domingo, 31 de outubro de 2010

Crônicas Classificadas: 4) Política e educação: conceitos complementares

Caramba! Como esse cara escreve! Perto dele, sinto-me como um haicaísta. E, no entanto, que delícia de ler! Neste dia de eleições, deixo de lado um pouco minhas aventuras cubanas e meus desconhecidos artistas do coração e adentro um terreno mais espinhoso, porém, ironicamente, cultivado justamente por um crítico musical.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 24) A infinita fantasia de Marito Correa

O fato de ser letrista (e não cantor) possibilitou-me conhecer muitos bons compositores e com eles "parceirar". Pra isso, valeu-me também o exercício diário de vencer os preconceitos musicais e abrir olhos e ouvidos pro novo... e pro que é considerado velho. Por conta disso pude trazer a meu convívio compositores de gerações distintas da minha e com estes construir um vínculo (não só musical). E, dentre esses parceiros da, digamos, velha guarda, tenho um carinho todo especial por Marito Correa, um compositor com C maiúsculo! E também um cara muito bom de papo, de tiradas geniais, engraçado até a medula, e partícipe de encontros etílicos, sobretudo os regados a boa música.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 23) Las canciones más hermosas del mundo de Joaquín Sabina

Depois de Noel Rosa, ninguém revolucionou tanto a música popular brasileira quanto Chico Buarque de Hollanda. E revolucionou sem revoluções. Amante da tradição, chegou timidamente, sem experimentalismos, mas sua aparição teve o efeito de um furacão. Claro que houve outros, inclusive os movimentos, como o da bossa nova e o da tropicália, mas o rapaz de olhos claros, sozinho, causou mais estrago na arte de se fazer canção popular. Tom Jobim foi um gênio incontestável, mas era letrista bissexto. Caetano é excelente letrista, mas se dá o luxo de errar não poucas vezes. Outros vieram, mas ainda têm que comer muito arroz com feijão pra superá-lo. De estilo inconfundível, rimas sufocantes e temas dos mais variados, Chico trouxe à canção popular uma elaboração tal que até hoje não foi superada. Apesar de o Rei ser outro, ouso dizer que o filho de seu Sérgio é o Pelé de nossa música.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 22) O charme melancólico de Luhli

Na época em que participava do grupo RSMB (Rede Solidária da Música Brasileira), encabeçado pelo compositor Madan, e começava a frequentar o Caiubi, ouvi falar pela primeira vez de uma tal M-Música, grupo de discussão sobre música que era uma espécie de fusão da RSMB com o Caiubi, pois possuía o elemento virtual daquele e as apresentações ao vivo deste. Só que, diferentemente destes, seu QG era no Rio. Apesar disso (ou por isso mesmo), nesse grupo havia brasileiros de várias partes do mundo, inclusive trocavam e-mails e faziam parcerias famosos e anônimos que dele participavam. Mexi uns pauzinhos e me fiz convidar, assim que, em pouco tempo, lá estava eu, trocando e-mails com amantes (e fazedores) da música dos mais variados estilos e sotaques. E foi lá que tive o privilégio de conhecer Luli, ou melhor, Luhli.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Crônicas Classificadas: 3) Poema em linha reta

Quando eu era jovem, tinha uma ideia errônea de poesia. Assim como quase todos os garotos com quem convivia, fosse jogando bola, fosse em sala de aula, enfim, fosse onde fosse, eu achava que poesia era leitura de menina, daquelas que escreviam em diários e punham o nome do rapaz de quem gostavam dentro de um coração carregado na tinta. Sim, eu carecia de ideia própria. Desgostava sem conhecer de fato. Queria ser popular. E toda popularidade tem um preço. No meu caso, o preço era a ignorância (nos dois sentidos). Passou o tempo, e o mais engraçado de tudo (se é que isso é engraçado) é que fui me aproximar da poesia DE VERDADE só depois que abandonei a escola. Depois que me vi só, quando os amigos, um a um, foram tomando rumos distintos do meu, e eu sobrei ali, solitário como quando era criança.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Oitavo Dia

2006
JUNHO
OITAVO DIA
Domingo, 25.

Hoje vivemos momentos dramáticos, dignos de roteiro de filme sul-americano. Vamos a eles:
    
Começamos o dia, como diriam os supersticiosos, com o pé esquerdo. Pensamos que o café da manhã era até as 10h, como sempre acontece, dessa forma, chegamos às 9h35, porém, era até as 9h30, então já estavam retirando tudo. Deixaram-nos, contudo, entrar, mas não havia pratos, xícaras, ninguém nos atendia, finalmente Kana reclamou a um garçom, e uma funcionária da recepção, que nos havia recebido gentilmente no dia anterior, levantou-se e nos disse, em espanhol e a toda velocidade, que isso e que aquilo. Não acreditamos que uma funcionária pudesse se dirigir dessa forma a um cliente. Desistimos de comer, arrumamos nossas malas e fomos a outro hotel, o Hotel Casagranda, bem no centro da cidade. Um hotel, diga-se de passagem, bem melhor que o outro, de ruim apenas a falta de piscina.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 21) A música marginal de Max Gonzaga

Como já relatei antes em texto a respeito do Caiubi, quando estive pela primeira vez na casinha da rua de mesmo nome, nº 420, havia só meia dúzia de gatos pingados. Fiquei um tempo sem ir, por motivos que escapavam a minha vontade, e, quando finalmente consegui voltar lá, depois de alguns meses, pra minha alegria encontrei a casa cheia e, a exemplo de Zé Rodrix, também me encantei com a qualidade do que ouvi. E entre os que mais me chamaram a atenção naquela noite estava Max Gonzaga. Confesso que ver sua apresentação naquele improvisado palco causou-me sensações conflitantes, pois, ao mesmo tempo que sua música e sua presença de palco me arrebatavam, não me passou despercebido que sua autoconfiança podia ser interpretada também como arrogância.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 20) O caiubista Zé Rodrix

Quando Zé Rodrix aprontou a última das suas e, à francesa, retirou-se do cenário, eu, estupefato, após derramar fartas lágrimas, passei a acompanhar, autômato, os noticiários na TV a seu respeito. E o que vi? Uma cobertura preguiçosa e repetitiva que carecia de profissionalismo e, assim, desrespeitava o falecido. Pensei com meus botões que a imprensa escrita, mais investigativa, trataria do assunto com mais riqueza de detalhes. Enganei-me rotundamente. A impressão que dava era que o  havia morrido na década de 80 e só agora descobriam seus restos mortais. Não havia um só profissional que encontrasse uma informação satisfatória a respeito do que ele havia feito nesses mais de 20 anos! Minha tristeza foi se transformando em ira e nojo. Então esses almofadinhas, formados pelas melhores faculdades do país, não tinham absolutamente nada a acrescentar ao público além do fato de haver ele morrido disso à tal hora do dia tal no hospital xis, que o velório aconteceria na loja maçônica ípsilon e o enterro, no cemitério zê? Daí pronto, acabou-se, passemos ao futebol...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Sétimo Dia

2006
JUNHO
SÉTIMO DIA
Sábado, 24.

Passamos esta noite em claro. Chegamos tarde do Dos Gardenias, tivemos que preparar as bagagens, deitamos às 2h30 e fomos acordados pelo recepcionista às 3h30. Como fui acometido por novo acesso de tosse, sono foi coisa que não vi (nem me viu). Às 3h50 chegou o taxista que nos levou ao aeroporto local, onde, depois de três ou quatro filas, sentamo-nos em cadeiras desconfortáveis e esperamos até às 7h da matina, quando um avião, que mais parecia um trem paulistano de subúrbio, nos levou a Santiago de Cuba. Quando digo “trem paulistano de subúrbio”, quero dizer que havia todo tipo de cubano neste avião, inclusive mulheres carregando rosas, crianças, e havia até uma senhora carregando um maço de cebolinha, como se estivesse num ônibus, de volta da feira. Havia um jovem homossexual fazendo amizade fácil com uma passageira ao lado e lhe mostrando fotografias de suas andanças por Cuba, dançando… Enfim, dormi e acordei uma hora e meia depois. Quando fechei os olhos durante o voo estava praparado pra morrer, pois o avião não era dos mais confiáveis, então, quando chegamos sãos e salvos, senti uma súbita felicidade.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crônicas Desclassificadas: 3) Hey, Juddy

Recentemente, numa dessas esquinas da vida, topei com um velho amigo de bebedeiras e, para variar, fomos a um boteco comemorar o reencontro, ou qualquer outra efeméride. Qual não foi minha surpresa ao notar que ele, enfaticamente, pediu ao garçom uma Skol. Explico. Ambos sempre preferimos, durante quase duas décadas, a Brahma. Não estou fazendo comercial de cerveja, ao contrário, queria justamente escrever sobre o poder do comercial na vida das pessoas. Capaz até de mudar o gosto de alguém, só porque está na moda.

sábado, 9 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 19) A marca registrada de Clarisse Grova

Foi na Sala Funarte, aqui em Sampa. Fui, a convite de Daisy Cordeiro, ver um show de Rafael Alterio e Cristina Saraiva. O convidado de Rafael era o excelente pianista André Mehmari, já Cristina, letrista não-cantora, convidara pra interpretar suas canções uma moça vinda, como ela, do Rio. Uma tal de Clarisse Grova. Tudo ia bem até que essa mulher resolveu abrir a boca. Rapaz, fui acometido por uma série de sensações, todas hiperbólicas. Foi amor à primeira vista. Da plateia, remexia-me no assento, ofegava, enfim, não conseguia crer no que presenciava, arrepiado do couro cabeludo à unha encravada, sonhando em ter um dia aquela voz a serviço de minhas palavras. E pensei: como vivi até hoje sem saber que existe uma cantora assim no Brasil? 

Crônicas Classificadas: 2) Um Veleiro in Alpha

A propósito do texto que escrevi a respeito de Fernando Cavallieri, lembrei-me de que ele, indiretamente, foi responsável por eu ter conhecido um camarada dos mais cultos com quem já tive o privilégio de prosear e que acabou se tornando um querido amigo, com quem já travei, via e-mail, papos que dariam um verdadeiro livro. Eu, em minha sagitariana bagunça, devo ter perdido a maioria deles, porém, Sérgio-Veleiro (o Veleiro Perdido) seguramente os têm guardados, com minha autorização pra os revelar após minha morte. Veleiro adora poesia, café, solidão, é arredio, agressivo por vezes em sua vocação pra falar a verdade, é um sujeito com quem briguei muito, a quem magoei e por quem fui magoado, isso tudo à distância, sendo ele um cearense de Fortaleza e eu, um cearense do Paraguai, digo, de Sampa. Mas, sobretudo, ele é um ser iluminado, poeta de versos sensíveis (muitos deles, musicados) e prosa açucarada (no sentido de se lamber os beiços, não de pueril), embora também afiada.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 18) A febre de Fernando Cavallieri

Quando tinha por volta de 13 anos, num jogo de futebol de salão, dei um drible que fez fulano perder o rumo de casa (é, já dei minhas cacetadas), e este, pra se sentir vingado em sua honra, confundindo futebol com boxe, numa pancada certeira, fez-me beijar a lona (que não havia). A brincadeira custou-me uma fratura no braço esquerdo, duas semanas de gesso (durante os quais a régua foi minha espada vingadora contra a implacável coceira) mais sessões de fisioterapia. Desta experiência, trouxe uma peculiaridade que, contra a minha vontade, fez-me aprender a reparar nas diferenças: acostumei-me a usar o relógio no pulso direito, gostei, e mantenho o hábito até hoje. Porém, no âmbito da sociedade, a diferença, por vezes, chega a parecer aberração, pois o cidadão é educado pra ser igual e, instituído do direito à igualdade, acha que o certo é que todos pensem/ajam como ele. Eu mesmo, durante o período escolar, fazia de tudo pra esconder minha origem cearense (cheguei a, inconscientemente, forçar a perda, ou melhor, troca do sotaque) e meu fanatismo por Roberto Carlos (primeiro ídolo), tudo no intuito de ser popular, ser igual, ser mais um, fazer parte da “tchurma”. Crescido, longe das salas de aulas, aprendi a defender minhas características, peculiaridades, esquisitices, enfim, tudo o que até hoje forma o que sou, ainda que em construção. Este preâmbulo um tanto improvisado foi apenas o meio que achei pra apresentar Fernando Cavallieri.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um Cearense em Cuba: Sexto Dia

2006
JUNHO
SEXTO DIA
Viernes, 23.

Thank you very much” disse-nos o músico, após termos falado com ele uns cinco minutos em espanhol e comprado o CD de seu grupo, que continha grandes sucessos da música cubana. Este fato reflete bem um sentimento de subserviência que acomete não só os cubanos, mas todos os latino-americanos. Por que cargas d’água, se eu sou brasileiro, o músico em questão é cubano, falamos em espanhol (ou quase) e ainda por cima compramos um CD suyo, POR QUE tinha ele que agradecer em inglês? Pra mim soou mais como ofensa, despeito. E, diga-se de passagem, a maioria dos músicos aqui vive uma situação entediante, repetindo diariamente as mesmas guantanameras da vida. Claro que no Brasil há os músicos de bar, mas estes podem galgar postos mais elevados, ao passo que aqueles ficarão eternamente ali, dizendo “thank you very much”.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ninguém me Conhece: 17) The visions of Vasco Debritto

O destino tem um senso de humor dos mais marotos. Quis ele que eu fosse apresentado por Sonekka a Vasco Debritto. Este, um defensor ferrenho da bossa nova; aquele, mais voltado ao pop e suas decorrências. E isso tudo se deu graças a esta ferramentinha mágica que é a Internet, que aproxima pessoas dos mais diversos lugares e estilos. No caso, a música também ajudou nessa aproximação, pois era o elemento em comum entre um brasuca dono de gravadora e compositor residente no Japão e um engenheiro e consultor em tecnologia e compositor residente em Santos trabalhando em Sampa. E que não se conheciam pessoalmente. Estava eu de viagem marcada pro Japão (a primeira de três) quando Sonekka me escreveu dizendo que havia um camarada lá a quem seria interessante conhecer. Resumindo a história, já em Chiba, cidade onde vivem os pais da Kana, entrei em contato com Vasco por telefone e fui por este convidado a visitá-lo na cidade praiana de Oiso, onde morava na época. O Japão tem uma rede ferroviária de dar inveja em terceiro-mundista, assim que, nem bem me acomodei no trem, já cheguei lá, depois de poucas horas de deslumbre visual.