segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Trinca de Copas: 33) Gabriel de Almeida Prado, Marcio Policastro (dose dupla) e Thiago K


1) BULEVAR SOLIDÃO

por Vanessa Curci

Como já contei aqui antes, prefiro compor minhas letrinhas sobre melodias que os parceiros me mandam. Contudo, como a maioria deles me pede a letra antes pra depois musicá-la, desenvolvi uma técnica que é a seguinte: enquanto faço uma letra, vou cantarolando junto qualquer melodia, pra sentir a pulsação e a métrica dela e facilitar, assim, o trabalho de quem a vier a musicar. E, às vezes – muito raramente, admito –, calha de essa melodia-tampão soar bem a meus ouvidos. Quando isso acontece, costumo dar uma chance à pobre, e peço a ajuda de algum parceiro pra harmonizá-la e, de repente, melhorá-la. Foi o caso desta: mostrei-a (juntamente com a letra) a Policastro, e ele não só a melhorou, como ainda lhe fez uma parte B "matadora", que levou a brincadeirinha inicial a um nível profissa. Reparem se estou mentindo:


BULEVAR SOLIDÃO
Marcio Policastro – Léo Nogueira

Tô aqui
Sozinho e ébrio a aborrecer
O alvorecer
Chorando mantras, sem cobertor
E cadê você
Que só deixou a dor

Tô aqui
Mas meu futuro você furtou
Quando se fartou
Depois partiu, e eu parti em mil
Minh'alma sem soul
E até o sol sumiu

Tô aqui
Descendo às cegas esse porão
Do meu coração
Pra ver se encontro, ao pé de mim,
Não mais um perdão
Mas oxalá meu fim

Tô aqui
Um marginal a perambular
Nesse bulevar
De um bairro deserto, onde a solidão
Vem me perguntar
Que horas são

***

2) DÚVIDA ZEN

Se as paredes do cafofo de Policastro falassem, teriam muitas histórias pra contar. Como não falam, conto eu – ao menos aquelas às quais estive presente, grande parte das vezes como coadjuvante. Aliás, quase sempre que o visito saio de lá com uma canção nova. É a tal da química. E, modéstia às favas, sai sempre coisa boa. Até porque, quando vemos que não tá ficando legal, abortamos a ideia e passamos pra outra. E, falando em química, o mesmo ocorre com outro mano, Gabriel de Almeida Prado. Portanto, como vocês já devem imaginar, quando nos encontramos os três, as chances de sair uma canção bacana são ainda maiores.

Se bem que, ultimamente, os dois malandros andam fazendo muita "arte" sem mim... Mas deixemos a ciumeira de lado e tratemos desta, cuja façanha foi resultar numa canção acima de nossa média. Sabe aqueles dias em que a gente sente que estão rolando umas boas vibrações ao redor e que nossos comparsas estão sintonizados na mesma onda? Foi o que aconteceu naquela tarde, no policastreano cafofo. Lá fora, o sol brilhava; dentro, a breja rolava farta; e, de repente, Policastro, empunhando seu violão, ameaçou uma levada e um começo de melodia, e fomos nós atrás, em versos e notas, e acabou que, no fim das contas, nasceu uma canção híbrida, um filho de três pais, e – pasmem! – até eu dei uns pitacos na melodia.

Só rolou uma pequena discussão acerca do verso "Vai que um raio cai no mesmo lugar", em que fui voto vencido... Por mim, poria um "outro" ("Vai que outro raio cai no mesmo lugar"), mas depois me convenceram: o verso ficaria maior que a melodia, de quebra argumentaram que o tal do raio cairia no mesmo lugar em que "eu faço do meu coração um fio condutor", como vocês lerão/ouvirão a seguir. Pra terminar, detalhe: Gabriel gravou-a e me mandou o arquivo em que constava, após o título, entre parênteses, um "versão gravadorzinho de mão do satanás"... seja lá o que isso for... Detalhe dois: sem vergonha, e com classe, tivemos a ousadia de rimar "feliz" com "feliz". Confiramos:


Eu era tão feliz
Antes de saber o que é ser feliz
Aí, você chegou sorrindo feito atriz
E eu não me refiz nunca mais

Eu era tão normal
Tomava o meu café e lia o meu jornal
E o cara que eu me achava intelectual
Depois de você, babau... foi pro beleléu

E agora, meu bem, já era
A felicidade é onde
Eu miro o olho da fera
Com a dúvida zen de um monge
Que finge transcender as eras

E se você se for
E me deixar sozinho sem noção do amor
Eu faço do meu coração um fio condutor
Vai que um raio cai no mesmo lugar

E agora...

***

3) O LEGADO DO AMOR

Andam rolando uns babados fortes no quintal de Kleber Albuquerque e Vivi Correa (já até escrevi a respeito: aqui), o tal do Teatro Imaginário da Fábrica de Caleidoscópios. Sugiro a quem não conhece ainda que fique atento à programação e não perca o próximo evento. Isto posto, acrescento que tenho conhecido (ou reencontrado) muita gente boa ali, o que tem sido bom, além de tudo, pra renovar meu estoque de parceiros. Dia desses, naquele quintal mágico, conheci Thiago K – baita compositor! –, que mostrou um punhado de canções belíssimas (inclusive, seu CD é uma belezura! Ouça aqui). No final da noite, trocamos contatos, e, dias depois, ouvindo seu CD, me inspirei e lhe mandei uma letra que ele transformou numa canção fodástica, dessas que grudam no ouvido e arrepiam os pelos da alma. Mostrei-a a Policastro, e ele me respondeu: "Letraça, hein? Gostei da melodia. Inclusive tem um apelo comercial. Quem sabe não é uma pra estourar?" Que sejam proféticas suas palavras, Poli! Ouçamo-la:


O LEGADO DO AMOR
Thiago KLéo Nogueira

Tudo que amortece
O amor tece
Por mais que o amor seja amoral
Tudo que amordaça
O amor traça
Por isso seu legado é tão legal

Tudo que amortalha
O amor talha
O amor tem sempre chama pra chamar
Tudo que amortiza
O amor pisa
Que nem se divagasse devagar

Dai-me amor
One more time
One more time
Dai-me amor

E tem que se amarrar
No amor na marra
Pra não ter que depois amarelar
Noutro patamar
Meter as patas
A pé, da Patagônia ao Panamá

Que pra namorar
Não tem morada nem hora
Basta o amor se derramar
Pro amor se inflamar
Há que ser flama
Depois ser tão capaz de virar mar

Dai-me amor
One more time
One more time
Dai-me amor


***

2 comentários:

  1. Lindaças!
    Não conhecia o Thiago K, ainda.
    Gostei, heim! Muito bom.

    Sucesso procê! Logo e sempre
    bjbj

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