixo deles, mas basta um deslize e verá como rosna um verme como se fosse uma fera.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crônicas Desclassificadas: 162) A feliz (e triste) história do Clube dos Feios

No dia em que Batista faliu, sua esposa avisou que estava indo embora com as crianças. Ele, duplamente arrasado, só teve forças pra sussurrar um pálido "Por quê?", ao que ela respondeu, com uma agudeza metálica e cortante na voz: "Não suporto mais sua feiura!" Batista, que estivera casado com a mesma mulher durante mais de dez anos – e tivera um sem-número de amantes durante o período –, ouviu aquilo horrorizado. Sempre se achara bonito. Quer dizer, bonito, bonito, nunca fora, mas era elegante, charmoso, engraçado, espirituoso, alto, atlético e, sobretudo, sempre tivera dinheiro suficiente pra que seus defeitos (os físicos, aclaremos) se mantivessem, se não de todo escondidos, ao menos camuflados. Não teve sequer presença de espírito pra implorar que a mulher ficasse. Nem tinha mais capital pra encabeçar tal negociata.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Filho da preta! – na boca dos leitores (3)


Dando prosseguimento às divulgações de meu romance Filho da preta! (enquanto a imprensa não toma conhecimento de sua existência), destaco mais uma leva de comentários de leitores do livro, a quem sou muitíssimo grato não somente pelo fato – já digno de nota – de o terem lido, mas sobretudo por terem gasto parte de seu precioso tempo se dedicando a relatar suas impressões sobre a leitura. Obrigado, de coração! 

Ah, quase esquecia: antes de passar a eles, aviso aos caros e raros leitores que dois comentários estão em espanhol, mas preferi não os traduzir, em primeiro lugar porque estão bastante claros, em segundo pra incentivar a leitura na hermosa língua de Cervantes. A eles, pois:

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Crônicas Desclassificadas: 161) Alguns pensamentos barulhentos sobre o panelaço-aço-aço-aço

Terça-feira passada, durante os dez minutos do programa do PT em rede nacional, novamente os paneleiros fizeram seu carnaval. Segundo a Folha de S.Paulo, o tal panelaço ocorreu em dez Estados mais o DF. Vejamos: fora o Distrito Federal, o Brasil possui 26 Estados. Se dez deles "panelaram", significa, se não erro a conta, que 16 deles ficaram em silêncio. Portanto, a manchete da Folha poderia bem ter sido "Durante programa do PT, 16 Estados não fizeram panelaço". Percebem como as coisas sempre podem ser vistas por ângulos diferentes? E mais: nesses dez Estados + DF, não foram em todas as cidades nem em todos os bairros que a barulheira ocorreu. Ou seja, se fizermos a conta de forma isenta, chegaremos a um resultado pífio.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A Palavra É: 3) Mentira

A humanidade nunca soube conviver com a verdade. Muitos dos caras que a utilizavam em seu discurso morreram na cruz, na fogueira, na guilhotina, vítimas de balas ou mesmo de solidão. E por quê? Porque a sociedade nos ensina a temê-la. Retrocedamos no tempo e nos lembremos de quando éramos crianças. Vejamos: na maioria dos casos, quando uma criança quebra algo "sem querer querendo", os pais lhe perguntam: "Foi você quem quebrou?" A criança, com medo de levar uma surra, responde rapidamente que não, sem saber que seus pais já sabem a verdade e só a estão testando. Na adolescência, a coisa piora: "Júnior, aonde cê vai?" Ao que o jovem Jr. responde que vai estudar na casa de fulano, quando na verdade vai ver uma garota ou assistir a um jogo no estádio, tomar umas com os amigos etc.