terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ninguém me Conhece: 56) Os insights de Juca Novaes

Quando comecei a participar de festivais não tinha noção nenhuma de como a coisa funcionava. Queria ir pela festa, pela possibilidade de conhecer gente nova, fazer novos parceiros, curtir as noitadas... E, justamente, logo no primeiro do qual participei, no longínquo 1999 (com o xote Bye Bye, Japão, em parceria com Kana, defendido por ela e Élio Camalle), fui contemplado com o primeiro lugar. A cidade: Avaré-SP. O festival: Fampop. Sabia vagamente que um tal de Juca Novaes, que era amigo de minha parceira Daisy Cordeiro, era um dos organizadores do festival.

1) Samba das Índias (Eduardo SanthanaJuca Novaes)
Juca Novaes Eduardo Santhana 

Pois bem, chegando ao ginásio Kim Negrão, onde ocorreria o festival, fomos recebidos por um músico, que Kana confundiu com Juca. O nome dele: Sérgio Bello (que tempos depois viria a trabalhar conosco). Por conta disso, durante algum tempo, sempre quando Kana o via, achava que era Juca. O engraçado era que ela não conseguia pronunciar Juca Novaes e dizia João Carnavais. Até hoje, quando o vemos, rimos e nos dizemos, "Lá vem o João Carnavais". Detalhe: Juca não estava à frente do festival naquele ano, embora víssemos o sobrenome Novaes em praças e ruas cidade afora.

Felizes e vitoriosos, após voltarmos pra casa, soubemos que alguns compositores haviam boicotado o festival porque o prefeito da cidade naquele ano pertencia a um partido político oposto ao de Juca e tinha um gosto musical mais voltado ao, digamos, popularesco. Só então comecei a sacar que os festivais têm, sim, servido ao longo dos tempos como ferramenta política. E passei muitos anos magoado pelo disse me disse em torno de nossa vitória. Alguns a desmereciam, por ter sido num ano cuja organização não contou com o trabalho de Juca. O troféu estava lá na estante, mas parecia manchado, por questões políticas.

Tentando "limpar nossa barra", enviamos canções pra Fampop (nas edições organizadas por Juca) em outras oportunidades, classificamo-nos em algumas, noutras não, nunca mais ganhamos nada, e (ele não sabe) Juca Novaes passou a ser uma sombra em minha vida. Quando o encontrava (lá vem o João Carnavais!), sentia-me constrangido, incomodado mesmo, como se lhe devesse desculpas por ter sido apolítico a ponto de participar de um festival em Avaré sem seu carimbo de qualidade. E ele, ignorando tal fato, tratava-me sempre bem, com um sorriso efusivo e a educação de gentleman que lhe é peculiar.

Vejam vocês como nossa mente é capaz de criar conflitos onde eles não existem! Fico pensando em como não deve ter sido fácil pra Juca estar em sua pele durante esses anos todos. O cara é compositor, sensível, criativo, mas tem também um histórico do outro lado da criação, sendo responsável por um festival que, hoje, se não é o melhor do Brasil, seguramente está entre os melhores. E por quê? Porque ousou inovar, varrer dos palcos a mesmice em prol do olhar depurado da novidade. E se eu, que defendo os mesmos princípios, aborreci-me com ele, nem quero pensar em tantos outros compositores que, vencedores profissionais por aí, viram-se preteridos na Fampop.

2) Meio Almodóvar (Juca Novaes)
Juca Novaes e Lenine

Mas o tempo sabe o que faz. As feridas cicatrizam e no fim só importa o que realmente importa. O troféu continua em minha estante, e muito me alegrou ver minha foto num cartaz comemorativo em Avaré como um dos vencedores do festival, na última ocasião em que lá estive. Juca teve a grandeza de nos colocar lá, lado a lado com tantos outros vencedores, independentemente da organização.

Juca é também um dos idealizadores (e uma das vozes) dos Trovadores Urbanos, que hoje é uma grife requisitadíssima de seresteiros que anima as mais variadas comemorações por aí. Assim como também faz parte dos trovadores Eduardo Santhana, seu parceiro em muitas canções e muitos discos em dupla. Edu, com seu jeito mais expansivo, acabou conquistando primeiro minha simpatia, depois viramos parceiros, e sei que temos sempre um carinho mútuo quando nos encontramos. Por conta dessa proximidade, sempre me vi como que enfeitiçado/encantado pela voz de Edu, quase que em detrimento da de Juca.

Finalmente, Edu Juca resolveram (como Zezé di Camargo e Luciano... Brincadeira, queridos!) dar um tempo pra dupla a fim de que cada um tivesse a oportunidade de pôr em prática seus respectivos projetos individuais. Edu lançou o belíssimo Voz e Pianos, já Juca deu à luz o excelente Goa. E qual não foi minha emoção quando recebi pelo correio este CD. Fiquei alguns instantes ali, parado, observando a beleza da capa, o carinho da dedicatória, e me perdi em divagações, pensando nesses anos todos, no quanto eu fora gratuitamente injusto com ele... Aliás, as injustiças tendem a ser gratuitas... Rompi o lacre, folheei o encarte, li algumas letras; não pude deixar de me sentir um tanto enciumado por ver ali entre os parceiros o nome de Zé Edu Camargo (sempre ele!), e pensei que, nesse meio tempo, enquanto eu gostava de ir de encontro a, lá ia o , inteligentemente, ao encontro de.

Mas não ouvi o CD. Guardei-o. Carinhosamente, mas guardei. Após tantos anos, não ia ser assim, de supetão, que eu invadiria tal obra. Não! Eu que esperasse. Precisava de, até como forma de me redimir de meus equivocados pensamentos, encontrar o momento propício pra degustá-la como se deve. E esse dia chegou. Lembro-me de que era uma noite em que Kana fora dormir mais cedo, e lá estava eu, só, com meus fantasmas. Com um vinho tinto à mesa, pus pra tocar Goa. Encarte numa mão, taça na outra, fui me deixando seduzir pelas canções, pelas letras, pelos arranjos. E, acreditem ou não, só então, de ouvidos e coração abertos, percebi algo a que até então não havia atentado: "Deus do céu, como canta esse João Carnavais!!!"

E João, aliás, Juca, que também é advogado, não poucas vezes me prestou consultoria gratuita via e-mail, em questões referentes a direitos autorais. Sempre educado, prestativo, simples, así como si nada. E esse homem tão ponderado, acostumado a reuniões e eventos, muito me surpreendeu certa vez ao citar no facebook trecho de um poema de Fernando Pessoa que é meu favorito deste ilustre português, Poema em Linha Reta. Não vou me lembrar da citação à risca, mas Juca dizia mais ou menos que, assim como Pessoa, também ele sentia falta de conhecer gente de verdade, visto que "todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, [...] eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo...".

3) Lembrei de Você (Juca Novaes)
Juca Novaes e Danilo Caymmi

É, meus amigos, o sr. Juca Novaes é um sujeito de muitas facetas. E foi assim, aprendendo a estar mais atento a suas complexidades, que descobri que, como eu, ele é sagitariano! Bem, dentre as características que, dizem os entendidos, o sagitariano possui, algumas se notam com facilidade em Juca: inteligência, honestidade, sinceridade, simpatia, bom humor e, como defeito, um otimismo um tiquinho além da conta (que, se o direcionarmos a seu trabalho à frente da Fampop, chega a ser mais qualidade que defeito). Quanto a esse papo de meio homem, meio cavalo, se for verdade, então ouso dizer que (ao contrário de mim, que sou meio nerd, meio pangaré) Juca é meio lorde, meio puro-sangue.

Que a vida lhe dê muitos felizes carnavais, Juca!

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9 comentários:

  1. Juca é uma pessoa maravilhosa.! Simples assim...

    Léo gostei bj Monika

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  2. (mandei um comentário mas parece que não entrou. Mando de novo)

    Obrigado, Léo pela generosidade do seu texto.

    É um privilégio ser focado pela sua lente de poeta, interpretando minhas múltiplas funções. Além da honra de ser objeto do seu texto, ainda por cima ele gerou um poema que a queridíssima Sonia Prazeres me brindou, nele inspirado.

    Meu aniversário já valeu por esses dois presentes.

    Obrigado !

    João Carnavais (adorei essa estória, rs...)

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  3. Oi Léo,
    Eu simplesmente ando encantada como o "João Carnavais" kkk
    Na verdade o Juca entrou em minha vida de uma maneira muito especial. Eu estava em uma loja de disco e comecei a ouvir CDs que eu não conhecia quando dei de cara com "GOA" foi paixão a primeira ouvida,nunca tinha ouvido falar em Juca Novaes. Voltei para RR e coloquei o Cd para ouvirmos em minha loja,foi um sucesso,mas o melhor da festa foi que ao entrar na home do Caiubi,lá estava ele,acabando de postar algumas músicas na página dele.Olhei aquele nome(ainda não tinha me acostumado a ele) peguei a Capa do CD e confirmei.Fuiimediatamente dar as boas vindas a ele e contar-lhe da conscidência da vinda dela para a minha vida. Hoje Goa está tocando direto em meu carro,acredito que vai ficar lá por muito tempo.
    Beijos e obrigada pelo texto maravilhoso.

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  4. ahhh não! Tem que ser aprovado. Léo as vezes é necessário amigo,mas que é muito chato ...É
    Bjs

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  5. Queridos:

    Estive com meu acesso bloqueado desde, justamente, 29/11. Só agora consegui reavê-lo.

    Monika:

    Grato!

    Juca:

    Que bom que você curtiu. Releve os desníveis. Não sei escrever sem 100% de sinceridade. Parabéns pelo aniversário e por ter chegado a uma maturidade invejável!

    Lucinda:

    Uns picaretas andaram por aqui xingando a mim, meus amigos e minha mãe. Daí o jeito foi moderar. Também não gosto, mas quem vem aqui ler os textos não precisa se deparar com grosserias de quem não tem mais o que fazer, né?

    Beijos do
    Léo.

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  6. Juca Novaes, é uma pessoa ímpar, a quem devo imensa gratidao.

    Joao Carnavais, é muito bom, hehehe!!!

    Parabéns, Léo
    Abraçao

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  7. Valeu, Pedro!

    Gostei de saber, proseando com você, de sua história com ele.

    Abração do
    Léo.

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  8. Eu acho, meu faro falha por vezes, eu qcho que o Juca ainda vai ser reconhecido como um dos nomes mais importamtes da musica brasileira. Ja deveria estar sendo badalado como tal, talvez a midia que que espalha essas coisas nao veja com bom olhos artistas que, ao inves de se lanharem pra fazer sucesso, casam, viram advogados, criam filhos filhos, festivais ...alem de

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    1. Sonk, sua mensagem chegou cortada, mas até onde li concordo!

      Abraço,
      Léo.

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