1) Síndrome de Benjamin Button
Por Léo Nogueira
Pra mim, existem dois tipos de seres humanos: os que têm filhos e os que não têm. Eu, pertencente à segunda categoria, muitas vezes me flagro, com certa inveja e meio como se eu fosse um ET, observando (admirando) as relações entre pais e filhos. E dessas observações constatei uma coisa: a paternidade envelhece — ou amadurece; como queiram. É que, quando vejo um pai com um filho, noto que o senso de responsabilidade daquele faz que ele pareça mais velho do que realmente é, e o vejo como se ele fosse muito mais velho que eu, mesmo que se trate de um moleque. Mas, pensando bem, talvez o inverso é que seja a grande verdade: eu que, por não ter filho, às vezes ajo inconsequentemente, como se o moleque fosse eu. Não à toa, vira e mexe esqueço minha idade e gosto de imaginar que tenho ainda... mas, afinal, qual é minha idade mesmo?
Explico: talvez eu tenha meio que uma síndrome de Benjamin Button, ou seja, nasci velho e fui rejuvenescendo com o tempo. Quando tinha 18 anos, conheci uma garota legal, me apaixonei, e virei um quadradão. Pra vocês terem uma ideia, meu sonho era aquele combo casamento+trampo+casa+filhos. Quebrei a cara. Sabem por quê? Porque quando já estava noivo inventei de ser compositor, e a noiva, quando viu que a doença era grave (e provavelmente contagiosa), deu-me um carinhoso pé na bunda — tipo "vai seguir seu sonho e deixa em paz o meu". Convenhamos, foi minha sorte. De lá pra cá, como diria Renato Russo (ou Marcel Proust, né, Cássia?), fui resgatar o tempo perdido. E minha prole virou minha arte.
E hoje, do alto dos meus 30 e 15, posso dizer que tenho já uma dinastia musical de responsa, sem falar na prole literária, que tá começando, mas também promete ser prolífera, ao contrário de meus gametas. Aliás, parafraseando o velho (e bom) Zé Ramalho, "os meus gametas se agrupam no meu som". Ah, e sobre as crianças de carne e osso, ainda continuo gostando delas — afinal, sou uma delas. Mas desencanei de filhos. Tenho um sobrinho, filhos de amigos e parentes etc., daí, quando quero, vou lá brincar com um deles; depois, devolvo pros pais e volto pros meus (filhos). Até porque um cara que nem eu, que tá prestes a completar 18 anos (lembrem-se da síndrome de BB), não pode pensar em filho nessa idade. Tem mais é que curtir a vida — antes de voltar ao ventre da mãe, chaplinianamente falando.
***
2) Ah, juventude...
Por Teju Franco
A vida passa num sopro e tudo parece que foi ontem; dentro de cada senhor tem um garoto inconformado lembrando de uma aventura que acabou de acontecer há 30 ou 40 anos. Um sorriso, uma musa, uma viagem, um feriado, caçar festas sextas à noite, cabular aula de motocicleta no Ibirapuera, as paqueras na porta da escola, o olhar de rapina no muro do Sacré Cœur, os bailinhos de garagem, as músicas lentas, o perfume, as mãos trêmulas, a respiração ofegante, o beijo, a sensação de ser invencível, um livro em branco pela frente a ser escrito, o sabor da estreia em cada minuto da vida.
Ah, juventude... Nosso único vão momento de eternidade... As fogueiras, as rodas de violão, o primeiro porre, a primeira transa, o primeiro romance, a primeira dor, o sol a dizer a cada manhã "Carpe diem", e o dia que nunca desaponta, vem sempre com desafios novos; tempo em que os amigos são tudo e fartam, os perigos são convites, a contestação é um hábito cotidiano; tempo de muitos sonhos e planos mirabolantes... a realidade é uma bobagem perto desse ser humano destemido cujo sonho alcança tudo e muda o mundo.
Me lembro do Camping Casarão com suas grutas e cavernas, uma passagem secreta que percorro às vezes pra tomar a droga da juventude, pra saltar do trampolim prum mundo mágico e misterioso, pra sentir o gosto do "belo é o jovem mergulhador na ida", pra "ter meu mundo e nada mais", pra não esquecer que estreamos em cada dia novo que nasce, mas estamos atarefados, endurecidos, preocupados, acomodados, conformados, distraídos, insensíveis demais pra perceber que está tudo ali, no mesmo lugar; o Camping Casarão tá lá: o trampolim, o primeiro amor, o mistério da vida que estreia a cada minuto de maneira inusitada. Seria "tão mais" colorido se não nos esquecêssemos disso. E eu que tinha tudo, ainda tenho, só me esqueci disso, a gente cresce e esquece.
Me lembro da famosa cena do mestre sussurrando aos garotos da Sociedade dos Poetas Mortos, eu e o Tonico de porre no trampolim da piscina e o universo com suas cirandas parando pra nos assistir, ouvir nossos sonhos tolos, todas as estrelas a invejar o brilho dos meninos, a lua vibrando tanto que parecia fazer um ruído, música, com o espírito da juventude — o grande beatle — regendo tudo, tudo pra sempre "Forever young". E é assim que seguirei: vou ficar velhinho forever young.
Ah, juventude... Nosso único vão momento de eternidade... As fogueiras, as rodas de violão, o primeiro porre, a primeira transa, o primeiro romance, a primeira dor, o sol a dizer a cada manhã "Carpe diem", e o dia que nunca desaponta, vem sempre com desafios novos; tempo em que os amigos são tudo e fartam, os perigos são convites, a contestação é um hábito cotidiano; tempo de muitos sonhos e planos mirabolantes... a realidade é uma bobagem perto desse ser humano destemido cujo sonho alcança tudo e muda o mundo.
Me lembro do Camping Casarão com suas grutas e cavernas, uma passagem secreta que percorro às vezes pra tomar a droga da juventude, pra saltar do trampolim prum mundo mágico e misterioso, pra sentir o gosto do "belo é o jovem mergulhador na ida", pra "ter meu mundo e nada mais", pra não esquecer que estreamos em cada dia novo que nasce, mas estamos atarefados, endurecidos, preocupados, acomodados, conformados, distraídos, insensíveis demais pra perceber que está tudo ali, no mesmo lugar; o Camping Casarão tá lá: o trampolim, o primeiro amor, o mistério da vida que estreia a cada minuto de maneira inusitada. Seria "tão mais" colorido se não nos esquecêssemos disso. E eu que tinha tudo, ainda tenho, só me esqueci disso, a gente cresce e esquece.
Me lembro da famosa cena do mestre sussurrando aos garotos da Sociedade dos Poetas Mortos, eu e o Tonico de porre no trampolim da piscina e o universo com suas cirandas parando pra nos assistir, ouvir nossos sonhos tolos, todas as estrelas a invejar o brilho dos meninos, a lua vibrando tanto que parecia fazer um ruído, música, com o espírito da juventude — o grande beatle — regendo tudo, tudo pra sempre "Forever young". E é assim que seguirei: vou ficar velhinho forever young.
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3) VOU FICAR VELHINHO FOREVER YOUNG — A CANÇÃO
As duas pequenas crônicas acima foram resultado de uma provocação de Teju. Eu estava pensando em postar sobre uma canção nossa na coluna Trinca de Copas, quando ele propôs algo novo: como eu ia tratar da canção (da qual tratarei a seguir), por que não ambos escrevermos separadamente sobre a juventude sem que necessariamente tivesse a ver com a canção? Topei na hora, e vocês acabaram de ler em que bicho que deu. Resta dizer que tudo isso nasceu porque em certa ocasião, lendo um post de Teju no face, tasquei uma letra na hora, que ele deu uma melhorada e transformou na Vou Ficar Velhinho Forever Young. Vale publicar aqui o que ele escreveu lá:
"PQP viu? Esse negócio de ser velho não tem nada a ver! Tô de saco cheio disso, não nasci pra isso, quero voltar pra escola, caçar festa de sexta à noite, cabular aula de moto com uma maluca na garupa... Que saco essa merda desse tempo estraga-prazeres!" (originalmente publicado aqui)
A canção, com a qual me despeço, é esta:
Hoje, quando velhos de 20 anos
Ao falar comigo me chamam tio
Eu, que em juventude sou um veterano,
Penso "sabem nada", e aí sorrio
Sou um porra-louca com arte e engenho
Sei virar a noite e cair de pé
Vendo a preço módico o que não tenho
O sonho não acaba se eu der de migué
Mezzo rock'n'roll e mezzo bossa nova
Faço um som e tudo sempre se renova
Pra seguir no jogo, 'inda dando o sangue
Minha juventude é um bumerangue... no ar
Danço com o caos e desequilibro
Tudo cinza, baby blue
Tanta história, hoje sem tribo
Vou viver pra sempre forever young
Forever young
Forever young
Vou ficar velhinho forever young
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Ah! que bom ter amigos como vc, meu querido leozito.
ResponderExcluirA recíproca é verdadeira, mano! Bora produzir!
ExcluirAbração,
Léo.