domingo, 9 de setembro de 2012

Crônicas Desclassificadas: 50) De Serras, Russos, Rossis & cia. ltda.

Reparem nos olhares
de mãe e filho ao fundo...
No conturbado momento em que vivemos, a política anda bastante desacreditada (diria mesmo desclassificada). Nesse carnaval de bizarrices, o mensalão é o carro alegórico que vai na frente, tendo como puxador do enredo o deputado  João Paulo (Cunha), cantando (silenciosos) versos bem distintos dos de outros carnavais. E o PT, que em carnav... digo, em eleições anteriores era o próprio estandarte da ética, vai ridiculamente percebendo que, sim, o poder corrompe. Mesmo que seja em nome do famoso jargão "os fins justificam os meios". Mas, ah, como é doce o poder!

Só que não venham se animando os torcedores, digo, eleitores, digo, torcedores do PSDB... Sim, um aparte! Tenho levado paulada de todo lado ultimamente, porque, embora sempre tenha me considerado um eleitor (e um cidadão) de esquerda, não gosto de fechar os olhos pras barbaridades do(s) partido(s) canhoto(s). Pelo contrário, acho que ainda há espaço pra se fazer uma política decente, e temos mesmo que tirar o chapéu pra gente como Eduardo Suplicy, que, embora nunca tenha se recuperado de ser o Tufão da política, ainda manda umas bolas na rede, ou, pra manter a metáfora, é um baluarte dos tempos em que um samba-enredo não parecia um forró universitário. Mas...

... mas os eleitores agem como torcedores! Pior! Os torcedores, pelo menos, quando o time vai mal das pernas, cobram garra, querem trocar o técnico, exigem a cabeça do estrelinha que ganha muito e não joga nada; mas os eleitores... Dá dó de ver como vestem a camisa de seu partido e respondem a uma crítica relatando os defeitos do partido "adversário"! E vira a velha história do sujo falando do mal-lavado. Pô, gente, façam como na canção: "ponha a mão no coração, na consciência, você sabe que agiu com negligência" (by Kléber & Gabriel). Não é ou não é?

Ninguém limpa a casa falando do pó do chão do vizinho. E é essa falta de mea culpa que abre espaço pra aberrações empoladas, como o Collor da vez, que atende pelo nome de Russomanno. Tá russo, hem, mano? O camarada que é meio que um apigreide do Maluf, que fala manso, escolhendo as palavras e dizendo que tinha que haver uma igreja em cada esquina. Medo! Desse jeito só vai sobrar emprego pra pastor pelas bandas de cá. E vejam vocês que, praticamente com uma esmolinha de tempo no horário eleitoral, o homem se agiganta, um verdadeiro Davi do mundo cão.

Agora patético mesmo é ver o excelentíssimo senhor José Serra, ex-ministro da dengue, dançando o samba do palmeirense doido, se virando nos trocentos pra descolar de si toda essa rejeição que ele próprio pintou em sua cara de Brad Pitt das trevas. E sabe que eu até o acho simpático? Quer dizer, não sei se é porque é palmeirense como eu, mas tenho menos medo dele do que do "picolé de chuchu" (by Zé Simão), o alckmista da Opus Dei, o alpinista capaz de vender a mãe pra chegar aonde chegou o retirante de Garanhuns.

Serra pelo menos é mais humano. Capaz de chorar em público quando leva uma "pedrada" de bolinha de papel ("só tenho medo da falseta..."). Contudo, todavia, porém, entretanto, calma lá, coração! Tudo tem limite! Aquele chororô no palco, digo, palanque, digo, altar do padre Marcelo Rossi foi digno de deixar constrangido autor de novela mexicana! Peraí, pô! Olha que eu chamo a Bárbara Gancia! Aí já é apelação! Ó, não é de hoje que eu percebo que a sagrada instituição da Igreja vem deixando de ser apartidária...

Na eleição anterior eles vieram com aquele papo de "não votem em quem é a favor do aborto", como se não houvesse questões mais importantes a serem analisadas. Vão me desculpar, mas acho isso uma infantilidade que mascara outros interesses mais escusos. Pensemos hipoteticamente numa eleição em que no segundo turno tivéssemos Paulo Maluf e Marta Suplicy. Então nós, como católicos fervorosos, ver-nos-íamos obrigados a votar no cidadão paulistano que mais tem o nome atolado na lama, tudo em nome da Bíblia? Sinceramente, Jesus não merece virar garoto-propaganda de tanta baixaria...

Voltando a Serra Pelada, digo, ao Serra. Transformar uma missa num comício é ato de desespero atroz! Chamar o tal do padre Marcelo pra dar uma mãozinha... E que mãozinha, hem? Convenhamos, o pop star da Igreja leva milhares de fãs, digo, fiéis, a suas missas, fora os que ouvem pelo rádio; daí que "homenagear" o amigo assim em público é vergonhoso. Tu é amigo do cara, chama o cara pruma breja e dá uns conselhos pra ele, pô! Ninguém tem nada a ver com isso! Aí é desacreditar da massa encefálica da massa! Olha que a galera muda pra Universal e aproveita e vota no russo mano!

Ó, vou dar uns toques: tem que haver sutileza! Não pode chegar assim escancarando, como se o povo fosse uma caixa de ressonância (by Carlos Alberto Parreira). Nós sabemos que é, mas não pode deixar claro, pois uma hora até os incautos e os Adautos se ligam! Não é pra usar a Bíblia? Vamos usar! O negócio é usar parábolas, como fazia o Filho do Homem, deixar o povo gastar um pouco os neurônios; não é falando "abre a boca, olha o aviãozinho!", que povo não é neném, nem Serra é papinha! Por falar em papinha, não só o poder corrompe, como também o sucesso parece que "enfeia". O padre Marcelo antes até que era boa-pinta, não chegava a ser o padre-galã Fábio (Jr.) de Melo, mas dava pro gasto. Agora, afe! Aquela papa (eu disse aquela)! E aquele cabelo?

Pra finalizar, porque já teclarelei demais por hoje, é o seguim: tudo aqui é apenas e tão-somente minha opinião, e opinião é que nem dívida, todo mundo pode pagar e adquirir outra. Estamos abertos a debate (desde que não me batam!), somos adultos, vacinados e gostamos de um bom argumento (com o cotovelo no balcão, então, vixe!); daí que, se algum livre-pensador (pode ser um pensador preso, desde que tenha conexão) quiser contribuir, sempre aceitamos contribuintes. E, sim, eu creio! Só não tenho espaguete no lugar do cérebro. Umas abobrinhas vá lá...

***

PS: Lúcidas palavras de Carlos Heitor Cony hoje na Folha: "Na caça aos votos, tudo parece permitido. Há legislação específica que regula a consulta popular, mas o processo usado custa um dinheiro que nem os partidos nem os candidatos possuem, por mais ricos e pródigos que sejam. No Brasil, temos a prova de que 99% da corrupção se deve aos gastos das campanhas, cujas sobras terminam no bolso dos interessados, que, às vezes, nem chegam a ser candidatos. [...] Prefeito, vice, vereadores e outros líderes municipais foram presos nesta semana, acusados de corrupção [em Guapimirim-RJ]. E o mensalão, que está sendo julgado no STF, é prova de que os gênios da humanidade precisam criar outro processo para que o poder emane realmente do povo."


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