terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Cinema & Cia.: 1) Sexo, além do prazer

Há alguns dias, meu amigo Antônio Carlos me desafiou a publicar no facebook fotos de dez filmes que marcaram minha vida — um por dia. Só que, de acordo com as regras da brincadeira, eu não podia comentar os respectivos filmes. Resignado (e um tanto contrariado), obedeci; entretanto, nasceu-me então a ideia de criar aqui no blogue mais uma coluna, desta vez tratando exclusivamente de cinema. Minha ideia era começar pelos dez filmes cujas fotos publiquei no fb, mas uma série e um filme a que assisti recentemente me fizeram mudar de opinião. De modo que a coluna que ora estreia resolvi que tratasse justamente de...

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Sexo... ah, o sexo... como uma coisa tão boa e prazerosa pode ser ao mesmo tempo tão complicada — e por vezes traumática? Quem nunca teve problemas sexuais que... bom, deixa pra lá... não vamos mexer com quem tá quieto... Em vez disso, melhor enumerar os possíveis vários problemas sexuais, nem que seja a modo de prefácio. Bom, em primeiro lugar, em se tratando do universo masculino, temos a famosa ejaculação precoce (seguida de seu contrário, ou seja, o caso daqueles que não conseguem gozar); temos os que se sentem complexados por ter um membro supostamente abaixo dos padrões (e, por outro lado, aqueles que sofrem com o extremo oposto); há aqueles que possuem uma ereção acentuadamente curva, como uma meia lua; há os que precisam de Viagra pra manter uma; sem falar nos que não possuem absolutamente nenhuma libido; há os viciados em prostíbulos;  os tão acostumados à masturbação que não conseguem ter prazer sexual que não fazendo justiça com as próprias mãos (embora digam que essa modalidade previne o câncer de próstata... na dúvida, recomendo)...

... No caso feminino, há as chamadas frígidas; as que não conseguem relaxar e sentem dores terríveis na hora da penetração; há aquelas que imaginam possuir um, digamos, corpo membranoso de feias proporções; ou ainda as que se envergonham por ter um órgão sexual com odor acentuado (o que os machos insensíveis chamam de "cheiro de peixe"); há também as que sofrem com as proporções do bumbum, ou dos seios (sejam pra mais ou pra menos); as que odeiam sexo oral, ou anal, e se veem obrigadas a tal; há as (pessoas) ninfomaníacas; há as que simplesmente não se sentem satisfeitas com o próprio corpo e acabam buscando saídas que vão de silicone a cirurgias mais complexas (como, por exemplo, mudança de sexo);  e há aqueles (de ambos sexos) de apetites que vão além da chamada monogamia, muitos dos quais se acostumam a frequentar as famosas "casas de swing"; há quem tenha tara por pés, por animais, por crianças, por familiares pra lá de próximos, por árvores(!)...

Enfim, a vida sexual de cada indivíduo é cheia de problemáticas aparentemente sem solucionáticas... Certa vez tive um amigo que queria porque queria ser padre, mas não conseguiu entrar no seminário porque era ligeiramente afeminado... E hoje lemos nos jornais sobre tantos escândalos sexuais envolvendo religiosos... Há jovens que se tornaram pessoas adultas com distúrbios por terem sofrido violações quando criança; há ainda outras que simplesmente se sentem diferentes, sem saber que, quando fechamos a porta de nosso quarto, todos nos sentimos um tanto diferentes... Alguém já disse que de perto ninguém é normal. E, afinal, quem é normal? E mais: será que queremos ser normais, fazer aquele sexozinho mamãe e papai, feijão com arroz...?

Esse imenso prólogo foi apenas pra dizer que, do alto de meus quase 50, me deliciei com uma série adolescente inglesa chamada Educação Sexual, ou Sex Education (vi na Neflix), que, apesar de ter todos cacoetes de filmes/séries teens, aborda nebulosos temas sexuais com uma coragem raramente vista. Interessante ser uma série inglesa e não estadunidense. Vi tão afoitamente, que já estou à espera da segunda temporada... eterno adolescente que sou. E... pra aproveitar que já estamos aqui mesmo e que inaugurei esta coluna pra falar de cinema (& cia.), queria me estender um pouco mais e tratar de um filme a que assisti recentemente por sugestão de minha amiga brasileira radicada (como eu, embora há mais tempo) no Japão Anne DallaA Garota Dinamarquesa. Parágrafo novo.

Quando terminei de ver esse filme, juro que me peguei imaginando o que pensariam certos elementos do novo governo, sejam os que dizem que menina veste rosa e menino azul, sejam os que dizem que deram uma fraquejada ao gerar uma menina, sejam os.... AAAAAAHHHHHHHH!!!! São tantos!!!!!!!!!! E o pior é que ese filme, excepcionalmente interpretado pelo genial Eddie Redmayne (vencedor do óscar de melhor ator por A Teoria de Tudo, e novamente indicado por este) — e não só por ele, visto que todo o elenco está impecável —, trata com naturalidade um tema que, visto pelos brasucas do século XIX poderia causar espasmos, poderia remeter a kit gays, mamadeiras de piroca etc... Pra mim, é sobretudo uma história de amor que transcende a heterossexualidade. E não digo mais pra não ser spoiler. É preciso acrescentar, entretanto, que o filme também foi criticado por fantasiar e obscurecer a verdadeira história de uma figura transexual histórica (é baseado num livro que por sua vez é inspirado em fatos reais). 

Mas aí isso nos remete ao caso em que em peça recente Fabiana Cozza foi impedida de atuar como Dona Ivone Lara por ter a pele um tanto mais clara... Como o assunto desta primeira prosa é sexo, deixemos essa última polêmica prum futuro póximo (ou não tão...). Por ora, queria apenas finalizar dizendo a vocês, irmãos que, como eu, têm um ou dois problemas sexuais, que não estamos sós. E a sétima arte, enquanto funcionar sem censura, não vai se furtar a pôr a mão na(s) ferida(s). Respostas, não temos, mas uma infinidade de indagações, sim. Afinal, o diploma de doutor em sexo não o penduraremos na parede (sinceramente falando) muito tempo antes de chocarmos uma bota com a outra. E muitos levarão a lição de casa pro purgatório (talvez eu incluso)...

***

10 comentários:

  1. Gostei do texto, "apesar" de tantas referências e pelo tabu que ainda ronda se falar explicitamente sobre o sexo. Mas, tratando-se de cinema, também sei que, se falar algo a mais, vira spoiler (o qual não tenho nenhuma dificuldade, pois o grande barato é ver como o cineasta desenvolveu a tal cena que provavelmente definirá a trama).
    A Garota Dinamarquesa, gostei de quase tudo, mas não gostei da atuação do ator, por certos cacoetes "femininos" - como se tentava mostrar um certo riso contido, o que realmente me tirou a sedução que o ator poderia deixar em sua feminilidade. No entanto, "é uma boa intenção"... ahaha
    Educação Sexual é uma série um tanto mais interessante do que se podia dizer das produções inglesas (que tanto temos preconceito, mas eles têm produzido menos coisas previsíveis que os americanos. Há algum tempo observo isto. Aliás, o cinema europeu e da parte leste vem abrigando ótimos roteiros, cineastas, fotógrafos etc. Recentemente, uma amiga tem me mostrado filmes que são grandiosos e desenvolvem algo que se perdeu no cinema americano: a personalidade estética. É uma "penca" de filmes maravilhosos que tenho conhecido, que até me esqueço do cinema americano...
    Interessante você ter colocado o caso da Fabiana Cozza neste tópico, pois não deixa de ser mais uma questão de preconceitos culturais, muito parecido com a forma com que vemos o sexo. Assim, ficou bem alocado, e continua a revolta de não terem deixado Fabiana interpretar D.Ivone Lara, papel feito para ela, autorizada pela própria retratada. Digamos que tenha havido frigidez da produção e de quem se opôs à grande possibilidade de ter a grande Fabiana Cozza como D.Ivone Lara.
    Mais um ótimo texto, Leozim. Gostei muito em como juntou várias coisas e soube dar a devida síntese às complexidades de cada um, sem deixar de dar uma ótima cutucada no "caso D.Ivone Lara", numa sutileza invejável.

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    1. Salve, Érico!

      Belo comentário. Só discordo a respeito da atuação do ator, de que gostei bastante. Já sobre o caso da Fabiana, é interessante que no filme do Marighella, dirigido por Wagner Moura, optou-se pelo contrário, ou seja, o escurecimento do ator. Como Mano Brown, a primeira opção, não pôde, quem acabou fazendo o papel principal foi Seu Jorge. Enfim, escolhas e escolhas.

      Abração,
      レオ。

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  2. O que dizer depois de tão boa análise do Érico? Talvez apenas que assino embaixo de quase tudo. Eu, particularmente, comecei a ver a série inglesa e, embora tenha gostado da forma como o assunto foi tratado, fiquei bastante incomodada com os tais cacoetes de filmes/ séries teen... Mas estou ficando velha e chata mesmo! (rs)

    Já o filme é emocionante, delicado... Enfim, já vi duas vezes e amei!

    Quanto ao tema da Fabiana, isso dá muito pano pra manga, e vou deixar pra comentar no momento oportuno! :-)

    Beijão!

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    1. Aliás, tão boa análise de tão bom texto!

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    2. Leozito, voltei aqui só pra dizer que, mesmo não me encantando com os dois primeiros episódios da série, resolvi continuar e... acabei viciando! E agora, o que fazer com a "angústia" da espera pela segunda temporada? rs
      Beijos!

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    3. Danny, que bom que você se "autorrespondeu". Economizou minha resposta. rsrs

      Não disse que a série valia a pena?

      Beijão,
      レオ。

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  3. Muito show (╹◡╹)♡�obrigada por mencionar me ... eu fico lisonjeada ... arigatou tomodachi^^

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    1. Eu que agradeço por ter me mostrado o filme, Anne.

      Beijão,
      レオ。

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  4. Parabéns pelo excelente texto Léo! Gostei também da análise feita pelo colega, Erico Baymma. Preciso assistir esses filmes para depois comentá-los, fico agradecido pelas indicações.

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    1. Fico no aguardo então de novos comentários, Totó.

      Abração,
      レオ。

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