quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Crônicas Classificadas: 24) Verano del 42

Este julho que acaba de terminar me deu a alegria de ver meu blogue batendo o recorde de visitas num mês: 3.328. Sei, não é nada de extraordinário, outros conseguem isso num só dia. Porém, dada a peculiaridade dos assuntos nele tratados, acho que é algo, sim, a se comemorar. Afinal, não estou tratando de filmes conhecidos, nem de artistas consagrados; muito pelo contrário, os temas que abordo interessam a um número bem restrito de leitores; contudo, estes vêm aumentando paulatinamente, inclusive fora do Brasil, sinal de que o trabalho tem agradado.

Mas, entre ficar me paparicando ou trazer algum assunto relevante, preferi a segunda opção. Acontece que estou vivendo uma fase de transição, mudando de emprego (provavelmente daqui pra frente terei menos tempo pra me dedicar a este espacinho...), repensando a vida e o futuro, e, como ainda persigo o homem que quero ser, calhou que, lendo o livro Días y Noches de Amor y de Guerra, do uruguaio Eduardo Galeano, deparei-me com um capítulo dentro do livro que me deixou deveras emocionado (aliás, a emoção me acometeu em muitos deles, apenas escolhi este por ser emblemático nos dias que se seguem. Ou se escapam...). Trata-se de um relato sobre certa partida de futebol num lugar e numa época então bastante caóticos. E fiquei pensando em qual seria minha opção ante a, digamos, "proposta" feita àqueles jogadores. E qual seria a sua, leitor?


Verão de 42*
Por Eduardo Galeano

Há alguns anos, em Kiev, contaram-me por que os jogadores do Dínamo mereceram uma estátua.

Contaram-me uma história dos anos da guerra. 

Ucrânia ocupada pelos nazistas. Os alemães organizaram uma partida de futebol. A seleção nacional de suas forças armadas contra o Dínamo de Kiev, formado por operários da fábrica de tecidos: os super-homens contra os mortos de fome.

O estádio está lotado. As arquibancadas se encolhem, silenciosas, quando o exército vencedor marca o primeiro gol da tarde; animam-se quando o Dínamo empata; explodem quando o primeiro tempo termina com os alemães perdendo por 2 a 1. 

O comandante das tropas de ocupação envia seu assistente aos vestiários. Os jogadores do Dínamo escutam a advertência:

"Nosso time nunca foi vencido em territórios ocupados."

E a ameaça:

"Se ganharem, serão fuzilados."

Os jogadores voltam a campo. 

Em poucos minutos sai o terceiro gol do Dínamo. O público acompanha o jogo de pé e num único longo grito. Quarto gol: o estádio vem abaixo. 

Subitamente, antes da hora, o juiz dá por terminada a partida.

Os jogadores, uniformizados, foram fuzilados no alto de um barranco.

***

Verano del 42
Por Eduardo Galeano

Hace años, en Kiev, me contaron por qué los jugadores del Dínamo habían merecido una estatua. 

Me contaron una historia de los años de la guerra. 

Ucrania ocupada por los nazis. Los alemanes organizan un partido de fútbol. La selección nacional de sus fuerzas armadas contra el Dínamo de Kiev, formado por obreros de la fábrica de paños: los super-hombres contra los muertos de hambre. 

El estadio está repleto. Las tribunas se encogen, silenciosas, cuando el ejército vencedor mete el primer gol de la tarde; se encienden cuando el Dínamo empata; estallan cuando el primer tiempo termina con los alemanes perdiendo 2 a 1. 

El comandante de las tropas de ocupación envía a su asistente a los vestuarios. Los jugadores del Dínamo escuchan la advertencia: 

"Nuestro equipo nunca fue vencido en territorios ocupados."

Y la amenaza:

"Si ganan, los fusilamos."

Los jugadores vuelven al campo. 

A los pocos minutos, tercer gol del Dínamo. El público sigue el juego de pie y en un solo largo grito. Cuarto gol: el estadio se viene abajo. 

Súbitamente, antes de la hora, el juez da por terminado el partido. 

Los fusilaron con los equipos puestos, en lo alto de un barranco. 

***


*Extraído do livro Días y Noches de Amor y de Guerra, de 1978. Tradução minha.

8 comentários:

  1. Os textos do Galeano são fantásticos. Obrigada por trazer esse pra gente! Beijo!
    Nana

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  2. Hola
    Lendo o texto, lembrei a história dos jogadores de futebol do Coréia do Norte, quem perderam contra o Brasil, o Portugal e a Costa de Marfim na Copa do Mondo na África do Sul 2010.

    Es terrible e increíble cómo hay "personas" que ven en los deportes y deportistas, no lo que en sí representan, sino otros intereses.

    Não conhecia esta história que conta Galeano. Quedo sin palabras por la indignación de que hoy en día sucedan cosas parecidas.

    Gracias por el texto.

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    1. Hola, Javier!

      Sí, hoy vivimos en un tiempo muy distinto, en el cual las personas, si posible, se venden hasta la madre... Muy triste...

      Saludos,
      Léo.

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  3. falando de futebol e guerra, o Edu q curte os dois assuntos deve conhecer... tem um fato histórico interessante: A Guerra do Futebol, um conflito armado entre Honduras e El Salvador no final dos anos 60... é claro q tem mais coisas (política e econômica) q determinaram esse conflito... mas quando vc lê no rodapé da bagaça fica sabendo q tudo começou (ou culminou) numa partida de futebol entre os dois países pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970... abraços... ah... voltando pra história do Galenao, tem um filme americano dirigido pelo John Huston, com Michael Caine, Silvester Stallone, Pelé e Max von Sidow q lembra essa história... o filme chama Fuga Para A Vitória... que por sua vez foi baseado em uma produção húngara de 1961 chamada Dois Tempos no Inferno, dirigida por Zoltán Fábri, que por sua vez foi baseada na história real dos jogadores do Dínamo de Kiev...

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    1. Senhoras e senhores, Vlado Lima também é cultura! Hehe!

      Valeu pelas informações, Vladão!

      Aproveito pra replicar aqui comentário do colega Eduardo Silveira Martins no facebook, sobre o mesmo tema:

      "Léo Nogueira, essa história é bem mais complexa e está contada em detalhes no excelente livro 'Futebol & Guerra' do jornalista inglês Andy Dougan. Na verdade não foi um jogo só. Foi um torneio que aconteceu na Ucrânia ocupada. Os nazistas ficaram sabendo que muitos dos ex-jogadores do Dínamo de Kiev estavam na capital da Ucrânia e organizaram o torneio entre o Dínamo e times das forças armadas da Alemanha e da Hungria (também nazista, que mandou tropas na invasão da União Soviética). O Dínamo foi ganhando todos os jogos, contra os times do exército e da força aérea dos dois países, os ucranianos começaram a fazer do Dínamo um símbolo de resistência ao invasor, a final foi contra um time da SS, o Dínamo foi avisado que não podia ganhar o jogo, ganharam mas não foram fuzilado imediatamente após o jogo atrás do campo, na verdade foram mandados para um campo de concentração e fuzilados bem depois em represália a um ataque guerrilheiro à Kiev, mas claro, foram escolhidos entre os prisionerios para serem fuzilados por maldade e vigança mesmo. Há anos eu sonho com um filme sobre esse episódio."

      Taí o comentário.

      Abraços,
      Léo.

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