sexta-feira, 7 de abril de 2017

Os Manos e as Minas: 28) Homenagem póstuma a Donizeti Costa

A Pálida Dama mais uma vez aprontou das suas: como se já não bastasse o cenário catastrófico que é hoje o de nossa Cultura (a com letra maiúscula, não a outra), acaba de levar mais um dos grandes soldados de nossa causa: o jornalista Donizeti Costa, grande figura, comprometido com as causas sociais, mas sobretudo um cara de antenas ligadas e pronto a escrever sobre tudo o que de melhor aparecesse por nossas terras tupiniquins. Tive poucos contatos pessoais com ele, mas via facebook estivemos um tempo bastante conectados. Conhecemo-lo (eu e Kana), se não me falha a memória, por meio do amigo Zé de Riba, e Donizeti, com seu faro jornalístico, sacou imediatamente que minha japinha daria o que falar – e o que escrever. Portanto, como forma de homenagem póstuma, publico abaixo matéria que ele escreveu sobre ela há lá se vão nove anos. Vá em paz, meu bom! E que encontre em sua nova morada panorama melhor que o que por aqui vemos da janela deste campo de concentração travestido de país.


Voz de Elis atraiu cantora japonesa para o Brasil
Por Donizeti Costa, para a coluna Gente da Cidade, do Diário de S.Paulo

Depois de replicar os hits da cantora gaúcha, Kana passou a compor suas próprias canções em português

Em 18 de junho, o país comemora o centenário da imigração japonesa. A data coincide com a da chegada do navio Kasato Maru ao Porto de Santos, em 1808. A cantora Kana Aoki não tinha, ao que saiba, nenhum ancestral entre os 781 passageiros que vieram na embarcação, a maioria para trabalhar nas lavouras brasileiras. Sua história de amor com o Brasil é bem mais recente, coisa de 13 anos atrás, quando ela se mandou de mala, cuia e coração para cá.

Diz a lenda que basta um canto de sereia para que um marinheiro incauto se encante e mergulhe nas águas para perder a vida no fundo do mar. Kana também tem uma história semelhante a essa. Só que com final feliz: ela se lançou aos ares, cruzando os céus que separam Tóquio e São Paulo em 1995, seduzida por outro canto: o de Elis Regina, que ela conheceu ainda na capital japonesa, onde caiu de paixão pela MPB. "Elis Regina me fez tomar ainda mais gosto pela arte de cantar", diz ela, que até então tinha um repertório jazzístico que incluía standards de Chet Baker, Anita O'Day, Frank Sinatra, NIna Simone e outros ícones americanos.

O amor à primeira audição foi tanto que Kana, um ano após se fixar em São Paulo, embarcou rumo a Porto Alegre a fim de conhecer a cidade onde a Pimentinha nasceu, sua casa e os ambientes por onde circulou antes de virar uma das maiores cantoras nacionais. "Mas também corri outros Estados em busca das raízes de alguns ritmos gravados por Elis ao longo da carreira", conta Kana.

Mais que replicar os hits da cantora gaúcha, Kana passou a compor suas próprias canções em português, idioma que começou a dominar de tanto ouvir cantores brasileiros em seu país natal. Até agora, ela tem em torno de 60, quase todas com letra do cearense Léo Nogueira, de 36 anos, com quem ela se casou há oito. Parte desse repertório está nos CDs Do Japão ao Ceará e Imitação, de 2001 e 2004, respectivamente, entoada com uma pronúncia irrepreensível. O próximo [Imigrante] está previsto para ser lançado em setembro com outro lote de canções do casal. 

São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008.

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