quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Joaquín Sabina en Portugués: 11) Eduardo Santhana e a versão de "Pongamos que hablo de Madrid"

Em dezembro último passei uns dias na Espanha, de férias. Vinha preparando essa viagem fazia quase dois anos. Conhecia apenas Barcelona e morria de vontade de visitar outras cidades. Mas este não se propõe a ser um relato turístico. Apenas pretendo juntar os cabos, já que o assunto é pertinente.

Antes de mais nada, preciso prestar alguns esclarecimentos aos amigos/parceiros que entraram nessa empreitada "sabineira" comigo. Como a maioria sabe, tenho a intenção de transformar esse repertório num CD. Tanto ia ser bom pra mim, quanto pra Sabina e também pros demais participantes. Assim que aportei em Madri com o material na mala. CDs, um caderninho com as versões mais um texto no qual eu explicava meus propósitos.

Contactei pelo facebook (tá vendo como pra alguma coisa presta?) Pancho Varona, músico e parceiro de Sabina há mais de vinte anos. Ele foi bem solícito, ofereceu-se pra me encontrar etc. Só que calhou que os dias em que eu estive em Madri ele estava fora, e quando fui visitar outras cidades ele voltou. Assim que ele me deu um endereço comercial pra eu deixar o projeto. Como eu tinha duas cópias, enderecei uma a ele e outra a Sabina.

Pancho gostou mais de algumas versões que de outras, obviamente. Expliquei-lhe que se tratava de gravações caseiras, feitas apenas no intuito de "ilustrar" as tais versões. Ele, muito gentilmente, deixou um dos pacotes na casa de Sabina, assim que quero acreditar que ele chegou a ouvir algumas de suas canções em português. Sei pelo que li que ele não costuma responder aos fãs. No caso não era uma carta de fã, mas, enfim, podia ser entendida no mesmo contexto.

Aí entrou em campo o fator azar. Se é que eu o posso assim considerar. O fato é que em fevereiro próximo Sabina lançará um CD de inéditas feito totalmente em parceria com Joan Manuel Serrat, o maior ídolo vivo espanhol. É como se Chico e Caetano lançassem um CD só de parcerias entre ambos. Serrat já é um pouco mais conhecido por aqui, pois chegou a gravar um disco em português, que contou com participações de vários artistas da MPB.

Pois bem, assim que o CD chegar às lojas, Serrat e Sabina sairão em turnê por Espanha e América Latina. Ou seja, nesse exato momento ele não está lá com muita cabeça pra pensar nesse projeto de canções em português. Cheguei a escrever a seu empresário, mas não tive melhor sorte. Portanto, embora eu siga em frente com o bendito projeto, vou ter que ser um pouco mais paciente, já que Chico e Caetano, digo, Serrat e Sabina vão tomar umas boas dezenas de voos nos próximos meses (e Sabina, umas boas dezenas de doses).

Isto posto, vamos à versão da vez, Pongamos que Hablo de Madrid. Esta é uma canção bem antiga de Sabina, que ele chegou a regravar. A primeira gravação é do disco Malas Compañías, de 1980. A segunda foi feita ao vivo, no disco Joaquín Sabina y Viceversa, de 1986 (a tempo: Viceversa era o nome da banda que o acompanhava então). Nesta última, ele trocou mesmo o final da letra, pois na original ele dizia: "Cuando la muerte venga a visitarme,/ que me lleven al sur donde nací,/ aquí no queda sitio para nadie,/ pongamos que hablo de Madrid". E no intervalo desses seis anos ele mudou de ideia e cantou: "Cuando la muerte venga a visitarme,/ no me despiertes, déjame dormir/ aquí he vivido, aquí quiero quedarme/ pongamos que hablo de Madrid". Com o passar dos anos sua fixação por Madri foi aumentando. Futuramente ele gravaria ainda outra canção de amor à cidade, Yo me Bajo en Atocha.

Pois bem, minha versão é anterior a minha viagem, mas o que eu já imaginava comprovei depois. Madri é uma grande metrópole, com os problemas que toda cidade grande tem. Inclusive muitos deles foram descritos na letra, como vocês lerão abaixo. Por isso tomei a liberdade de passar a cena dos acontecimentos pra São Paulo, que é a cidade onde moro. E pensando nisso convidei a interpretá-la um de meus parceiros mais paulistanos, Eduardo Santhana. Também pensei nele porque a canção, embora tenha uma letra ácida, possui uma melodia doce, quase nostálgica.

E, pra minha felicidade, Eduardo aceitou o desafio e, após um tempo, mandou-me esta verdadeira pérola. Fiquei emocionadíssimo ouvindo-a, e até hoje me emociono. Foi uma escolha das mais acertadas. Espero contar com ele se o projeto vingar. E espero que Sabina não se oponha a esta troca de cidades, caso contrário vou ter que repensar alguns versos.

Pra terminar, é preciso dizer que, claro, adorei Madri e entendi porque não se muda de lá. É uma cidade boêmia, bonita, onde se come bem e onde se pode encontrar muita cultura. Além disso, os livros são muito baratos. Então, ponhamos que eu também falei de Madri. Abaixo, a versão e a original. Espero que gostem.


SEMPRE SÃO PAULO
Antonio SánchezJoaquín Sabina/versão: Léo Nogueira

Ali onde se cruzam os caminhos
Onde não passa de utopia o mar
Lá, onde os fugitivos têm seu ninho
São Paulo é sempre esse lugar

Onde o desejo encontra elevadores
E eu tenho um teto pra chamar de lar
A custa de suores e favores
São Paulo é sempre esse lugar

Lá, onde as moças já não são princesas
E, à noite, saem vestidas pra caçar
Confundem-se também com suas presas
São Paulo é sempre esse lugar

Os pássaros visitam o analista
As estrelas se esquecem de brilhar
Sirenes gemem alto pela pista
São Paulo é sempre esse lugar

O sol no céu parece que se vinga
A vida vive a ponto de parar
À mão há no lavabo uma seringa
São Paulo é sempre esse lugar

Quando, por fim, me seduzir a morte
Talvez com ela eu queira me deitar
Lá, onde carimbei meu passaporte
São Paulo é sempre esse lugar

A original:

PONGAMOS QUE HABLO DE MADRID
Antonio Sánchez - Joaquín Sabina

Allá donde se cruzan los caminos,
Donde el mar no se puede concebir,
Donde regresa siempre el fugitivo,
Pongamos que hablo de Madrid

Donde el deseo viaja en ascensores,
Un agujero queda para mí,
Que me dejo la vida en sus rincones,
Pongamos que hablo de Madrid

Las niñas ya no quieren ser princesas,
Y a los niños les da por perseguir
El mar dentro de un vaso de ginebra,
Pongamos que hablo de Madrid

Los pájaros visitan al psiquiatra,
Las estrellas se olvidan de salir,
La muerte viaja en ambulancias blancas,
Pongamos que hablo de Madrid

El sol es una estufa de butano,
La vida un metro a punto de partir,
Hay una jeringuilla en el lavabo,
Pongamos que hablo de Madrid

Cuando la muerte venga a visitarme,
no me despiertes, déjame dormir
Aquí he vivido, aquí quiero quedarme
Pongamos que hablo de Madrid

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