terça-feira, 25 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 125) Um tour pelos banheiros masculinos

Os banheiros públicos são uma espécie de dutty free, uma zona franca das convenções, digamos, fisiológicas. Um dos poucos lugares em que ainda não puseram câmeras (eu acho). Daí, como o grau de fiscalização (externa) inexiste, os comportamentos costumam ser distintos dos que temos da porta pra fora. Sempre tive curiosidade a respeito do que se passa no banheiro feminino. Em certa ocasião cheguei mesmo a perguntar a respeito das "anormalidades" que ocorreriam por lá a uma amiga, que, pra minha frustração, me disse que ali as damas – com uma ou outra exceção – também continuam damas, mesmo porque estão sempre atentas ao deslize alheio, motivo pelo qual, se uma se exalta a portas fechadas, as que estão retocando a maquiagem acabam dando um tempinho a mais pra flagrar a desinfeliz no ato.

Já no banheiro masculino o buraco é mais embaixo. A começar pela folclórica falta de mira quando do ato de urinar. Não há escapatória! Nove entre dez "urinantes" deixam vestígios de sua passagem por ali espalhados ao redor do vaso sanitário (ou do mictório, de acordo com a preferência). Fora isso, há sempre aquela dúvida em relação à tampa. A maioria, quando acaba, deixa-a levantada mesmo, principalmente quando se trata de banheiros públicos, onde se sabe que o próximo usuário não será uma mulher. Mas o pior é que vez em quando há aquele espírito de porco que a deixa abaixada DURANTE o ato de esvaziar sua honorável bexiga(!), o que fatalmente causará aborrecimentos ao seguinte. O que é de menos comparado com fulano que faz o nº 2 e não aciona a descarga. Aí é freud! Ainda com relação à pontaria, um amigo gordinho resolveu a questão de maneira categórica: quer seja o nº 1, quer seja o nº 2, ele se senta no "trono" confortável e demoradamente, muitas vezes com um livro à mão. (#ficadica)

Outra questão das mais complexas é o mau uso do papel higiênico e do papel-toalha. No caso do primeiro, sabemos que, no Brasil, a maior parte de tais recintos não está preparada pra absorver o papel caso seja atirado no vaso (ou seria o problema do papel?), então, pede-se que o usuário o jogue no lixo. Contudo, acho que aí reside algum senso de rebeldia, pois há muitos pacatos cidadãos que, após o uso, fazem questão de jogar o papel no vaso, muitos deles chegam a gastar mesmo quase um rolo inteiro. É o tal caso do costume da rua que não se leva pra casa. Mas quem apanha mais mesmo é o pobre papel-toalha. Diariamente sou testemunha das agressões que ele sofre calado (e aqui, sem a vírgula antes do calado, refiro-me ao papel, embora me sinta igualmente agredido). Não à toa muitos estabelecimentos já o trocaram pelo secador de mãos elétrico. 

Ainda em se tratando de banheiros masculinos, o século XXI resolveu recentemente uma questão que me deixava deveras vexado: o de funcionárias de limpeza que entravam na maior sem-cerimônia em tais clubes do Bolinha dos aperreios intestinais. Eram sempre senhorinhas cabisbaixas, carcomidas pelo tempo e pela humilhante faina diária. Não poucas vezes fui pego com o dito cujo na mão enquanto elas entravam como se nada de mais estivesse ocorrendo por ali. Mais, como se fizessem parte da geografia local. Dignas, esvaziavam cestos e lixeiras e saíam com a circunspecção de quem acaba de receber a hóstia sagrada. Só faltavam se persignar. Sempre achei humilhante essa situação, simbolicamente carregada de ecos escravagistas. Era como se tais funcionárias não fossem seres humanos. E até eu me sentia menos ser humano nessas ocasiões.

Num banheiro masculino há de tudo. É um dos pontos favoritos de drogados, que ali encontram um cantinho discreto onde saciar seus vícios. Também é onde batem ponto (e outras coisas) masturbadores compulsórios e pederastas decadentes. Estes adoram, por exemplo, banheiros de cinemas. É comumente frequentado também por bêbados, cujas marcas fétidas continuam no ar mesmo muito tempo depois de sua visita, na maioria das vezes pra evacuar por via oral. Tenho um amigo que, de tanto nojo desses lugares, entra e sai sem tocar em absolutamente nada. Quando o toque é necessário, recorre ao supracitado papel-toalha, na falta de luvas. E há também distintos senhores que se julgam tão asseados que nem sequer se dão ao trabalho de lavar as mãos após aliviar as necessidades. É, meu amigo, há muito engravatado por aí que tem as mãos – literalmente – sujas quando aperta a sua!

As mulheres costumam dizer que homem é bicho porco, e sou obrigado a lhes dar razão. E digo mais: nessas minhas andanças por aí tenho reparado que a porquice faz parte do chamado sexo forte em geral, não importa se ele pertence ao primeiro mundo ou ao mundo da lua. Vou cometer uma inconfidência: quando a categoria é banheiro público, os japoneses são insuperáveis em onomatopeias e demais grunhidos. Eu, que já tive a oportunidade de viajar à Terra do Sol Nascente por três vezes, fui testemunha ocular, ou melhor, auricular, de sons os mais bizarros imagináveis. Espirros que eram berros, escarros e arrotos que pareciam raios e trovões, flatulências múltiplas que lembravam fogos de artifício (quando não armas químicas), gemidos de quem parecia não ter se aliviado durante meses... Não que aqui ou na Suíça sejamos lordes, mas, em se tratando de barulhos no banheiro, os japas são ichiban!

Peço perdão ao distinto leitor pela má qualidade técnica da prosa ou ainda pela equivocada escolha do tema, mas, como sou uma pessoa por demais observadora, vinha há tempos querendo – desculpem o termo – vomitar tais características do bicho homem quando está tão somente entre seus iguais... e, como dizem, com as calças na mão. Até porque, nojinhos à parte, creio ser material sociológico que, apesar de ainda pouco explorado, explica bastante as mazelas que trazemos conosco. A sociedade nos educa, oprime, molda, e neste século vivemos tão superexpostos, que somente no banheiro podemos ser quem realmente somos: animais. No mais pleno sentido da palavra. Agora vocês vão me dar licença, pois necessito fazer algo que mais ninguém pode fazer por mim.


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2 comentários:

  1. Meu Grande LÉO NOGUEIRA:
    Quero acrescentar uma linda quadrinha que aprendi em tais locais, há bem mais de quarenta anos:

    Eita privada nojenta
    Eita privada indecente
    A gente vem cagar nela
    E ela é que caga na gente...

    Acho que inventei um pouco, mas é dá no mesmo...

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  2. Tatíssimo, de lá pra cá as quadrinhas que vemos nesses locais mudaram muito. rsrs

    Beijão,
    Léo.

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