domingo, 10 de março de 2013

Crônicas Desclassificadas: 77) Viva o metrô paulistano!

Vou confessar: sou usuário. Do metrô paulistano, claro. E, como é de confissões o momento, confesso também que ando muito irritado com ele. Porém, como não posso, diretamente, fazer nada a respeito (talvez até possa, mas só de pensar na desproporcionalidade entre o ato e o resultado, já sou tomado pela preguiça), resolvi "homenageá-lo" com um texto no qual, a meu bel-prazer, achincalhá-lo-ei. Claro que vou evitar morder a língua. Como há pouco tempo escrevi um texto (este) tratando dos mal-humorados, não vou incorrer no propagado mau humor, ao contrário, pretendo escrever umas linhas bastante bem-humoradas. Vejamos se consigo.
Acho que o governo exerce o sadismo só pra ver até onde aguentamos. Afinal, estamos falando de um povo que (só pra dar um exemplo do grau de civilidade em que nos encontramos) ainda precisa ler durante o Carnaval um "urine no banheiro". Você pode até achar isso normal, mas tal placa que nos ajuda a fazer o óbvio seria impensável em países civilizados onde as pessoas, por exemplo, compram o bilhete do metrô e o metem no bolso só pela eventualidade de aparecer um fiscal, já que as catracas de acesso são livres. Imaginaram se fosse assim aqui? O jeitinho brasileiro do espertalhão que não sabe roubar muito, mas furta (e se farta com) o trivial, entraria em ação.

Pois bem, vamulá! Em várias estações do metrô paulistano implantaram uma espécie de curralzinho, ou seja, uma cerca metalizada, dentro da qual a boiada espera pacientemente sua vez de entrar no vagão, após a saída da boiada que está dentro deste, boiada esta que escapole pela direita ou pela esquerda do curralzinho, evitando assim o confronto direto entre as duas agremiações. Congratulo o gênio que teve essa brilhante ideia, pois ele conseguiu o aparentemente impossível (impossível justamente por se tratar de uma regra básica): ensinar à boiada que primeiro os bois de dentro saem, depois os bois de fora entram.

E então, eis que eu vivi pra ver algo tão surreal em solo paulistano, que pensei que jamais veria. Como todos nós sabemos, não devemos segurar as portas, pois isso acarreta atrasos em todas as linhas, já que elas estão interligadas. E não queremos chegar atrasados, não é mesmo? Então, eis que dia desses estava eu devidamente encaixado no quadrado que me coube no tal curralzinho, quando as portas do (meu) vagão se abriram. E o que aconteceu? Durante uma eternidade não parou de sair gente (chamemos de gente, que é mais bonito que boi) de dentro. De repente, veio o apito e, em seguida, as portas se fecharam sem que ninguém entrasse!

A história não termina aqui! Querem saber o que aconteceu quando o trem seguinte chegou? Você, caro e inteligente leitor, já vai ter adivinhado. Mas conto mesmo assim: mal as portas se abriram, os que estávamos fora enfrentamos heroicamente o exército inimigo num corpo a corpo de dar gosto, pra que não perdêssemos mais essa batalha. Reflitamos, pois. Com muito custo conseguiram que o gado, digo, povo, contra seus instintos naturais, aprendesse a esperar a saída de seus concidadãos, mas num único minuto deitaram ao chão meses, talvez anos, de autoindução. Novamente os parabenizo.

Mas continuemos este divertido passeio turístico pelas belas catacumbas metropolitanas. Encontramo-nos agora ensardinhados dentro do primeiro vagão. As portas se abrem e, consolados, "somos saídos" na estação Consolação, Linha 2 – Verde. O que vemos a seguir é um moderno par de esteiras rolantes, projetado por uma pia e generosa alma que se compadeceu de nossa via-crúcis diária em direção à estação Paulista, da revolucionária Linha 4 – Amarela, que nos levará a nossos destinos. Só há um mero detalhe em todo esse conforto: as modernas esteiras estão desligadas! 

Calma! É necessário que todos mantenham a calma! Afinal, precisamos entender que estamos em horário de pico e, como somos mal-educados, se as esteiras estivessem funcionando, das duas uma: ou bloquearíamos a passagem dos apressados, gerando atrasos; ou empurrar-nos-íamos, podendo mesmo causar acidentes fatais. E ninguém quer isso, não é verdade? Mas não se preocupem, por volta das 10h30, mais tardar 11h, elas já estarão funcionando normalmente, e os felizes retardatários poderão usufruir plenamente dessa oitava maravilha.

Agora, voltando pra casa após um desgastante dia, fazemos o percurso contrário. Dentro do metrô, na República, as portas abrem primeiro do lado dos que vão entrar e depois do lado dos que vão sair! Porque primeiro entra depois sai, todo mundo sabe. Agora,  rumo às lindas esteiras, antes, subo a  única escada rolante que sobe, que não está "rolante"(!); em compensação, as duas que descem estão. Decifremos a lógica: 1) descer é mais desgastante que subir; 2) há menos gente descendo que subindo, portanto, essa corajosa minoria que vai contra a corrente merece o castigo de ter duas míseras escadas rolantes a seu dispor ao passo que nós, guerreiros cansados, temos o luxo de contar com uma escada não rolante na subida!

Claro que todo esse interminável nhem-nhem-nhem (demos a patente da palavra a FHC, pois ele merece, e não esqueçamos de pôr os hífens e tirar os acentos, please!) é fruto da cabeça insana de um egoísta que só pensa em seus próprios problemas e não consegue enxergar além de seu curralzinho. Por isso ele está onde está. Fosse um cara descolado, uma pessoa de sucesso, um vencedor, um empreendedor adepto do pensamento positivo etc., poderia ter a visão de resolver o problema indo trabalhar conduzindo seu próprio veículo, ou, quiçá, melhor, de táxi. O que, de bônus, melhoraria consideravelmente nosso trânsito, que já é uma beleza!

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