Clara, gema; preto, branco; rico, pobre; tarado, assexuado; religioso, ateu; ídolo, fã; gigolô, puta; intelectual, ameba; Mozart, Salieri; quem quer ocupar Sampa, os desocupados; você e eu... Todo mundo quer gozar! E não estou me referindo ao gozo puro e simples do ato sexual... Quer dizer, não estou SÓ me referindo e esse tipo de gozo. Estou me referindo ao gozo geral, o gozo do torcedor quando seu time faz um gol; o gozo do leitor quando o livro isso lhe propicia; o gozo do cinéfilo no cinema; dos dançarinos no salão de dança; dos bebuns no boteco; dos et coeteras nos et coeteras; enfim, dos vivos quando dão a cara a tapa pra vida!
Todo mundo quer gozar! Todo mundo quer viver dias, horas, minutos, segundos... Momentos, ¿qué sé yo?, átimos de gozo, de alegria, de vida! Afinal, a gente se phode tanto (esse é um blog "censura livre"), por que não podemos viver momentos de gozo? Gozosos? Até os direitistas querem gozar (embora jurem que não). Até os esquerdistas querem gozar (embora jurem que é irrelevante). Os do centro, então, nem se fala (afinal, gozar em cima do muro é mais fácil - embora menos prazeroso). Acho mesmo que é o único momento no qual a humanidade se entende. O momento do gozo.
Nesse momento, não importam etnia, classe social, língua, preferências, se fulano é vegetariano, se é açougueiro, se tchutchuca curte funk, se nerd só dorme ouvindo Tchaikovski... O gozo é o clímax do sentir-se vivo. Afinal, a gente já se phode tanto! Eu, por exemplo, estou lendo um romance chamado La Mano de Fátima, sobre a guerra entre mouros e cristãos na Espanha dos anos 1500. E já chorei tanto que quase me desidratei. Em determinados momentos queria sair rua afora lendo o livro em voz alta, pra ver se sensibilizava os insensíveis. Ou simplesmente pra gozar em público...
Tá, tá, não percamos o foco... Daí que eu e Kana fomos a Sarajevo. Não, não me refiro à cidade fundada pelos otomanos, refiro-me a uma casa no centro da rua Augusta fundada por outros manos. Onde o trombonista Bocato se apresenta todas as quartas com sua banda. Música instrumental. O show começa por volta de 1h30 da matina! E 99,9% do publico não tem nem 30 verões. Na guitarra, nosso chegado Othon Ribeiro. Nos teclados, um garoto chamado Bruno, que suava em bicas enquanto gozava da sorte de estar ali fazendo gozar, feito Jerry Lee Lewis. No palco o total era de seis; além dos supracitados, um baixista e um baterista.
E eu, que não danço (mas bebo), ergui a Heineken e entrei em transe (transa?), no meio daquela muvuca de gente querendo ser feliz e atrasando o relógio pra que a noite não tivesse fim ("por quê que a gente é assim?"); braços erguidos, pegações, êxtases, todo mundo cantando junto as letras (o show era instrumental)... A gente se phode tanto.. Kana parecia estar na Bacolândia, de vez em quando berrava uns "uhuuuu"... Até que eu me senti meio deslocado daquela "gozação" toda e fui até o banheiro, depois pedi outra cerveja, sentei-me numa mesa de quebrada e...
... E no outro ambiente descansei de tanta alegria e fiquei matutando: eu, letrista, cronista, poeta, romancista, blogueiro, empregado doméstico, segurança, servente de pedreiro, taxista sem táxi, contínuo e tradutor, me via ali, sem palavras, entendendo (ou fingindo entender) como gira o mundo. O mundo não precisa de palavras. Afinal, a gente já se phode tanto! E as artes maiores são aquelas que não carecem de tradução, pois se autotraduzem. Eu estava em Sarajevo, mas podia estar em Fortaleza, em Tóquio, em Roma, em Moscou... Moscando, como eu estava, gozando sem usar a língua...
... E admirando a força e a serenidade de Bocato, que já tocou com Deus e o mundo, e que estava ali, de chinelas de dedo (sandálias da humildade?), com os óculos (fazendo as vezes de tiara) segurando a calvície no fim da testa e a língua molhando o canto direito da boca (pra não ressecar o bocal do trombone?), regendo sem reger, gozando (sem gozar?), deixando-se estar e fazendo a alegria de uma galera que podia bem ser considerada sua prole. Enfim, batalhando, sobrevivendo, e tirando chinfra, sem se lamentar por não estar no Carnegie Hall, e, sim, feliz, por estar ali, em Sarajevo, no aqui e agora da vida. Gozando... E fazendo gozar. Que não deixa de ser uma forma de amar.
E eu aqui, letrista, cronista, poeta, romancista e etc., tentando explicar o inexplicável, sem palavras...
Afinal, a gente já se phode tanto...
***
Sensacional, "triceirinho" querido!
ResponderExcluirAté gozei junto. Ops, Kana que não nos ouçam, mas é que a gente já se phode tanto, né?
Sou ao contrário de você numa coisa: não bebo, mas danço! :)
Um beijão!
Hahaha!!!
Excluir"Triceirinha", gozar é preciso, viver não é preciso (nos dois significados do verbo. Hehe!).
Beijos (elíticos e não-dançantes) do
Léo.
Deu vontade de ir Dançar, beber e gozar!
ResponderExcluirHahaha! Então no fim acabou sendo propaganda positiva? Hehe!
ExcluirBeijos,
Léo.