terça-feira, 6 de março de 2018

Os Manos e as Minas: 32) Poetizando o olhar de Rob Gonsalves

O que vê o olhar do artista?
Nem te conto
Aponta pr'outro conto de vista
Ponto

Como parte de meu estudo da língua nipônica, Kana me levou a uma biblioteca e me fez ler inteirinho um livro infantil de uma autora chamada Sarah L. Thomsom — em japonês, もちろん. Ler, eu li; entender já é querer demais. No entanto, fiquei maravilhado com as ilustrações do livro e, chegando em casa, fui pesquisar a respeito do sujeito, um tal de Rob Gonsales (assim mesmo, com S), e descobri que ele foi um canadense reconhecido na arte de criar ilusões visuais, sendo considerado um mestre do realismo mágico, sob a ótica da ilustração. E, mais, descobri que eu já tinha usado uma pintura dele noutro texto, um em que, sob encomenda da amiga Vanessa Curci, escrevi sobre ponte (leia aqui). Mundo pequeno, não? Ah, e acabei achando o danado do livro em espanhol. Compartilho, pois, com vocês, abaixo.



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A seguir, escolhi algumas obras dele, que "ilustrei" com um pouco de poesia, que, espero, não passe vergonha frente a tal assombro visual.

Lá vem o trem no horizonte
Atravessando veloz a ponte
Antes que o alicerce
Se disperse

A lua boia no céu
Iluminada pela fogueira no chão
Cada qual tem seu papel
Qual será o do homem então?

No encontro de céu e mar
O que nada e o que avoa
Às vezes pode variar
De fernando pra pessoa

Navegar é preciso
Mas, se há uma pedra no caminho,
Tire dele seu sorriso
Eu passarinho

Talvez esteja gelado o lago
Talvez a lua esteja ao lado
Talvez, quando penso que o alago,
Ele esteja simplesmente alado

O velho já foi menino
O mundo é um xadrez
O tempo é o destino
Agora é sua vez

Do que será feita,
De água ou de leite?
Queda tão perfeita
Leito de deleite

O vento nas janelas
Cortejando as cortinas
Nesse baile, serão elas
Belas dançarinas

A civilização é um brinquedo
Em eterna construção
Meu maior medo
É sua conclusão

Nesse quebra-cabeça
Chamado vida
Às vezes você não passa de peça
Perdida

No continente Fantasia
Fica o reino da infância
Lá, qualquer mera acrobacia
Gera alta relevância

Terra, pequeno planeta,
Mal comporta os sonhos meus
Grão de areia na ampulheta
De Deus

Existem viagens e viagens
Umas críticas, outras mágicas
Algumas, simples miragens
As melhores estão dentro de páginas

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PS1: Eu poderia ficar aqui indefinidamente poetizando imagens, mas a realidade vem bater à porta, fazendo dormir o menino e despertar o homem. Tão certo como até Rob Gonsalves, que tanto teimou em manter seu menino desperto, às vésperas de completar 58 anos, não conseguindo mais deixar dormindo o homem que trazia em si, viu-se obrigado a fazê-lo dormir definitivamente. E foi levar seu menino pra fazer acrobacias em outros patamares. Deixou-nos, contudo, seu sonho. Sonhem-no. Apenas tenham cuidado com o despertar.

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PS2: Curta sua página no fb (aqui).

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Uma porta se fecha, abre-se outra porta
"Nada é pra já", não se afobe
Quando menos se espera, outro plano nos transporta
So long, Rob

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