sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 62) Guardiola e o ufanismo no país do futebol

Resolvi deixar de ser besta e tratar aqui de um assunto que REALMENTE interessa ao país! Nada de música ou de poesia... Cinema? Necas! Política, então, nem se fala; agora que passou a eleição, o mensalão perdeu a graça e deixamos em paz o BatBarbosa e sua Liga da Justiça. Além disso, acabou também a Avenida Brasil, e aconteceu o que ninguém imaginava: o Tufão ficou com a Nina! Assim que sou obrigado a tratar do assunto que, passados os modismos, continua movendo a nação: o futebol, obviamente.

... não, não vou tratar da ida dos corintianos ao Japão (não sei é como conseguiram visto), apenas desejo, de todo o coração, que comam muito sushi e voltem com a mala cheia de lembrancinhas, muitas garrafas de saquê, e a frustração de sempre, pra não perderem o bordão "corintiano, maloqueiro e sofredor". Não, o papo é Copa do Mundo! De modos que tenho lido muito sobre Seleção Brasileira e essa polêmica da questão da contratação do novo técnico, as idas e vindas de Marin (não o Adolar, mas o José Maria), tergiversando sobre a data da "revelação" (da "anunciação"?) do novo técnico e etc.

E acabei me deparando com muitos artigos favoráveis à contratação de Guardiola (Josep, ou Pep, pros íntimos – que tem a minha idade!), o espanhol ex-treinador do Barcelona, atualmente o segundo time de cada brasileiro. Aliás, corrijo-me, ele não é espanhol, mas catalão. Ultimamente andou declarando mesmo ser favorável à independência da Catalunha. Mas, se a política daqui não nos importa, que dirá a deles... Voltemos ao futebol, pois, que é o que enche barriga!


Vejamos o que disseram. Antes de saber sobre Felipão, Juca Kfouri sonhou: "Não contratá-lo por nacionalismo soa retrógrado no mundo globalizado. Argumentar com o desconhecimento de Guardiola sobre nossos jogadores é esquecer que boa parte deles joga na Europa. Se José Maria Marin dispensou Mano por não ser sua escolha, Felipão também não será, pois, de Marco Polo Del Nero. E, se Marin quer Milton Cruz na CBF, eis a solução para auxiliar Guardiola. A chacoalhada que o catalão dará em nosso futebol valerá a pena". Não foi desta vez, Juca...

Lúcio Ribeiro foi enfático: "E, no mínimo, essa ventilação mais 'palpável' de Guardiola na seleção serviu para tirar um pouco alguns dos principais treinadores brasileiros de uma zona de conforto peculiar. Quase todos eles, em má fase, pelo que se viu em declarações recentes, foram obviamente contra, com argumentos do tipo 'Guardiola não conhece nossa cultura'. [...] como assim o estudioso Guardiola teria algum problema com a cultura futebolística brasileira? Ou estamos falando de Saci Pererê, Carmen Miranda ou MPB?"

Já depois da divulgação de Scolari por Marin, José Roberto Torero afirmou que "claro que Felipão é um bom técnico (e não vou usar o argumento do rebaixamento do Palmeiras para a Série B, isso foi apenas um tropeço), mas Guardiola é melhor. E não um pouco melhor, mas muito. É um Steve Jobs do futebol. [...] Os argumentos contra Guardiola são: ele é estrangeiro, ele nunca dirigiu uma seleção e ele não conhece os jogadores brasileiros. [...] Por fim, contra o argumento patriótico, uso a célebre frase do escritor Samuel Johnson: 'O nacionalismo é o último refúgio dos canalhas'". Touché!

E Sandro Macedo: "[...] Marin apresentou Scolari, apesar de toda a pressão dos bares de tapas por Guardiola. No anúncio oficial, em vez de ressaltar as qualidades do pentacampeão, desculpou-se por não ter chamado outros. Disse mais ou menos que: 'não quis atrapalhar o foco do Tite, o Luxemburgo renovou, o Muricy é o... Muricy é estrangeiro, não fala a minha língua'. Ou seja, seu discurso poderia ser resumido como: 'Passei no seguro-desemprego e o Scolari era o mais indicado'. Boa, Marin."


Em entrevista à Folha, Marin respondeu à pergunta de Fernando Rodrigues "O sr. chegou a cogitar convidar Pep Guardiola para ser o técnico da seleção?" com um "Eu respeito o Guardiola, mas ele é um técnico de equipe, não de seleção. O Brasil foi campeão mundial cinco vezes com técnicos brasileiros. Enquanto eu for presidente da CBF, o técnico será um brasileiro". Só esqueceu que Felipão também, antes de encarar a Seleção, só tinha no currículo o trabalho com clubes.


Mas foi Tostão, que já acertava tanto jogando, quem arrematou, de prima: "Meses atrás, em uma coluna fictícia, escrevi que Mano Menezes, no psicanalista, dizia-se preocupado com a nomeação de Felipão como assessor do Ministério do Esporte. Mano suspeitava que Felipão era o técnico preferido do governo. Um mês depois da Olimpíada, Felipão saiu do Palmeiras. Será que a ficção estava próxima da realidade? [...] Guardiola foi um sonho. É lamentável a prepotência e o corporativismo dos técnicos brasileiros, antigos e novos, em relação aos estrangeiros, mesmo sendo Guardiola. Querem manter os empregos, o prestígio, e ainda ficar próximos da CBF."

Agora, botando futebol, política, música, enfim, todas as relações que envolvam grana e prestígio no mesmo balaio, está mais do que claro que neste nosso pacífico paisinho agir com coragem, falar o que pensa e tomar decisões sem consultar terceiros são coisas que sempre agridem o coro dos contentes que tem mandado e desmandado desde sempre. E nenhum de nós quer se "queimar", não é mesmo? Boca fechada e tapinha nas costas sempre foram sinônimo de ascensão social. Pra finalizar, sobre a contratação da dupla Felipão/Parreira, acho que é mais jogo pra CBF que pra ambos, que arriscam mais e põem em jogo o prestígio que têm (mas nem só de conforto vive o homem). Paguemos pra ver. E que chegue logo 2014! Não, não estou falando de eleições, of course!

***

P.S.1: Desculpem ter citado apenas opiniões extraídas da Folha de S.Paulo. Bem que eu gostaria de passar a manhã inteira como Caetano, lendo vários jornais, mas minha alforria ainda demoooora....

P.S.2: O velho Xico Sá não podia ficar de fora deste rascunho futebolístico. Ele fechou a guarda e se eximiu de falar de Guardiola, mas mandou uma tocante carta a Mano, na qual finalizou: "Se tem uma coisa que prezo na vida, caro Mano, é a luta contra as humilhações babacas e desnecessárias. Os homens não vieram ao mundo para tal lusco-fusco. Essa turma da CBF vive disso. Que pegues a cuia do chimarrão mais reflexivo e os mande para aquele lugar."

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4 comentários:

  1. Léo...
    Há uma historinha em que o pavão (que é bonito, mas não sabe voar) tratou com o urubu (que é feio e voa como o capeta) de unirem suas qualidades, criando um terceiro ser, que voaria e seria lindo...
    Da união, nasceu o peru!
    Assim, pode ser a "nova" comissão técnica... Pode nascer um canarinho que "voa canarinho, voa"... Ou não!

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    1. Hahaha!

      Boa, Moreirinha! Pra ficarmos nas penosas, eu tenho é pena! rs

      Abraço,
      Léo.

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  2. Perdemos a chance de resgatar o futebol clássico brasileiro, que na verdade foi uma inspiração para o Guardiola montar esse Barcelona maravilhoso. Agora está nas mão do Felipão, especialmente bem credenciado ao rebaixar o Palmeiras para à série B. Apesar que o gagá do Marin no alto de sua insanidade e atraso trocará de técnico outras vezes até chegar a Copa.

    Carlos D'Orazio

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    1. Carlos, pena que a Seleção de 1982 não ganhou a Copa. Tivesse ganho o futebol hoje seria outro. Mas pulemos essa parte de Felipão, Palmeiras etc. rsrs

      Abraço,
      Léo.

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