quinta-feira, 6 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 122) A peleja dos inocentes(?) com os culpados(?)

Após quatro dias fora do ar, numa verdadeira maratona de "retiro etílico", nesta quarta, mais que de cinzas, acinzentada, resolvi gastar um tempinho pra ler as notícias dos dias em que estive "fora". Por incrível que possa parecer, a que mais me chamou a atenção... Aliás, chamar a atenção é pouco; diria que a notícia que mais me chocou passou por aqui quase despercebida. Afinal, estávamos todos – cada um a sua maneira – brincando de ser felizes. Pois bem, a tal da notícia, que li na Folha de São paulo de segunda passada (aqui), começava com uma assustadora manchete: Mídia diz que atentado foi '11 de Setembro' da China. Aí é que está! Do 11 de Setembro dos EUA nenhum de nós se esquece, mas dessa versão chinesa ouso dizer que ninguém nem soube, daí, como lembrar?

Resumindo: na noite de sábado passado (pra nós, de Carnaval), no sudoeste da China, um grupo de mascarados vestidos de preto sacou do nada seus facões e começou a esfaquear, a esmo, passageiros de uma estação ferroviária. Dessa brincadeira, 33 pessoas morreram e outras 140 ficaram feridas. Ainda segundo a reportagem, o governo chinês culpou separatistas de uma etnia muçulmana que se concentra na província de Xinjiang, região onde a tensão entre a minoria e o governo chinês é permanente, tendo mesmo resultado, no último ano, na morte de cerca de cem pessoas, em enfrentamentos com a polícia. A autoria do tal atentado de sábado ainda é mera suposição, ou seja, o governo acusa, mas o grupo de etnia muçulmana ainda não se manifestou.

Fiquei chocado não apenas pela gratuidade das mortes, mas sobretudo por pensar que um grupo separatista pudesse atacar inocentes no intuito de chamar a atenção do governo (claro que isso não é novidade, e a Espanha está aí como prova). Até bem pouco tempo atrás não sabíamos nada da China, mas a partir do momento em que esse país passou a ocupar lugar de destaque na economia mundial, sendo mesmo uma das letrinhas do grupo Brics, tudo mudou, e os olhos da humanidade passaram a ficar atentos aos acontecimentos desse país de dimensões continentais que enriquece dia a dia à custa de um estranho socialismo no qual a mão de obra escrava faz o país prosperar sem que seu povo prospere junto com ele. Porém, nada muito diferente do que ocorre em muitos países ocidentais chamados democráticos.

Tá, daí virá um qualquer perguntar "e o quico?", não é? E é este o xing-ling da questão. Imediatamente fiz uma relação entre a notícia e nosso ensolarado e tropical país, terra do Carnaval, do futebol, terra que tem palmeiras onde canta o sabiá e blá-blá-blá... E terra onde hoje também há mascarados promovendo quebra-quebras. Meu medo mora aí: no que o medo geral pode gerar. Nós sabemos que o medo leva tiranos ao poder e que muitas vezes os próprios ufanistas cometem crimes contra inocentes, que é o modo mais fácil e rápido de trazer os assustados a defender suas causas. Hoje a manipulação é algo muito fácil de se propagar, seja via redes sociais, seja via meios de comunicação tendenciosos etc.

O caso do mensalão é um exemplo que vem a calhar: temos a torcida pró-mensaleiros e a torcida contra mensaleiros. E no meio deles uma população ensanduichada pra qual a própria palavra mensalão não lhe diz praticamente nada, visto que é gente ocupada em ("nascer e morrer"?) fazer que o vento não pare de soprar no barco à vela de sua sobrevivência. E é esse povo que num regime democrático define os governantes de um país. Oras, se o caso do mensalão não altera a quantidade de arroz e feijão em suas mesas, o desespero dos antimensaleiros radicais pode ser capaz de tudo. Sem entrar no mérito de inocentes ou culpados da questão, temos um STF formado por homens capacitados a exercer o poder que lhes foi outorgado. Non è vero?

Agora, se quando votam de acordo com minha opinião são éticos, mas quando votam contra esta são "tribunal de circunstância", botamos em xeque a inocência (não confundir com ingenuidade) do sistema e de todos nós. E é nesse momento em que nasce o desejo de fazer justiça com as próprias mãos. Estamos assistindo ao crescimento "a olho nu" dessa bola de neve que vem em nossa direção. Os linchamentos que se multiplicam (esses que prendem pretos pobres em postes etc.) nascem da dúvida no que se crê. A partir daí, um grupo tanto de "inocentes" quanto de "culpados" pode se dar o direito de aqui também sair armado às ruas e dar umas "facadinhas" (ou "tirinhos") a torto e a direito sem se importar se as vítimas forem velhos, mulheres ou crianças. Porque no reino da dúvida só é inocente quem está do lado certo. Mas qual é mesmo o lado certo?

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