Cultura é coisa séria, não é pilhéria nem deve ser vítima de censura. É pra invadir a rua, escapulir da raia, cair na gandaia, cortejar a lua. E a rima continua! Cultura é a dignidade de um povo, o futuro do novo, a memória do velho, o evangelho do ateu. Aí, almofadinha, cala a boca já morreu! A cultura é sua e é minha, não cabe só num ministério, pois transborda os hemisférios, não é pra ficar presa num curral. Sai pra lá com teu Interlagos! Nós queremos Carnaval, sarau, saravá, Saramago, aqui e acolá. E além. E também queremos mais grafite e menos gravata, menos bravata e mais quem grite, que cultura também é grito, é voz, somos todos nós cantando bonito no coro dos seres livres e pensantes, e amanhã mais que antes. Que a vida já anda um bocado difícil e pra segurar esse míssil toda festa é pouca, a burrice é mouca e não protesta. Por mais seresta e menos chefatura.
Que a cultura não é esmola, é pra encher a sacola, a cachola, corações e mentes, por cidadãos mais conscientes, mais confiantes – almas viajantes. Cultura é o baluarte de uma raça; então, arte pra massa! Que é pra ela fazer a obra e não ser massa de manobra. E o pobre, mais que ter cobre, tem que ter cultura, pra não morrer antes de ir pra sepultura, pra saber de verdade o que é vida bem-vivida – e de qualidade! Por mais orquestras e menos ordinários, que a cultura é ambidestra e não respeita o arbitrário. Muito pelo contrário! A gente não quer só hospital. Aliás, a cultura cura, é a nossa cara, é a vitória do bem contra o mal. E ela nunca para, vira bola de neve e na banguela, e a censurar ninguém se atreve, que a cultura é mais ela, é mais bela, é bala na agulha, é fagulha que incandesce, é a hora da messe, e é no meio da praça, é no anseio da prece, é a argamassa – e o peito agradece.
Quando nos tiram a cultura, nos fazem de novo escravos. Por isso eu escrevo, é meu desagravo, meu clarão primevo, que a palavra crava, corre mais que lava, e o vento leva, espalha; a palavra é navalha contra quem nos cala. É ela que nos tira da senzala e nos põe no meio da sala – de star. Quem escreve é livre, mesmo que seu lar seja uma cela. Já dizia o velho Mandela. É por isso que estou aqui, free, clamando (e cravando) em favor da cultura, que essa gente má e dura nos quer tirar. Azar! Vão ter que nos engolir – ou quiçá nos engaiolar, mas nem assim irão conseguir nos calar, que palavra é que nem semente, é própria da gente, prendem um aqui, salta outro acolá. Eu sei que não é fácil, mas isso é só o prefácio, e lá vem catatau, que a cultura mais cresce quanto mais leva pau. A porrada na cultura lhe dá musculatura, falou, oficial?
Quando nos tiram a cultura, nos fazem de novo escravos. Por isso eu escrevo, é meu desagravo, meu clarão primevo, que a palavra crava, corre mais que lava, e o vento leva, espalha; a palavra é navalha contra quem nos cala. É ela que nos tira da senzala e nos põe no meio da sala – de star. Quem escreve é livre, mesmo que seu lar seja uma cela. Já dizia o velho Mandela. É por isso que estou aqui, free, clamando (e cravando) em favor da cultura, que essa gente má e dura nos quer tirar. Azar! Vão ter que nos engolir – ou quiçá nos engaiolar, mas nem assim irão conseguir nos calar, que palavra é que nem semente, é própria da gente, prendem um aqui, salta outro acolá. Eu sei que não é fácil, mas isso é só o prefácio, e lá vem catatau, que a cultura mais cresce quanto mais leva pau. A porrada na cultura lhe dá musculatura, falou, oficial?
A cultura é uma espécie de praga, é um tipo de vírus que resiste a tiros e a adaga. Trafega numa boa, boca a boca, de pessoa a pessoa, penetra em cabeça oca e faz do idiota um poeta. Cultura não é uma meta, não é linha reta, é um fato, um desacato, a chave que abre as portas, escrita em linhas tortas, em paredes pichadas – e depois pintadas. Mas que nada, a gente escreve outra vez em um, dois, três! Lá está a palavra que não teme prefeito, e lá se vão o substantivo e o sujeito. Haja tinta! E a gente dribla, a gente finta, a gente tem uma fome que não se consome e não se controla de coisas que não se aprendem na escola. E cultura é isso, é a arte de rua, o compromisso do palhaço que atua no meio-fio da história, riso com dor e Doria, com sangue e bossa – com brasileiro não há quem possa! Vacilou, a gente encaçapa!
E não adianta tapa, pancada, violência. Tudo isso é nada. Que cultura é uma ciência afeita à sobrevivência. Paciência, malandro! E haja escafandro pra penetrar em tanta profundidade. A cultura de verdade é um abismo, é um sismo, um poço sem fundo onde cabe todo (o) mundo. Vem pra cá você também em vez de ficar de nhem-nhem-nhem e cheio de pose. Cultura não é close, é crase, é a base de uma sociedade plena que babaca nenhum envenena. A cultura ocupa – chupa! E a mente opaca peca quando a subestima, pois cultura é matéria-prima pra se fazer obra-prima. E não tá só na rima, rema contra a corrente desafiando o coro dos contentes com a miséria alheia. Cultura é maré cheia, dá na veia, aguenta vaia, vai a Roma e à periferia, enchendo o cidadão de poesia e de vocabulário pra nunca mais baixar a cabeça pra mandatário.
Pois cultura não vem do berço nem do terço, cultura é um direito e proibir não tá direito (viu, seu prefeito?). Da mesma forma que a TV Cultura não é do governador, é do eleitor, e a Roda Viva não é do Augusto Nunes – vocês não ficarão impunes! Ela é do Chico, mas também do Zé, do Raimundo... é de todo mundo e não de um desmando. E já era o papo do "você sabe com quem está falando?". Como e quando a cultura tem vez, todo mundo tem voz, não só aqueles três – e não estamos sós! Estamos sóis. E debaixo dos caracóis das cucas maravilhosas estamos todos verso e prosa. E eles sabem que a cultura é muito perigosa! Dê cultura à massa e vai ver o que é que passa. Neguinho não quer mais abrir a porta pra doutor nem ser dele o condutor. Neguinho quer estudar e abrir suas próprias portas. E na verdade é isso o que mais importa.
Porque onde tem cultura tem abertura; e não é questão de brancura; e não adianta censura; nem querer nova ditadura; respeite a pele escura; vamos passar a fatura dessa sua grossura; desenhar no muro uma hachura; acabar com sua impostura; não acredita, jura?; não crer em nós é loucura; a gente quer é mistura; vamos ferver a nervura; clarear a era obscura; dar pra gurizada partitura; ocupar sua quadratura; nem é mole, nem é rapadura; vai chacoalhar, se segura!; vai aumentar a temperatura; e larga a mão de usura; vamos fazer uma varredura; não vai ser xilogravura; nem mesmo zincogravura. Vai ser grave! E dessa vez não vai bater na trave. E nem vem com esse papo de carma, que a cultura é nossa arma, nosso cerne. A nós o que nos concerne, e vai ser nossa a escolha. E, se a justiça é caolha e não agarra os canalhas, a gente malha esses Judas. Vai ser um deus nos acuda. E não vai ter volta. Vai ser a grande revolta o dia em que o morro descer e não for de viatura, e sim pela cultura!
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PS1: Escolhi a palavra de novo, só por desacato à otoridade!
PS2: Trilha sonora: Itamar Assumpção, Cultura Lira Paulistana (Itamar Assumpção)
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Muito bom!
ResponderExcluir👍🏽💪🏽👊🏽❤
Gracias, Curcinha!
ExcluirO povo ocupado de como ganhar o pão do dia a dia passa fome de cultura. Artistas preocupados de como pagar as contas faz "cultura" que o Mercado dita e aprova. Ativistas culturais são perseguidos.O oba,oba de fazer "Arte pela Arte" sem posicionamento político é a moda. Tá Ossso Molhado Raspado Sem Tutano e com muito Sal Grosso. Menos confraria de artista e mais ativismos cultural.
ResponderExcluirBelas, palavras, AC! Só discordo de um ponto: confrarias de artistas não deixam de ser ativismo cultural também.
ExcluirAbraço,
Léo.
Graças a Deus, tenho acesso a teus textos. (ainda que fossem ateus)
ResponderExcluirE fora, fariseus!!! rs
ExcluirValeu, Moreirinha!