quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entrevistando: 3) Kana (por Solange Castro)

Acabou o Carnaval, agora é hora de começar o ano de verdade! Nesta quinta-feira, depois de quatro longos verões longe dos estúdios, Kana volta a um deles (mais precisamente ao velho conhecido Art Brasil, do também velho conhecido Omar Campos, onde ela gravou seus dois primeiros discos) pra começar os trabalhos de seu novo CD, que levará o sugestivo título de Em Obras.

Kana vem com tudo; animadíssima com este novo trabalho, que conta com (além de nossa persistente parceria) canções com parceiros novos, como a poeta maranhense Lúcia Santos, seu irmão Zeca Baleiro, a trupe do 4+1 (Alê CuevaÁlvaro Cueva e Marcio Policastro) e o jovem Gabriel de Almeida Prado (ah, tem, como sempre, uma com Élio Camalle, claro!), tem feito os arranjos, tem ensaiado, virou até blogueira (kanadobrasil.blogspot.com)!

Então, como este parece ser o ano de Kana (Zeca Baleiro também está gravando a parceria de ambos, acompanhem: www.odiscodoano.com.br), resolvi aproveitar pra resgatar algumas matérias sobre ela, começando por uma entrevista concedida à carioca Solange Castro, do Alô Música, há exatos dez anos. Mas, apesar do tempo, é uma entrevista interessante e reveladora. Espero que curtam.

***


Por Solange Castro

A cantora, compositora e violonista Kana mora no Brasil há 7 anos, desenvolvendo um trabalho de pesquisa e composições sobre ritmos brasileiros. Começou sua carreira em Tóquio, sua cidade natal, cantando numa banda de jazz e bossa nova chamada Hiroki Trio, que existe ate hoje, porém, agora, instrumental. Kana chegou ao Brasil em 1995, estudou violão e canto popular na ULM (Universidade Livre de Música Tom Jobim), viajou por várias regiões brasileiras, sempre pesquisando a música brasileira, e começou a compor no Brasil, influenciada pelas descobertas de sua pesquisa. Em 1999, inscreveu-se pela primeira vez em um dos vários festivais de MPB que ainda existem pelo Brasil, o Fampop de Avaré (que já tem 20 anos de existência), e classificou-se em primeiro lugar, com seu xote (em parceria com Léo Nogueira) Bye Bye, Japão, defendido por ela e pelo cantor paulista  Élio Camalle. Com a premiação, sentiu-se pronta pra gravar seu primeiro CD, que saiu em 2001, Do Japão ao Ceará (independente), inteiramente com canções de sua autoria em parceria com o letrista cearense Léo Nogueira. Participou de e foi premiada em outros festivais e já prepara seu segundo CD. Após turnê de três meses pelo Japão, pretende voltar com toda força aos palcos de São Paulo (onde mora) e do Brasil, continuar suas pesquisas e aumentar suas parcerias.

Alô Música: Alô Kana, tudo bem? Conte para nós, como você conheceu a música brasileira?

Kana: Através do Tom e da Elis.

Alô Música: E como foi isso?

Kana: Ouvi Wave na TV e adorei, a partir daí comecei a me interessar por musica brasileira. Mas era instrumental, só piano, e na TV a imagem estava passando só mar... Então comecei a sonhar com o Rio, ouvindo aquela música e vendo aquela imagem...

Alô Música:  Nesse tempo você tinha que idade?

Kana: Aproximadamente 22 anos...

Alô Música:  E você estuda música desde que idade?

Kana: Comecei a estudar piano aos 5 anos, mas a professora era horrível e eu desisti; depois, aos 10 anos comecei a tocar percussão na banda da escola e, aos 17 anos, fiz uma banda de mulheres e comecei a tocar guitarra, imitando a música americana. Comecei a cantar profissionalmente tarde, aos 25 anos.

Alô Música: Há quanto tempo você veio para o Brasil? rs...

Kana: Ano que vem já vai fazer oito anos.

Alô Música: Como foi a tua decisão de vir para o Brasil?

Kana: Queria morar no Brasil pra sentir verdadeiramente o sabor do Brasil. Quando cheguei fui pra São Paulo, pra Liberdade... rs... Porque me indicaram. Queria ir para o Rio, mas não tinha contatos lá, ou melhor, aí... Mas depois fui conhecer o lugar onde Elis nasceu, no Sul.

Alô Música: Me conte como foi sua vinda, chegada, enfim, fale de você no Brasil...

Kana: Assim que cheguei, passei na Marginal [Tietê] e havia muitos barracos, pensei: favela chic. Mas o que gostei logo de cara foi o forró na Liberdade! Em frente a minha casa havia uma casa de forró frequentada só por nordestinos!!! Meus amigos nordestinos me levaram pra dançar e eu adorei!!!

Alô Música: Kana, como foi o início do seu envolvimento com a música aqui no Brasil?

Kana: Comecei a estudar violão aqui, pois queria aprender a pegada brasileira, depois entrei na ULM (Universidade Livre de Musica Tom Jobim), estudei canto popular.

Alô Música: E você compõe também?

Kana: Depois de um ano no Brasil comecei a compor, porque viajei por vários lugares do Brasil e minha música começou a sair de mim, brasileiramente!

Alô Música: Quais lugares?

Kana: Em primeiro lugar Bahia, depois Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Luís, Recife, Fortaleza, Maceió, interior de Minas, e agora quero ir pra Natal. Mas ainda quero conhecer Goiás, Tocantins...

Alô Música: Uau! Conheces bem nosso país... E dos nossos ritmos, qual mais te toca?

Kana: No Japão só conhecia bossa nova e samba, agora gosto mais de baião, xaxado e xote, mas quero conhecer melhor o maracatu.

Alô Música: É fantástico... Me fale mais do teu trabalho, da tua música...

KanaEm 1999, participamos do tradicional festival de MPB em Avaré-SP [Fampop] e inesperadamente conquistamos o primeiro lugar, logo de cara, com um xote chamado Bye Bye, Japão. Isso me incentivou a gravar meu primeiro CD com canções próprias chamado Do Japão ao Ceará, pois o  Léo, letrista de todas as canções do CD, é cearense.

Alô Música: Esse CD saiu quando?

Kana: Saiu ano passado, independente e livre.

Alô Música: Fale mais do teu trabalho...

Kana: Comecei a frequentar o extinto bar de mpb em Sampa chamado Boca da Noite, lá conheci o Léo Nogueira. Consumada a parceria, comecei a fazer shows em vários bares de São Paulo e cheguei a viajar para o Paraguai, sempre levando minha música. Quando me senti preparada pra gravar, convidei Oswaldinho do Acordeon pra fazer seis dos doze arranjos do disco. O disco tem bossa nova, xote, baião, chorinho, valsa, blues brasileiro, ijexá, entre outros...

Alô Música: E quem são seus parceiros mais frequentes?

Kana: Depois do Léo, o Élio Camalle e, recentemente, o Adolar Marin. Mas estou aberta a novas parcerias, se o Léo deixar [deixei]... No [então] último CD do Élio Camalle [Antes e Depois do Fim do Mundo - 2002] há uma parceria de nós três, chamada Balão [mais conhecida como Doki Doki], que ganhou um festival infantil em Ribeirão Preto e tem letra em japonês e português!!!

Alô Música: Hum... Isso deve ser interessante... Você compõe música infantil também?

Kana: Pra mim, música não tem diferença, quando aparece, faço, mas criança é inteligente, entende mais que os adultos, porque a gente ganhou!!!

Alô Música: Agora me fale dessa tua visita ao Japão [a entrevista foi via chat; na época estávamos em Chiba]...

Kana: Há cinco anos eu não vinha, então aproveitei o momento pra matar a saudade e agendar alguns shows, que ainda estão rolando, até meio de dezembro.

Alô Música: E voltas quando?

Kana: No dia 20 de dezembro.

Alô Música: E quais são seus planos para o próximo ano?

Kana: Pretendo aumentar meus shows no Brasil, mas planejo uma viagem a Cuba e mais uma temporada aqui no Japão.

Alô Música: Para Cuba vais a passeio ou trabalho?

Kana: Vou a pesquisa, pois gosto muito da música cubana também. Gosto muito da música de João Donato, que é um dos mais cubanos do Brasil...

Alô Música: Sim... tem razão. Quais são os músicos que mais gostas aqui no Brasil?

Kana: Edu Lobo, Baden Powell e Tom Jobim são meus preferidos. Mas agora estou ouvindo muito Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e João do Vale. Mas tem muito mais, o Brasil tem muita gente boa. Mas, na realidade, o que mexe comigo muito é a música negra brasileira, como Candeia, Cartola e Nelson Cavaquinho.

Alô Música: E no mundo?

Kana: Os primeiros foram os Beatles, depois Stevie Wonder, mas gosto de muuuita gente, não caberia aqui... Ah, adoro também o rock inglês, Elvis Costello, Rolling Stones e Clash.

Alô Música: O que mais gostaria de nos falar?

Kana: Acho que o mundo está vendendo música, mas no Brasil está NASCENDO música, sempre. Espero que o novo presidente dê educação pra que todo o povo brasileiro tenha acesso a sua verdadeira música... Ou melhor, sua arte em geral.

Alô Música: Me conte uma coisa: nessa tua temporada no Japão, como foi a receptividade do público com a sua música? Para eles são inéditas...

Kana: Os japoneses estão aprendendo a dançar, a mexer, e contribuí para o aumento disso, dando a eles muita música nordestina, já que aqui ainda predominam a bossa nova e o jazz.

Alô Música: E eles receberam bem esses ritmos?

KanaSim eles gostaram, mas ainda há muita resistência a outro tipo de música que eles não conhecem... São 40 anos de bossa nova e mais de jazz.

Alô Música: Obrigada, Kana, estamos te esperando no Rio de Janeiro, queremos conhecer tua música...

Boa viagem...

***

A entrevista foi extraída do Alô Música.

2 comentários:

  1. Me encantó la entrevista !!!!! ^_^
    No conocía la trayectoria de Kana con tanto detalle .... Entonces lleva en Brasil 17 años !! sugoiii.. hihihih
    Me alegra mucho todos sus logros...
    Muchas gracias por compartir esto !!!

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    1. Qué bien que te gustó, Javier! Sí, Kana ya tiene toda una historia en Brasil. Y hoy pasamos muy bien en el estudio. Creo que se nos viene un súper disco!

      Saludos,
      Léo.

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