segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ninguém me Conhece: 54) Desaguando nos rios de Mauricio Lyra

Naquela manhã, quando o garoto despertou de uma noite mal dormida, a primeira coisa que avistou foi o violão, num canto do quarto. Ainda com os olhos vermelhos do pranto do dia anterior, pegou-o, meio desajeitadamente, e começou a brincar com suas cordas, tirar sons esdrúxulos delas, procurando algo que se parecesse vagamente com música. Naquela hoje distante manhã, ele mal podia saber que esse simples gesto de um garoto que tenta por vez primeira decifrar o mecanismo de um brinquedo iria mudar pra sempre os rumos de sua vida.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Crônicas Desclassificadas: 24) Aqueles Olhos Verdes

Tinha sido um dia terrível. Aguentara desaforos calado pela simples razão de que precisava do dinheiro (pouco, é verdade) que aquele emprego lhe proporcionava, fora humilde, subserviente, fizera-se de imbecil e admitira estar errado mesmo sabendo que estava certíssimo. Mas não era o único, era apenas mais um. E em casa havia mais duas bocas esperando-o. Aliás, esperando seu parco ordenado. Um ano antes já não estava aguentando mais e planejara mesmo chutar o balde e mandar uma banana pra todos, mas a chegada da pequena mudara seus planos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Entrevistando: 1) Álvaro Cueva (por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa)

Álvaro Cueva
Há tempos venho paquerando a ideia de imitar desavergonhadamente minha querida Tatiana Rocha (coisarara.blogspot.com) e começar a entrevistar umas pessoas que curto. Só não passei ainda da intenção à prática por falta de talento e cara de pau. Uma coisa é escrever, outra é perguntar. Porém, enquanto ando amadurecendo a ideia, acabo de me deparar com esta bela entrevista que meu mano Álvaro Cueva concedeu a outro camarada, o Antonio CarlosÁlvaro é um cara que admiro não só pelas belas canções que compõe e canta, mas, sobretudo, pelo caráter, pela genteboíce (by Tavito), pela fineza no trato (o homem é praticamente um lorde) e por tantos outros adjetivos mais. É um sujeito que tem o que dizer. E diz. Por isso, aproveitando o gancho do texto MPB de Q?, resolvi "roubar" a entrevista pra meu blog. Roubo consentido, deixemos claro! No mais, o site Ritmo Melodia (http://www.ritmomelodia.mus.br) está repleto de depoimentos de gente boa. Recomendo! À entrevista, pois:

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Crônicas Desclassificadas: 23) De pedras e vidraças

Se nos aproximamos demais de um quadro, não somos capazes de apreciá-lo em sua totalidade. Nosso campo de visão fica restrito. Mas, se experimentamos dar um passo atrás, e mais um, e mais um, percebemos que, quanto mais nos distanciamos dele, mais (e melhor) conseguimos admirá-lo. Da mesma forma, se nos distanciamos demais, voltamos a perder a capacidade de observação. O que quero dizer com isso? Que cada um de nós deve procurar a distância mais coerente que nos propicie admirar a qualidade de uma obra confortavelmente. É uma questão de foco.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Joaquín Sabina en Portugués: 8) Zebeto Corrêa e a versão de "A mis cuarenta y diez"

Recentemente escrevi uma crônica que deu o que falar, Música Não É Futebol, que tratava, do ponto de vista musical, da rejeição midiática a toda uma geração de artistas que andam por volta dos 40 anos. Falando nisso, este 2011 é justamente o ano em que completo quatro décadas de vida! Puxa, nem mesmo eu acredito! Ainda me vejo como um moleque (e não poucas vezes ajo como um). O interessante é que, quando converso com amigos de minha geração, vejo neles esse mesmo sentimento de juventude tardia, temporã, duradoura, ou sei lá o quê; diria mesmo certa sensação de angústia de quem se sente guiando numa estrada que não sabe onde vai dar...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Crônicas Classificadas: 14) MPB de Q? (Marianna Leporace vs. Vlado Lima)

Como já declarei aqui várias vezes, faço parte de uma lista virtual que versa acerca de música, chamada M-Música. Trata-se de uma lista democrática, que acolhe cantores, compositores, poetas, jornalistas, críticos, músicos e afins. Gente de várias regiões do Brasil e do mundo e dos mais variados estilos e sotaques, obviamente. E, como em todas as relações, lá não faltam arranca-rabos, polêmicas, discussões, mas sempre tendo a música como foco (ou quase sempre) e sempre tendo o respeito em primeiro lugar (ou quase sempre). Já que ultimamente discussão acerca de música não tem estado muito em voga, e já que a ótima cantora Marianna Leporace sentenciou que meu blog "pode ser um grande veículo de divulgação de artistas independentes, um jornal, um lugar de críticas e de boas discussões - ele tem potencial pra isso", visto a carapuça e trago a público (com a autorização de seus protagonistas) saudável discussão interna m-musgueira entre a já citada Marianna (ótima cantora carioca, com um trabalho dos mais honestos, sensíveis e produtivos), mpbista de carteirinha, voz vinda lá do país e do tempo da delicadeza, e Vlado Lima (paulistano, cantor, compositor, agitador cultural, dono do novo reduto caiubista, o Bagaça, y otras cositas más), que se encontra na outra extremidade da criação musical, um verdadeiro udigrudi, um fantístico e um porno-punk-poeta roqueiro-sambista que, pra ser maldito, carecia de ser um pouco mais conhecido. Ou não...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Trinca de Ouro: 3) André Mastro (+ Marcio Policastro), Mariana Platero (+ Kana) e Thiago Varzé

1) AVELÃ

Quem me apresentou Thiago Varzé foi o premiado músico Sérgio Bello (o mais recente parceiro de Cazuza, após vencer o concurso Musique Estadão, no qual musicou letra inédita do ex-Barão Vermelho), que na época estava a cargo dos arranjos do primeiro CD do moço, Áudio Retrato. Nesse primeiro trabalho, Thiago gravou Néctar, parceria minha com Élio Camalle.