sábado, 4 de dezembro de 2010

Um Cearense em Cuba: Décimo Segundo Dia

2006
JUNHO
DÉCIMO SEGUNDO DIA
Jueves, 29
    
Arrumamos as malas, fomos à casa de Jorge ter trinta minutos de aula de dança com suas irmãs, tivemos, despedimo-nos, Jorge ficou de arrumar o carro de um amigo pra nos levar à rodoviária, aceitamos, voltamos pro hotel, antes passamos por um restaurante e almoçamos, e eu fui comprar alguns livros, enquanto Kana terminava de arrumar a bagagem. Daí aconteceu uma situação inusitada. De manhã tinha encontrado (e comprado) dois livros de autores cubanos famosos, indicados pela recepcionista em questão (La Última Mujer y El Próximo Combate*, de Manuel Cofiño López, e El Recurso del Método, de Alejo Carpentier, este último nome, não de todo estranho), mas o escritor de que ela gostava mais, Daniel Chavarría, estava com um livro nas lojas a 20 pesos, ou seja, fora do meu poder de fogo. Agora à tarde voltei a procurar em outra loja e achei-o novamente a 20. Perguntei pro balconista, um senhor idoso e sem uma mão, se não havia um outro livro desse camarada mais em conta. Ele procurou e encontrou outro, chamado Joy, que estava saindo a oito pesos. Imediatamente comprei, porém, na hora de pagar, ao lhe dar dez pesos, ele me perguntou se eu não tinha trocado. Procurei e achei apenas um peso. Ele mo pediu. Quando lhe entreguei, ele me devolveu os dez pesos e disse que estava certo. Olhei-o interrogativamente, ao que ele me respondeu “Todo bien, este basta”. Estupefacto, agradeci-lhe e saí avoado. Daí pensei que, pra ele me vender um livro de oito por um, quanto estaria faturando se eu lhe houvesse pago os oito?

Ah, esqueci de dizer que é praticamente impossível encontrar por aqui livros de um dos escritores cubanos mais famosos fora de Cuba, Guillermo Cabrera Infante, pela óbvia razão de ser ele um desafeto de Fidel.

* * *

Jorge chegou com o motorista, providencialmente, na hora em que despencava uma necessária chuva. Na rodoviária, despedimo-nos com abraços, fotos e promessas de nos escrevermos. Baita família essa. Salvou nossa impressão dos cubanos.

Esperamos uma hora e meia até chegar o ônibus de viagem, bem confortável, diga-se de passagem, que saiu pontualmente às 18h, rumo a Havana.

Viemos num avião sucata que voava e voltamos num ônibus muito bom, de quebra conhecendo um pouco mais da geografia cubana. Vejam vocês que nem sempre é mais negócio viajar de avião.
    
Ainda avancei a galope minha leitura d’O Homem Duplicado.

***

*Li esse livro há alguns meses e, apesar de seu autor lançar um olhar favorável ao governo, é literatura de primeira categoria.

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