Extra! Extra! Venho trazer boas novas! Ainda há vida inteligente... Não,
não, reconstruamos a frase (vida inteligente sempre houve): ainda há
coração pulsante na velha emepebê! E, quando digo pulsante, quero dizer,
obviamente, que pulsa. Sim, porque venho notando que, no que se refere a
grande parte dos discos dos velhos papas emepebísticos, tem se
instalado uma leseira ali. Seus gametas, como diria o velho e
indivisível Zé Ramalho, já não se agrupam mais em seu som. Mas
eis que de repente um tiozinho grisalho resolveu descer do (des)conforto
desse fusca (onde, segundo ele, só cabiam o próprio e mais uma meia
dúzia), tirar seus pés do riacho e pisar o solo escaldante de uma
estrada por onde ele havia tempos não passava mais.
Sim, senhoras e senhores, falo do homem velho celoso, digo, Veloso. Alguma coisa deve estar fora da ordem, fora da nova ordem caetânica. Se eu entrasse no campo da psicanálise, em meu caso (ignorante que sou) não seria mais que achismo, mas que algo está acontecendo por ali, ah isso está! Não sei se é seu confesso medo do envelhecimento ou da morte que de repente se travestiu de terror, mas o fato é que Caetano, nesse seu Abraçaço, meteu um Lázaro nas ideias e, redivivo, chegou pisando devagarinho, mas firme, e mostrando que ainda está pleno de paudurecência, pero sin perder la ternura.
Antes, um aparte. Já que falei em psicanálise, vou pôr o
bloco de meu achismo na rua. Afinal, acho que o achismo ajuda a gente a
ingerir melhor a carne dura do tempo. Falemos de criação. Há uma eterna
disputa entre o velho e o novo, o vigor e as rugas. Uns dizem que os
novos inovam (¡vaya redundancia!) ao passo (de cágado) que os
velhos agonizam. Na verdade, nem tanto ao mar, nem tanto à margem. A
juventude tem a seu favor que pra ela a criação é novidade, então, como
não há ainda o medo do ridículo, a ousadia é maior. Já os experientes
descartam, de cara, certos caminhos que, sabem, não levarão a bom porto.
Eu diria que os dois extremos se complementam. O problema não é a
idade, são o comodismo, o cansaço, a preguiça... Sintomas aguçados por
uma vida amorosa rotineira e uma conta bancária gorda. Ou seja, não é a
idade, estúpido!
Só um aparte: no dia em que Caetano fez o show de lançamento do CD Zii e Zie, no qual cantava a canção Lobão Tem Razão, este (o lobo), pra variar, havia dado uma entrevista na qual falara alguma groselha, e Caetano comentou no show, sarcástico, que Lobão não tinha razão. Agora sou eu quem tem que dizer que Caetano não tem razão no que se refere à polêmica das biografias. Mas isso vai ficar pra texto posterior, se eu me animar. Por ora, como estou falando do Abraçaço, preciso dizer que Caetano, sim, tem razão. E mais: a arte gráfica, à parte da música, é de uma ousadia ímpar.
Pra finalizar, já que, no final das contas, todas as verdades são relativas
(principalmente as absolutas), pode ser que Caetano estivesse
simplesmente farto quando compôs as canções desse disco. O importante
(pra mim) é que me senti, mais que abraçado, engolido por esse abraçaço,
a ponto de querer escrever sobre ele mais urgentemente do que quis escrever sobre
discos melhores. Afinal, melhor, pior, tudo depende do momento em que os
ouvidos de um coração resolvem se abrir. Minha verdade (tropical) em relação a
esse disco é que, ao ouvi-lo, fui eu quem quis abraçar Caetano.
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(Caetano Veloso)
Abraçaço – Caetano Veloso (2012 – Universal)
1. A Bossa Nova É Foda
(Caetano Veloso)
2. Um Abraçaço
(Caetano Veloso)
3. Estou Triste(Caetano Veloso)
(Caetano Veloso)
4. O Império da Lei
(Caetano Veloso)
5. Quero Ser Justo
(Caetano Veloso)
6. Um Comunista
(Caetano Veloso)
7. Funk Melódico
(Caetano Veloso)
8. Vinco
(Caetano Veloso)
9. Quando o Galo Cantou
(Caetano Veloso)
10. Parabéns
(Caetano Veloso – Mauro Lima)
11. Gayana
(Rogério Duarte)
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Ouça o CD na íntegra:
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"De momento" nao descartei o verbo "caetanear" O velho/moço é um poço sem fim de possibilidades. Belo texto
ResponderExcluirValeu, Pedrão!
ExcluirE olha que suas palavras dão uma bela letra, hem? Me aguarde!
Abração,
Léo.