quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 31) I Tetrocini

Dedico este texto a Fernando CavallieriAna Vega, Marcela Viciano, Francis Ford Coppola e a todos os apaixonados.

***

Eu não sou um crítico. Graças a Deus! O que faria um crítico numa hora dessas? Teceria comentários sobre luz e sombra, sobre a fotografia em preto e branco, sobre a maravilhosa trilha sonora? ¿Yo qué sé? No entanto eu, euzinho da silva, estou aqui, embasbacado, querendo achar palavras pro que delas não carece... Eu, que me suponho artista porque rabisco tortas linhas saídas de uma mente mais torta ainda. Querem saber? Há exatos (não tão exatos assim) trinta segundos, acabo de assistir ao filme Tetro, de Francis Ford Coppola. E me vi na obrigação de escrever algo. Não sei o quê. Nem sei onde isso vai dar. Mas... Simplesmente... ¡Necesito!

O que é a vida? Como diria o cearense Falcão, "what porra is this?". I don't know. Eu não sei, porra! Às vezes parece que é só uma merda, às vezes parece que é maravilhosa, ao que, caso resumamos, poderíamos chamar de uma maravilhosa merda... Ou sei lá o quê... A vida não vale um cibazol (vão lá procurar o que significa), pessoas morrem sem se dar conta, pessoas vivem sem se dar conta! Mas... Há sempre um "mas". Mas, de vez em quando, vem alguém e fode nossa cuca, só de sacanagem, só pra nos avisar: "Ei, seu puto! Você está vivo!"

E é exatamente isso que sir Francis Ford Coppola acaba de fazer comigo. Não, não e não! Não vou saber dizer como isso aconteceu. Não vou saber explicar por que isso aconteceu comigo... Logo comigo! E logo agora! O que posso dizer é que chorei como um bezerro desmamado (bezerro desmamado chora?) e me deslumbrei a cada cena desse puto filme! E me senti vivo! E me senti participante, não do filme, mas da arte em si! Da arte de fazedor de "artices". Me senti orgulhoso como se este senhor fosse meu pai. E me senti mais orgulhoso ainda por ele não o ser!

Há três semanas mais ou menos encontrei meu amigo Fernando Cavallieri, que me convidou a fazer com ele um passeio pela avenida Paulista. Ele tinha algo em mente. Sim, ele ia à locadora 2001 alugar um DVD. Sim, caros! Não façam essa cara de babacas... Ainda há gente que aluga filmes. Aliás, ainda há gente que faz muito mais coisas do que sonha sua vã philosophia! Mas, voltando, lá fui eu, com mr. Cavallieri, à supracitada 2001, onde ele, sem pudor nenhum, alugou o malfadado (benfazejo) Tetro.

Sim, sim, eu bem que o preveni. Disse-lhe: "não faça isso, meu caro Cava! Coppola faleceu há alguns anos, não sei se você sabia...". Mas ele estava irredutível. Não sairia dali sem levar o tal to tao, digo, do Tetro. Que podia eu fazer? Sim, o que pude. Indiquei-lhe outros dois filmes, igualmente arrebatadores, Ikiru, excusez-moi, Viver, de Akira Kurosawa, e Sexo por Compaixão, de Laura Mañá. Um ou dois dias depois, ele me ligou, vitorioso, dizendo: "Assisti ao Tetro. É do #@$GY@###HGRR". Alguns dias depois, teve a cara mais deslavadamente de pau de me dar de presente uma cópia do tal do Tetro.

É que ele não sabia ainda da "Sopa". "Mas enquanto estou viva e cheia de graça"... Não, não, o que quero dizer é que, enquanto eles não nos tiram o privilégio de nos piratearmos e, pirateando-nos, presentearmo-nos com tudo o que nos agrada, continuamos livres pra fazê-lo. E foi o que Cava fez. O que ele não sabe é que agiu, inocentemente, como o mais cruel dos traficantes, pois sua droga agiu em meu cérebro da maneira mais indelével possível. Sim, porque duvide-o-dó de que ele tenha gostado desse filme mais do que eu! Sou capaz de apostar meu... meu... o dedo mindinho do vizinho! Pronto, falei!

Voltando ao Tetro: ontem encontrei minha lovely, aliás, preciosa, amiga, Ana Vega, uma chilena das mais inteligentes, que tem até um delicioso e necessário blog (que aproveito pra divulgar: Semanário Hispânico)... Tá, encontrei também outros caríssimos amigos de "facul", mas o que queria dizer é que eu e Ana travamos um... duelo? Não, jamais! Travamos uma boa prosa sobre quem seria melhor, o catalão Joan Manuel Serrat ou o andaluz Joaquín Sabina. Ela tentava me provar por A + B que, aunque le gustava Sabina, Serrat era melhor. Ao que lhe contesté que, aunque Serrat es (sea) mejor, a mí me gusta más Sabina. E por quê? Simplesmente porque Sabina apareceu em minha vida na hora certa.

Tá, tá, por mais que pareça que o parágrafo acima não tem nada a ver com Tetro, sim, tem. Explico: Assisti a Tetro na hora certa de minha vida. Mais que isso, nos minutos certos. Ontem à noite, depois de ter tomado umas e outras com os ex-companheiros de Unibero, estendi a noitada com outros amigos japoneses e quase fui vítima de uma overdose alcoólica e emocional. Daí que acabei acordando hoje, em pleno feriado paulistano, às 7 e tantas da matina! Vi uns e-mails (ninguém me escreveu - ninguém me conhece...), comi uma feijoada gelada (sobras) e fiquei bundando pela casa, tratando de não fazer barulho pra não acordar Kana...

Foi quando me lembrei do DVD que Cava tão carido(carinho)samente me copiara. E fui a ele. Então, eu disse "nos minutos certos". Sim, era pra ser nesse exato espaço de tempo. Tivesse sido pouco antes ou pouco depois, a mágica não se teria dado (vai explicar isso prum crítico!). Mas vê-lo ali, munido de fone de ouvido e tudo (pra não acordar a patroa), em meu velho e esclerosado iMac, durante aquele par de horas, foi inenarrável! Ainda mais pra mim, que jurava que amava o "falecido" Coppola!

Logo de cara tive a grata surpresa de saber que a ação do filme se passava em Buenos Aires, cidade pela qual nutro uma paixão quase doentia. Assim que, pela lente de Coppola, entendi tudo (e um pouco mais) do que ele queria dizer, sem o dizer. Por quê? Por que só um estrangeiro é capaz de amar uma cidade com um amor libertino e ao mesmo tempo respeitoso. Por mais que um carioca, por exemplo, ame o Rio, jamais saberá o que é amá-lo com os olhos (o coração e as vísceras) de um forasteiro. Porque o Rio faz parte dele, carioca. O Pão de Açúcar, o Redentor, a Lagoa, tudo É ele. Mas ao estrangeiro... O que sobra? O olhar de forasteiro. O amor pervertido de quem quer roubar ao cidadão local sua musa.

E foi com esses olhos que vi Tetro. E ouso dizer que foram olhos irmãos-gêmeos dos de Coppola. Assim, se o filme fosse una porquería, AINDA ASSIM, eu o teria amado. Mas, repito, graças a Deus, passou longe de sê-lo. E, enquanto eu lhe assistia, era invadido por uma série de cenas de filmes antigos de Coppola, e o xingava (isso é um elogio), e o bendizia, e as lágrimas voltavam a correr por meus olhos, porque eu estava tendo "de grátis", uma aula de cinema. Não-não-não-não! Uma aula de arte... MAIS! Uma aula de amor... Um orgasmo, porra!

E, enquanto chorava, ria. Por me saber vivo. E tive pena dos que morreram, pois eles não viram essa pérola. E, mais do que isso, porque eles não a viram com meus olhos, naqueles exatos minutos em que eu o vi. Minutos aqueles em que me senti incluído, não porque achasse que Coppola fosse meu pai (Cava entenderá). Mas porque me enganei e acreditei que talvez um dia, por meio de uma dessas tantas bobagens que escrevo, eu chegue a emocionar alguém como ele me emocionou.

E isso, emocionar e ser emocionado (que é o mesmo que amar e ser amado), vale uma vida!

E tenho dito!


***

18 comentários:

  1. Adorei! e você tem razão meu querido: tudo depende do momento que estamos vivendo. Parabéns pelo seu texto!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Por supuesto, Ana. Así que ya me estoy preparando para oír las canciones de Serrat en tu casa.

      Besos,
      Léo.

      Excluir
  2. Léo, queridão!(aprendi)
    Vou correndo a locadora mais próxima ver se encontro TETRO (se não encontrar vou te enviar meu endereço para um piratex).Por hora só posso te dizer que seu texto está simplesmente sensacional,uma delicia de ler.
    Beijos
    Lucinda Prado

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hahaha! Valeu, "queridona"! Foi uma delícia também de escrever. Assista! Eu corto o dedo mindinho do Cava se você não gostar. Hahaha!!!

      Beijão do
      Léo.

      Excluir
  3. maravilhoso!! quiero verla ya!!! gracias por tan lindo texto, es inspirador! y me encantó eso de la "mirada de extranjero" relacionada con al amor , a veces inexplicable . que uno profesa por ciudades, lugares...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marce, un brasileño siempre quiere robar a una argentina a un argentino. Jajaja!

      Besos,
      Léo.

      Excluir
  4. Humm... Você esqueceu de comentar sobre a beleza da atriz...
    Maribel Verdú...
    De resto... NUM TI FALEI???

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cava, tudo ali é tão bonito, que a beleza da argentina é um elemento a mais.

      Beijos agradecidos,
      Léo.

      Excluir
  5. Ah! eu lembro de ter te ligado quase aos prantos pra dizer que você tinha queimado a língua ao dizer que Coppola estava morto...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Morder a língua é um de meus passatempos preferidos. Deus conserve! Hehe!

      Excluir
  6. Ai, que vontade de assistir! Assim que der, dou um pulo na minha locadora (sim, também sou um dos poucos bichos-de-locadora sobreviventes nesses dias loucos!) e alugo!
    Gratíssima pela dica, Léo!
    Um beijão da parceira (com orgulho),
    Danny.

    ResponderExcluir
  7. Ahhhhh, que vontade de assistir!!! Assim que puder, vou à minha locadora (sim, também sou desses poucos bichos-de-locadora sobreviventes nesses dias loucos!) pra pegá-lo!
    Obrigada pela dica.
    Um beijão da parceria e seguidora,
    Danny.

    ResponderExcluir
  8. Respostas
    1. Valeu, Danny! Parceira! Hahaha!!! Ó, não sei qual comentário você vai querer deixar, então mantive todos.

      Beijão do
      Léo.

      Excluir
    2. Deixa assim mesmo! Hahahaha!
      Achei que o primeiro comentário não tivesse chegado, por isso digitei tudo de novo. Claro que não ficou igualzinho... :)
      Beijos!

      Excluir
    3. "Teje" deixado! Hahaha! Y que venga Denílson!

      Besos,
      Léo.

      Excluir
  9. Tá na sua caixa de e-mails! Ouve lá, triceiro! Espero que goste tanto quanto nós! :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dannoca:

      Não sei a medida do "tanto quanto nós", mas curti pacas! Tô aqui, contente por mais uma.

      Beijão do
      Léo.

      Excluir