Segundo o Houaiss, doido é "aquele que age insanamente, apresentando sinais de loucura; louco, maluco; que age como doido, de maneira insensata, desajuizadamente". Mas, no mesmo Houaiss, podemos encontrar outros significados, no uso informal da palavra, "cheio de contentamento; muito feliz; encantado; que manifesta paixão, entusiasmo exagerado por; que não é comum, que é extravagante; exagerado". Com o que podemos afirmar que Cazuza era, pois, um doido, e, esteja onde estiver, deve seguir sendo, em companhia de outros incontáveis (e encantados) malucos-beleza...
Mas, afinal, quem é tão são que pode atirar a primeira pedra? E qual é o limite entre a loucura e a lucidez? Sonhar é loucura? E quanto àqueles que enlouquecem um pouco a cada dia justamente porque deixaram de sonhar? Há muitos que trocaram seu sonho por uma bela carreira que lhes oferecesse conforto e estabilidade financeira, mas que, passados alguns anos, viraram dependentes de todo tipo de remédio (ou outras drogas), justamente por não conseguirem deitar a cabeça no travesseiro em paz. Em contrapartida, há muitos que vivem à beira da loucura justamente por terem saltado rumo ao abismo de seus sonhos. Quem escolheu a opção certa?
Se houvesse uma resposta, não estaríamos aqui divagando a respeito. Sábias são as palavras de Vinicius de Moraes: "Cuidado! A vida é pra valer. E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo, que é bom, ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado, com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus! E com firma reconhecida!". Então, já que a vida é uma só, eu, particularmente, penso que, se a loucura é inevitável, que pelo menos venha pelo viés do prazer. Melhor enlouquecer por ir atrás do sonho do que por fugir dele. Ao menos, ao contrário dos desistentes, não enlouqueço sozinho. Pois a turma dos teimosos que há do lado de cá não para de crescer. Haja hospício pra instalar tanta gente! E, por falar em hospício, conheço um que vale a pena conhecer. Aliás, sou dele um interno, com direito a liberdade condicional.
Refiro-me ao Clube Caiubi de Compositores, que neste apocalíptico 2012 completa dez primaveras de loucuras. Já escrevi fartamente sobre ele (leia texto mais detalhado aqui), desde sua fundação até os tempos atuais, passando por diversos shows, festivais, sedes, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, mas hoje o interesse desse texto é (além de divulgar o show comemorativo) fazer uma reflexão a respeito desses anos todos e do direito de se permitir continuar sonhando.
Todo artista busca o reconhecimento. E, quando tal não acontece, inseguro que é, aquele passa a pôr em xeque a própria obra. Mas o enigma do sucesso caminha por obscuras e esburacadas estradas. Mais uma vez não há fórmula (refiro-me ao sucesso dos que venceram sem se vender). Somos todos vítimas do, como diz minha amiga uruguaia Samantha Navarro, "espírito do tempo". E, convenhamos, vivemos tempos instáveis. Se, por um lado, as gravadoras definham e, cada vez mais desesperadas, buscam baixar mais um nível que já andava pelo subsolo; por outro, a internet democratiza o acesso à música independente e a propagação desta. Mas, dentro desse balaio, há muita porcaria travestida de "música de qualidade". Daí que quem não conhece música de qualidade acha que é sinônimo de porcaria.
Festa de 10 Anos do Clube Caiubi + Lançamento do livro Doido, Eu?
Quando: sábado, 09 de junho
Onde: avenida Pavão, 950 – Moema, São Paulo-SP
Hora: a partir das 19h30
Reservas: (11) 5041-6738 ou 5533-5100
E onde entra o Caiubi nessa história? Entra justamente por essa brecha que se abre aos independentes que sabem navegar bem por esses mares virtuais. O Caiubi tem hoje perto de 8 mil cantores/compositores filiados. É a maior rede do Brasil e com mais canções disponíveis (cem por membro). Sempre disse que se o Caiubi tivesse surgido uma ou duas décadas antes muitos de seus integrantes teriam conseguido um destaque maior na mídia. Mas, se em tempos de falências e matérias pagas, a música pela música não dá ibope, os caiubistas vão bem, obrigado. Ao menos sobrevivem com dignidade...
Café Paõn apresenta
Tanto é assim que todos já estão a postos pra preparar uma festa que deve ser a maior desses dez anos. E com direito a uma aquisição inédita, o lançamento de um livro de contos totalmente escrito e produzido por caiubistas, com o sugestivo título de Doido, Eu?. Bem, é chegada a hora de contar uma historinha: há algum tempo se filiou ao clube uma goianiense que reside em Roraima, Lucinda Prado. Formada em Letras, poeta e contista, encantada (doida?) por histórias de andarilhos, pedintes e/ou moradores de rua, sonhou publicar um livro de contos que tratasse de tais personagens.
Mas, em vez de ela própria escrever todos os contos, resolveu democratizar seu sonho e convidou (desafiou?) seus colegas caiubistas a que escrevessem contos pra seu projeto (agora o sonho subia um degrau). E a quantidade de pessoas que disseram "sim" foi maior que o esperado (sonhado), o que resultou num livro com 40 contos e 31 contistas (Lucinda, corrija-me se eu estiver errado) que hora é lançado na noite da festa caiubista. E eu tive a felicidade de participar como contista (dois contos) e revisor.
Claro que um trabalho dessa envergadura não transcorre como num conto de fadas. Houve brigas, discussões, desistências (alguns contistas tiraram o time, digo, o conto, de campo na hora H), cansaço, desgaste... Eu mesmo cheguei à beira de um colapso de tanto revisar o mesmo conto. Enquanto os contistas não batiam o martelo eu tinha que revisar outra e outra vez. Alguns iam reescrevendo à medida que eu revisava. Uma loucura! Mas no final, entre mortos e feridos, todos se salvaram. Claro que num trabalho coletivo há obras maiores e menores, mas no conjunto da obra a qualidade prevaleceu. Mesmo porque Lucinda, ao perceber que alguns dos contos não atingiam um nível desejável, organizou uma comissão avaliadora, que apreciou os contos antes de que se batesse o carimbo.
Ao fim e ao cabo (bela expressão, não?), o que li foram muitos belos contos, alguns ácidos, outros emotivos, uns nostálgicos, outros divertidos, e, pairando acima das linhas, a questão loucura/lucidez rondando as histórias contadas. E é por isso que eu venho por esta convidá-los a este evento que certamente é um dos mais importantes da semana (culturalmente falando) aqui em Sampa. Pra quem ainda não conhece o Caiubi, é uma oportunidade ímpar de participar de uma bela festa; pra quem já conhece, vale a pena prestigiar uma noite autoral dessa vez organizada com pompa e circunstância.
Você vai ser louco de perder?
***
SERVIÇO:
Festa de 10 Anos do Clube Caiubi + Lançamento do livro Doido, Eu?
Quando: sábado, 09 de junho
Onde: avenida Pavão, 950 – Moema, São Paulo-SP
Hora: a partir das 19h30
Reservas: (11) 5041-6738 ou 5533-5100
***
Autores por ordem alfabética:
Adalton Miguel Batista, Airton Meireles, Ana Paula Fumian, Anja, Antonio Carlos de Paula, Benício dos Santos, Carlinho Motta, Carlos Lindberg, Cesar Carvalho, Emerson Sbardelotti, Erico Baymma, Etelvina Costa, Graziella Hessel, Júnior Brasil, Léo Nogueira, Léris Seitenfus, Lia Helena Giannechini, Lucia Helena Corrêa, Lucinda Prado, Marcio Policastro, Marco Araújo, Monica Martins, Monsyerrá Batista, Núbia Cardoso, Oswaldo Faustino, Oswhaldo Rosa, Paulo Sill, Raymundo Rolim, Roberto Armorizzi, Sonya Prazeres e Valéria Pisauro.
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UNS MUITOS
São uns gatos pingados
Uns pingaiadas
Uns querem o mundo
Outros vão sem nada
São uns cães sem dono
Sem vez, danados
Uns latem pra lua
Outros chutam latas
São descalibrados
Equilibristas
Cabras safados
Contrabandistas
Procurando sons
No fundo do poço
No meio da lama
São uns doidos de pedra
Soprando as estrelas
Pra manter acesa
A chama
felicidade! feliz cidades! e feliz música pra esse grupo tão querido!
ResponderExcluire feliz que mantém esse blog! tou sempre aqui e leio tudo!
beijos, Léo
Valeu, Apá! E parabéns pelas conquistas aí, viu?
ExcluirBeijos do
Léo.
E eu que ja me tinha dado por cansado de tudo me pego curtindo as ultimas segundas autorais e acredito estarem sendo as melhores de todos os tempos...e põe tempo nisso.
ResponderExcluirSonk, se são as melhores de todos os tempos não sei, mas que estão boas, estão.
ExcluirAbraços e até já,
Léo.
Muito bom o texto!É um orgulho fazer parte da família caiubi.
ResponderExcluirE sua revisão só enrriqueceu,nossos contos.
Abraços
Léris
Valeu, Léris! O prazer foi meu!
ExcluirAbraços do
Léo.
OI Léo!!! Gostei muito do seu texto sobre nosso livro!!! Tenho certeza que será um momento inesquecível! Até lá! Bjs
ResponderExcluirOi, Aninha! Cê vai estar por aqui?
ExcluirBeijos do
Léo.
Léo,queridão!
ResponderExcluirQuantas emoções passamos juntos para que esse projeto florescesse.
Você me fez relembrar alguns momentos da fase "revisão" e quase entrei em "colapso pós-revisão" só de me lembrar da loucura dessa fase.Mas tivemos fases muito gostosas,eu destacaria, quando resolvemos pedir "PITACOS" (lembra?) para sugestões de títulos para o livro. Foi uma festa, aconteceu virtualmente, através do "Fórum" do site do Caiubi.Tivemos 58 sugestões e fomos filtrando até chegarmos democraticamente em Doido,Eu? - depois tivemos outro momento maravilhoso, o lançamos da música "Maria Fumaça" de Márcio Celi e Naldo Miranda,como a música que usaríamos para divulgação do projeto. Na verdade, cada fase do projeto foi muito especial para todos nós.E posso te dizer que me sinto muito bem em saber que fomos capazes de realizarmos algo que trouxesse tantas alegrias e principalmente muito aprendizado para todos nós.
Hoje, estamos aqui orgulhosos do filho gerando coletivamente.
E você vai ser louco de perder? Eu já estou a caminho de SAMPA?
Claro, Lucinda, os bons momentos e o resultado final superaram os colapsos. E, ó, mestre Tavito adorou o livro! Quer melhor augúrio que esse?
ExcluirBeijos e até já,
Léo.
Iniciativa maravilhosa e uma vontade de fazer a diferença, fez deste nosso projeto uma orgulhosa obra literária! Parabéns a todos os envolvidos! É um presente que nos damos com muito mérito! Valeu amigos! Forte abraço das Gerais. Msrá
ExcluirIrretocáveis palavras, Monsyerrá!
ExcluirAbração da friaca garoenta de Sampa,
Léo.
Valeu Léo, e aí vem a festa.
ResponderExcluirValeu, Marco!
ExcluirAbração do
Léo.
Há 3 anos procurei por Zé Rodrix e descobri o Caiubi. Nunca mais sai, estou me fartando com parcerias e boas audições e leituras. Estou muito grato ao acaso!
ResponderExcluirValeu, Nino! Estamos juntos!
ExcluirAbraços,
Léo.
Olá eu desejo uma grande festa a todos os membros do Clube do Caiubi, me sinto feliz por ter o meu cantinho neste lugar. Um abraço grande a todos.Suzete Dutra
ResponderExcluirValeu, Suzete!
ExcluirAbração do
Léo.
Oi, Léo!
ResponderExcluirInfelizmente serei louca de perder, mas é que eu já tinha me comprometido a participar do Arraiá do Bem, da Adryana BB. E vai ser no mesmo dia da festa caiubista. Já está marcado há um tempão, antes até da campanha do Movere...
Mas é claro que a festa vai ser ótima! Não tenho dúvida.
Ei, como eu faço pra comprar o livro?
Beijão!
Ah, Danny! Furona! Hahaha! Mas tudo bem, compromisso é comprometimento. Sobre o livro, deixo a palavra com Lucinda. Diz aí, Lucinda! Como a menina adquire o livro?
ExcluirBeijão do
Léo.
Oi Danny,
ExcluirQue pena não poder te abraçar na festa,mas teremos um Sarau dia 08 e o show no domingo,ambos promovidos pela France da Matta.
Você poderá comprar p livro pelo site da editora,veja o link
https://clubedeautores.com.br/book/122262--DoidoEu
Furona não, que eu não disse que iria! rs
ExcluirPena mesmo, Lucinda!
Obrigada! Vou olhar o link.
Beijos pra vocês, louquinhos!
Da louquinha
Danny.
Oi, Léo!
ResponderExcluirParabéns por suas lindas palavras.
Será uma loucura cultural!
Abraços.
Valeu, Valéria! Então será uma loucultura!
ExcluirAbração do
Léo.
Léo! Você retratou muito bem o que significa o "Doido eu?". Obrigada por este carinho e pela força com a correção dos textos. :)
ResponderExcluirValeu, Anja! Parabéns pra nós!
ExcluirBeijão,
Léo.
Parabéns Léo, aliás, o que seria do mundo sem esses doidos de pedra que fazem girar o carrossel das emoções e dos sentimentos??
ResponderExcluirPois é, AC, o mundo ia ser um tédio só.
ExcluirAbração do
Léo.
Geralmente as pessoas colocam este livro como uma grande realização. Deve ter sido muito bom para quem bancou e concentrou no final todos os livros e suas rendas, a ponto de não dar crédito a quem realmente organizou, brigou com os contistas - como, não querendo entrar em conflito com Montserrat (acho que assim que escreve), eu, como organizador, fui quem mandou o recado e levei as porradas todas que foram recados da que se apossou também do título de organizadora.
ResponderExcluirSinto muito, este livro, apesar do quanto as pessoas se entregaram a fazer, foi, afinal, uma prova do como acontecem as coisas no mundo artístico. E tem muita coisa feia atrás, no que sinto muito dizer, apesar do tempo em que foi lançado - e não fazer diferença pra ninguém, agora. E não faria mesmo diferença pra ninguém, pois por ética, pensei que tudo que havia sido acordado seria cumprido, e não foi.
Além de não ter sido citado como organizador, no que Lucinda trouxe pra si seu nome - por ter pago para a prensagem e deveria ter dado pelo menos UM LIVRO, como direito autoral, quando geralmente é dado em torno de 5% a 10%, dirigido para os autores - além do que acho absurdo, que é retirar meu nome da organização e ter pago por todas as brigas, e organizado tudo, ainda hoje não tenho meu livro.
A vida é assim, meus amigos, quem tem grana se monta nos outros, e não tenho a mínima vergonha por expor-me prejudicado neste projeto, de ter brigado com amigos por questões "da que paga" não ter tido a coragem de enfrentar seus amigos, após ter ganho a visibilidade toda no Caiubi, de ter confrontado o Sonk em questões que ficarão entre nós dois (mas que fazia parte da minha organização), de ter coordenado toda a série de coisas que a auto-nomeada organizadora não tinha saco ou faltava coragem pra lidar.
Exponho-me e exponho-a, assim como faço com qualquer artista que seja prejudicado em seus processos de produção ou venham a perder seus direitos, com o produto pronto. Já briguei com grandes empresas por este motivo e não seria por conta desta pequenice imensa que deixaria de falar o que realmente aconteceu.
Absolutamente, em todos os projetos em que estive organizando, coordenando, produzindo, fui muito respeitado pelo resultado obtido e devidamente creditado.
Nem tudo é festa e é melhor encarar, se houver festa, as coisas sem máscaras. Eu detesto gente mascarada.
Perdoem, não estou movido por ódio, mas por direitos de quem produz efetivamente. De Roraima, a organizadora coordenava apenas suas lojas.
Mas.... que fiquem bem alertas aos processos que são "incluídos". Pode ser que no final estejam completamente por fora.
Abraços aos do BEM. Exposição para os dissimulados!
PS: Parece que esta reclamação é completamente anacrônica e que o realizar do livro é o que vale. Não tive sequer o tempo de retirar meus contos, que se são grandes ou pequenas coisas não importa. Importa é o respeito ao que de fato e direito faz/produz/organiza.
Se considerarmos o livro, produto, é um grande embuste em cima de todos os contistas e a mim que dediquei todo o tempo necessário para o projeto.
E sinto muito se alguém se sente em mal estar pelo que aqui é exposto. Esta é a vida, e a gente tem que escolher melhor com quem se une - se bem que nem sempre a gente vê na hora.
Oi, Érico.
ExcluirSó agora me deparei com esse seu comentário temporão. Queria acrescentar apenas que não sabia disso e lamento por você. Se estivéssemos no fb, podia convocar ao debate os demais interessados; entretanto, como se trata apenas de meu bloguinho, periga seu depoimento-desabafo ficar só como, sim, desabafo...
Abração,
レオ。
Pois é, Leozim
ResponderExcluirVocê que passou do processo na revisão, deve ter visto todo o rolo que foi a produção deste livro, que ninguém se dá conta.
É lamentável que dentro do Caiubi tenha havido espaço para este tipo de coisa, e a "tal da moça" ainda se valeu pra ganhar uma comenda.
Na época, discuti muito com o Sonk sobre o que seria a imagem a ser passada, sem que ele soubesse que isso tudo estava estourando...
Repito que o pior de tudo, é que me deixei ser usado em todo o processo a ponto de me indispor com vários dos autores porque a Lucinda não tinha coragem de encarar.
Eu queria mesmo era dar um jeito de tirar meus contos desta coletânea já que fui prejudicado do início ao fim. Não pelos outros contistas, mas pela esperteza bem bolsominion da tal da empresária.
Ela deve estar rindo pois deve estar vendo minha reclamação estar sendo feita, mesmo eu tendo feito no fb - e todo mundo ficou calado - e a bunitinha é que se saiu de gostosa comendadora.
Eu tenho é ojeriza deste tipo de coisa e, ainda bem, as coisas passam, e ela passou.
Abração, meu querido
Érico
PS: Queria me lembrar de como escreve meu nome em japonês!