segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ninguém me Conhece: 72) Brindo por Andrés Calamaro

Quando viajei a Buenos Aires pela primeira vez fiquei apaixonado pela cidade e saí avidamente a pesquisar livros e discos argentinos. Claro que eu não era ignorante de todo, mas admito que meu conhecimento sobre os vizinhos era bem limitado. Em relação aos discos, recebi uma grande ajuda de uma jovem garçonete (imagine se um estrangeiro perguntasse sobre música brasileira a uma garçonete por aqui... afe!), que anotou num guardanapo nomes de vários cantautores locais, como Charly GarcíaFito PáezLeón GiecoVictor Heredia e... Andrés Calamaro.

Fito, ainda que mal, já conhecia (te vi, juntabas margaritas del mantel...), então comprei um CD de cada dos demais citados. Charly foi amor à primeira ouvida; León Gieco curti bastante, e futuramente descobriria mais sobre ele, principalmente pela voz de Mercedes SosaVictor Heredia achei razoável, mas acho que sua interpretação um tanto antiga depôs contra ele, em relação a meu gosto, claro; já Calamaro eu simplesmente... odiei!

1) Salud (Dinero & Amor) (Andrés Calamaro)
Los Rodríguez

Mas a verdade é que dei azar. Entre tantos discos do moço, calhou-me de comprar justo seu primeiro como solista, o intragável Hotel Calamaro, do longínquo 1984 (não o de Orwell). E olha que dei uma grande chance ao disco, ouvi-o mais umas duas vezes antes de relegá-lo ao pó da prateleira. Achei as canções fracas, os arranjos datados, enfim, não vi nada ali que justificasse seu nome naquele guardanapo junto com os dos demais.

Até que, alguns anos depois, não sei bem como nem por quê, deparei-me com sua página do myspace, e, como ele disponibilizasse gratuitamente ali quatro canções pra download, baixei-as (de graça, sacumé, né?). O choque foi brutal, as quatro canções que baixei eram simplesmente excelentes! Não podia imaginar que seu autor fosse o mesmo daquele "hotel" uma estrela. Entendi que houvera uma evolução na obra do moço, coisa, aliás, que acontece com muitos.

Em minha visita seguinte a Buenos (uma de minhas cidades preferidas, é necessário que o diga), comprei mais dois Calamaros de, então, safras recentes (além de alguns vinhos tintos mendocinos, de safras nem tão recentes assim): Tinta Roja (de 2006, no qual ele cantava apenas tangos clássicos, muitos de Gardel, e explorava belissimamente sua faceta de intérprete. Aliás, convenhamos, o cara tem uma voz privilegiada!) e La Lengua Popular (de 2007, este, com ele de volta a suas próprias canções), duas pauladas! 

Foi então que um amigo uruguaio (¡dale, Pablo!) me emprestou um CD de uns tais Los Rodríguez, banda da qual Andrés fizera parte nos idos de 1990, período em que trocou Buenos Aires por Madri. Copiei o CD, ouvi algumas vezes, gostei bastante de algumas canções, de outras nem tanto, e a vida continuou, até que ano passado este escriba, de volta a Buenos, pôde adquirir um CD/DVD duplo dos mesmos Los Rodríguez, uma espécie de compilação com o melhor da banda, com o feliz título de Para no Olvidar. Foi então que a mágica se deu!


2) En Cada Una de Tus Cosas (Andrés Calamaro)

Não é novidade pra ninguém que música é questão de momento. Já devo ter falado isso por aqui, mas não custa repetir, até porque não foram poucas as oportunidades em que me peguei surpreso hipnotizado por uma canção de algum disco que eu tinha havia anos e a qual nunca tinha me chamado a atenção. De repente, no dia certo, na hora certa, e ela vira do nada um "crássico". Por essas e outras deixo que digam, que pensem, que falem que a canção morreu, pois enquanto isso vou me emocionando com os "mortos" (e tentando com "eles" emocionar).

Apêndice feito, a verdade é que o Para no Olvidar me fez lembrar de canções que já estavam em meu imaginário desde a primeira audição do CD de Pablo, mas de forma muito leve, e que agora voltavam com uma carga nunca antes (neste país) imaginada. E o DVD ajudou muito, pois há canções que são visuais e ganham muito quando as "vemos", o que foi o caso de muitas destas, que, depois de vistas, passaram a ser mais bem ouvidas. Ah, a título de informação, na Espanha chamam de Rodríguez o fulano que fica trabalhando enquanto a esposa sai de férias e vai viajar com os filhos. Mais bonitinho que workaholic, não?

E descobri que Los Rodríguez, em sua curta existência, foi uma espécie de furacão que passou pela Espanha (e por parte da América Latina), misturando Beatles com boleros, rumbas, flamencos e outras milongas. Ah, a banda nasceu na Espanha, mas era formada por dois argentinos e três espanhóis. E recebeu uma mãozinha também de Joaquín Sabina, que na época selou uma parceria com Andrés dando-lhe uma letra escrita num bar, num guardanapo, a deliciosa Todavía una Canción de Amor. Mas Andrés tinha concepções e pensamentos diferentes dos da banda, daí que lhes disse "Adiós, muchachos" e voltou pra Argentina, agora sim maduro e pronto pra carreira solo. Só um detalhe: embora ele não seja um virtuose das letras, tecladista que é, sabe fazer o casamento perfeito entre letra e melodia, esta valorizando aquela.

Ah, além dos Beatles, o som de Andrés por vezes me lembra de Odair José. Xi, agora entrei numa enrascada! Como explicaria isso, se um nem deve conhecer o outro? Hummm, acho que não é só Odair, a questão é que o som de Andrés está recheado de referências setentistas que são muito parecidas com a chamada música "cafona" (não confundir com dodecafônica) que reinava nessa época por aqui. Mas acrescento isso com carinho, pois ouvi muito os tais cafonas; citei Odair (como poderia ter citado Marcio Greyck ou Antônio Marcos) só pra situar a extensão musical de Andrés, que, como Odair & cia., sabe resvalar no cursi (brega em espanhol) com charme e elegância, misturando estilos, não pasteurizando, como fazem hoje.

3) Mi Enfermidad (Andrés Calamaro)
Los Rodríguez

Pô, tá ficando tarde, chega a hora de parar de escrever, senão não paro mais. Apelo então pra lembrança do Tremendão (Erasmo Carlos, pra quem não sabe), outro grande roqueiro, que no final de sua deliciosa biografia, Minha Fama de Mau, agradecia a Deus por ser um coadjuvante privilegiado. Baita humildade! Daí que, pesquisando no youtube, vi uma declaração parecida de Andrés, que numa entrevista disse que o Maradona da canção argentina era Charly (com quem Andrés então rompera relações), mas ele era titular na mesma seleção. Humildade e amor-próprio, em doses certas, não fazem mal a ninguém, né?

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P.S. Pra efeitos biográficos, faltou dizer que Andrés, em princípio de carreira, foi tecladista da banda Los Abuelos de la Nada.

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Visite seu site aqui.

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Un regalito a los brasileros:


4 comentários:

  1. Grande Léo, ler o seu blog é sempre uma viagem para todos os rincões da música. A leitura é, além de prazerosa, instrutiva.
    Grande abraço!

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  2. me gusta la época de Los abuelos de la nada", "Los Rodriguez" y solo unas pocas cosas sueltas del resto de sus discos.....
    escuchaste a su hermano Javier Calamaro?

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    1. Hola, Marce! Lo que pasa es que Calamaro hace demasiadas canciones (como Sonekka. Jeje!), entonces es natural que no todas sean buenas, pero seguro que es un tipo genial. A Javier no lo conozco, te gusta?

      Besos,
      Léo.

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