quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Joaquín Sabina en Portugués: 17) Denilson Santos e a versão de "La canción más hermosa del mundo"

O disco Dímelo en la calle, lançado em 2002, não correspondeu às expectativas dos fãs de Joaquín Sabina por um motivo muito injusto (fazer o quê, se a vida é injusta?): seu disco anterior, 19 días y 500 noches (1999), é considerado até hoje o melhor desse cantautor espanhol. Ok, Dímelo... não é um disco ruim, apenas nasceu depois do irmão gênio (não confundir com irmão gêmeo). E, quando um compositor dá o melhor de si num grande trabalho, dificilmente repete a proeza no seguinte.

Contudo, esse surrado disco de 2002 (teria sido a capa premonitória?) conta com um trunfo: La canción más hermosa del mundo. Quando ouvi essa canção pela primeira vez fiquei deveras embasbacado. Simplesmente mor-tal! Teria cabido perfeitamente no disco anterior, tão inspirada e emocionada(/emocionante) me pareceu. Acho mesmo que é uma das canções mais bonitas de Sabina. Quando digo acho quero dizer que é minha opinião, por supuesto.

Naturalmente, passei anos querendo fazer-lhe uma versão. Contudo, como vocês perceberão, não seria tarefa das mais simples. No começo, porque meu vocabulário era ainda limitado, e Sabina é daqueles que gostam de se utilizar de palavras pouco usuais em seus versos. Depois, porque algumas palavras/expressões são simplesmente impossíveis de ser traduzidas. E o tempo ia passando, e a angústia ia crescendo em mim...

Sem falar que a letra é quilométrica, no mais puro estilo dylaniano. Porém, como a famigerada parecesse se rir de mim cada vez que eu a ouvia, fazer a versão acabou virando questão de honra. Assim, após muito pensar, cheguei à conclusão de que certa dose de desrespeito não iria significar faltar com o respeito a seu(s) autor(es). No mundo da criação, certas liberdades às vezes são mais que bem-vindas, pra que não empaquemos ante o primeiro obstáculo.

Foi com esse espírito que nasceu A Canção mais Bonita do Mundo. Trazendo pra meu universo tudo o que não podia traduzir, inventando imagens novas, abrasileirando certos versos/situações... Finalmente, terminando-a, senti a alegria do dever cumprido, mais, do desafio vencido. O passo seguinte seria quase tão difícil de ser dado quanto o da feitura da versão: achar algum corajoso que vestisse a camisa da canção e comprasse a briga de interpretá-la. 

Quase por acaso esbarrei em Denilson Santos, parceiro com quem acabara de compor um punhado de canções. Não custava tentar. O máximo que poderia acontecer era ouvir um "não", e, quem está acostumado a tal palavrinha ferindo-lhe os tímpanos, não se avexa assim tão facilmente. E havia ainda, em contrapartida, a possibilidade (ínfima, é verdade) de que viesse do lado de lá o que acabou vindo: um "sim"! Fiquei tão contente com o sinal verde, que pude sobreviver com pouco sofrimento durante os meses que esperei pra que Denilson transformasse a promessa em realização e me enviasse a gravação que ora ouviremos. Sem mais delongas, a ela, pois:


A CANÇÃO MAIS BONITA DO MUNDO
Antonio García de Diego - Pancho VaronaSergio Véliz - Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira

Eu daria minha alma em leilão, meu nariz de palhaço
Paletó procurando um botão, diploma de fracasso
Uma velha Olivetti com cárie, um ladrão filantropo
Um brasão do Mengão (Verdão*), uma cara de bunda de copo

Uma mesa redonda, uma bússola sem a estrela
Uma falsa Gioconda, um Adão menos uma costela

Uma bike diabética, um tonto num porta-retratos
Um camelo do rei Baltasar, uma gata sem gato


Thelma & Louise, Gisele, Elis, sempre as damas primeiro
Meu Cartola, meu Chico, meu Elvis, meus Três Mosqueteiros
Meu quindim, meu ioiô, meus gibis e meu 7 de copas
O saguão onde já te despi sem tirar sua roupa

Minha clave de sol, meu sofá, meu sapato sem sola
Minha lâmpada de Ali Babá dentro de uma cartola
Não sabia que a primavera durava um segundo
Só queria compor a canção mais bonita do mundo
Só queria compor a canção...

Apresento meu vô, um bastardo, minha esposa solteira
O padrinho que me apadrinhou na legião estrangeira
O sobrinho cantor de Simbad, esse tal marinheiro
Meu irmão gêmeo ex-camelô que virou um bicheiro

Minha prima e seu noivo agiota com seu cão de raça
Armadura que custou uma nota e afasta a desgraça
Borboletas que caçam em sonhos guris intranquilos
Quando sonham que quem os abraça é a Vênus de Milo

Escapei de uma multa infeliz de uns tantos por cento
Dando aulas de canto de cisne num velho convento 
Com Simão Cirineu fiz um tour pelo Monte Calvário
Que fazer se a fé faleceu em seu aniversário?

Arriei minha bandeira no Cabo da Pouca Esperança 
Se eu sumir na poeira, é favor me manter na lembrança
Esqueci a lição ao voltar de um coma profundo
Mas herdei uma garrafa de rum de um bebum vagabundo

Nunca pude cantar de uma vez
A canção dos piratas sem leis, da beata em novena
Das mil lágrimas pra prantear quando valesse a pena
Nem dos clássicos de bangue-bangue e caubóis moribundos
Nem dos ventres tingidos com sangue em solos fecundos
Só queria compor a canção mais bonita do mundo


A letra original:


LA CANCIÓN MÁS HERMOSA DEL MUNDO
Antonio García de Diego - Pancho Varona - Sergio Véliz - Joaquín Sabina

Yo tenía un botón sin ojal, un gusano de seda,
medio par de zapatos de clown y un alma en almoneda,
una hispano Olivetti con caries, un tren con retraso,
un carné del Atleti, una cara de culo de vaso,

un colegio de pago, un compás, una mesa camilla,
una nuez, o bocado de Adán, menos una costilla,
una bici diabética, un cúmulo, un cirro, una strato,
un camello del rey Baltasar, una gata sin gato,

mi Annie Hall, mi Gioconda, mi Wendy, las damas primero,
mi Cantinflas, mi Bola de Nieve, mis Tres mosqueteros,
mi Tintín, mi yo-yo, mi azulete, mi siete de copas,
el zaguán donde te desnudé sin quitarte la ropa.

Mi escondite, mi clave de sol, mi reloj de pulsera, 

una lámpara de Alí Babá dentro de una chistera, 

no sabía que la primavera duraba un segundo, 

yo quería escribir la canción más hermosa del mundo. 

Les presento a mi abuelo bastardo, a mi esposa soltera, 
al padrino que me apadrinó en la legión extranjera, 
a mi hermano gemelo, patrón de la merca ambulante, 
a Simbad el marino que tuvo un sobrino cantante, 

al putón de mi prima Carlota y su perro salchicha, 
a mi chupa de cota de mallas contra la desdicha, 
mariposas que cazan en sueños los niños con granos 
cuando sueñan que abrazan a Venus de Milo sin manos. 

Me libré de los tontos por ciento, del cuento del bisnes, 
dando clases en una academia de cantos de cisne, 
con Simón de Cirene hice un tour por el monte Calvario, 
¿qué harías tú si Adelita se fuera con un comisario? 

Frente al cabo de poca esperanza arrié mi bandera, 
si me pierdo de vista esperadme en la lista de espera, 
heredé una botella de ron de un clochard moribundo, 
olvidé la lección a la vuelta de un coma profundo. 

Nunca pude cantar de un tirón 
la canción de las babas del mar, del relámpago en vena, 
de las lágrimas para llorar cuando valga la pena, 
de la página encinta en el vientre de un bloc trotamundos, 
de la gota de tinta en el himno de los iracundos. 
Yo quería escribir la canción más hermosa del mundo.

***

*Havia metido um Verdão em minha versão, mas, porque Denilson é carioca, e porque o Verdão... deixa pra lá... melhor nem explicar... Quem quiser ouvir Verdão no lugar de Mengão estará em seu direito. Quem ouvir o que foi cantado igualmente terá sua razão.

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6 comentários:

  1. Respostas
    1. Valeu, mais que queridão! Baita contribuição!

      Abração,
      Leozão (rs).

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    2. Adorei a montagem que você fez com a minha foto e a foto do Joaquin.

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    3. Hahaha! E o nome, adivinha? "Sabilson"! rsrs

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  2. Também gosto dessa música de Sabina. Talvez você não saiba que ele sempre muda a letra dessa música nos seus shows, pelo que existem muitas versões de Sabina do mesmo tema. Adorei a tua versão, parabéns!

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  3. Hola, Ana! En cuanto a esta canción, no lo sabía, pero sí sé que eso le pasa con una que otra canción. Qué bien que te gustó!

    Besos,
    Léo.

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