Não sei exatamente o que foi que me levou a visitar sua página no myspace. Talvez tenha sido seu sugestivo nome, ou simplesmente a sorte. Só sei que, quando me deparei com uma gravação "tangueada" de As Rosas Não Falam, fui arrebatado. Além do ritmo, seu sotaque denunciava: era a moça argentina! Havia outras gravações de sucessos brasucas ali, dava pra notar que se tratava de uma apaixonada por música brasileira (Tempos depois, quando tive o privilégio de ganhar seu Mar de adentro, vi que se tratava de um CD da mais alta qualidade, com arranjos primorosos e fino repertório brasileiro. Contudo, a canção de que mais gostei era uma de autoria da própria, em espanhol, Creció el anhelo). Como eu, por coincidência, havia feito uma versão em espanhol justamente dessa música de Cartola, tomei a liberdade de enviar-lhe um convite e, caso ela aceitasse, mostrar-lhe a versão. Ah, o nome da moça: Marcela Viciano.
1) Creció el Anhelo (Marcela Viciano)
O convite foi aceito, o que não vingou foi a versão, mas em pouco tempo já éramos velhos amigos. Seu interesse pelas coisas do Brasil veio ao encontro de meus propósitos hispânicos. Assim, enviei-lhe uma letra em espanhol que ela, após um ou outro retoque, acabou musicando. Animado, enviei-lhe a segunda, a terceira, a quarta... Terminei por me sair como um atiçador de sua veia autoral; ela, que compunha pouco, passou a exercer mais o ofício. E rolou uma clara empatia musical entre nós dois. Quando isso ocorre, a parceria fica fácil.
E eis que ela tomou coragem e veio ao Brasil. Uns dias em Salvador, outros em Sampa. Aproveitei e levei-a ao Caiubi, onde também lhe marquei um show. Para unir o útil ao agradável, intermediei uma participação de Celso Viáfora em seu show e vi um belo dueto bilíngue entre eles, Celso cantando em português a sua Não Vou Sair e Marcela, a versão (minha) desta em espanhol. E Marcela gostou tanto dessa ideia do Caiubi, que a comprou. De volta a Buenos Aires fez a devida propaganda a outros compositores amigos seus e nasceu assim o Caiubi argentino.
Com este texto venho me redimir com a Argentina. Falo sempre do Uruguai, é Uruguai pra lá, Uruguai pra cá, e me esqueço de que esse amor por los hermanos nasceu de uma viagem que fiz com Kana justamente pra Buenos Aires. Foi uma viagem das mais agradáveis. Fomos de ônibus, mas com todo o conforto, com direito a filmes argentinos, uísque, aero... aliás, "rodomoço", pompa e circunstância. Lá chegamos, ficamos uma semana vadeando, comendo muita carne vermelha (e põe vermelha nisso!) e bebendo uma variedade imensa de vinhos. Aliás, os vinhos eram tão bons que quando resolvi provar sua cerveja, a Quilmes, não gostei. Mas o melhor da viagem foi perder o preconceito contra eles. Há um ditado que diz que nós amamos odiar os argentinos ao passo que eles odeiam nos amar. Percebi que nossa relação, atrapalhada pela rivalidade futebolística, é bem menos proveitosa do que deveria. Fui tratado muito bem por 99% das pessoas com quem tive contato. Talvez o que deponha contra eles seja até uma virtude: eles não têm o famigerado "jeitinho brasileiro". Com eles, ou é ou não é. Há uma certa altivez europeia em seu comportamento, mas sem ela não haveria o tango. Outra coisa: fomos não muito tempo depois do "panelaço", mas vi muita gente nas ruas consumindo cultura, indo ao teatro, comprando livros, enfim, a crise deles era (é) financeira, a nossa... é cultural!
Mas estamos aqui pra falar de Marcela. E Marcela é um belo exemplar de argentinidade. No mais, ela é do meu time, é gente que agrega, gente que soma, gente que não fica aprisionada dentro das cercas imaginárias das fronteiras. Se houvesse mais Marcelas no mundo, haveria certamente menos segregação, preconceito, bairrismo. Ela também é responsável por um evento anual dedicado à bossa nova. Vejam vocês! Enquanto isso, a juventude brasileira ouve pseudopagode.
Esqueci de citar uma coisa importante: Marcela tem um delicioso e original timbre que, não sei por que, me remete à França. Acho que as chansons lhe cairiam bem. Mas aí já é pedir muito. Deixemos a moça com o espanhol e o português, o que não é pouco. Certa vez meu parceiro Tato Fischer disse que eu sou chegado nas estrangeiras, obviamente fazendo uma espirituosa brincadeira com minha proximidade com parceiras estrangeiras, como Kana e Marcela. Por falar nisso, veio-me agora à cabeça que ver as duas dividindo um palco , cantando música brasileira, seria algo muito interessante e um exemplo perfeito de nossa música mundo afora. Kana e Marcela têm, inclusive, histórias parecidas, o que falta é a segunda tomar coragem e mudar-se logo de uma vez pra cá.
3) O Samba e o Tango (Amado Régis)
Por último, uma pequena história: Certa vez, ouvindo uma linda canção do uruguaio Jorge Drexler, Río Abajo, veio-me a ideia de compor um contraponto ao tema. Assim, escrevi uma letra chamada Río Arriba e enviei-a a meu parceiro uruguaio Dany López. Ele, embora tenha gostado dela, preferiu não a musicar, pra não bater de frente com o conterrâneo. Além do mais, como é também músico do irmão deste, Daniel Drexler, não ia ficar bem. A letra ficou guardada até que conheci Marcela, pra quem a mandei e quem fez uma de minhas parcerias de que mais gosto. Acho mesmo que a letra resume a mim, a Marcela e a toda essa geração de artistas que, remando contra a corrente, teima em fazer música com o coração: "Yo sueño despierto mientras/ La gente sigue evasiva/ El mar que mi pecho encuentra/ Va río arriba./ Sin viento a favor, sin vela/ Mi materia prima es viva/ El agua es mi escuela/ Y yo voy río arriba./ Es mi corazón quien rema/ Su lema es contra corrientes/ No voy nunca a la deriva/ La ley de la gravedad miente/ Los peces van río arriba./ De noche, no me confundo/ Un imán me reaviva/ El mar que envuelve mi mundo/ Es río arriba./ Llegar no es lo importante/ Y ni volver me cautiva/ La ida es mi acompañante/ Voy río arriba./ Es mi corazón quien rema/ Su lema es contra corrientes/ No voy nunca a la deriva/ La ley de la gravedad miente/ Los peces van río arriba."
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Muchas gracias!! ahora si te redimiste con los argentinos!!jajajja!!!
ResponderExcluirNunca voy a olvidar la presentación antes de mi show en Sampa, "les presento a una amiga de infancia que acabo de conocer"...
y si...esos misterios que la distancia no logra desalentar!!
Me gustó la idea de cantar con Kana! 2 extranjeras fanáticas de Brasil!!jaja!
nos vemos pronto!
vamos continuar parceirando??
Sí sí sí!!! "Parceiremos". Te espero por acá. Luego te escribo para pedirte mis encomiendas. Jeje!
ResponderExcluirBesos.
Léo.
y proximamente.....disco de parcerías!!!
ResponderExcluirY lo estamos esperando!
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