Cada pessoa traz na bagagem da memória um mundo de vivências e acontecimentos marcantes,
e alguns deles podem ser contados também por meio de sua trilha sonora
pessoal. Acredito que, se juntarmos num CD as canções que embalaram
nossas vidas, podemos conseguir chegar a um alto grau de conhecimento
acerca de nós mesmos que nem pensávamos possuir. Foi pensando nisso que
resolvi acrescentar mais uma coluna a este blogue: Grafite na Agulha, por meio da qual pretendo contar um pouco de minha relação com os
discos que foram marcantes em minha trajetória; aliás, posso mesmo dizer
que o que sou hoje devo, em grande parte, ao que ouvi, pois tais
canções ou artistas acabaram me formando, moldando (pro bem e pro mal)
esse cara que vim a me tornar.
Não me considero um saudosista, compartilho do pensamento de Paulinho da Viola quando diz que seu tempo é hoje. Sou, portanto, favorável ao progresso e a que ele nos propicie cada vez mais vermos facilitada nossa vida. A comunicação hoje é muito mais fácil e rápida; negócios são fechados via e-mail; distâncias geográficas praticamente inexistem, visto que podemos falar com pessoas de qualquer lugar do mundo (e gratuitamente) pelo computador, e com direito a câmera e tudo o mais; o celular nos auxilia em momentos que requerem solução urgente; enfim, sinto-me contente por viver numa época que me proporciona tamanhos confortos. Claro que em tudo há os aspectos negativos, mas cada um é responsável por sua superexposição (os facebookmaníacos que o digam).
Porém
(sempre há um porém), admito que lamento que algumas coisas boas do
passado vão se perdendo, e as novas gerações não terão o prazer de se
emocionar com elas. E, entre tantas coisas importantes que foram
ficando pra trás, destaco o ato quase ritualístico de ouvir um LP (ou um
CD, vá lá). A canção se vulgarizou, e, com ela, o ato de ouvi-la. Tanto que Ruy Castro já chamou a música atual de contrapeso em crônica recente (escrevi a respeito aqui). Baixar, por exemplo, toda a discografia de Chico, Beatles, Raul, Pink Floyd,
entre tantos outros, é "muito dez, meu!", mas como é que fulano vai ter
a devida dimensão do que foi(/é) a obra desses caras todos levando-a comprimida em seu bolso, como se fosse um maço de cigarros, sem antes empreender uma viagem por cada disco separadamente? Hem?
Essas e outras considerações me levaram a inaugurar este Grafite na Agulha, pois queria deixar aqui, ao alcance de quem quiser, minhas histórias particulares de afeto com os tantos discos que me emocionaram (e continuam emocionando) durante mais de quatro décadas de orgasmos
timpânicos. Contudo, como mistérios gozosos compartilhados são melhores que solitários, em vez de me esbaldar isoladamente em minha discografia
afetiva, resolvi democratizar a coluna e convidei algumas pessoas
que considero bagarai pra me ajudarem a costurar aqui, juntando nossas
emoções, um catálogo discográfico dos mais interessantes.
Tenho que agradecer a meu mano Gabriel de Almeida Prado, que foi um incentivador desta coluna, tendo me ajudado, inclusive, a escolher o nome dela, e, mais que isso, compondo comigo uma letra pra homenageá-la. Também agradeço a outro mano, Élio Camalle, que topou entrar nessa viagem conosco e musicou-a. E é justamente com essa canção que termino este prefácio, prometendo que muita coisa boa passará por aqui. Claro, dentro de meu entendimento e minha sensibilidade do que é bom. Assim, comecemos os trabalhos! E, enquanto meus manos preparam os pratos principais, sirvo-lhes de entrada a canção homônima que compusemos pra dar o pontapé inicial à coluna:
GRAFITE NA AGULHA
Élio Camalle - Gabriel de Almeida Prado - Léo Nogueira
Agulha costura canção
Com as linhas do papel
Vinil nos trilhos da mão
Grafite no tom babel
Agulha injeta no ouvido
Ampolas de cura e loucura
Papila que lambe sentidos
Pupila no olho da fechadura
Agulha tatua ideias
Que vazam das digitais
Palavra presa na veia
Solta nas cordas vocais
Escalo notas em muros
Picho, rasuro, rabisco
Me lanço em discos voadores
Lá vou (eu)
Avoando em discos
Agulha costura canção
Com as linhas do papel
Vinil nos trilhos da mão
Grafite no tom babel
Agulha injeta no ouvido
Ampolas de cura e loucura
Papila que lambe sentidos
Pupila no olho da fechadura
Agulha tatua ideias
Que vazam das digitais
Palavra presa na veia
Solta nas cordas vocais
Escalo notas em muros
Picho, rasuro, rabisco
Me lanço em discos voadores
Lá vou (eu)
Avoando em discos
***
Léo,
ResponderExcluirLinda canção, bela apresentação! Vamos nessa viagem!
Beijo grande!
Valeu, Dannoca! Simbóris! É nóis na fita! ... no LP, no CD...
ExcluirBeijos,
Léo.