domingo, 4 de dezembro de 2011

Ninguém me Conhece: 57) Zebeto Corrêa, um banquete de alegrias

Não vou revelar a fonte, pois seria antiético, mas há algum tempo um jornalista de um dos maiores periódicos brasileiros revelou (com o gravador desligado) que o jornal no qual trabalha tem o compromisso maior com a novidade. Retruquei com as seguintes palavras: "[...] não concordo quando diz que um jornal como a X tem que buscar a novidade. Não, não e não! Um jornal como a X tem que buscar a informação... e a qualidade faz parte da informação, pois informar também é educar. E educar é formar -novos (e mais) e melhores leitores. Novidade quem tem que buscar são as revistas destinadas a leituras vespertinas em salas de espera. Diria mais: um jornal como a X, que tem poder de formar opinião, tinha que ser mais investigativo também no quesito musical. [...]".

1) Dançando com Leões (Zebeto Corrêa)

Como não houve aparte, o debate morreu aí; então, fiquei eu assuntando comigo mesmo que, se o jornal prefere a novidade, fico eu - neste espaço - a cargo da informação. E uma relevante informação é que, por incrível que pareça, ainda existe, sim, senhor, um sem-número de festivais por esse Brasil afora. Na realidade, o que chamamos festival é mais uma espécie de concurso, mas, como já há mais de quarenta anos costuma-se utilizar o termo, que assim seja.

Pois bem, finda a época de ouro dos festivais, vários municípios de todas as regiões brasileiras perceberam que este era um assunto rentável e, além disso, cultural. E todo prefeito sabe que fica bem na foto quem investe em cultura. Assim que se espalharam pelos interiores os festivais, responsáveis inclusive por muitas (re)eleições.

Descobri o filão no final da década de 1990. E, como todo jogador recém-con(per?)vertido (e os viciados em geral), com o que chamamos de sorte de principiante, comecei ganhando logo o 1° lugar no primeiro do qual participei (junto com Kana e Camalle, como já detalhei no texto sobre Juca Novaes). O fato é que, com o 1° lugar na prateleira, veio a necessidade quase fisiológica de participar de outros festivais. Mas a sorte grande, pra infelicidade nossa, visitou-nos pouquíssimas vezes a partir daí.


2) Soneto em Meia-Sola (Zebeto Corrêa - Caio Junqueira Maciel)

E por quê? Porque escolhíamos aleatoriamente as canções que mandaríamos, e pra se dar bem nos festivais há que se ter método. Em geral, uma canção, pra ganhar um festival, tem que ter uma melodia assoviável, um tema exaltador e um refrão forte, que termine num patamar orgástico. Há exceções, claro, mas na maioria dos festivais dá certo.

O lado triste da coisa é que, como o cenário musical brasileiro há anos não anda numa boa fase... Quero dizer, em termos de divulgação, não de criação... Pois bem, assim que os festivais viraram refúgio e ganha-pão de centenas de compositores órfãos que aprenderam a desenvolver com maestria a canção festivaleira.

Assim dizendo, parece uma crítica, mas, como em todo estilo, há os craques e os pernas de pau. E entre os craques se destaca o mineiro Zebeto Corrêa. Conheci-o não lembro bem se em Avaré-SP ou Cascavel-PR, ou alguma outra dessas tantas cidades onde os festivais continuam existindo. Mas me lembro de que, na época, ele formava dupla com Bartholomeu Mendonça. Depois, firmou carreira solo, mas continuou vencedor.

Se você cruzar com Zebeto na rua não vai achar que ele é cantor/compositor. Zebeto é desses a quem podemos chamar de gente como a gente. Não veste a roupa/máscara do artista no dia a dia. É mais o típico mineiro bom de bico e de prosa, pai de família, homem do povo. Mas, quando sobe no palco, algo nele se transforma. O diferencial não é nem sua bela e cristalina voz, é a emoção com que interpreta suas canções. Assistindo-lhe é fácil notar que ali está um homem expondo sua verdade. Ao contrário de muitos que usam a técnica "festivaleira", os gritos e os ô ô ô ôs pra levantar a galera no momento certo.

3) Banquete da Alegria (Zebeto Corrêa - Bartholomeu Mendonça)
Zebeto Corrêa e Bartholomeu Mendonça

Outra qualidade de Zebeto é que ele é amigável, dado, chegado numa prosa e aberto a parcerias. Digo isso porque em festival os gaviões preferem compor sozinhos, pra, na eventualidade da premiação, não ter com quem dividir o bolo. No primeiro festival de que participei pensei, ingenuamente, que ia fazer muitos parceiros. Ledo e ivo engano. No camarim, o que vi foram dezenas de artistas virados pra parede, ensaiando com seus violões, como pugilistas momentos antes de entrar no ringue. Quando muito conseguia um aceno de cabeça mais de alguém que estivesse me medindo que cumprimentando.

Tal não acontece com Zebeto. Admirado e respeitado por todos, não perde a espontaneidade em prol de uma persona artística fake. E tem mais: como a maioria dos festivais exige ineditismo nas canções enviadas, muitos compositores passam a vida toda mantendo inéditas (em disco) suas melhores canções, o que os acaba tornando pouco mais que amadores. Já Zebeto possui uma senhora discografia. E, antenado com as muitas possibilidades de patrocínio, sempre acaba obtendo resultados invejáveis em seus discos. Um deles considero mesmo uma obra-prima: Trilhas da Literatura Brasileira - Ouvir para Ler, no qual musicou poemas de Caio Junqueira Maciel, todos tratando de literatura. Como dizem, Zebeto é gente que faz.

Já deu pra perceber que tenho muitas diferenças em relação aos moldes com que são pensados os festivais. Sempre pensei numa coisa mais profissa, com menos participantes e mais música por classificados, com a divisão do valor total da premiação entre todos de forma igual, pra que não saísse ninguém chupando o dedo. Do jeito que está, na falta de maiores espaços, pra mim eles funcionam como um mal necessário. 

Mas, voltando a Zebeto, há ainda mais duas qualidades a acrescentar a seu respeito: 1) Ele apresenta em BH um programa de rádio voltado à música independente. Tá aí algo a que devemos tirar o chapéu. Principalmente porque ele apresenta esse programa de graça, por amor; 2) Embora bissextamente, ele tem o bom gosto de ser meu parceiro.

***


Visite o site de Zebeto aqui.

Zebeto também está no Caiubi.

***

Vejam o look do cara, de bermuda e sandálias. É ou não é gente como a gente?


11 comentários:

  1. Excelente e elucidador texto para quem não conhece o protagonista, e para os que já tiveram, como eu, o prazer de participar de festival (em Formiga MG, acho)em que ele também se apresentava.
    Ótimo compositor, "fera" merecidamente respeitada em todos os festivais.
    AC DE PAULA poeta e compositor

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  2. Bebeto é um admirador de Guimarães Rosa e eu também curto muito os dois.
    Belo texto Léo,
    Beijos
    LU

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  3. Léo, tenho a felicidade de conviver com o "Mestre" Zébeto desde criança. É um dos maiores compositores e cantores que conheço. Sou amigo e fã do figurão!

    Quanto ao texto, discordo de algumas partes, entre elas o trecho abaixo:

    "Outra qualidade de Zebeto é que ele é amigável, dado, chegado numa prosa e aberto a parcerias. Digo isso porque em festival os gaviões preferem compor sozinhos, pra, na eventualidade da premiação, não ter com quem dividir o bolo. No primeiro festival de que participei pensei, ingenuamente, que ia fazer muitos parceiros. Ledo e ivo engano. No camarim, o que vi foram dezenas de artistas virados pra parede, ensaiando com seus violões, como pugilistas momentos antes de entrar no ringue. Quando muito conseguia um aceno de cabeça mais de alguém que estivesse me medindo que cumprimentando."

    Pelo menos no último ano os festivais vem tomando uma cara um tanto quanto diferente. É claro que existe a competição e o momento de concentração de cada um antes de subir ao palco. Porém, a integração da nova geração com a antiga está sendo cada vez mais presente. Muita gente fazendo música junto. Só para se ter uma ideia, só eu tenho parceria com: Sandro Dornelles, Zeca Barreto, André Fernandes, Ito Moreno, Élio Camalle, Zé Alexandre, Paulo Monarco, Zébeto, Tavinho Limma, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Demétrius Lulo, etc ... todos estes participantes ativos dos festivais no último ano. Então, enxergo de outra forma, existe sim, muitas amizades que são criadas e firmadas através dos festivais.

    Enfim, é isso!

    Abraço

    Thiago Augusto

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  4. Caro AC de Paula:

    Grato pelas palavras!

    Querida Lucinda:

    É Zebeto (com Z). Hahaha!!!

    Estimado Thiago. Faz uns três anos pelo menos que não vou a festivais. Dei um tempo pra eles. Claro que de vez em quando a saudade bate, mas, como costumo ir com minha esposa (Kana), que não tem estado no pique, acabo não indo. Contudo, fico feliz em ler suas palavras e saber por meio delas que as coisas estão mudando. Sempre achei que as parcerias e amizades deviam ser a tônica dos festivais.

    Abraços do
    Léo.

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  5. Zebeto é Monstro.
    Me sinto honradíssimo de ser seu parceiro.
    Um grande artista, um grande batalhador.
    Abração.

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  6. Eu conheço o Zebeto há muitos anos e, a cada vez que o escuto cantar, me emociono muito.
    Suas canções são poemas cantados e sua voz é linda.
    Ele é uma mistura de talento nato e de trabalho sério e responsável.
    Bravo, Zebeto!
    Continue nos embalando com sua bela voz!

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  7. É mesmo...errei kkk
    Zebeto...obrigada. Mas continua valendo o que escrevi.
    Bjs

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  8. Parabéns, Beto pela linda matéria. Meu irmão de sangue, excelente filho e pai. Torço sempre pelo seu sucesso. Tb sou artista "free-lance" e sei dos sucessos e das mazelas a que estamos expostos. Muita saúde, meu irmão! Que vc continue a encantar a todos, com suas belas composições e com sua voz privilegiada. Abraço!!!!

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  9. Agradeço pelas mensagens, caríssimos. Zebeto é fera mesmo.

    Abração do
    Léo.

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  10. Zebeto é fera demais. Maior ganhador de festival da atualidade!

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    1. Valeu, pela visita, anônimo. Mas, da próxima vez, apresente-se.

      Abraços,
      Léo.

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