O maior inconveniente de Daniel Drexler é ser irmão de Jorge Drexler... Hum... Não sei se inconveniente é a palavra certa, tampouco sei se seria azar... Ou sorte. Mas o fato é que ele não pode fugir à comparação, e, como Jorge é mais famoso, a balança pende em favor deste. Contudo, se Daniel não fosse irmão de quem é, certamente sua música (por si só) o levaria longe, visto que ele é um excelente compositor. Embora não possua uma voz das mais extensas, ela casa bem com suas canções.
1) Vacío (Daniel Drexler)
Entrei em contato com a música de Daniel por intermédio de outro Daniel, o López, meu querido parceiro montevideano, que toca com o xará. Aliás, não posso nem falar em Montevidéu que me dá uma saudade danada, mas tão grande, que até parece que eu sou de lá... Mas deixemos de milongas e tratemos de Drexler, Daniel. Não o conheço pessoalmente, embora já tenhamos trocado alguns e-mails, sempre por causa de Montevidéu, mas a impressão que ele me passa é a de ser um camarada muito gente fina, e parece levar na boa, diria mesmo com maturidade, o fato de ser irmão de quem é. Certa vez perguntaram a Chico Buarque como era ser Chico Buarque 24 horas por dia, ao que ele riu e disse que simplesmente era. Acho que com Daniel passa a mesma coisa em relação ao parentesco.
Mas o fato é que, sim, por causa de seu sobrenome acabei comprando um disco seu, Vacío, e fiquei impressionado com a qualidade e a mescla de tradição e modernidade das canções. Daniel sabe traduzir os anseios e as alegrias de seu tempo por meio de sua música sem se esquecer do passado; inclusive há murgas das boas ali. E ainda tive a grata surpresa de ouvir minha amiga Samantha Navarro, em participação pequena, mas especialíssima, como sempre.
Daniel, também a exemplo do irmão, deixou pra trás a carreira de médico (é otorrinolaringologista) pra se dedicar exclusivamente à música. No Uruguai ele é considerado um dos melhores artistas da nova safra. É interessante acrescentar que, apesar de ser um país pequeno, é celeiro de muita gente boa. São de lá Alfredo Zitarrosa, Eduardo Mateo, Rubén Blades, Jaime Roos; e a nova safra vem com tudo, com Samantha, Dany López, Inés Saavedra... Sem falar nos próprios irmãos Drexler e em sua prima Ana Prada (eita família mais musical!).
2) 20/21 (Daniel Drexler)
E Daniel, atento às novas tecnologias, sabe se aproveitar delas. Numa entrevista ele fez um comentário que achei bem relevante. Disse ele que "a internet democratizará a cultura: ninguém será descabidamente massivo, todos teremos o direito de mostrar o que fazemos". Sábias palavras. Não à toa uma de suas mais belas canções, 20/21, trata do tema: "Mis raíces son del veinte/ las flores son del siglo veintiuno/ la alegría es el presente/ la esperanza/ la esperanza es el futuro". Bonito, não? E ele ainda arremata: "más vale cien pájaros volando que pájaro en mano."
Da canção Luna extraio outro verso primoroso: "Algo llega en su justo momento para quien sabe ir despacio". E Daniel é assim, vai devagar, apreciando a viagem. Tanto que aos 20 anos parou seu curso de medicina e viajou mundo como mochileiro durante um ano, conhecendo lugares tão díspares como Jerusalém e Paris. Muito provavelmente extraiu daí bagagem de sobra pra suas futuras (e inspiradas) canções.
Infelizmente a obra deste e de tantos outros talentosos vizinhos não atravessa a fronteira (quando muito, eles se apresentam no Rio Grande do Sul). Pesquisando pela internet até conseguimos achar nos catálogos de algumas lojas um ou outro nome, mas é pra lá de pouco, sobretudo se pensarmos que eles, os uruguaios, adoram nossa cultura e nossa gente. É nítida a influência da música brasileira em grande parte dos compositores uruguaios. Os irmãos Drexler, por exemplo, até falam português (que aprenderam ouvindo canções brasileiras)! Realmente é uma pena que nós nos estejamos tornando os EUA da América do Sul, ou seja, exportamos nossa cultura e fechamos as portas pra receber a deles. Azar o nosso!
3) Novedad (Daniel Drexler)
Pra terminar, informo que Daniel tem quatro CDs. Não conheço todos eles, mas, pelo que conheço, ponho a mão no fogo. Ah, é importante também ressaltar que Daniel foi um dos sete artistas uruguaios (Samantha inclusa) que musicaram poemas do espetacular (e saudoso) Mario Benedetti pra uma homenagem a este, que acabou virando show na Espanha e, segundo li, vai virar CD este ano. Espero que o bendito CD chegue ao lado de cá da fronteira. Benedetti merece. E o Brasil agradece.
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Parabéns pelo Post!
ResponderExcluirdescreve muito bem o Daniel, que aliás é gente finissima!
Grato (gracias?), Isabel!
ExcluirBeijo do
Léo.
Ae Léo...
ResponderExcluirSempre bom ler seu blog!
Obrigado por nos mostrar artistas maravilhosos que nem sempre tem a atenção que merecem.
Abraçilds
Valeu, Gabo!
ExcluirNós semos a gente!
Abração do
Léo.