Pensei bastante antes de decidir se iria ou não escrever sobre o passamento de Maradona, visto que meu blogue anda num momento de hibernação — pois tenho me dedicado mais à literatura —, mas duas coisas me fizeram optar por vir aqui novamente compartilhar com vocês o que me bateu na cachola: 1) minha imensa admiração por este que foi um dos maiores gênios miseravelmente humanos que tivemos; e 2) uma espécie de acerto de contas com meu passado. Simbora então.
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Começo pedindo perdão pela comparação, mas minha relação com o futebol hoje é mais ou menos como a que um ex-viciado tem com seu vício, ou seja, de distância, mas com direito a momentos de recaída. Não lembro exatamente em que momento esse divórcio se deu, mas, puxando pela memória, o começo do desamor apareceu em 1995, durante as quartas de final da Copa Libertadores da América. O Palmeiras — meu time —, que havia poucos tempo saíra de uma fila de 17 anos sem títulos graças à parceria com a Parmalat, tentava então sua primeira conquista nesse campeonato. Só que, no jogo de ida, tomou uma lavada do Grêmio — não coincidentemente o mais argentino dos times brasileiros —, 5 x 0, e precisava no jogo de volta pelo menos devolver o placar pra ir pra prorrogação e pênaltis. E, logo no começo, tomou um gol. Pra resumir, conseguiu a façanha de virar e ganhar a partida por 5 x 1, mas no final meu coração já estava tão destroçado que comecei a pensar que podia me dedicar a emoções menos radicais. E isso décadas antes de saber que o abjeto Bolsonaro é também palmeirense.