quinta-feira, 30 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 5) De corvos, cemitérios, templos e indigestão

Começo justo de onde parei na crônica anterior, lembram? Pois bem, às 4h de la matina (29/11; não percam as contas!), depois de quase oito bem-servidas horas de sono, olhei pra Kana, que olhou pra mim, e fizemos cara de "ué". Dormir de novo não valia a pena, visto que estávamos bem descansados. Fizemos uma hora, lemos um pouco, fuçamos na internet, e uma hora e pouco depois saímos pra tomar o café da manhã num restaurante que Kana disse estar aberto 24 horas. Depois de vê-la perder o caminho umas três vezes... Não, não vou humilhá-la. Esse comentário merece um parêntese. Abramo-lo: gente, os endereços aqui são complexos mesmo pra japoneses, imaginem pra estrangeiros. Eu, sinceramente, ainda não consegui entender como fecha essa equação. E olhem que já esta é minha quinta viagem ao Japão! Tenho cá pra mim que, se sair sozinho sem um desses aplicativos de mapas, nunca mais conseguirei me deparar com o prédio de meus sogros — fecha parêntese.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 4) "Brics family"

O programa do dia 28 de novembro foi ir a um jantar de celebração do casamento da sobrinha mais nova de Kana — que está chamando sua família de brics family, pois ela se casou com um brasileiro e a sobrinha em questão com um chinês (faltam só três iniciais pra completar a sigla). Todos estiveram muito agitados durante o dia, rolaram até umas farpas paralelas. E eu, à margem de tudo, só queria acertar o nó da gravata. Aproveito que ninguém tá lendo pra confessar um segredo: odeio gravatas! Inclusive, já havia escrito a respeito — aqui. E, embora já tenha usado gravata antes em não memoráveis situações, nunca aprendi a fazer o nó, de maneira que passei a manhã recorrendo ao youtube pra resolver essa minha falha grave. Depois de muito treino, cheguei a um resultado razoável — sem o traje que iria usar.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 3) Japonices (1)


O fim de semana passou depressa. Principalmente se levarmos em consideração o fato de o Japão estar 11 horas à frente do horário de Brasília. Domingo, 26/11, Kana me levou a Akihabara, que, pesquisando, descobri que ganhou há muito tempo o apelido de Denki Gai, ou seja, bairro dos eletrônicos. É um verdadeiro parque de diversões pros aficionados. Também é uma espécie de centro cultural dos otakus — termo no Japão usado pra designar os fãs de animes e mangás. No entanto, o adjetivo ganhou grandes proporções e hoje designa todos aqueles caras meio nerds que gostam de qualquer coisa em excesso. Há, inclusive, bares só pra otakus, em que as garçonetes usam roupas provocativas e tratam os clientes como se fossem suas criadas. Otakus à parte, no fim do dia saí de lá feliz da vida, com um celular novo, que Kana me deu de presente de aniversário antecipado (amigos, estou de volta ao século 21!).

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 2) Guarulhos, Doha, Narita, Tóquio etc.

O descanso do guerreiro das parolas
É um pássaro? É um avião? 
Não! É um trem 
do aeroporto de Doha!
O voo partiu quase às 4 de la matina do vigésimo terceiro dia do décimo primeiro mês do ano corrente, pra não deixar dúvidas de que nos iria pôr à prova. Eu já dormia a sono solto abraçado à bagagem de mão quando o alto-falante nos convocou. Voo é voo, quem voa sabe: os assentos nunca são do mesmo número de nosso desejo; a comida não deixa saudades, o encosto não inclina o suficiente pra ao menos fingir que é um parente distante da cama e os fones de ouvido pelos quais ouvimos o áudio dos filmes são do século 19. Fora isso, foi tudo em paz até a chegada a Doha, um espetáculo de aeroporto onde um trem de última geração nos levou ao terminal onde começaria a segunda parte de nossa viagem. Claro, depois de cerca de 14 horas de voo, ficar mais umas duas à espera de que começasse o segundo tempo foi fichinha.

sábado, 25 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 1) O mar não virará sertão graças às lágrimas

Na primeira vez que vim ao Japão, escrevi um diário. Não tinha um computador à mão ainda, então enchi quase dois cadernos — que não são os saramagueanos de Lanzarote, mas foram batizados por mim de Do Ceará ao Japão. Com o tempo, perderam-se, pra minha tristeza, pois meu HD-cachola, cheio até o talo, costuma expulsar sem minha autorização os arquivos/lembranças mais antigos. Por sorte, na (des)arrumação das vésperas da nova viagem, reencontrei-os, escondidos numa caixa, e pretendo digitalizá-los futuramente. Por ora, aproveito-me da tecnologia e do fato de ter hoje um computador (e um blogue) e começo novo diário, que não será diário — aviso já —, pois dependerá de vários fatores, mas pretendo que seja constante. Começo pelo último dia em Sampa.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Notícias de Sampa: 21) Bye Bye, Brasil

É com um misto de alegria e tristeza que venho por esta avisar aos amigos e leitores que eu e consorte estamos de malas prontas pra uma mudança que, sem sombra de dúvidas, é a maior e mais ousada de minha vida. Semana que vem, zarpamos pro outro lado do mundo, pra Terra do Sol Nascente, também conhecida como Japão — ou Nihon, pros íntimos. Os sentimentos que ora me tomam são todos avassaladoramente complexos e contraditórios. Eu, que vivi o período de ditadura militar em imberbe idade e vi meus ídolos se exilarem em países distantes, ora, na fase adulta, com um tiquinho de vaidade vã e muita frustração vejo chegar minha vez.