terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ninguém me Conhece: 34) Tavito, cantando as canções que a gente quer ouvir

Dorival Caymmi disse certa vez numa entrevista que seu maior sonho como compositor era conseguir criar uma canção que ficasse tão enraizada no inconsciente coletivo a ponto mesmo de se tornar desvinculada de seu autor. Algo como "batatinha quando nasce". Tavito conseguiu essa façanha. Não há quem não cante de cabo a rabo Rua Ramalhete, assim como quase todo mundo, em algum momento de sua vida, já se reconheceu nos versos de Casa no Campo. E pouquíssimas pessoas sabem quem são os criadores dessas pérolas. Tem quem ache até que Casa no Campo é de Elis Regina (pasmem!).

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ninguém me Conhece: 33) As boas ações de Ricardo Moreira

Se a alma de Ricardo Moreira (quando este vier a morrer – toc toc toc, bate na madeira!) não se salvar, o céu vai perder pro inferno por W.O., pode escrever aí. Vai fechar por falta de clientes. Pense num cabra do bem. Mas eu tô falando do bem MESMO. Não como esse bem atual, politicamente correto, do qual só faz parte gente interesseira, falo do bem anterior aos holofotes, o bem puro, natural, inerente à pessoa. Moreirinha é tão do bem, que até seu lado mau deve ser bom. Fosse ele um ladrão, seria Robin Hood.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ninguém me Conhece: 32) A fortaleza de Ricardo Soares

Eu estava no Credicard Hall naquela noite e, admito, fiz coro com a multidão que vaiava o moço que, tímido e aturdido, tentava entoar os belos versos de sua ieieiística Tudo Bem Meu Bem. No meu caso, as vaias eram por motivos tendenciosos, que nada tinham a ver com a questionada qualidade da campeã. Eu vaiava porque torcia pra Xi - De Pirituba a Santo André, dos amigos e parceiros Rafael Alterio e Kléber Albuquerque, que tinha ainda na banda de apoio, entre outros, meu brou Élio Camalle. Mas o moço não estava nem aí. Com garra (e certo ar blasé) defendia sua canção e seu direito aos muitos reais que o primeiro lugar lhe conferia. Ah, refiro-me ao pomposo Festival da Música Brasileira, realizado pela Rede Globo em 2000. O nome do moço: Ricardo Soares.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Crônicas Classificadas: 10) Toninho e eu

Vida de crítico musical no Brasil não é fácil. Os compositores gostamos sempre de ver nosso lado, mas não há quem se ponha no lugar deles. Certa vez, em entrevista à Folha de S.Paulo, Chico Buarque chegou mesmo a afirmar que "em jornal, crítico de música geralmente é crítico de letra. É compreensível que seja assim; a letra vai impressa, o crítico destaca este ou aquele trecho... funciona assim. Eu cada vez mais dou importância à música e tenho vontade de dizer: 'Olha, só fiz essa letra porque essa música pedia. Isso não é poesia, é canção'. Enfim, fico um pouquinho chateado com essas coisas, mas sei que é difícil mesmo. Como é que vai imprimir uma partitura no jornal e explicar aos leitores? Não dá, eu sei". Não vou entrar no mérito da questão, só acho que, assim como o compositor, o crítico é um pouco vítima do momento. A imprensa atual não lhe dá liberdade. Resta a este tratar dos artistas que interessam ao mercado (caso queira manter o emprego). E tais artistas, ou grande parte deles, não primam especificamente pela qualidade musical (pensando bem, nem pela letrística). Tampouco seus fãs-leitores interessam-se pelas questões melódicas e/ou harmônicas. Resta aos críticos que optam pela liberdade recorrer aos blogs. Exemplos de peso são Mauro Dias e Pedro Alexandre Sanches.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Ninguém me Conhece: 31) Zé Edu Camargo é daqui

Uma das muitas contribuições do Clube Caiubi ao cenário musical brasileiro é a valorização do compositor. Sempre esquecido pela programação radiofônica (e principalmente pela televisiva), quase sempre omitido pelas(os) cantoras(es) nos shows, o compositor, no Caiubi, tem sua vez. Incensado pelos intérpretes, reconhecido pelo público, lá se sente em casa. E quando digo compositor estou me referindo também ao letrista, que na nomenclatura brasileira é chamado de autor. E aqui entramos num ponto delicado. Pra mim, o cara que faz letra não é menos que compositor, pois, pra escolher as palavras sonoramente (e significativamente) mais adequadas à linha melódica de uma canção, tem que usar de sensibilidade musical, quesito que não é obrigatório a quem lida apenas com poesia.  A respeito dessa questão, soube há alguns anos que é o letrista quem cede parte de seus direitos àquele que porventura faz uma versão de uma canção cuja letra seja sua. Ex.: digamos que um japonês resolva fazer uma versão de Garota de Ipanema em sua língua e que essa versão seja gravada. A parte que cabe a Tom Jobim, autor da melodia, permanece sendo dele, já a parte de Vinicius, letrista da canção, será subtraída pra que dela sejam tirados os direitos do versionista. Mais um motivo pra que o letrista registre/edite suas canções na condição de compositor. Fica aí a dica.