segunda-feira, 15 de abril de 2013

Crônicas Desclassificadas: 83) Os evangélicos estão chegando (estão chegando os evangélicos)

Não sei de quem é a frase "não tem virgem na zona", mas ela se aplica perfeitamente à política brasileira. Claro que um ou outro político se salvam, como é o caso de Eduardo Suplicy, de quem sou admirador há anos, mas mesmo um honesto em meio aos corruptos acaba parando no purgatório nem que seja por omissão. O próprio Suplicy votou em Renan Calheiros pra presidente do Senado, obedecendo ao PT. Vejo (e leio) discursos inflamados de gente que tem plenas convicções, que afirma categoricamente que o partido X é composto única e exclusivamente por corruptos e que no partido Y todos são éticos. Eu queria ter essas certezas, mas, por mais que me esforce, não consigo acreditar sem um pé atrás. Tais figuras me lembram aqueles torcedores de futebol que torcem por seu time mesmo quando ele está numa má fase.

Sempre ouvi dizer que política e religião não se misturam, contudo, na edição paulistana das últimas eleições municipais o que se viu foi um show de oportunismo religioso. De um lado, padre Marcelo Rossi afagando a careca de José Serra em plena missa e chamando-o de amigo; do outro, pastores pregando voto em Celso Russomanno... Sem falar que o PT, que tem dado muita braçada inútil pra escapar da areia movediça onde se atirou (de livre e espontânea vontade), sem querer querendo, após uma coligação esdrúxula com a Igreja Universal, que desaguou num ministério dado a um pastor (Marcelo Crivella) sobrinho de Edir Macedo, acaba sendo (in)diretamente responsável pela assombrosa ascensão deste fenômeno (quem dera fosse Ronaldo) chamado Marco Feliciano!

Quando criança eu tinha medo de pastores. Achava-os meio parecidos, no vestuário e nos gestos, com mafiosos italianos dos filmes, falando aos berros com um olhar injetado de ira à procura de reconhecer algum desavisado na plateia (ou na calçada em frente), empunhando a Bíblia como se fosse um três-oitão... O tempo passou e acabei tendo que conviver com alguns colegas de trabalho que se julgavam superiores por simplesmente serem evangélicos. Alguns não moviam uma palha pra ajudar a quem quer que fosse, alegando que está na Bíblia que colhemos o que plantamos, assim, ninguém teria o direito de interferir na vontade de Deus. E eu tinha a maior pena de Deus, por ver seu nome envolvido em tantos egoísmo e ignorância. O deus daqueles camaradas é o do cada um por si e o próximo que se f...

E eis que de conchavos em conchavos chegamos ao sr. Feliciano, que bem poderia ser personagem de meu romance, o inédito Filho da Preta!, visto que renega as origens negras. E, com aquela pinta de metrossexual e aquele cabelo (maigódi, será que ele acha aquilo bunito?), não vou  me espantar se descobrirmos que se trata de um... como é que eles dizem mesmo? Ah, ex-gay. É, talvez toda essa raiva dentro daquele peito empolado Freud explique. Se não explicar, certamente o psicólogo Silas Malafaia o faça. Mas o kafkiano da coisa é botarem um lobo pra cuidar do galinheiro. O nome já diz: Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Como é que pode presidir tal comissão um camarada que prega que, segundo a Bíblia, algumas minorias são aberrações? Isso sim é uma aberração!

Diz a lenda que vivemos num país laico (embora esses tais políticos evangélicos já estejam mostrando as garrinhas pra mudar tal situação). Subentende-se, pois, que devamos respeitar todas as manifestações religiosas. Oras, se então um político eleito pelo povo chega aonde chegou o sr. Feliciano, ele é obrigado automaticamente a deixar de lado sua ideologia religiosa e trabalhar em prol de todos os cidadãos brasileiros. Se um prefeito, governador ou sei la o que é eleito, ele vai governar também em benefício dos que não votaram nele e não apenas no de seus eleitores. Assim, o sr. chapinha não tem o direito de sentar seu ilustríssimo traseiro na cadeira de presidente da tal comissão pensando apenas nos desinformados que lhe entregam cartões de crédito e cheques em branco... 

Senão, periga daqui a pouco esse senhor começar a mandar prender homossexuais, negros, judeus, torcedores da Portuguesa etc., daí terá que mudar o nome pra Inquisição de Direitos Humanos e Minorias, e tome tortura em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, visto que, segundo ele, a morte de gente como John Lennon e os garotos dos Mamonas Assassinas foi a mando de Deus. Sabe que até agora eu não acredito que essa criatura proferiu tal blasfêmia? Já imaginaram o perigo que correríamos se o gado que ele pastoreia mete nas ideias que é um terminator a serviço de Deus e inventa de sair por aí exterminando "culpados" em nome da Santíssima Trindade? Em pouco tempo os sobreviventes iriam se sentir num desses países governados por xiitas. Deus nos livre e guarde!

A real é que esse povo tem mais ódio que amor no coração. Além de tudo, tem a mania de se meter na vida alheia. Uma coisa é você não aprovar certos comportamentos sexuais ou mesmo gratuitamente não ir com as fuças de fulano que não tem o mesmo tom de sua pele, outra coisa completamente diferente é sair cagando regras a torto e a direito pra cima de gente que não estudou segundo sua cartilha. Quem quer respeito tem de aprender que a primeira regra pra isso é se dar o respeito. Se um camarada que foi posto num cargo não possui nem sequer a diplomacia de respeitar seus antecessores, a quem diz terem trabalhado a serviço de satanás, como pode reclamar que está sendo perseguido, se é ele o perseguidor? Hem?

Mas Feliciano é só uma criatura gerada no laboratório de algum dr. Frankenstein tupiniquim. Acabar com ele não resolve a situação. Sei que é mais difícil, mas deveria haver uma lei que proibisse que qualquer líder de instituição religiosa, fosse ela qual fosse, tivesse o direito a se candidatar a cargos públicos. E mais, deveriam criar uma comissão que investigasse essas igrejas que se aproveitam das brechas da lei pra formarem estelionatários que enchem as burras à custa de miseráveis desesperados. E, já que começamos, não só igrejas, mais essas empresas que multiplicam seu patrimônio ludibriando desempregados ou desesperados de qualquer espécie, seja financeira, sexual ou espiritual (cada um de nós já foi alguma vez na vida - ou conheceu alguém que foi -  vítima desses larápios que prometem mundos e nos arrancam os fundos). Afinal, os satanases à solta que capitalizam o nome de Deus são uma praga que periga abocanhar o mundo dos negócios no século ora vigente. Virgemaria!

***

Lembrei-me de uma canção que fiz há alguns anos em parceria com Sonekka que, infelizmente (tirante o nome de Bush, que era então o presidente estadunidense), ainda hoje é atual. Deixo-a como trilha sonora desses caóticos tempos de intolerância religiosa:

O SEGUNDO MANDAMENTO

Mais popular que palavrão
Tá mais barato que atum
Mais mastigado que feijão
Virou até lugar-comum

O nome Dele “embregueceu”
Tá mais cantado que o amor
Na boca de qualquer ateu
No bolso de qualquer pastor

Tudo é em nome de Deus!

É tanto aqui quanto acolá!

Bush berra: ele é dos meus!

O aiatolá chama de Alá
Deixem Deus em paz!
O nome dele não tem nada com isto!
Até satanás
Tá aplicando usando o nome de Cristo!

Tá levantando o ibope
Tá dando voto pra pilantra
Mais que John Lennon, Ele tá pop
E genocídio é guerra santa

Já tá assim de corretor
Se dando bem loteando o céu
Hoje ser Judas é melhor
Que esperar Papai Noel

***


8 comentários:

  1. A coisa ficou tao ruim que não tolero nem a bíblia mais, com seus apolipses e Levíticos

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    1. Hahaha! Sem radicalismos, Sonekka! Além do quê, se lida sem fanatismos, a Bíblia é um belo livro. O problema são os satanases usando-a em vão, como dissemos.

      Abraço,
      Léo.

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  2. Desejo que um dia todas as pessoas sejam capazes de pensar em respeitar. Depois que elas alcancem a liberdade.

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    1. Olá, Vir-a-ser. Eu também. Só que o respeito é uma via de mão dupla. Se um camarada, na contramão, te ataca...

      Abraço do
      Léo.

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  3. Eles são fanáticos
    E tendenciosos
    Moram bem longe dos homens
    Escolhem com volúpia
    A hora e o tempo
    Do seu tendencioso trabalho...

    São irados, hipócritas
    E perseverantes
    Executam
    Segundo as regras herméticas
    Desde a trituração, a delação
    A discriminação e a mistificação...

    Trazem consigo o inferno
    dogmas arcaicos
    malas de grana
    Todos vêm trazendo as trevas
    Evitam qualquer relação
    Com pessoas
    De temperamento sólido
    De temperamento sólido
    De temperamento sólido
    De temperamento sólido...

    Êh! Êh! Êh! Êh!
    Êh! Êh! Êh! Êh!...

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  4. CQD. Feliciano era boi de piranha. O que o PT pretendia com o truque:

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/camara-aprova-proposta-que-submete-decisoes-do-stf-ao-congresso

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    1. Alan, isso é triste, visto que aquela casa tem sido muito mal frquentada, mas em meu texto não me limitei ao Feliciano. Essa é outra questão perigosa a médio prazo. Quer saber: tenho saudade do voto vinculado, quando alhos não se misturavam com bugalhos...

      Abraço,
      Léo.

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