Afirmar que Daisy Cordeiro é uma das melhores intérpretes do Brasil é pouco, pois ela é muito mais que uma voz. É um ser pensante, uma compositora intuitiva como poucas/os e, sobretudo, uma alma boa, partidária do coletivo e generosa. Vou parar por aqui pra não me tornar repetitivo. Já escrevi sobre ela, quem quiser saber mais sobre a moça, basta clicar em Daisy. Por ora encerro acrescentando que seu belo texto (abaixo) sobre o disco Joia, de Caetano, não me surpreendeu, pois eu já sabia que ela manda bem também na prosa, como vocês terão o privilégio de descobrir. A ele, pois:
Em busca de um som joia
Por Daisy Cordeiro
Minha primeira canção foi uma bênção. De fato, eu nasci com muita sorte! Tive uma professora de educação artística que ensinou pra gente Marcha da Quarta-Feira de Cinzas. Agradeço a ela todos os dias, porque é pra mim até hoje inesquecível. Consigo me lembrar da luminosidade da sala, do quadro-negro, dos desenhos colocados onde se punha o giz… ela era incrível!
Nasci numa família de músicos. Minha mãe, cantora, foi a maior influência e a responsável por eu ser eclética para gostos musicais. Ela cantava com grandes orquestras, fazia de bailes a hotéis ou churrascarias.... coisas como a boleia do caminhão do Milton. Aliás, Milton e Minas Gerais estão entre o que mais conheço. Como mamãe tinha programa de TV (Itacolomi) e rádio (Inconfidência), acabei nascendo por lá, no bairro de Santa Efigênia, em BH. Eu sei que a proposta da coluna é o disco mais importante, mas não posso chegar até lá antes de passar pelas modas de viola que ouvi por conta do ex-marido de mamãe, que tocava com caipiras e violeiros, além do rádio que a Conceição (minha querida tutora enquanto mamãe trabalhava) ouvia. Com ela, por exemplo, conheci o Zé Bétio.
Depois veio a Vilma (outra tutora, que acabou se casando com o irmão do meu padastro e virou minha tia), que tinha um mãe chamada Adalgisa, que mantinha um terreiro de samba bem no coração da V. Gustavo (ZN)... Logo depois, veio a adolescência, e, com ela, a fase de rock'n'roll com Slade, Black Sabath, Queen, Led Zeppelin... A década de 1970 e inícios da de 1980, com todos os estrangeiros invadindo as rádios nacionais – eu era fanática pela Excelsior, "A Máquina do Som".
Por Daisy Cordeiro
Minha primeira canção foi uma bênção. De fato, eu nasci com muita sorte! Tive uma professora de educação artística que ensinou pra gente Marcha da Quarta-Feira de Cinzas. Agradeço a ela todos os dias, porque é pra mim até hoje inesquecível. Consigo me lembrar da luminosidade da sala, do quadro-negro, dos desenhos colocados onde se punha o giz… ela era incrível!
Nasci numa família de músicos. Minha mãe, cantora, foi a maior influência e a responsável por eu ser eclética para gostos musicais. Ela cantava com grandes orquestras, fazia de bailes a hotéis ou churrascarias.... coisas como a boleia do caminhão do Milton. Aliás, Milton e Minas Gerais estão entre o que mais conheço. Como mamãe tinha programa de TV (Itacolomi) e rádio (Inconfidência), acabei nascendo por lá, no bairro de Santa Efigênia, em BH. Eu sei que a proposta da coluna é o disco mais importante, mas não posso chegar até lá antes de passar pelas modas de viola que ouvi por conta do ex-marido de mamãe, que tocava com caipiras e violeiros, além do rádio que a Conceição (minha querida tutora enquanto mamãe trabalhava) ouvia. Com ela, por exemplo, conheci o Zé Bétio.
Depois veio a Vilma (outra tutora, que acabou se casando com o irmão do meu padastro e virou minha tia), que tinha um mãe chamada Adalgisa, que mantinha um terreiro de samba bem no coração da V. Gustavo (ZN)... Logo depois, veio a adolescência, e, com ela, a fase de rock'n'roll com Slade, Black Sabath, Queen, Led Zeppelin... A década de 1970 e inícios da de 1980, com todos os estrangeiros invadindo as rádios nacionais – eu era fanática pela Excelsior, "A Máquina do Som".
Daisy |
Depois disso, vou pular fases pra dizer que comecei, por uma série de circunstâncias (e pelo destino), a cantar. Cantei por muitos anos, por “osmose”, em bailes por todo o Brasil. De repente, um dia, já em São Paulo, o Blend (que era um bar no Itaim) entrou na minha vida e me trouxe amigos talentosos que foram os grandes responsáveis por quem sou hoje. Na busca de repertório para esse bar, cheguei a Fátima Guedes (aquele LP em forma de caderno) e Filó Machado (O Polvo). Filó, sem dúvida nenhuma, me deu a primeira sensação da responsabilidade do cantar e do ofício. Com ele aprendi a ouvir e experimentar sons. Ele me abriu a mente e o coração e, a partir daí, meu cantar jamais seria o mesmo.
Na inquietude de buscar algo mais original, resolvi deixar os bares e a noite pra seguir uma carreira e expandir meu senso criativo. Nesse momento, em que estava ouvindo músicas para meu primeiro show, cheguei ao disco que transformaria tudo pra mim e que eu considero o mais importante nessa trajetória toda: Joia, de Caetano Veloso. Não sei por quê, mas ele, sem dúvida, foi o start pra que eu compreendesse os vários sons que a voz poderia ter. Timbres, brincadeiras fonéticas… sei lá… eu só sei que pirei na batatinha e comi com farinha aquele disco até furar. Desde esse momento, minha música se tornou livre, minha mente viajou e conseguiu ouvir meus sons internos. Até hoje sinto turbilhões internos e ouço todos que posso. Gosto de todos os gêneros, amo as ideias de todo tipo de tribo… Não me coloco em nenhum segmento, porque o que me move é essa diversidade! Ela nutre sensações de todas as espécies, às quais me entrego diariamente, nesses meus 32 anos de sons!
Depois disso, vieram a descoberta do álbum branco dos Beatles; Durango Kid, de Toninho Horta; o show Pulse, do Pink Floyd (que eu já amava pelo LP Prisma); Voz e Suor (Nana Caymmi e César Camargo Mariano)... e, mais recentemente, Timeless (Sergio Mendes – que eu já namorava desde Sergio Mendes & Brasil 66 e, depois, Brasileiro, ganhador do Grammy), mas isso já faz parte de outro capítulo!
***
Joia – Caetano Veloso (1975 – Philips)
Lado A
1. Minha Mulher
(Caetano Veloso)
2. Guá
(Perinho Albuquerque – Caetano Veloso)
3. Pelos Olhos
(Caetano Veloso)
4. Asa, Asa
(Caetano Veloso)
5. Lua, Lua, Lua, Lua
(Caetano Veloso)
6. Canto do Povo de um Lugar
(Caetano Veloso)
Lado B
1. Pipoca Moderna
(Caetano Veloso – Sebastião C. Biano)
2. Joia
(Caetano Veloso)
3. Help
(Paul McCartney – John Lennon)
4. Gravidade
(Caetano Veloso)
5. Tudo, Tudo, Tudo
(Caetano Veloso)
6. Na Asa do Vento
(Luiz Vieira – João do Vale)
7. Escapulário
(Caetano Veloso – Oswald de Andrade)
***
Ouça o LP na íntegra aqui:
***
Essa é a nossa Daisy .
ResponderExcluirEsse é o nosso Edu!
ExcluirSabe magnânimo, o que eu mais amo nessa sua coluna? É sentir vc perto de mim no COLETIVO! Amoooooooooooo de montão...Amo conhecer pessoas com as referências eu acabo conhecendo melhor e conmpreendendo o som . Até agora, todos os "discos" citados, eu ouvi, mas eu sei que vou conhecer muita coisa a qual não fui apresentada e estou ávida por essa experiência. Te Amoooooooo
ResponderExcluirDeisoca, minha querida inevitável! Sou eu quem tem que agradecer por sua disponibilidade de sempre. Também te amo!
ExcluirBeijosss,
Léo.