sábado, 23 de outubro de 2021

Meu terceiro romance em pré-venda

Arte de Francisco Daniel
Volto ao blogue mais uma vez depois de muito tempo pra divulgar meu terceiro romance, Dia de São Nunca, que já está em pré-venda (quem quiser adquiri-lo, o link é ESTE). É um momento de grande alegria por mais um sonho feito realidade, e preciso agradecer à Kotter Editorial, que foi a ponte entre o sonhar e o realizar. Deu-me grande-satisfação ver meu livro lido e avaliado como se deve, algo que eu não cria mais ser possível nestes tempos em que no Brasil notamos que parece haver mais escritores que leitores, o que torna o trabalho das editoras duplamente mais difícil. Agradecimentos feitos, queria aproveitar o momento pra falar um pouco de como surgiu o germe que desaguou nessa prosa literária.

Há alguns anos, durante uma crise matrimonial, e por motivos que não vêm ao caso, fui gentilmente convidado por minha esposa a abandonar nosso lar por um período que a mim me pareceu ser definitivo. Pra minha felicidade, eu estava enganado quanto a esse ponto, pois meses depois eis que sou novamente requisitado por ela, dessa feita pra percorrer o percurso contrário. Como eu, que me sentira então vilipendiado quando de minha deposição do "cargo" de marido, havia jurado pra mim mesmo nunca mais voltar pra ela e por fim me vi obrigado a descumprir mais uma promessa, o jeito foi desabafar a dor de meu amor-próprio ferido numa letra que acabou sendo musicada magistralmente por meu parceiro Marcio Policastro, que também a gravou em seu espetacular CD Pequeno estudo sobre o karma.

Tempos depois, conheci o genial Sander Mecca, que também a gravou em seu EP Não estrutural, com a luxuosa participação de Zeca Baleiro, que nesse dueto explorou sua veia roqueira interpretativa. Entretanto, a ideia de explorar essa canção também em literatura não havia surgido ainda, até que um dia, reouvindo a interpretação dela por Sander, que ao final da canção sussurra/rosna "30 de fevereiro", gritei pra meus adentros "heureca!", e as imagens me vieram à mente como num filme. Nascia naquele momento o embrião do que seria este romance, que, no fim das contas, teve pouco ou nada a ver com a letra da canção. Deixo abaixo a sinopse que mandei pra editora:

Livremente inspirado em canção homônima, composta pelo mesmo autor em parceria com Marcio Policastro, o romance Dia de São Nunca narra estranhos fatos que ocorrem na fictícia Ilha de São Nicanor — uma colcha de retalhos de cidades do Norte/Nordeste brasileiro — justo numa data especial, a de aniversário da cidade. Narrada por uma personagem invisível dotada de “superpoderes literários”, a história, que flerta diretamente com o realismo fantástico, tem princípio e conclusão dentro das 24 horas desse único dia.

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Entre as pessoas que tiveram o privilégio — ou triste encargo, dependendo do ponto de vista — de lê-lo antecipadamente, duas, a pedido meu, escreveram sobre ele. A primeira, foi Zeca Baleiro, cujo comentário foi utilizado na contracapa do livro: "Fragmentos de memórias do passado trazem à tona diversos personagens e épocas e são o pano de fundo de uma história de vingança e acerto de contas, mas urdida com muito humor — e argúcia. É isto o que o leitor vai encontrar nesta terceira investida do letrista e compositor Léo Nogueira na seara do romance, onde ele imprime com êxito a sua escrita engenhosa e inventiva de sempre."

A segunda "vítima" foi o querido parceiro Kléber Albuquerque, que foi encarregado de escrever o belo texto de orelha do livro, que colo abaixo.


Texto para orelha do livro Dia de São Nunca


Dia de São Nunca
é um caso particular de romance em que a principal personagem é o narrador. Escrito de maneira cinematográfica por 
Léo Nogueira, a obra apresenta um dia atípico em uma atípica ilha do Nordeste brasileiro, feita de retalhos de sonhos e memórias, não sabemos em que proporção.

Com capítulos curtos, que tornam a leitura bastante dinâmica, o narrador fantasmático nos apresenta seus superpoderes literários trazendo uma miríade de personagens de sua Macondo particular, entrando nas vidas e no passado dessas pessoas, revelando suas histórias e tecendo acontecimentos que gradativamente vão passando do pouco rotineiro ao totalmente inusitado, até chegar a uma atmosfera de realismo fantástico que lembra ao mesmo tempo os filmes de Fellini e M. Night Shyamalan e os escritos de Gabriel García Márquez e José J. Veiga.

Tudo se passa em um único dia, e nosso narrador nos apresenta de forma leve e bem humorada os preparativos do povoado para a comemoração do Dia de São Nicanor, o São Nunca, padroeiro da localidade. Logo de início nos deparamos, porém, com um mistério: o sumiço de algumas figuras importantes da cidade, como o prefeito, os vereadores e todo o corpo policial. Esta é a deixa para acompanharmos a movimentação dos habitantes da ilha, sempre contada por este narrador-personagem consciente de sua onisciência, que se utiliza sem pudor da sobrenatureza de sua condição e que por vezes se contrapõe até ao próprio autor da narrativa (também este uma personagem?).

Por meio desse interessante jogo de espelhos semiótico, embarcamos na prosa envolvente de Léo Nogueira para nos aventurarmos pelos labirintos de sua linguagem que transforma Dia de São Nunca em microcosmo da própria condição humana.

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PS1: Por último, e como prêmio — e incentivo — a quem chegou até aqui, despeço-me deixando-os com o clipe de Dia de São Nunca, a canção:


DIA DE SÃO NUNCA
Marcio Policastro – Léo Nogueira

No Dia de São Nunca eu voltei pra ela
Com o rabo entre as pernas, sem dar nem um pio
Me lembro que era fevereiro, dia 30
Chovia canivete e a vaca tossiu

Aquele dia a porca até torceu o rabo
Eu mordi a língua, fui à Penha a pé
Também bebi da água que não beberia
E eis que a montanha foi a Maomé

Um raio caiu sobre minha cabeça
Um rico entrou lá no reino de Deus
E o padre não soube nem da missa um terço
Eu degenerei quando puxei aos meus

No dia em que voltei, o mar virou sertão
E dei pra sobejar o prato em que cuspi
Pra meio entendedor, uma palavra é vasta
O rei voltou atrás, e olha eu aqui

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PS2: Pra reforçar, deixo aqui novamente o link da pré-venda: Dia de São Nunca, pré venda

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Um comentário:

  1. Nossos mais sinceros agradecimentos à dona Kana, que deu causa a essas pérolas. A Kotter é aqui pertinho. Vou nessa! Parabéns, mano!

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