1) AVELÃ
2) EM OBRAS
Quem me apresentou Thiago Varzé foi o premiado músico Sérgio Bello (o mais recente parceiro de Cazuza, após vencer o concurso Musique Estadão, no qual musicou letra inédita do ex-Barão Vermelho), que na época estava a cargo dos arranjos do primeiro CD do moço, Áudio Retrato. Nesse primeiro trabalho, Thiago gravou Néctar, parceria minha com Élio Camalle.
Tempos depois Thiago me mandou, via e-mail, convite à parceria. Dizia ele que tinha uma melodia que queria que eu letrasse. Sua exigência única era que fosse uma letra romântica. Profissional que sou, incumbi-me da tarefa, mesmo ciente de que o romantismo não era exatamente meu ponto forte. Mas, pra surpresa minha, a melodia, tão belamente propícia ao romantismo, inspirou-me a criar uma letra que, modéstia à parte, ficou tão boa que superou de longe minhas expectativas.
Mas um tempo se passou e novamente Thiago entrou em contato, dessa vez pra avisar que estava gravando nossa parceria, mas não estava satisfeito com a última estrofe. Pedia-me ele que eu trabalhasse um pouco nela. E foi o que fiz. Acabei criando vários versos sobressalentes e lhe pedi que escolhesse os que sentisse mais naturais na melodia. Sua escolha, confesso, não foi minha preferida, mas, como, democraticamente, foi a eleita pela equipe que estava no estúdio, não seria eu a me opor.
Há pouco mais de um mês tive a alegria de receber das mãos do próprio Thiago seu belo Outros Ares, gravado com o maior esmero na Cidade Maravilhosa, com produção musical de Max Viana e participações de Marcos Suzano e Jaques Morelenbaum, belos arranjos e um repertório no qual o cantor e o compositor se completavam. Thiago ainda me deu duas boas notícias: disse que ia começar a gravar um clipe e que a canção escolhida era justamente a nossa. Também me contou em primeira mão que a mesma canção iria entrar na programação da Rádio Nova (tamo junto, Juca!). Vejam como o romantismo dá o maior pé! Confiram:
AVELÃ
Thiago Varzé – Léo Nogueira
Lua de mel
Sol de avelã
Estrelas caem do céu
Dentro do café da manhã
Todo prazer
Um homem-gol
Em mim o que se vê
Foi você quem me ensinou
Eu quero me lançar nos seus braços
E com as suas asas voar
Pra um mundo além do tempo e do espaço
Que só seu corpo sabe me dar
Ah, eu nasci pra você
Sou mais feliz no seu colo
Mais do que minha mulher:
O solo do meu país
***
Zé Rodrix disse certa vez que não importava que os homens fossem mortais, pois as obras são imortais. Lembrei-me disso quando Kana me pediu que colocasse letra na melodia em questão. E como calhou que o tema que me sugeriu era semelhante à frase do Zé, pus (literalmente) mãos à obra.
O resultado agradou bastante a mim e, felizmente, a Kana também. Na realidade, arquitetei a letra como um jogo de contrários, pondo frente a frente o transitório e o duradouro. Dei-lhe o nome de Em Obras, também porque enquanto vivermos estaremos sempre em obras na busca pela perfeição.
Lembrei-me também do que disse numa entrevista Chico Buarque acerca de um pintor que, mesmo tendo suas obras já expostas num museu, escondia-se dentro deste esperando que fechassem pra que de madrugada retocasse suas obras. Este é um belo exemplo de nossa vã busca pela perfeição.
E é realmente tão vã que Em Obras, pré-selecionada por nós pra fazer parte do terceiro disco de Kana, não passou pelo crivo do produtor, Vasco Debritto, que, pra desgosto nosso, deixou de fora do disco a canção. Mas, da mesma forma que não alcançamos a perfeição, Deus escreve certo por linhas tortas, diz o ditado. E calhou que justamente um dos músicos que participaram das gravações do disco de Kana, o baixista João Mourão, estando à frente da produção do disco de uma cantora nova, pediu-nos canções, e enviamos, entre outras, Em Obras, que por ele (em comum acordo com a cantora) foi escolhida pra fazer parte do disco desta.
Seu nome, Mariana Platero. E, pra alegria minha, ela acabou gravando ainda outras duas canções de minha lavra, O Melhor do Show, também em parceria com Kana, e Marca Registrada, minha com Clarisse Grova. Não sei exatamente por que, embora esteja pronto, o disco não chegou a ser lançado. Contudo, pela beleza dos arranjos em harmonia com a bela voz de Mariana, resolvi postá-la aqui:
EM OBRAS
Nem a grana
Nem a graça
A coragem
A couraça
Um milagre
Uma miragem
O petróleo
Nem o sal
Nem a hóstia
Nem a drágea
Nem os santos
Nem a sorte
O acaso
Em cem anos
Nem a ciência salvará o que é mortal
Kafka, Mozart, Victor Hugo, Gaudí,
Janis Joplin, Cássia Eller, Portinari, Elis
Nem miséria
Nem desgraça
Covardia
Carapuça
O cinismo
Nem a chantagem
Nem a língua, nem a lâmina, a guerra, os ais
Shakespeare, Chaplin, Pixinguinha, Da Vinci,
Kurosawa, Frida Kahlo, Tom Jobim, Noel
Nem blasfêmia
Nem contágio
Nem o demo
Nem a praga
O ocaso
Nem cem anos
Morrem os homens, mas as obras são imortais
***
3) MENOPAUSA MASCULINA
Durante seu curto período de existência, o grupo 4+1 (do qual fizemos parte eu, Kana, Marcio Policastro e os irmãos Álvaro e
Alê Cueva) conseguiu a proeza de realizar uma série de shows sempre com casa cheia e ilustríssimos convidados, mas o ponto forte do grupo estava nas composições. Juntos compúnhamos canções híbridas, resultado a que nenhum dos cinco conseguiria só.
Muitas dessas canções viraram verdadeiros hits entre o público do grupo, como foram o caso de Doutor Sabe Tudo, O Milagre de José, Ferramenta, entre outras. Contudo, um dos momentos de maior empatia com o público era aquele em que Álvaro Cueva caprichava em seu sotaque mezzo italiano mezzo canastrão pra cantar/contar as frustrações de um quarentão na Menopausa Masculina.
Sim, porque dar a uma canção o nome de Andropausa é dar um tiro na piada, não? Mas a maior piada era o fato de a canção cair como uma luva na voz/interpretação de Álvaro embora fosse uma parceria (anterior à existência do grupo) minha com Marcio Policastro. Pra falar a verdade, parecia uma canção condenada ao esquecimento. Marcio entoou-a desentoado umas duas ou três vezes no Caiubi e o máximo que conseguiu foi receber aplausos desanimados de um público desatento.
Mas, quando o 4+1 se formou, só de pirraça resolvemos testá-la com Álvaro. E o sucesso foi tão estrondoso que essa espécie de samba à la Moreira da Silva pós-roquenrol ficou eternizada para todo o sempre como sendo de autoria de Álvaro Cueva, que, inutilmente, após ensurdecedores aplausos, tentava explicar ao extasiado público não se tratar de autobiografia.
Tanto que foi ele quem nos avisou que a canção estava sendo gravada por André Mastro, que até os 44' do segundo tempo creu (não confundir com créu) tratar-se de canção cuevística. Por falar em André Mastro, foi com muito orgulho que vi nossa Menopausa fazer parte de seu belo e elogiado Sem Descanso. Sobretudo porque há certo tipo de canção que, por ser masculina e não ser gravada pelo(s) autor(es), acaba, pela falta de intérpretes masculinos, indo parar num limbo.
E a grata surpresa de nos termos deparado no meio do caminho não com uma pedra, mas com a pedra preciosa que é a voz de André, salvou nossa cria de passar em brancas nuvens. Espero que André continue, sem descanso, garimpando canções e que se lembre de, a cada escolha de novo repertório, continuar dando ouvidos ao que temos a dizer. "Mas onde é que já se viu?"
MENOPAUSA MASCULINA
Folheando revistas
Numa banca da Paulista
Reparei nas minhas caspas
E Engoli um palavrão
Eu tô errando o alvo
Tô ficando calvo e barrigudo
Eu que quase fui Menudo e agora quarentão
A experiência é um viagra
Enquanto o barco naufraga
Eu assovio
E as possíveis namoradas
Que encontro nas baladas
Me chamam de tio
Eu tenho dois romances inacabados
Que reviso aos feriados
Tomando suco de acerola
Já usei drogas vendo filmes de Godard
Hoje só dou sopa pro azar
Quando me meto a jogar bola
***
Oi Léo!!! Parabéns!!! Muito boa as três músicas. Destaco Avelã! Linda demais.
ResponderExcluirGrande abraço
Ana Paula Fumian
http://clubecaiubi.ning.com/profile/AnaPaulaFumian
Oi, Ana Paula!
ResponderExcluirGrato pelas palavras! Vou lá te retribuir a visita também.
Abraços do
Léo.