sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cançonetas: 6) "Novos Horizontes", por Luhli (e Dhenni Santos)

Em princípio, pensei em publicar este texto na coluna Trinca de Ouro – na qual trato de canções/parcerias minhas gravadas –, mas depois, de tanto ouvir o CD no qual foi inserida a canção em questão, optei por publicá-lo aqui, com as devidas explicações. Vamulá, pois!

Como já frisei aqui não poucas vezes, participo de uma lista virtual de bate-papo sobre (não só) música, a M-Música. Lá, conheci muita gente boa e também aumentei meu leque de parceiros. Trata-se de uma lista das mais democráticas, por isso, acolhe tanto anônimos quanto famosos (e tantos outros entre uma extremidade e outra dessa corda), e todos têm direitos iguais. Claro que depende de cada um fazer ecoar (ou não) seu verbo ali. Pois bem, ecos à parte, entre os mais queridos membros da lista se encontra a maravilhosa artista Luhli, que, antes de acrescentar o H a seu nome artístico (segundo sugestão de numerologia, conforme me contou a própria), tocou sua carreira artística durante anos em dupla com a não menos notável Lucina.

Já dediquei um perfil no Ninguém me Conhece a Luhli (pra lê-lo, basta clicar em seu nome), portanto, hoje, também devido ao advento de sua gravação, resolvi esmiuçar os entornos da feitura de uma de nossas parcerias, Novos Horizontes. Antes, apesar da obviedade, explico que a publicação de tal canção aqui se deve ao fato de esta ter vindo ao mundo na condição de, of course,... soneto. Contudo, depois de ter contraído matrimônio com a melodia de Dhenni Santos, meio que o deixou de ser (em número de versos, continuou sendo, mas em métrica, não), mas vamos por partes, até pra que todos entendam a aparição desse terceiro elemento na equação, digo, canção.

Luhli já há algum tempo trocou a Cidade Maravilhosa por uma cidade montanhosa, portanto, andou sumida de nós, tanto pela dificuldade de conexão naquelas outras bandas quanto pela falta de vontade de abandonar seu pequeno paraíso. Daí que, há aproximadamente três anos, após sentida ausência, escreveu-nos um e-mail emocionado que também nos emocionou a todos. E, em mim, o impacto foi fulminante. Nem bem acabei a leitura, as engrenagens do cérebro se puseram em funcionamento, pois eu detectara uma linda poesia naquelas palavras dela nascidas em prosa. Então, antes de continuar (e autorizado pela própria), colo abaixo um trechinho, pra melhor ilustrar em que atmosfera nasceu a Novos Horizontes:

"Acabei de ouvir uma gravação que recebi por e-mail do Tavito, a música Na Beira da Canção, parceria nossa que faz parte do novo disco dele. Fiquei pensando: que coisa boa ter reencontrado Tavito nessa lista, depois de anos sem contato! Como foi bom ter tido por três anos os encontros mensais no Panorama, saboreando musicalidades tão diversas de tantos músicos, de onde surgiram tantas parcerias como essa, com a qual agora me deleito." Em seguida, ela cita seus muitos parceiros e amigos da lista (este que lhes escreve, incluído) e continua: "Agradeço a todos, citados ou não. [...] Sim, sei e sabemos bem que também há os chatos, os pontificantes, os espíritos de porco, os interesseiros, os grosseiros, os invejosos, os metidos a besta, os prolixos verborrágicos, os mentirosos... Mas qual é? Esses, tem por toda parte. Valeu ter que aturar um tanto disso, por tudo que essa lista me abriu de portas, de novos horizontes. Senti isso nitidamente, ouvindo a gravação que o Tavito me enviou. E aqui, no alto dessas montanhas, em meio às nuvens de garoa fina, a distancia não é nada, nem o tempo, nada existe mais verdadeiro do que o prazer de um gole entre dois acordes, na beira da canção."

Deu pra perceber que há muita poesia espalhada pelo texto, sobretudo no final, não? Eu praticamente "roubei frases inteiras", só tendo o trabalho de encaixá-las na métrica que escolhi. Emocionado com o resultado, enviei-o na sequência à lista, e, nem bem o fiz, fiquei sabendo que Dhenni (grande amigo de Luhli e um de seus maiores parceiros na atualidade), mais rápido do que soletrar inconstitucionalissimamente, o havia vestido de melodia. E aí é que são elas. Como não lhe avisei que se tratava de um soneto, ele acabou cometendo uma ou outra alteração que a melodia pedia. Trocamos umas ideias e decidimos que, como a melodia exigia, não nos restava mais que obedecer. E, naturalmente, incluímos Luhli na parceria. Afinal, mais que musa, havia sido a mentora intelectual da canção.

***

O texto acabaria aqui, não fosse eu ter me deslumbrado também, e de tal forma, com as irmãs de nossa cria incluídas em seu novo disco, Música Nova, que senti aquela ânsia de escrever aqui uma ou outra palavrinha sobre o disco, já que estamos aqui mesmo, o espaço existe e a ocasião propicia. E que fique aqui registrado que poderia ser um texto do Grafite na Agulha (e, não o sendo, não o deixa de ser).

***

Acabo de ser atingido, não sei se por um meteoro, um drone ou um simples carteiro (certeiro), mas a verdade é que, enquanto investigo as avarias em meu velho esqueleto, minha alma baila num lumiar qualquer que, embora eu desconheça, não me é de todo estranho. Trata-se, segundo pude averiguar, de uma tal Música Nova, um óvni que se chocou comigo, testa e coração adentro. Após alguns segundos (minutos, horas?), consegui me erguer do chão (sai do chão! sai do chão!) e avaliar, abalizando, o artefato que tão desabusadamente me acertara. Com os olhos ainda embaçados (é embaçado, mano!), pra não dizer arcaisticamente "rasos d'água", consegui identificar as cinco letras que formavam a palavra Luhli... e relaxei. Não se tratava de nada do outro mundo, ao menos não do meu.

Tratava-se do novo disco da ruiva mais negaça do Brasil. Aliás, se eu dissesse multicolorida, não estaria dizendo pouco, posto que é multifacetada (canta, compõe, toca, escreve, embala, desperta...) a velha-nova Luhli. Vou ser sincero: estou aqui pincelando palavras como se se tratasse de tarefa fácil, mas não é. Resumir em um punhado de parágrafos (escritos) o que nos extasiou não é tarefa pra cualquiera. Mas eu, que, como cearense envelhecido legitimamente em envase paraguaio, embora covarde, não fujo da briga (quando imponderavelmente necessário... tipo alguém ter posto a mãe no meio e daí pra cima... ou pra baixo), não poderia sair pela tangente sem antes dar meu depoimento acerca do quão revolucionário me foi ouvir esse disquito de negra arte gráfica.

Como a verdade cai bem em (quase) qualquer ocasião, em primeiro lugar adianto, com a mão sobre a Bíblia (como se eu fosse uma Marina), que me fez um bem danado ao ego-umbigo ser gravado pela ruiva, e, mais, abrir seu disco! Admito que me senti como um Zagallo repetindo, aos berros, "vocês vão ter que me engolir"! Eu, tendo 42 ponto 9 (sagitário, pois), não posso mais perder meu tempo não sendo verdadeiro (roubei a frase de um amigo, confesso), assim, me dou o luxo de só escrever sobre o que me arrebata, e o lançamento desse Música Nova, mais que lançamento, é um acontecimento! Fosse o Brasil merecedor de seus artistas, estaria Luhli agora com a agenda lotada por dois anos e lá vai pedrada, mas não choremos sobre o leite derramado, esse é um problema do Brasil, não da ruiva. 

Pra finalizar, basta dizer que esse é, mais que um disco, uma biografia musicada. Luhli está inteira ali, com sua sensualíssima voz rouca, contando e tocando as muitas histórias de que foi (e continua sendo) protagonista. Meio que do fim pro começo, ela nos conta que hoje, vizinha das montanhas, desenha novos horizontes, mas continua poeta e louca, humana e divina, enfim, caoticamente brilhando dentro do precipício. Confidencia que veio das estrelas e, nos dias frios, sabe fazer fogo e dançar nos vulcões, afinal, sua vida é uma tragédia em tantos atos, mas é assim que ela gosta de se equilibrar, entre o lá e o aqui, desde que seja pisando em estrelas. E segue nessa toada, do fim pro começo, como a flor que voltasse pra raiz, sabedora de que já faz parte da história.

Avisa que seu lar é um velho coração que, de tanto colecionar lágrimas, aprendeu a ser um lugar sempre em movimento e a festejar o tempo. Didática, ensina que o tambor a ensinou a bater sem brigar; lembra sua vó de açúcar, ouro de mina; e, enquanto sua voz continua ecoando, ela já não está mais aqui, porque a estrada bem cedo a levou por um caminho que arde num sol e num brilho e vai dar nos quatro cantos. Para pra trocar sua roupa de brim por traje de parintintim e segue, regando o mar com a água da canção, desafiando as distâncias maiores com passos ainda mais largos. E é assim que termina, do fim pro começo, deixando-nos com vontade de recomeçar a viagem, afinal, Luhli, enquanto encontrar quem a ouça, terá sempre a ofertar seu talento de artista. E uma música nova.

Agora, vocês me deem licença, que vou pôr seu disco pra tocar de novo.

***


NOVOS HORIZONTES
Dhenni Santos – Luhli Léo Nogueira
(interpretada por Luhli e Dhenni)

Tem dias em que a vida desatina
Ou vira só um imenso perde e ganha
Me sinto humana, frágil, pequenina
Qualquer calabouço me abocanha

Mas esses dias trazem arte, trazem manha
Me fazem perceber que a dor ensina
Eu hoje sou vizinha das montanhas
Me banho em nuvens de garoa fina

Passaram tantas águas sob a ponte

Fui desenhando novos horizontes

Todas vez que o sol disse que "não"

O tempo e a distância não são nada

Se posso colher, nessa madrugada,
Amigos meus, na beira da canção

***

PS. E por último, mas não menos importante, agora que já fiz o comercial, vocês já curtiram o som e coisa e tal, ficou faltando só passar lá no site Catarse e dar uma força pra que a ruiva realize seu show como merece. Visitem: 


http://www.catarse.me/pt/musicanova

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6 comentários:

  1. Lindo texto, como sempre.
    Abração, Dhenni

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  2. Maravilhoso texto. Fiz o apoio cultural do CD e claro que já entrei no catarse . E vamos divulgar para lista de amigos, seja por e-mail, facebook, ,principalmente vocês da área da arte para que este projeto seja uma realidade.
    Abraços,
    Márcia Szklarowsky

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    Respostas
    1. Olá, Márcia!

      Que bom que gostou. Seguimos divulgando.

      Abração,
      Léo.

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