segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Crônicas Desclassificadas: 143) "Adote" uma criança pobre

Li recentemente coluna de Ruy Castro na Folha (aqui), na qual ele analisa uma reportagem que descreveu, segundo suas palavras, "como alguns dos homens mais ricos dos EUA decidiram legar grande parte de sua fortuna a projetos de caridade, pesquisa e educação, deixando aos filhos apenas um trocado para o bonde e o cafezinho". Conta Ruy que um desses abnegados chegou mesmo a dizer que "deixar o dinheiro para os filhos não é bom para eles, nem para a sociedade". Por fim, Ruy traça um paralelo com o Brasil e desfecha com um "nos EUA, essa atitude produz bibliotecas, museus, hospitais. Agora olhe ao seu redor no Brasil e tente se lembrar de histórias parecidas". Não precisa ser "jênio" (como, ironicamente, grafa meu amigo Edu Franco) pra detectar que tais casos não se repetem por aqui, né?

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Crônicas Desclassificadas: 142) A esquerda acabou?

Tenho lido muito por aí sobre esse papo de que a esquerda acabou. Como assim? Acabou? Há coisas que só podem acabar quando seu oposto acaba também. Por exemplo: a existência de Deus está vinculada à do demônio, tal qual a relação entre Bem e Mal. Da mesma forma, os opostos claro/escuro, alegria/tristeza etc. Tomemos este último como exemplo: quem nunca ficou triste não é capaz de dar à alegria o valor que ela merece quando chega. Mantendo esse raciocínio, se não houvesse a escuridão, uma claridade de 24 horas devia ser ruim pra dedéu, não? Sobretudo quando fulano quer fazer algo sem ser visto. Portanto, voltemos. Como a esquerda acabou, se, pelo que me consta, a direita anda a toda, "se achando", principalmente sob o véu do anonimato e nas redes sociais?

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Os Manos e as Minas: 16) Além dos campos de Eduardo

Ultimamente, pelo menos em duas ocasiões, tratei do tema morte (aqui e aqui). E não é que me vejo obrigado novamente a escrever a respeito da malfadada? Neste 13 de agosto último, nem bem cheguei ao trabalho, liguei o computador, dei uma olhadinha nas manchetes do dia, e eis que me deparei com a notícia do acidente aéreo que matou Eduardo Campos, candidato à Presidência da República. Confesso que fiquei em estado de choque; levei mesmo uns bons minutos pra voltar a mim. Ainda incrédulo, peguei-me lendo a respeito do assunto, sem fixar a atenção no que lia, embasbacado que estava. Não, não cheguei a chorar – o Lula chorou, segundo li –, não era pra tanto. Afinal, Eduardo não era meu parente, amigo, conhecido, nem mesmo meu candidato, mas... era um cara que eu aprendi a admirar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Crônicas Desclassificadas: 141) Quando a gente não tem nada pra dizer...

Quando a gente não tem nada pra dizer... aí é que a gente diz. E diz com prazer; diz, e feliz. É que nesse dia tem a alma leve (a alma deve ter feito uma faxina na mente), e a gente mente mentirinha à toa, mentirinha boa, só pra dar risada (que é melhor do que não dizer nada), só pra ver se o outro acredita, só pra ficar bem na fita. O mundo devia ter mais gente sem nada pra dizer... e dizendo. Sem querer, querendo. Falando por falar, o á-bê-cê do blá-blá-blá, o ti-ti-ti, o nhem-nhem-nhem (e o outro louco pra dizer também). Falar faz bem, desopila as veias da amargura, língua bate até que cura a doença do silêncio. E vence-o. Pode ser papo furado, pode ser prosa felina, com quem tá do outro lado, com quem tá ali na esquina. Quem fala não adoece. Falar é a melhor prece.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Trinca de Copas: 25) Augusto Teixeira, Gabriel de Almeida Prado e Pedro Moreno

1) AMALGAMANDO

Há canções que são feitas em cinco minutos, já outras levam uma eternidade até que cheguem a sua versão final. Foi o caso desta. Escrevi a letra no começo do ano passado e a enviei a Gabriel de Almeida Prado, que a musicou em seguida. Só que com um detalhe: disse-me ele que não havia curtido muito seu refrão, por isso, acabou não tendo nenhuma ideia melódica pra ele. Como a letra estava muito recente em minha memória, resolvi deixá-la em banho-maria por uns tempos enquanto não encontrava algo melhor. E assim, enquanto ia passando o tempo, vez em quando eu voltava a ela, tinha nova ideia e a enviava a ele, que me avisava que ainda não havia sido dessa vez. 

domingo, 3 de agosto de 2014

Grafite na Agulha: 28) O Rio de Janeiro nostálgico de Zeca Pagodinho

O colaborador do Grafite na Agulha de hoje é o paulistano Raphael Coraccini, um rapagão de 25 anos cujo conteúdo contrasta com a embalagem. Bombado, boa-pinta e com jeitão de surfista, o malandro é formado em Comunicação Social pela Universidade Metodista e trabalha como jornalista e assessor de imprensa. Além disso, é letrista de música popular, como eu, e se autodenomina um apaixonado por música, futebol e questões sociais. Portanto, não foi por acaso que nos fomos acercando quando trabalhamos juntos num ambiente nada propício, uma editora tão furreca, cujo nome nem quero falar, pra não dar azar. Tivemos a sorte de sair de lá com vida, antes que o barco afundasse de vez, e mantivemos a amizade. Rapha me passa uma boa aura de idealismo que espero sinceramente que o tempo não dissipe. Vejamos como vem:

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Crônicas Desclassificadas: 140) Carta a uma amiga em crise existencial

Estimada L.A.:

A vida é curta e, até prova em contrário, é uma só. E os dias não se repetem. Portanto, não há a menor chance de que um destes que se foram volte vez ou outra pra fazer uma visitinha, tomar um chá e divagar sobre os tempos em que ele fazia parte do presente. A não ser em nossas lembranças. Mesmo quando escrevemos sobre o passado, caímos fatalmente no risco de reinventá-lo, posto que nossa memória não é de todo confiável. Saramago, quando do lançamento de seu livro As pequenas memórias – pelo qual recordou um período que foi de sua infância até a adolescência –, chegou mesmo a afirmar numa entrevista que toda memória é inventada, visto que, ao procurarmos nela fatos antigos que, por um ou outro motivo, esquecemos, pomos outros no lugar.