quarta-feira, 3 de julho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 96) Em defesa de Neymar

Caramba, o Brasil tá ficando um país muito chato! Ou, pelo menos, de chatos! Eu sei, eu sei, escrevi há alguns dias apregoando a morte do futebol (aqui), mas, como sempre (e graças a Deus!), mordi a língua. O futebol brasileiro vai bem, obrigado (fora o Palmeiras). E em menos de um mês enfileirou vitórias contra nada menos que três campeões mundiais! Não tem jeito, o lugar-comum é verdadeiro: aqui é o país do futebol, e, quando onze fulanos resolvem jogar bola, não tem pra ninguém! Notem que eu acrescentei "quando resolvem", quando não querem o papo é outro. Temos muitos exemplos por aí: Adriano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho... A lista é grande. Por isso a figura do técnico é importante. No caso da Seleção, a figura paternal e enérgica de Felipão faz, sim, a diferença.

Mas, como eu ia dizendo, os chatos de plantão estão por aí, comparando alhos com bugalhos. São os filhos do politicamente correto, os que clamam contra generalidades e não deixam em paz nem os pobres (ou melhor, ricos) dos jogadores de futebol, e, quanto melhores forem tais jogadores, pior. É o caso de Neymar. Nas últimas manifestações sobrou até pra ele. Vi várias faixas que diziam que um professor vale mais que ele. Convenhamos, esse é o tipo do discurso que não leva a nada. Você não melhora o salário de uma categoria atacando um profissional de outra. Aliás, falando nisso, no quesito salário Neymar vale mais, sim, que um professor. Tô errado?

Ok, entendo que o ensino anda mal das pernas e que os professores deviam ser mais bem remunerados (um dos problemas que me afastaram da profissão), mas o quê que Neymar tem a ver com isso? Muito pelo contrário, em vez de atacá-lo, os brasileiros deviam mais era ter orgulho dele, afinal não andam sobrando neymares por aí. Em todas as áreas há seus pernas de pau e seus gênios. Assim, do mesmo modo também há maus professores. E não se enganem, no ensino particular também. Há muito professor por aí que não sabe dar bom-dia pra quem não for seu cliente, digo, aluno. Esses valem menos que qualquer zagueiro doente do pé de algum time de segunda categoria lá da caixa-pregos. Um professor tem que se dar o respeito e, mais, dar o exemplo. A nó-ceguice de um professor pode contagiar alunos, principalmente quando estes já possuem o hereditário rei na barriga.

Voltando à questão dos cartazes, fiquei pensando: se a moda pega, não se salva ninguém. Já imaginaram um "Brasil, vamos para o parque, um lixeiro vale mais que o Chico Buarque!", ou um "Brasil, faça a sua parte, um açougueiro vale mais que a Regina Duarte!", ou ainda "Brasil, mostre seus encantos, um traficante vale mais que o Silvio Santos!"? E por aí vai, cada um pode montar sua frase. Antes de virem as pedras, preciso esclarecer que considero todas as profissões honradas, só que algumas são mais bem remuneradas que outras, e isso não é culpa do Neymar. Inclusive, no caso do traficante acima citado, e poderia acrescentar os bicheiros, a diferença reside no fato de que exercem ofícios não reconhecidos por lei. Afinal, entre dar um "pega" e dar um gole...

Quanto a Neymar & cia. ltda., é fato que os jogadores de futebol de grandes clubes ganham bem por uma série de fatores; há muito dinheiro envolvido nesse esporte, o que podemos fazer? Contudo, não nos esqueçamos de que há o fator adverso da aposentadoria precoce. No mais, se ninguém fosse aos estádios ou ligasse a tevê pra assistir a um jogo, a coisa seria diferente, mas há demanda, então, deixem o Neymar em paz e vão cuidar de suas vidas, pô! Ele não é nem de longe o responsável pelo problema da má educação no Brasil. Claro que quando ele faz a dancinha do Ai se Eu te Pego está prestando um desserviço à sociedade, mas lembremos: um jogador de futebol não é lá um exemplo dos melhores no quesito formador de opinião.

Se a educação fosse melhor todos poderiam entender isso claramente e separar as coisas. Da mesma forma como uma dupla sertaneja sobe ao palanque de um comício pra falar bem de certos políticos. Não o fazem porque adoram os fulanos, mas porque ganharam pra isso. Ah, lembrei de outra imbecilidade que essa mesma galerinha do politicamente correto costuma proferir. Esse papo de dizer que o futebol é o ópio do povo. Isso é café requentado de comunista desatualizado. Se fosse verdade, o futebol não existiria em países ricos, onde a taxa de pobreza é ínfima. O ópio do povo é essa música de terceira que, via jabá, toca nas rádios e tevês e empesteia o ar. Por falar nisso, tive uma bela ideia pra quem não souber o que escrever num cartaz. Que tal "gravadoras, por favor, a grana do jabá repassem para o professor!"
? Vocês nem imaginam como a educação melhoraria se tal pedido fosse acatado...


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PS. Paulinho das Frases, tô encurtando, viu? Mais uns 20 anos tentando e eu consigo escrever um texto do tamanho dos seus. Hahaha!


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2 comentários:

  1. É, meu amigo...
    Tem muita gente falando besteiras, por aí...
    Tenho 49 anos, sou Flamengo e apreciador do futebol desde criança.
    O Neymar sempre que questionado, sobre as manifestações, diferentemente do Pelé, colocou-se favorável a elas, dando-lhes a importância devida.
    Existem muitos bons professores, mal remunerados, que gostam de futebol e, apesar dos pesares, ministram excelentes aulas.
    O problema é a inversão dos valores que a mídia faz.
    Quantas e quantas vezes vi, na primeira página de vários jornais, manchetes que não têm relevância nenhuma. Como, por exemplo, que ator X separou-se de atriz Y.
    Ah, o Flamengo joga sábado contra o Coritiba, em Brasília. Será a estreia do Mano Menezes no campeonato brasileiro. Eu acompanharei, e você?

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    1. Camarada Cláudio, salve!

      Falou bonito! É exatamente isso: quando dão demasiado destaque a coisas menos importantes, acabam promovendo o ódio dos pseudointelectuais sobre estas. E, sim, tem muita gente falando besteira por aí, e chegando mais... Agora são os médicos que resolveram chutar a ética pra sair ladrando seus preconceitos. Triste...

      Ah, boa sorte aí com o Mano, eu tenho um encontro marcado com a 2ª divisão. rsrs

      Abração,
      Léo.

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