Eu não seria dependente do vício de escrever se não tivesse começado por um vício maior: o da leitura. Um belo dia, minha mãe trancou o portão e me disse: "A partir de hoje, é do portão pra dentro!". Não sabia ela que, a partir daquele dia, me condenava ao vício supracitado. Ainda hoje me pergunto: se ela soubesse, será que teria deixado o portão aberto? O fato é que não deixou, e, depois de drogas pesadíssimas, cá estou neste espaço, traficando palavras. E, não contente em traficar as minhas, tive a ideia de compartilhar com os possíveis leitores textos que me arrebataram. Como tenho a malfadada coluna Crônicas Desclassificadas, optei por, como contraponto, batizar esta de Crônicas Classificadas.
Mas não quero simplesmente jogar aqui textos alheios. Quero conversar com eles, filtrá-los, dissecá-los, comentá-los, chamá-los pra briga! E chamo-os a que venham comigo. Escolhi como primeira crônica a de Paulo Mendes Campos, O Amor acaba, que li na Folha de S.Paulo em 2000. Não vou pesquisar datas, pois seria chatíssimo, mas ocorreu que, algum tempo depois dessa leitura, no avião que me levaria ao Japão pela primeira vez, um pouco como uma forma masoquista de lidar com o medo que sentia naquelas alturas, lembrei-me dessa crônica e, inspirado nela, comecei a escrever uma letra que tratava do fim do amor que culminava com o verso "o amor eterno termina na queda do avião". Já em solo japonês, concluí-a, utilizando vários elementos daquele país na letra. Enviei-a a Fernando Cavallieri, que nunca a musicou. Anos depois, quando passei a compor regularmente com Clarisse Grova, lembrei-me daquela letra, busquei-a em meus arquivos e, passados os anos, dei razão a Cavallieri. Era uma letra, além de trágica, muito ruim. Porém, como tinha elementos interessantes, achei por bem "recauchutá-la". O engraçado é que acabei subtraindo o tal verso do avião em torno do qual girava a letra original. Aparentemente deu certo, pois, menos de um mês depois de tê-la enviado a Clarisse, não só esta lhe fez uma melodia maravilhosa como também a canção resultante tem caído nas graças de muitos ouvintes.
Abaixo, segue a crônica, ao final a letra e o link pra ouvir a canção, que intitulei Hiroshima:
O amor acaba
Mas não quero simplesmente jogar aqui textos alheios. Quero conversar com eles, filtrá-los, dissecá-los, comentá-los, chamá-los pra briga! E chamo-os a que venham comigo. Escolhi como primeira crônica a de Paulo Mendes Campos, O Amor acaba, que li na Folha de S.Paulo em 2000. Não vou pesquisar datas, pois seria chatíssimo, mas ocorreu que, algum tempo depois dessa leitura, no avião que me levaria ao Japão pela primeira vez, um pouco como uma forma masoquista de lidar com o medo que sentia naquelas alturas, lembrei-me dessa crônica e, inspirado nela, comecei a escrever uma letra que tratava do fim do amor que culminava com o verso "o amor eterno termina na queda do avião". Já em solo japonês, concluí-a, utilizando vários elementos daquele país na letra. Enviei-a a Fernando Cavallieri, que nunca a musicou. Anos depois, quando passei a compor regularmente com Clarisse Grova, lembrei-me daquela letra, busquei-a em meus arquivos e, passados os anos, dei razão a Cavallieri. Era uma letra, além de trágica, muito ruim. Porém, como tinha elementos interessantes, achei por bem "recauchutá-la". O engraçado é que acabei subtraindo o tal verso do avião em torno do qual girava a letra original. Aparentemente deu certo, pois, menos de um mês depois de tê-la enviado a Clarisse, não só esta lhe fez uma melodia maravilhosa como também a canção resultante tem caído nas graças de muitos ouvintes.
Abaixo, segue a crônica, ao final a letra e o link pra ouvir a canção, que intitulei Hiroshima:
O amor acaba
Por Paulo Mendes Campos

Folha de S.Paulo, 2 de janeiro de 2000.
***
HIROSHIMA
Onde é que foi parar
Aquele amor que era eterno,
Num dos porões do inferno
Ou em garrafas ao mar?
(Foi em Hokkaido no inverno?)
Onde é que eu fui largar?
Na Disneylândia de Tóquio,
Sob o nariz do Pinóquio?
No Monte Fuji estará?
(Tendo com Buda um colóquio?)
Ou só foi relaxar
Por entre as coxas da gueixa,
Por entre os poxas da queixa
Dormindo em casas de chá?
(Ou de trem-bala me deixa?)
O amor eterno morre
Não tem choro nem vela
Em Alphaville ou favela
Como o saquê vira porre
(Pra samurai ou donzela)
No Ceará… No Japão…
No Rio, em Sampa, na China
No orgasmo de quem ensina
A bomba a estuprar o chão
(Todo eterno termina)
Aquele amor que era eterno,
Num dos porões do inferno
Ou em garrafas ao mar?
(Foi em Hokkaido no inverno?)
Onde é que eu fui largar?
Na Disneylândia de Tóquio,
Sob o nariz do Pinóquio?
No Monte Fuji estará?
(Tendo com Buda um colóquio?)
Ou só foi relaxar
Por entre as coxas da gueixa,
Por entre os poxas da queixa
Dormindo em casas de chá?
(Ou de trem-bala me deixa?)
O amor eterno morre
Não tem choro nem vela
Em Alphaville ou favela
Como o saquê vira porre
(Pra samurai ou donzela)
No Ceará… No Japão…
No Rio, em Sampa, na China
No orgasmo de quem ensina
A bomba a estuprar o chão
(Todo eterno termina)
***
É Leo,na sexta uma amiga comentou que o nome do filme é 9 1/2 weeks, que não tem Love... e o tradutor, seja qual tenha sido a razão ou desrazão, completou as semanas, e escreveu 'de amor'.
ResponderExcluirmeu pensamento brincou com Love in translation. E agora, acabando de ler a crônica e o poema, a voz de Elis cantou na minha orelha 'Amor... não tem que se acabar' - o 'não tem que' pode levar o papo e o amor adiante! beijo, Vi
Hello, teacher! "Love in translation" é um mote muito bom pra uma letra... em inglês?
ResponderExcluirQuanto aos nomes de filmes estrangeiros traduzidos pro português, acho que o critério é o do quanto pior, melhor.
E, finalmente, falando de "amor não tem que se acabar", recentemente fiz uma canção (mais uma) em parceria com Élio Camalle que tem um verso que diz assim: "os amantes passam, o amor, não". Assim sendo, o papo, eu não sei, mas o amor segue adiante...
Beijos do
Léo.
Léo, você e Camalle são terríveis! Adoro essa parceria. Irinéa e Alexandre Lemos tem uma canção que fala disso também. Essa letra sua com o Élio,me fez lembraar dela: O tempo passa, os tempos, não! Veja a colheita em sua mão: o que se arranca é o que permite o próximo grão.
ResponderExcluirPoi é Parceiro, o amor segue adiante. Com certeza. Bjs, La Grova
Ô, parceira!
ResponderExcluirEncontrei seu comentário temporão por aqui. Que bom! Fiquei com vontade de ouvir essa canção, você pode mandá-la pro meu e-mail? Aproveito e colo, na íntegra, minha letra com Camalle:
SAMBA DO AMOR ETERNO
Élio Camalle – Léo Nogueira
Eu creio na eternidade do amor
Sim, eu creio
Por mais que dissabores nasçam
O amor troca de endereço, bate em outro coração
É que os amantes passam
O amor, não
O amor que tu me deste
Era vidro e não quebrou
Nos lugares onde eu vou
Ele ainda é quem me veste
Ele ainda te reflete
No retrovisor
O amor que tu me tinhas
Era muito, transbordou
Era louco, desandou
Onde havia erva daninha
Veio assim como quem vinha
Transformando tudo em flor
Beijão do
Léo.