quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Epílogo

2006
JULHO
EPÍLOGO
Domingo, 2.

Chegar ao aeroporto de Guarulhos é sempre uma felicidade (já sente-se um cheiro de pão de queijo no ar). E passar por ele é uma facilidade. Coisas de país democrático de terceiro mundo…

Do táxi, vi que os termômetros marcavam 11ºC. 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Quarto Dia

2006
JULHO
DÉCIMO QUARTO DIA
Sábado, 1º.

Como já expliquei, há escassez de transportes em Cuba. Dessa forma, há um serviço pau-de-arara que leva as pessoas como sardinhas em lata. São, em sua maior parte, caminhões (abertos ou fechados) que entalam viventes até não caber mais mosquito, passam uma corda de lado a lado e partem, soltando uma fumaça de deixar doente quem respira. Há também um exótico mas não menos incômodo ônibus com frente de caminhão, que seria engraçado se não fosse de chorar. Quando os vejo, me dá uma saudade danada de nossos trens lotados. E fico feliz por dentro por não ter nascido cubano…

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crônicas Classificadas: 9) O Homem da Cabeça de Papelão

Queria homenagear nesta postagem duas pessoas queridas: o amigo jornalista e blogueiro Paulinho das Frases, ou melhor, Paulo Mayr (visite seu Boca no Trombone) e a amiga (?) e ex-professora Mayra Pinto. Explico os motivos: no caso de Paulinho,  este foi um dos que me incentivaram a criar meu próprio blog e, nas raras oportunidades em que visita este meu precário espaço, blogueiro premiado que é, me dá valiosos toques (que eu nunca sigo), como, por exemplo, o de escrever textos mais curtos. Já Mayra, uma das melhores professoras (e mais apaixonadas/apaixonantes) que tive na vida, foi quem me apresentou/presenteou, em sala de aula, o conto abaixo, que me caiu como um raio. Mayra também é da boêmia e, boa de papo, assume suas verdades. Certa vez, entreguei-lhe meu romance pra que ela, professora de literatura, me desse uma opinião profissional. Ela parou na quarta ou quinta página e me disse que aquilo não era literatura e, sim, linguagem falada. Ao que retruquei que, partindo desse princípio, Guimarães Rosa também não era. Ela argumentou (muito bem, como sempre) em defesa de Guimarães, e eu a pus em xeque perguntando: "Professora, será que sua dificuldade em considerar como literatura meu romance não seria por ser eu seu aluno?". Ela pensou, pensou, repensou e me respondeu: "Pode ser". Xeque-mate! Contra tão sincera resposta, não há argumentos. Mayra também nunca leu meu blog, porque, ao que me consta, tem andado ocupada terminando seu doutorado e está em vias de publicar seu trabalho sobre Noel Rosa.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ninguém me Conhece: 30) Pequeno estudo sobre Marcio Policastro

Por ser eu um letrista, tenho, naturalmente, uma queda por canções que contêm belos textos. Quando compro um CD, gosto de ler suas letras antes de ouvir-lhe as canções, só pra sentir, antes do musical, o impacto poético do trabalho. Claro que há melodias tão fascinantes que qualquer letra fica boa dentro delas. Quando recebo melodias assim pra letrar, sei, de antemão, que o trabalho vai ser muito facilitado (e prazeroso). Mas, hoje em dia, belas letras são um luxo cada vez mais raro e pra cada vez menos ouvintes. Os próprios letristas, no intuito de atingir o público, têm procurado construir letras mais acessíveis. O que é, de certa forma, fazer concessões. E a arte verdadeira não deve fazer concessões. Há uma canção do belíssimo cantautor argentino Charly García na qual ele diz "No voy a parar/ Yo no tengo dudas/ No voy a bajar/ Déjalo que suba". É mais ou menos isso o que penso. A arte, pra ser grande, tem que nascer da alma, não de pesquisa de mercado. E quem a consome que procure apurar sua sensibilidade. Quando pensamos, por exemplo, em grandes nomes da literatura como Dostoiévski, Proust, Joyce, Saramago, nosso Guimarães etc., não encontramos neles facilidades, nós é que temos que, com a fluência da leitura, adaptar o mecanismo de nosso cérebro pra alcançá-los.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Os Manos e as Minas: 1) O sagitariano Noel Rosa

Quando pensava em Noel Rosa, quem me vinha à mente era um magrelo sem queixo com um cigarro na boca. Essa era toda a informação que eu possuía a respeito de um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. E isso mesmo depois de eu já me acreditar um deles, por rabiscar e rasurar as primeiras tentativas de letras. O tempo foi passando e alguns conhecidos meus começaram a dizer que o que eu escrevia lembrava algumas letras de Noel. Aí eu, do alto de minha ignorância, ficava meio sem graça, sem saber se aquilo era um elogio ou uma ofensa. No fundo, chegava mesmo a me sentir irritado, pois eu queria era ser comparado a Chico Buarque. Mal sabia eu que Noel fora uma das maiores influências de Chico.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Os Manos e as Minas – Prefácio

Resolvi inventar mais uma coluna neste blog, desta feita pra homenagear as pessoas que, ao passar por minha vida, tiveram o poder de mudá-la ou, pelo menos, influenciá-la de forma indelével. Não se trata apenas de pessoas conhecidas, como amigos ou parentes, mas também daquelas com quem jamais tive contato pessoal, mas que, pela grandeza de suas obras, tornaram-me melhor, ou mais instruído, ou mais sensível, ou mais sei lá o quê.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ninguém me Conhece: 29) Nelson Machado, un brasiliano

Foi depois de um show em alguma cidade da Itália, não me recordo qual. Já era madrugada. Voltava ele pra casa (mais especificamente, Bolonha), cansado, com sono, pensando num bom banho quente, uma taça de vinho, quiçá. Naquelas ermas horas ele não podia imaginar que passaria cerca de um ano sem voltar pra casa. Tudo foi muito rápido, diria mesmo cinematográfico (as tragédias sempre têm um quê de cinema). Foi como na canção de Toquinho e Vinicius que dizia que "Ao cruzar a rua você está arriscando/ Pode estar na lua, pode estar amando/ Passa um caminhão, cruza uma perua/ O cara tá na dele, você tá na sua [...]". É, o cara tava na dele, ele tava na sua, de repente, numa fração de segundos, lá estavam ambos desafiando as leis da física, dois corpos ocupando o mesmo espaço. Agora não vem ao caso saber quem estava errado, este não é um roteiro de filme policial. Tampouco importa investigar o que sucedeu com o outro, visto que ele não passou de um (trágico) figurante nessa história. Importa saber o que aconteceu com o protagonista, Nelson Machado: a partir daí, sua vida se resumiu a sofrimento, dor, desilusão, sucessivas cirurgias de reconstituição, placas disso e daquilo pelo corpo... E o pior, segundo o diagnóstico do médico, ele jamais poderia voltar a tocar!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Terceiro Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO TERCEIRO DIA
Viernes, 30.
    
Pontualmente às 6h da manhã chegamos a Havana. Tomamos um táxi até o Hotel Riviera, o melhor de todos até agora, felizmente o último. Dormimos até meio-dia. Acordamos, fomos até o Jazz Café almoçar, boa comida e barata. Voltamos pro hotel e caímos na piscina. Não sem antes ver a cobrança de pênaltis que eliminou a Argentina frente à Alemanha. Fiquei feliz, mas também, inexplicavelmente, um pouquinho triste.

Um Cearense em Cuba: Décimo Segundo Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO SEGUNDO DIA
Jueves, 29
    
Arrumamos as malas, fomos à casa de Jorge ter trinta minutos de aula de dança com suas irmãs, tivemos, despedimo-nos, Jorge ficou de arrumar o carro de um amigo pra nos levar à rodoviária, aceitamos, voltamos pro hotel, antes passamos por um restaurante e almoçamos, e eu fui comprar alguns livros, enquanto Kana terminava de arrumar a bagagem. Daí aconteceu uma situação inusitada. De manhã tinha encontrado (e comprado) dois livros de autores cubanos famosos, indicados pela recepcionista em questão (La Última Mujer y El Próximo Combate*, de Manuel Cofiño López, e El Recurso del Método, de Alejo Carpentier, este último nome, não de todo estranho), mas o escritor de que ela gostava mais, Daniel Chavarría, estava com um livro nas lojas a 20 pesos, ou seja, fora do meu poder de fogo. Agora à tarde voltei a procurar em outra loja e achei-o novamente a 20. Perguntei pro balconista, um senhor idoso e sem uma mão, se não havia um outro livro desse camarada mais em conta. Ele procurou e encontrou outro, chamado Joy, que estava saindo a oito pesos. Imediatamente comprei, porém, na hora de pagar, ao lhe dar dez pesos, ele me perguntou se eu não tinha trocado. Procurei e achei apenas um peso. Ele mo pediu. Quando lhe entreguei, ele me devolveu os dez pesos e disse que estava certo. Olhei-o interrogativamente, ao que ele me respondeu “Todo bien, este basta”. Estupefacto, agradeci-lhe e saí avoado. Daí pensei que, pra ele me vender um livro de oito por um, quanto estaria faturando se eu lhe houvesse pago os oito?