segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Esquerda, Volver: 10) Por que eu sou Haddad

Aos 44 do segundo tempo, vim aqui deixar meu depoimento. Vale mais que retarde do que tarde demais. Eu, cearense filho de retirantes, que sempre fora reticente antes, que me sentia um invasor, um perneta penetra, enfiado na cidade-desamor pela uretra (abaixo), e eis-me aqui dando a letra, pensando "agora me encaixo!", metendo a caneta, sentindo-me cidadão, quase orgulhoso de ser paulistano por adoção, junto com meus manos de coração e de luta, todos filhos da labuta, crescidos na família perifa, onde o pau come e a PM grifa, e tome cacetada, cacetete, pro pivete e pra rapaziada. Americanópolis City, vizinha da Vila Clara, onde o diabo teve conjuntivite, o horror deu as caras, Deus perdeu o apetite, o menoscabo da burguesia ganhou CEP e geografia... e cada lobo que se estrepe.

Era assim em meus tempos de menino astigmático e franzino. Por isso sou agora enfático. Não, não é o Fantástico... É o Haddad, porra! Um cara que é de (e da) verdade, que nos arrancou da masmorra, que deu cara nova pra nossa cidade, nossa realidade, que amarrou as pontas de cada canto, sem faz de conta, com encanto, botou a mocidade pra transitar e chamar qualquer bairro de lar. O professor que provou que, quando se quer, se pode, seja pra mulher, seja pro bigode, a questão é de atitude. Seja na saúde ou no transporte coletivo; o que deixou o mais forte apreensivo e a galera lá dos cafundós, ou seja, nós, mais alegres. Agora, cada um que se integre, se entregue às ruas, seja em noite de lua cheia, seja em feia madrugada...

... sabe que tem condução pras quebradas; pode ir de Uber ou de busão pro Jardim Europa ou pro Jardim Japão, em todo canto tem flor, cor, iluminação. A capital financeira do país reflete uma grande nação. Esta que devia ser, não fosse o golpe... Mas me poupe; deixemos o #foraTemer pra outra ocasião e falemos de outras rampas, de nosso rincão. Nossa Sampa! A cidade onde os ciclistas encontraram chão; onde os artistas têm palco e povão; onde os blocos de Carnaval têm seu quintal, têm seu foco, esse ban'de'lôco que sabe sair bem na foto (e no voto!), que invade a Paulista aos domingos e... bingo! Não há quem resista. Povo colorido, miscigenado, que não quer mais ser gado, quer, sim, pôr o carro na frente dos bois. Agora e depois!


Mas vamo' falar sério? Não tem mistério, não tem mutreta! Pergunta pro Fernando que ele dá a letra. Como e quando. Os outros é que 'tão tirando. São Paulo saiu do tempo das cavernas e virou cidade moderna. Onde tem um mestre, automóvel não vale mais que pedestre; IPTU de imóvel, paga mais quem mais tem cascalho. Chega de ser carta fora do baralho! Nós queremos ser curingas, ter ás na manga, tomar nossa pinga, soltar nossa franga. Cada um com sua sexualidade e sua religião. Seja com roupa bizarra, seja de alpercatas. Nós vamos na marra, mas sem bravata, só na finesse. Porque quem aprende cresce, quem cresce aparece e quem aparece não vai sumir de novo da noite pro dia. E nem adianta vir com pancadaria!


Povo culto pode ir pro terreiro ou pro culto, pode ser maconheiro ou corintiano, é tudo mano, é tudo brasileiro! Já era a senzala, casa-grande! Invadimos a sala e não tem quem nos mande embora! Nosso amanhã é agora! Nós fazemos facul, nós somos cool! Vamos pra manifestação pacificamente, exercer nosso direito de gente de gritar "fora quem a gente quiser". É! E não adianta bomba de gás lacrimogêneo nem bala de borracha. A gente se abaixa, a gente tem convênio com a razão, por mais que pau-mandado ache que não. A molecada invade por direito a ter direitos. E vai ficar na saudade quem diz que são maus sujeitos, baderneiros, vândalos. Não, eles são artistas, são arteiros, sândalos! São Suplicy cantando Mano Brown. E estão aqui e vieram pra ficar. Falou, vai chorar, clown?


Beleza, rola o papo de PT e de corrupção, mas diga você: quem nunca não? Bota a mão no fogo por algum partido? Cuidado, vai sair queimado, ardido! As siglas já faz tempo perderam o maiúsculo, andam fracas de músculo. O lance agora é olhar nos olhos e ver quem não mente ao nos fitar. Tente ler; um olhar fala um bocado. Mas além do olhar tem o legado. E nesse quesito, chegado, Haddad fez bonito, é imbatível. Há décadas, São Paulo não tinha tão bom nível na Prefeitura. O cara é gente-fina, mas tem bravura, tem visão. Pesquisa o que dá certo lá fora, traz pra cá e aprimora. Diminuiu a velocidade e o trânsito da cidade fluiu; onde passavam dez, passam mil; diminuíram os acidentes fatais, a moda agora é devagar e em paz... chegar.


O cara é bom de creche e bom de hospital! E não se avexe, não, seu Juvenal, que agora o senhor vai chegar mais cedo ao trabalho, sem medo e sem ralho, que com as faixas exclusivas busão virou locomotiva. Apesar do enfado do motorista individual, que prefere o ar-condicionado e o atraso eventual. Quem era da banda de apoio agora é o artista principal, que a fila anda. O maior problema é que há anos o paulistano entende o tema pela tela da tevê, não crê no que vivencia, mas no que lá vê. Na anti-informação vazia do jornal partidário que só vê sujeira no lado contrário. Aí, apesar de todas essas melhoras, quer jogar todo um trabalho sério fora. Que falta de critério! Pobre votar no Dória... ó dor inglória! Na traíra da Marta... o papai infarta! No Russomanno... pô, mano! Se o paulistano gostasse mais de Sampa que de Saturno, davam Haddad e Erundina no segundo turno!


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10 comentários:

  1. Meu sonho
    Haddad e Erundina no segundo turno.

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    1. Porque sonhar é de graça. Ainda... rs

      Beijos, Nessinha!
      Léo.

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  2. Léo, você me encanta. Texto delicioso. Léa Paiotti

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  3. Adorei o texto! :) Vou de Haddad também... beijo querido

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    1. Agora eu vi vantagem, Louisoca! Bem-vinda à maloqueirada! rs

      Beijosss,
      Léo.

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  4. Beleza de texto. Se eu pudesse votar na cidade que moro...
    iria de Haddad sem dúvida.

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    1. Valeu, anônimo! Mas da próxima se apresenta.

      Abraço,
      Léo.

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