terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ninguém me Conhece: 60) Rodrigo Campos e um longínquo São Mateus

Acredito que este deva ser o mais longo texto do Ninguém me Conhece que escrevi até agora. Contudo, é, senão o mais, um dos mais pessoais. Estava decidido a não o escrever, mas fui vencido por mim próprio. Certamente por causa disso saiu este jorro verbal ao qual me custou pôr fim. Aos impacientes, sugiro que o leiam por capítulos. E, aos mais impacientes ainda, que o ignorem (mas ouçam ao menos as canções).
***

Léo e Rodrigo - com alguns
 anos e quilos a menos
(e uns fios de cabelo a mais)
Pra mim, escrever a respeito de Rodrigo Campos deveria ser a coisa mais fácil do mundo, mesmo porque fui de seu convívio em alguns dos anos que moldaram o que ele se tornaria, mas os muitos e contraditórios sentimentos que o simples ato de citar seu nome me provoca tornam este relato deveras dolorido (contudo, não destituído de nostálgico prazer). Então resolvi que o escreveria em pequenos (vá lá, nem tão pequenos assim) capítulos, como se fossem memórias, mesmo que fosse apenas pra que ficasse registrada em algum lugar (ainda que em ciberespaço) nossa, como direi?, época de ouro. Mas sem saudosismo, mesmo porque tenho plena convicção de que nossa verdadeira época de ouro - separadamente - é a atual. Apenas me deu na veneta escrever sobre outra época de ouro, a que vivenciamos lado a lado, como um Sócrates e um Zico de um muito pessoal 1982. Sim, sem saudosismo, embora com pitadas de melancolia, mas na medida certa, pra não salgar as palavras.

1) Aboio Urbano (Rodrigo Campos - Léo Nogueira)*
Corina Sales e Élio Camalle

1. De mágoas e outros demônios

Quando eu era (mais) jovem achava que os artistas eram seres especiais, iluminados. E, quando me refiro a artistas, refiro-me aos fazedores de arte em geral, seja ela de quaisquer naturezas. Mas, de repente, vi-me compositor. Da noite pro dia, como numa revelação. Contudo, não melhorei como pessoa... Talvez só um tiquinho, mas nada que me fizesse levitar ou coisa do gênero. Além disso, conheci outros compositores e cantores e percebi que muitos deles eram pessoas equivocadas, pra não dizer que possuíam falhas de caráter. Então, pra minha frustração, cheguei à conclusão de que, embora haja certa dose de iluminação no ato da criação, isso não impede que tais artistas, como humanos que somos (incluo-me), não cometamos erros ou mesmo infantilidades. De tal modo que acho que Zé Rodrix estava mesmo certo quando dizia que "o importante são as canções". É que algumas delas são obras-primas, mas nenhum compositor é imaculado...

Mas hoje a vidraça sou eu. Embora saboreando há pouco mais de dois meses a dor e a delícia de ser um quarentão, noto que o fim da estrada que me levará a ser a pessoa que almejo ainda está a milhas e milhas de distância (e põe milhas nisso!). Nem vislumbro o horizonte... Por isso, este texto é um mea-culpa direcionado a minha mais doce e inconsequente infantilidade. Sendo assim, e admitidas desde já todas as (minhas) culpas e todas as possíveis injustiças dirigidas a terceiros, decidi começar (mesmo como forma de terapia) tratando da mágoa. Porque, se ao menos do rancor estou curado, não posso dizer o mesmo da mágoa. Vejamos o que diz o Houaiss sobre essas duas impertinentes palavrinhas:

Rancor: substantivo masculino. 1. sentimento de profunda aversão provocado por experiência vivida; aversão. 2. ódio profundo, não expresso. // Mágoa: substantivo feminino. [...] 2. impureza, mácula. 3. desgosto recolhido cujas marcas transparecem no semblante, nas palavras; tristeza, amargura, pesar. 4. sensação desagradável causada por agravo ou indelicadeza; ressentimento. 5. sentimento de pesar, de compaixão; dó, lástima, pêsame. 6. inveja [!].

Sim, irmãos, eu guardo mágoa! Não digo que a nutro, mas mesmo assim ela vive em mim, como uma lombriga. Quanto mais finjo não dar bola pra ela, mas a danada cresce. A mágoa é meio como um cacto no deserto dos sentimentos vis. E, como quem está num confessionário laico, enumerarei as pessoas responsáveis por eu não estar curado dela. Mas, antes disso, esclareço que só guardo mágoas de amigos, pois são as pessoas de quem mais espero. Não sou estúpido o bastante pra guardar mágoas de inimigos (terei inimigos?), de colegas ou de simples conhecidos. A mágoa em mim é quase como um sentimento de carência, um pedido de socorro...

Guardo mágoa (pequena) de meu querido (e complicado) irmão Élio Camalle, por ter constantes dúvidas a respeito de sentimentos dentro dos quais a dúvida não cabe (e também por ter preterido algumas parcerias nossas em dois ou três CDs); guardo mágoa de Fernando Cavallieri, por não ter nossa parceria na mesma conta de nossa amizade; guardo mágoa de Rafael Alterio, a respeito de quem jamais abri a boca que não fosse pra dizer palavras de carinho e admiração, e que, contudo, chamou-me "lamentável" em público por eu me dar o direito de pensar diferente dele a respeito de algumas questões musicais; enfim, guardo mágoas de outros amigos que, por não pertencerem ao universo musical, não vou citar... e guardo mágoa de Rodrigo Campos.

2. Quando Bela Vista, Americanópolis e São Mateus eram bairros vizinhos

O bairro paulistano da Bela Vista, onde moro hoje, já me trouxe muitas alegrias. Posso dizer mesmo que foi meu berço musical, pois foi lá que conheci pessoas que mudaram minha vida irremediavelmente. Foi na Bela Vista, no falecido bar Boca da Noite, que conheci Élio Camalle, que me apresentaria à nata da música paulistana, inclusive a Kana. E no Boca da Noite conheci também os rapazes do Quinteto em Branco e Preto, que na época não passavam de alguns garotos que tocavam samba ali até altas horas em algumas noites da semana e que, findo o samba, esperavam o dia clarear pra pegar o busão que os levaria de volta pra casa.

Três deles moravam em São Mateus, dois deles viraram meus parceiros, um deles virou meu quase irmão mais novo, Vitor Hugo Pessoa, hoje simplesmente Vitor Pessoa (trocou o francês pelo português). Deste jovem guardo uma ínfima mágoa, mas relevo, porque ele não passava de uma criança deslumbrada na época em que fomos amigos. Posso dizer que cumpri minha missão com ele, porque que ele foi, durante algum tempo, como que meu aprendiz. E fez o que costumam fazer os aprendizes: aprendeu e se mandou.

Mas sou grato a Vitor por ter me apresentado um cara que durante um tempo foi mais que amigo, Rodrigo CamposRodrigo, na época, era praticamente o quinto beatle do Quinteto, ou, melhor dizendo, o sexto integrante desse grupo. E Rodrigo também morava em São Mateus. Assim sendo, não foram poucas as tardes/noites em que, se eu não estivesse por lá, em casa de Rodrigo, ele estaria por Americanópolis, em minha casa. Rodrigo era um falso tímido, tinha um sorriso maroto e um encanto buarqueano, fingia acanhamento pra aprontar das suas e pôr a culpa em terceiros. Jogávamos bola, encarávamos umas "brejas" e compúnhamos, mas compúnhamos muito!

E com Rodrigo não houve essa relação mestre-aprendiz, porque, embora eu fosse um pouco mais velho que ele, posso afirmar sem constrangimentos que ele já era um compositor praticamente maduro. Embora ambos bebêssemos de Chico Buarque, enquanto eu ainda imitava descaradamente buarqueanos versos, ele era muito mais consistente nos temas que desenvolvia e na maneira de desenvolvê-los. Mas era humilde e generoso o suficiente pra me acarinhar musicando alguns daqueles irregulares versos, que tinham menos de meu do que eu supunha.

E foi Rodrigo quem me incitou a superar uma grande trava: até então, embora já tivesse alguns parceiros, só sabia compor só. Tinha que me esconder no quarto pra escrevinhar minhas ideias, e, só depois de terminar uma letra, mandava-a pra alguém. Um dia estávamos eu e Rodrigo em casa, e ele, munido de um violão, começou a compor, meio que de brincadeira, uma melodia. E cutucava, "Vai, Léo, escreve aí". Eu em vão lhe dizia que ia pegar um gravador pra gravar a melodia e depois fazer a letra, mas a insistência dele foi tanta, que acabei, por vez primeira, ali, na hora, escrevendo os versos do que seria uma de nossas mais belas parcerias, Aboio Urbano.

Vitor foi pro mundo com sua trupe do Quinteto, e ficamos nós, de Americanópolis a São Mateus (e vice-versa). Nessa época, a mágoa foi de Rodrigo, por se ver esquecido pelos até então amigos. E quem o consolou fui eu, enquanto teimava em não dar bola pra minha própria mágoa. Começava aqui um novo capítulo da amizade.

2) Marginal (Rodrigo Campos - Léo Nogueira)*
Corina Sales e Élio Camalle

3. Os novos amigos, os shows e o Samba da Bênção

Minha memória me traiu. Antes de Vitor sumir de nosso mapa, presenteou-nos com o que seria uma espécie de "canto do cisne" de nossa amizade: uma participação num show que posso dizer que foi histórico (pelo menos pra mim). Mas comecemos pelo começo, que isso aqui é prosa à antiga. Nessa época, tínhamos uma amiga em comum, uma espirituosa moçoila, de gargalhada criminosa, sorriso de orelha a orelha, bochechas... não, bochechas, não, maçãs do rosto! Sim, maçãs do rosto proeminentes e pra quem cheguei mesmo (lembrou-me ela recentemente) a cometer uma canção em parceria comigo. Atendia pelo maroto nome de Corina Sales, e tinha em seu currículo o vaidoso fato de ter começado a carreira de cantora aos 12 anos (se não me engano) lá em Exu(-PE), sua cidade natal, fazendo coro (que em Exu não existe esse papo de backing vocal) pra ninguém menos que Luiz Gonzaga.

Corina hoje, pra tratar de sua própria insanidade, trocou os palcos pelo consultório, após formar-se em psicologia (embora devesse ter estudado psiquiatria). Mas voltemos. Pois bem, Corina, que também vivia em São Mateus, chegou a cantar na noite acompanhada por Rodrigo, até que, por teimosia nossa, resolveu experimentar deixar de lado o batido repertório e cometer a imprudência de realizar um show exclusivamente com canções do famigerado trio Campos-Pessoa-Nogueira.

O local escolhido foi o também falecido Villaggio Café. Na banda, Rodrigo em violão e cavaquinho; Vitor na percussão; e, na guitarra um camarada de Rodrigo cujo nome agora me escapou. Também participaram Daisy Cordeiro, Élio Camalle e Kana. O show foi gravado em MD e o transformei em CD depois, pra guardar em meus arquivos pessoais. Apesar do nervosismo de Corina (e, consequentemente, um ou outro desafino), foi um show que guardo com carinho no baú do coração.

Passou o tempo, casei-me eu, Rodrigo foi morar com a atriz Nany di Lima, e eis que nasceu a ideia do projeto Samba da Bênção. Pra economizar tempo, colo a seguir parte acerca do assunto que havia escrito no texto sobre Álvaro Cueva: "Em 2002 fui convidado pelos amigos Rodrigo Campos e Nany di Lima a participar do projeto Samba da Bênção. A ideia era originalíssima: uma vez por semana, no Teatro Arthur Azevedo, no bairro paulistano da Mooca, uma roda de samba comandada por Rodrigo homenageava um sambista. Até aí, nada de mais, a peculiaridade consistia no roteiro do show, que trazia nos intervalos das canções uma espécie de palestrante que contava não a biografia do homenageado, mas fatos curiosos, pitorescos, que o envolvessem. Em seguida, aproveitando a deixa, atores comandados por Nany invadiam o palco e interpretavam a cena. O palestrante era eu! Foi, inclusive, minha primeira experiência de palco, e agradeço imensamente aos dois pela oportunidade que me deram. [...] O tempo passou, o projeto, que ia de vento em popa, ruiu, por motivos extramusicais, e retomamos todos nossas vidas."

4. São Mateus não é um lugar assim tão longe 

Dizem que em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher. E eu, inocentemente, lá estava com minha colherinha. Amigo de Nany e de Rodrigo, num piscar de olhos me vi sem um e sem outro quando a casa de ambos caiu. Peço desculpas aos dois, mas a história da nova MPB carecia deste capítulo, e, como calhou de ser eu o biógrafo, não podia me fazer de rogado. Entretanto (e entrementes), como não é um texto escrito pra revista Caras tampouco pra Tititi, passemos ao largo dos conjugais detalhes e avancemos no tempo...

E foi assim que, traídos pelas artimanhas do destino, perdemo-nos de nós. Cheguei a tentar uma aproximação com Rodrigo duas vezes, oportunidades em que ele visitou minha atual casa, fizemo-nos juras de amor nas quais nenhum dos dois acreditou e deixamos que uma neblina parente da de ... E O Vento Levou nos afastasse de novo. E foi assim, do outro lado da neblina, que acompanhei a ebulição do fenômeno Rodrigo Campos, com o nascimento de seu CD São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe

De repente, a foto do menino de sorriso maroto, que vinha lá periferia, estava estampada nos jornais. E não como na canção do Chico que dizia "com vendas nos olhos, legendas e as iniciais", mas como revelação da nova MPB! Na Folha de S.Paulo, por exemplo, um crítico incensava: "Qualquer lista decente que se faça no futuro com os melhores álbuns brasileiros de 2009 precisa incluir, obrigatoriamente, São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe". E São Mateus ia ficando cada vez mais longe...

A agenda de shows se solidificava, assim como sua relação musical e afetiva com a cantora Luisa Maita, com quem vinha trabalhando desde os tempos em que integraram a extinta Urbanda, que chegou a lançar um CD em 2003. E começaram também a se aprochegar nomes em ascensão como Romulo Fróes, Kiko Dinucci e Marcelo Cabral, com quem Rodrigo formou um quarteto que originou o CD Passo Torto, considerado pelo mesmo crítico da Folha "um dos discos do ano" de 2011.

Nesse mesmo 2011, caminhando pelas calçadas da avenida Paulista, vi se aproximar Rodrigo, e reconheci que vinha conversando animadamente com Romulo. Diminuí o ritmo da passada e me preparava pro abraço, quando o vi passar, quase esbarrando em mim, sem me dar a menor peteca. Tempos depois, encontrei a ex-cantora e atual psicóloga Corina e lhe relatei o (não) ocorrido, com as palavras encharcadas de mágoa, ao que ela, fazendo jus a sua nova profissão, perguntou-me se não teria sido minha pré-disposição a fazer-me de vítima que gerara o não encontro, arrematando: "E por que você não falou com ele?". Rendi-me aos fatos...

Semana passada, por acaso, deparei-me com sua foto no facebook (ok, sou revisor, mas em minha casa esta palavrinha sempre levará minúscula) e foi sintomático ver que eu não fazia parte de sua lista de mais de 2.500 "amigos". Corrigi o lapso adicionando-o, na pior das hipóteses pra ser um dos 2 mil e tantos. Falando em amigos, sei o que é me afastar deles por motivos de morte lenta da afinidade. Quando um de meus melhores amigos virou evangélico e decidiu que minha amizade lhe era prejudicial, sofri à beça; assim como quando perdi um amigo querido levado pela doença; ou quando, ainda na pré-adolescência, meu então melhor amigo se mudou de cidade pra nunca mais; ou ainda quando um mineirinho companheiro de muitas estripulias voltou pra Divinópolis em busca de ar puro...

Foram casos em que havia um motivo. Mas quando há, além da amizade, um vínculo forte como é o da música, esse afastamento se torna inexplicável e, por vezes, insuportável... Ai, ai, ai! Cá estou eu de novo me desnudando perante plateia que me é uma incógnita. Mas é hora de pôr fim à novela. Ou pelo menos a esta primeira (?) parte. Peço desculpas aos leitores se fugi um tanto do tema música, que é sempre o foco deste Ninguém me Conhece, pra me perder nos labirintos das relações de amizade; mas me defendo dizendo que Rodrigo já tem aplausos bastantes da mídia escrita. Aos curiosos, basta uma rápida pesquisa no São Google pra que percebam que não estou contando balelas.

3) O Menino Voador (Rodrigo Campos - Léo Nogueira)

No mais, só trato aqui de pessoas por quem nutro grande admiração (mesmo que mesclada à mágoa... ou nela diluída). Finalizo acrescentando que São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe é um grande disco, de um artista ímpar e ciente (e consciente) de sua capacidade. E, sim, ele me presenteou um exemplar, e lá estava meu nome nos agradecimentos. E, embora eu não tenha entendido bem o porquê, valeu como prêmio de consolação. Espero, sinceramente, que, comigo ou semmigo, esse menino voador trace voos cada vez mais altos... E pra cima, ao contrário da desiludida personagem de um antigo samba nosso...

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PS: Duas das gravações acima são de registros ao vivo, portanto, como as letras nem sempre foram cantadas corretamente, optei por postá-las todas a seguir, pra apreciação dos interessados e também como se se tratasse de um Trinca de Copas especial. Como Rodrigo tem se destacado por seus trabalhos mais recentes, e pra manter o tom nostálgico das linhas vindouras, optei por subir a esta página três canções antigas de nossa lavra. Ainda que estas o possam constranger um pouco. Mas isso sempre é um bom remédio contra o ego, não? Afinal, quem de nós não tem algo de condenável no passado? Ei-las:

ABOIO URBANO
Rodrigo Campos - Léo Nogueira

Pegava boi pelo chifre
Parti e, sem rifle, me fiz caçador
Vi sol cair na poeira
Escondi na algibeira lembranças de amor

Foi à toa

Deixei pra trás à janela
Ex-moça donzela, mundo era meu lar
Oh, meu amor, não me espere,
Que a faca só fere e você quis beijar

Quem aboia...

Abandonei me capote
Fiz rock do xote
No espei' não me vi
Ói, nesse chão só tem pedra
E, se nada medra, pra que chove aqui?

Chove à toa

Hoje não tem mais berrante
Só vejo diante de mim solidão
E, se eu cair do andaime,
Rosinha, me ame ou me dê seu perdão

Bem, eu vim à toa



MARGINAL
Rodrigo Campos - Léo Nogueira

Fui parido no meio da estrada
Já nasci com uma sina errante
Os meus pais batiam em retirada
E eu, ao longe, avistava, um sertão agonizante

Aprendi a perder desde criança
Aprendi a dar risada do sonho
O meu punho é uma ponta de lança
E a minha esperança é de um cinismo medonho

Minha faculdade foi a favela
Na cidade que nem minha não era
Quase moço eu pulei a janela
E o mundo lá fora estava à minha espera

Fui peão, lavando vidro de prédio
Fui ladrão, descrente de toda lei
Quando a vida já não tinha remédio
Fui parar na prisão e foi lá que eu me formei

Hoje eu lhe ofereço perigo
Pois não tenho pátria, pai, nem patrão
Mas você vai dar de cara comigo
E aí, meu amigo, quem vai 'tar com a razão?


O MENINO VOADOR
Rodrigo Campos - Léo Nogueira

Vou pular do Redentor
De bermuda e cobertor
De peito aberto e chinela
Ser herói lá na favela
Dar ao morro outra novela:
A do Menino Voador

O menino voador (2x)

Vou sambar,
Vou driblar
Quem me expulsou

Vou engraxar
Os sapatos do Criador
Vou ser tema de Carnaval
Perdoar o mal de quem não tem amor
Perdoar o mal com minha dor

***

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