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O Natal no Japão não é como no Brasil; dia 25 nem mesmo é feriado. Sim, há enfeites pelas ruas — sobretudo em zonas comerciais — e alguns estabelecimentos têm lá suas árvores armadas, mas o máximo que acontece é alguma família mais ocidentalizada resolver jantar fora. Aquela famosa ceia na casa dos pais? Esqueça. Veja nosso caso: mudamos de apartamento "oficialmente" justo dia 24 — digo oficialmente pois, apesar de já estarmos praticamente o tempo todo nele, essa foi a primeira noite que passamos ali — aliás, aqui —, e, por falta de opção, nossa ceia foi comida da loja de conveniência e um saquê. Mas valeu. Fiquei um tanto bêbado e emotivo e, quando Kana dormiu, fiquei vendo no computador partes do especial de fim de ano de Roberto Carlos. Acho que rolou até uma lagriminha ao ver o Rei cantando com Djavan, que, apesar da tremedeira, continua cantando barbaridade.
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Na segunda entrada, apresentei-lhes o conto El buscador, do argentino Jorge Bucay, em tradução pro português deste escriba. Esse conto está publicado em meu blogue (leia aqui), e tenho um carinho muito grande por ele, pois, além de ter uma moral da história que me emocionou bastante, ainda me lembra a primeira aula de espanhol que tive na faculdade, ministrada por uma querida professora espanhola, Teodora, que depois se tornou minha amiga. Teodora resolveu trazer o bendito conto pra seus alunos justo nessa primeira aula; e deu tão certo que é uma das poucas primeiras aulas que tenho gravadas na memória — e no coração. Com menos impacto, imitei-a nessa noite, mas parece que os alunos gostaram.
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Quarta, 27, por volta das 22h, estávamos eu e Kana tranquilos em nosso minúsculo apê quando de repente tudo começou a tremer. Estamos muito próximos de um ponto por onde passa o Shinkansen, o famoso trem-bala, que quando passa faz tudo vibrar; então, em princípio achamos que tudo tremia por isso, mas logo notamos que o tremor era mais forte e prolongado. Arregalei os olhos e pensei: "Será agora minha hora?" Estava um tanto emotivo, pois acabava de reler Las intermitencias de la muerte (de Saramago, agora em espanhol), que trata justamente do tema morte. Kana levantou-se e, acostumada, abraçou-me como uma mãe faria com um filho assustado e esperou que eu me acalmasse. No fim das contas, foi só um terremotozinho de nada, mas de lá pra cá, não sei se por trauma, a todo instante penso que o apê está tremendo. Ou serei eu?
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ResponderExcluirValeu, Mi!
ExcluirAbraços,
Léo.