quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Esquerda, Volver: 22) Por que eu (ainda) sou Haddad

Quem me conhece pessoalmente ou pelo menos acompanha com certa regularidade meu blogue sabe que tenho sido neste espaço ferrenho crítico dos governos petistas desde que o então presidente Lula se aliou com tudo o que há de pior na política brasileira pra poder governar. Meu amigo Teju Franco, que sabe mais de política que eu e, além do mais, é bastante pragmático, tem sido um sujeito que sempre procuro ouvir — embora vez em quando discorde dele — pra entender melhor a ferramenta da governança, e saquei que em algo estamos de acordo: Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve desde... Juscelino? Vargas? A questão é que, discordando de Teju, entendo que Lula formou mais consumidores que seres pensantes. E eu, que mal compro mais que arte, comida, vestuário e birita, sempre me senti na contramão dessa "formação" de cidadão.

Pois bem, deixando Lula de lado, o fato é que o PT tem me dado outra aula de decepção, pois depois do golpe sua base vem agindo de lambança em lambança, ignorando a forma como o partido foi infiel a Dilma, flertando com a situação, enfim, exagerando no direito de ser mais do mesmo. E aqui cabe um aparte: desde que me entendo por gente fui petista; só que depois de Lula na presidência votei em vários candidatos não petistas em vários quadros, não só no legislativo, mas também no executivo. Só que aí surgiu o cara que tomou meu coração de assalto, um sujeito que foge do estereótipo do político convencional (não, não estou me referindo ao Doriana) e que responde pelo nome de Fernando Haddad. Pra mim, Haddad chegou à prefeitura de São Paulo num sentido de evolução que começou com Erundina e passou por Marta Suplicy... Parágrafo novo.


Já escrevi sobre ele (aqui), mas me vejo na obrigação de fazê-lo novamente, embora agora sem rima, visto que o momento é mais cascudo. E, antes de continuar, preciso dizer que a prosódia de Ciro Gomes me seduz e que, caso o PT tivesse escolhido qualquer outro que não Haddad (Jaques Wagner, por exemplo), eu estaria com Ciro... mas o fato é que, tendo vivido na capital paulistana durante o momento delicado em que Haddad foi prefeito (eleito pelo PT) e tendo visto o modo como ele se projetou sem ego e sem o "amor gorduroso" pelo poder (que envenenou justamente o sujeito que o venceu na eleição passada, o patético Doriana), pensando simplesmente numa cidade do futuro acredito piamente que, como presidente, possa fazer o mesmo (e até melhor) em âmbito nacional.

Tá, Haddad perdeu a reeleição no primeiro turno, mas num momento em que o PT vinha sendo bombardeado por todos os lados e pr'um PSDB que praticamente rachou... Não nos esqueçamos de que as prévias tucanas foram um show de horrores que afastaram de seu quadro um tradicional tucano como Andrea Matarazzo e que possibilitaram que chegasse ao poder a parte mais direitosa tucana, representada pelo mesmo Doriana que traiu seu padrinho alckimista no intuito de lhe puxar o tapete com pouco mais de um ano de exercício da prefeitura e que depois, ao ver que tinha dado o passo maior que a perna, não por humildade, mas por pragmatismo, quebrou a palavra de ser prefeito até o final não pra ser candidato a presidente, mas pra o ser a... governador do estado de São Paulo...

Foi pra esse infame sujeito que Haddad perdeu a reeleição a prefeito de Sampa; entretanto, como dizem os católicos, Deus escreve certo por linhas tortas, pois Haddad, se tivesse vencido, tenho certeza de que jamais teria abandonado a prefeitura como um franco-atirador qualquer. Homem de palavra que é, teria levado até o final sua gestão. Já quando falamos de tucanos, nem preciso citar nomes pra saber que a palavra não vale nada. E não vem de hoje, basta lembrar que o papa tucano (e talvez o menos ruim entre todos eles) já disse pra que esquecêssemos o que escreveu. Claro, não vou dizer quem foi que falou, basta dizer que sua sigla começa com FH e termina com C.

E agora chega o momento de tratar de outro grande amigo por quem tenho profunda admiração e com quem tenho tido diversos diálogos político-futebolísticos nos últimos anos: meu mano Carlos D'Orazio. Ele tem sido pelo menos nos dois últimos anos o mais entusiástico defensor do nome de Ciro Gomes como candidato de uma esquerda unida e pacificada. Sou fã de Ciro, e não só porque ele representa meu Ceará, nem por sua inteligência e sua "palavra certa pra doutor não reclamar", mas sobretudo porque ele me parece um Lula, digamos, mais estudado. Só que no meio do caminho tinha um Haddad; tinha um Haddad no meio do caminho. O que parte meu coração. Acho Boulos duca, mas verde; acho que Manuela precisa repensar Stalin; acho que Ciro tem a lobaniana paudurecência esquerdista, mas, como quem alcunhou o neologismo, parece-me cada vez mais um "lobo solitário"...

Pena que Ciro não se tenha candidatado nas eleições anteriores. Entre Dilma e ele, teria sido muito mais ele. Porém, entre ele e Haddad, sou mais este. E apesar do PT, e apesar do que pode vir a pensar meu mano Teju Franco... Sou um ser livre e, como tal, livre pensador, e, tendo vivido na capital paulistana durante o período em que Haddad foi prefeito, não poderia ser mais sincero comigo se não pudesse dizer que, sim, ainda sou Haddad, e talvez hoje mais que dois anos antes, porque ele representa tudo o que penso em relação à política brasileira moderna, honesta e com um (ou dois) pé no futuro. Apesar de todo o respeito e toda a admiração que tenho por Ciro Gomes. Resumindo, acho que a grande diferença entre Haddad e Ciro é que este quer ser mais presidente que aquele. E na história sempre fez a diferença mais quem foi do que quem queria ser.

Só espero que Haddad tenha a personalidade de ser menos um pau-mandado da velha guarda petista e mais possa vir a pôr em prática tudo o que aprendeu/pesquisou ao longo desses anos, pois, embora o Brasil ainda não o mereça e não esteja pronto pra políticos de seu naipe, tudo o que o povo brasileiro tem sofrido de alguns anos pra cá (sobretudo pós-golpe) já serviria como um bom desconto nessa pena; a parte do purgatório já extrapolou a sentença, por mais que a maioria de nós merecesse. Agora, bem que cairia bem voltarmos àquele velho assunto da Terra Prometida. Lula foi nosso Moisés (tá, não morreu ainda, mas, pelo visto, não estará em condições de [re]ver a tal terra prometida tão cedo); será Haddad nosso Josué?


***

2 comentários:

  1. O PT se acostumou com o Poder. Não quer dar o lugar para o Ciro. Haddad temo que seja pau mandado do Lula e do PT. A chapa Ciro e Haddad seria uma acordo de uma Frente Progressista. O PT perdeu a oportunidade de se redimir.Ciro tem mais alinhamento com o PT que maos convergência que divergência com o PT. Enfim, mas uma vez a Esquerda e os progressista não se uniram.

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    1. Essa relação Ciro/PT é complexa, AC. Mas creio que no segundo turno a união virá, seja quem for o esquerdista na disputa. A única coisa que temos a temer é um segundo turno Alckmin x Bolsonaro. Aí seria a derrocada brasileira.

      Abraço,
      レオ。

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