domingo, 10 de dezembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 9) Repeteco no Aparecida + um pulinho no Strings

Terça, 6/12, voltamos ao Barzinho Aparecida pra despedida de Renato Braz. Foi uma festa bem bonita, com casa cheia e muita música. Renato presenteou com parte de seu vasto repertório o público, que parecia nem respirar pra ouvi-lo. Houve muitas participações dos músicos presentes, e Kana também deu seu recado, emocionando a todos com uma inspirada interpretação de nossa Cacto, que, pelo visto, agradou também ao mano Braz. De quebra, ela aproveitou pra convidar os presentes a assistirem a uma aula que darei no mesmo local semana que vem. Lá também reencontramos uma velha amiga, Kei, que ainda me deu de presente uma carteira com a bandeira do Brasil adaptada feita a mão por ela mesma.


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Semana sem muitas novidades. Tenho segurado a mão pra não escrever qualquer coisa e cansar os leitores. O que há de novo é que estamos de mudança. Adoro meus sogros, chamo-os mesmo de pais, mas o apartamento deles é pequeno pra quatro pessoas, além do mais são idosos, têm seus hábitos, e nós, caídos de paraquedas, geramos certo caos nessa ordem há tanto estabelecida. Por sorte, achamos um apê pequeno, mas aconchegante, ideal pra duas pessoas que estão recomeçando suas vidas. Pra nós, que já moramos em tantas casas grandes e com tantos móveis, viver essa fase é como se voltássemos a ser um casal em começo de convívio. Mas e a vida não é um eterno recomeçar? Resumindo, pois, esta semana a gastamos em pequenas compras, o básico pr'uma casa nova.


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Hoje, 8/12, saí sozinho pela primeira vez. Estava me sentindo uma criança, saindo sempre segurando a mão da mamãe. Caminhar pelas ruas do bairro só acompanhado da sombra me fez bem. Fui ao Kumon, escola de japonês que estou frequentando. E, pra não dizer que só tenho falado bem do Japão, lá hoje tive uma grande experiência negativa. Idiotas e mimados existem no mundo todo, e aqui não é diferente. Embora o Japão esteja a anos-luz de nosso grande paiseco, está em transição, com a entrada em massa de estrangeiros, e os costumes têm mudado, não sei se pra melhor ou pior; misturar é sempre bom, à medida que nos deparamos mais cotidianamente com o diferente nos tornamos mais tolerantes, mas antes de melhorar costuma piorar.

E foi o que vi hoje. Quando cheguei ao Kumon, não havia nenhum aluno ainda — a escola abre às 14h. No entanto, a partir das 15h, começaram a chegar várias crianças. Todas educadas e silenciosas. Lá também, inclusive, todos deixam seus calçados fora, entram de meias e pegam pantufas pra usar dentro da sala. E eis que de repente a porta de vidro abre num sopapo e um garoto que devia ter entre 12 e 13 anos entra ruidosamente, gritando. Senta-se  uma mesa e joga blusa e mochila no chão, como se estivesse em seu quarto. Agitado, não para de falar um segundo. Está estudando inglês ali, repete as frases a toda altura, mesmo tom em que faz perguntas quase desrespeitosamente à professora, que, submissa, responde mais como uma serviçal que como uma mestra. Quando o malparido começou a ver um vídeo do youtube no celular, perdi a concentração, pedi licença e me retirei o mais rápido possível, antes de dizer uns desaforos pro moleque. Porque daí, estrangeiro que sou, o errado ia ser eu...

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Domingo, 10/12, em parte por negócios em parte por prazer fomos ao bar Strings, pra ver o show de um duo formado por uma violonista (Ayumi Igarashi) e um pianista (Nagami Yukitaka). A casa era pequena, como tantas por aqui, e igualmente ficava num subsolo. O Show ia começar às 13h, então, como chegamos por volta das 12h, pedimos um delicioso vinho italiano e uma pizza saborosa — nossa felicidade na foto ao lado não me deixa mentir. O show começou quase pontualmente (eram 13h10) e foi praticamente inteiro dedicado à música brasileira. Digo praticamente porque entre uma música e outra a dupla mostrou criações próprias. Espantou-me a variedade do repertório; ao contrário da maioria dos shows de música brasileira que ocorrem em solo japa, que só contam com bossa nova, neste também havia xote e até um mambo cubano.


Em determinado momento, fosse pelo vinho, fosse por certa nostalgia... ou fosse mesmo pela junção das duas coisas, o certo é que quando eles começaram a tocar lindamente Luísa, de Tom Jobim, não pude evitar que me escapassem dos olhos umas poucas lágrimas sentidas. Houve um pequeno intervalo, e durante o segundo tempo a qualidade se manteve. Até a garçonete da casa foi convidada a certa altura pra subir ao palco e acompanhar uma música tocando percussão com uma caixa de lápis. Quando o espetáculo acabou, ninguém pediu bis, no entanto. Isso não é raro por aqui, já percebi em outros shows, em viagens anteriores. O que ocorre é que, quando o público é formado em sua maioria por pessoas que não bebem, há certa timidez no ar; não é que o show tenha sido ruim, é que ninguém tem coragem de puxar as palmas. No caso deste, como eu adorara (ao contrário do de jazz, este me tocou também o coração), bati em uníssono com Kana palmas calorosas e fomos prontamente acompanhados por toda a plateia.

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Nesta segunda, 11/12 (aniversário de Noel Rosa), terei minha primeira prova de fogo: uma espécie de aula-palestra. Volto em breve pra contar como foi. Fui!

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Mais um PS fotográfico — uns cliques chistosos tirados por um etílico fotografeiro na supracitada noite no Aparecida:


com a amiga Kei
com a nova amiga Higashi


na parede do Aparecida,
Swami Jr. com Willie

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