Falar a respeito de reconhecimento atualmente é assunto pra não poucas laudas. Parece que a coisa funciona na base do inversamente proporcional. Quanto menos conteúdo, mais reconhecim... Não, ia escrever uma palavra pensando em outra. A frase que ficou capenga se referia a fama, que não tem, necessariamente, que ver com reconhecimento. Podemos apontar e dizer "lá vai um famoso" sem, contudo, conferir-lhe mérito. Por isso hoje a profissão mais rentável é a de famoso, que, em boa dose, é o talento que certo indivíduo possui pra ser conhecido pela falta de qualificações, em outras palavras, talento.
Mas, não, não vim aqui tratar de fama, já há tabloides em demasia dela tratando. Referia-me eu ao reconhecimento. E, como uma coisa leva a outra, lembrei-me de Tavito, que já entrou pra história de nosso cancioneiro justamente por ser um excelente... cancionista. Mas, como Tavito tem o salutar hábito de estar cercado por bons letristas, acaba acontecendo com ele algo parecido com o que sucedia a Tom Jobim: esquecem-lhe as qualidades poéticas. E Tavito tem muitas. Pra começo de conversa, a própria pessoa tavital é plena (e põe plena nisso!) de poesia. Seus modos de gentleman que sabe lidar com as damas e se desenroscar de um mala sem rebaixar-se ao nível deste são só pequenas peças desse quebra-cabeça poético que é o sr. Otávio.
E, como se não bastasse, há um não menor intelecto um tanto camuflado pela mineira humildade. Fosse Tavito baiano possivelmente teria chegado a ministro da cultura. Mas deixemos de conjecturas entrantes e passemos ao prato principal do reconhecimento. Esta semana São Paulo aniversaria na boa companhia de Tavito, como tem acontecido nos mais recentes janeiros. E, também como vem se repetindo, Tavito comemorará seu não-sei-quantenário em berço esplêndido, o leito artístico: o palco.
Mas deixo a divulgação com ele. Afinal, ia exatamente falar (antes de ser cortado por mim mesmo) que Tavito é dos caras que conheço que têm a prosa mais originalmente afiada. Fico até imaginando que delícia que seria ler contos seus, se a tal ele se dedicasse. Falo isso de cátedra, pois sou formado em generosas literartices tavitais pra consumo interno, visto pertencer (como machadiano agregado, há que se comparecer com a verdade) a seu núcleo convivial. Assim gabaritado, roubo aos m-grupos e demais redes sociais seu mais recente texto, nascido com marqueteira e justa (e boa) intenção de divulgar seu show aniversareiro. E como prova de reconhecimento a seus dotes de proseador. Calemo-nos, que vai falar o mestre!
Por Tavito
Galera querida de todos os anos (e outros mais que tenham se chegado em 2012), tenho de avisá-los de algo realmente espantoso. Vou completar MAIS UM ANO DE VIDA no dia 26 de janeiro próximo, um simples sábado. Incrível, a festança do ano passado mal terminou, e lá vem o sr. Doismiletreze com seus trajes de palhaço, narigão vermelho e aqueles sapatões de chutar traseiros, comandando estridentes arautos com suas trombetas, anunciando-se legítimo substituto de mais um ano que veio, galopou pela ravina da existência e escafedeu-se como um ladrão, deixando na passagem seu indefectível certificado de antiguidade; e este, com todos os carimbos e assinaturas legais, vem se juntar aos inúmeros outros antecedentes, que se acumulam amarelamente sobre minha velha escrivaninha mental, aquela cuja madeira estala no vazio da noite e nunca me deixa esquecer.
Agó: se pensam que vou dar mole, enganam-se ao redondo. Já me decidi. Quando me perguntarem quantos anos tenho, direi: "o suficiente". Doravante, minha data de nascimento chegará aos quatro dígitos no máximo, representando dia e mês, que eu não sou trouxa. Como explicar pr'essa garotada que vim ao mundo na longínqua primeira metade do século passado? Não, dei um basta. Chega, aliás, de reflexões lamentosas sobre os fatos, soberanos que são; comemoremos, que é o melhor e o mais justo, pois que somos sobreviventes de um apocalipse funcional que se iniciou silencioso, há uns 60 anos atrás, e ninguém se deu conta.
Bão, teremos (se Deus ajudar) o tão propalado e adiado lançamento de meu alucinante CD, o Mineiro, com quatorze belíssimas canções, modestas como eu mesmo, para encher de sons, harmonias e palavras do bem os corações presentes, além daquelas outras tantas que vocês sabem quais – e a gente SEMPRE quer ouvir. Depois do que repetiremos aquele canjão amigo e democrático do ano passado, com especiais participações dos presentes, alguns deles músicos / compositores / cantores de boa cepa, preparados para produzir torrenciais emoções, que são os gozames da alma, ajudados pelos incomparáveis drinks e acepipes, infalíveis gozames do corpo. Amassos e beijos lascivos, como sempre, estão liberados, desde que aplicados com paixão legítima.
Quanto aos convidados mais ilustres, consegui que Roberto e Erasmo Carlson viessem dessa vez; com sorte, ouviremos o hit paralelo Esse cara sou eu não. Será um frisson danado. A família Caímos infelizmente não confirmou; os filhos do grande Lourival Caímos estão todos em temporada praieira lá na Bahia, curtindo as novas canções da banda Águia de Haia e do ídolo pop Guilherme Aranha. Já Francis Rider e sua bela Olívia garantiram presença, sempre de chinelas; Olívia levará sua gentis irmãs: Olômbia, a mais cheinha de corpo, uma graça; Enezuela e Hile, compridas, esganiçadas, gozadíssimas; e o adolescente Eru, garoto temporão levado da breca, com seu boné de través. Vai ser divertido vê-los dançar a dança do canguru.
Isso tudo vai acontecer no glorioso e hospitaleiro Café Paõn, andar de cima, a partir das dez da noite do dia vinte e seis do corrente janeiro, um prosaico sábado, carente de enfeites e diversão legítima. Fica na avenida Pavão, 950, em Moema, Cidade das Torres, reservas pelo (11) 5531.5633 e 5533.5100. Tem uma merreca de míseros 35 mangos a ser paga de ingresso, a título de manutenção. É justo, pois tanto o anfitrião quanto os donos do estabelecimento pedem imperiosa manutenção, em regime de urgência urgentíssima.
Chega de palavrório, passemos à ação, e eu digo: espero TODOS lá, embriagados com a própria alegria, pela música, pelo encontro, pela amizade e, mais uma vez, pelo inexorável galope do tempo. Beijos generalizados / Tav
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P.S. Voltei. O texto de Tavito acabou, mas faltou acrescentar que o show contará com a participação especialúnica de Renata Pizi (tremei, Paõn!).
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Belos textos! O tavital, que eu já havia recebido do próprio via e-mail, e o leo-nogueiral (ou seria leozal?), meu parceirim de muitas, aproveitando o clima maneiro-mineiro, como diria Tavito em uma de suas canções famosas.
ResponderExcluirBeijo, Léo!
Dodolar
Valeu, Dodô! Somos nozes! rs
ExcluirBeijão,
Léo.
Genial o texto, sou fã de Tavito cantando, compondo e escrevendo!
ResponderExcluirParabéns!
Somos dois, Dimi!
ExcluirAbração,
Léo.